Análise: Trüberbrook (PC) é uma charmosa aventura por uma pequena vila alemã

Com modelos em miniatura feitos à mão e simpáticas dublagens em alemão e inglês, o jogo point-and-click é curto, mas bastante carismático.

em 18/03/2019
Desenvolvido pela btf e publicado pela Headup Games, Trüberbrook é um jogo point-and-click sobre um jovem estudante de física que viaja para uma pequena vila alemã afim de paz e sossego. O projeto foi desenvolvido graças a uma campanha de Kickstarter e lançado no dia 12 de março no PC, com previsão para chegar ao Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Switch em 17 de abril.


Além de uma ousada escolha na criação dos cenários, Trüberbrook apresenta uma pequena vila alemã e seus carismáticos habitantes em uma aventura cheia de charme. Mas há mais do que um simples passeio à espera na pacata região.

Um curioso vilarejo alemão


Hans Tannhauser é um estudioso de física quântica. Descendente de alemães, ele decide passar as férias em um pequeno vilarejo alemão, Trüberbrook, após receber um estranho convite. Apesar de ser um local bucólico onde quase nada acontece, a área esconde mistérios que são revelados ao longo do jogo.

A vila em si é uma localidade fantástica, com áreas de uma beleza natural exuberante que convivem com casas rústicas, bem adequadas à sua caracterização. Há um belíssimo lago, árvores frondosas, montanhas, uma caverna e até mesmo um pântano perigoso. Todos esses ambientes, incluindo os interiores são riquíssimos em detalhes e muito charmosos. Numa escolha ousada, os desenvolvedores decidiram fazer os cenários à mão com modelos em miniatura, que depois foram transformados em backgrounds digitais aplicando-se fotogrametria e retopologia.

Além do aspecto visual, o local possui uma série de figuras pitorescas, sejam habitantes daquela região ou pessoas que de alguma forma se relacionam com o vilarejo. Temos uma simpática dona de pensão, a sua filha obcecada com alienígenas, o velho barão que perdeu tudo o que tinha, o psicólogo exótico que vive em uma grande mansão, entre outros personagens curiosos. Além da personalidade, existe uma boa variedade visual entre os personagens que os torna bastante distintos.

Mas o que mais chama a atenção e torna esses personagens cativantes é a dublagem em inglês e alemão, cuja alta qualidade aumenta a expressividade do texto, que é totalmente dublado. Além de incorporarem bem os personagens, os dubladores também se utilizam bem do recurso de sotaques diferenciados, fazendo com que os diálogos sejam ao mesmo tempo naturais e marcantes.

Outro aspecto importante nesse sentido é o humor. Tannhauser é um protagonista muito sarcástico que sempre tem alguma tirada para fazer com as situações que vivencia. Isso é especialmente perceptível graças a um gravador que o protagonista utiliza para comentar sobre o que observa. Mas também há uma leveza humorística em muitos momentos devido aos outros personagens que possuem seus próprios tiques e peculiaridades.

Um point-and-click de progressão natural


Em termos do gameplay, o jogo é um típico point-and-click. Nos cenários, além dos personagens, há uma série de objetos com os quais é possível interagir. Observá-los, por exemplo, pode dar pistas das suas utilidades para avançar a história (ou não). Em alguns casos, é possível também tocá-los ou utilizar um item do inventário para tentar provocar algum tipo de reação. Tudo isso é mostrado através de uma roda de ações.

É fundamental testar essas possibilidades para poder avançar na história. Essa é uma característica comum do gênero e algo que costuma causar algumas complicações no progresso, como itens difíceis de ver no cenário ou ações complicadas de se pensar. No entanto, fui surpreendido positivamente nesse aspecto, tendo uma noção bem clara do que fazer na maior parte do tempo. De fato, as ações necessárias são bastante intuitivas e o jogo pode até mesmo ser considerado fácil para o gênero por isso.


No entanto, há um puzzle em particular em que a lógica para a solução não é bem indicada e as inúmeras possibilidades de resposta (com apenas uma correta) tornam esse momento em particular um tanto complicado. Provavelmente gastei mais tempo preso na resolução dele do que até mesmo em um momento posterior em que é necessário vasculhar todas as áreas do jogo em busca de vários itens (que demandam várias interações com os personagens da vila).

Tirando esse momento em particular, todos os outros puzzles são bastante naturais e isso faz com que seja fácil avançar na história e explorar o mistério da região em um ritmo rápido e fluido. De fato, o jogo é relativamente curto, com cerca de 7 horas que passam voando. Infelizmente, enquanto na maior parte do tempo esse ritmo é bem adequado, no final em particular é um problema.

Após uma interessante reviravolta e a apresentação de uma série de conceitos de ficção científica, inicia-se um conflito de grandes proporções e a resolução dele é um tanto anticlimática. O final é corrido, dando uma sensação de que faltam elementos a serem explicados, especialmente nas reais motivações do antagonista (que tem muito pouco tempo de desenvolvimento), e também devido a uma contradição narrativa oferecida pela solução do último puzzle.

Uma experiência charmosa


De forma geral, Trüberbrook é uma experiência charmosa graças à sua estética única, sua boa dublagem, seu bom humor e seus puzzles intuitivos. Infelizmente, é perceptível que o jogo é mais curto do que deveria para poder desenvolver bem sua história e isso fica mais em evidência devido ao final corrido. Mesmo assim, a curiosa vila de Trüberbrook é um excelente lugar para uma pequena aventura de férias.

Prós

  • Estética chamativa com modelos de personagens e cenários feitos à mão;
  • Dublagem em inglês e alemão de altíssima qualidade com vozes que soam naturais e expressivas;
  • Bom uso de humor e personagens curiosos bem caracterizados;
  • Com exceção de um puzzle, a progressão e solução dos quebra-cabeças é bastante intuitiva.

Contras

  • O jogo é curto; 
  • O final é mais corrido do que deveria, dando a impressão de que o vilão não faz sentido e deixando vários pontos relevantes sem explicação ou o devido desenvolvimento.
Análise: Trüberbrook - PC - Nota: 8.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Headup Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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