Análise: Devotion (PC) mistura família, religião e terror em uma obra intrigante

Jogo com temática sobre relações familiares e devoção é uma excelente adição aos títulos de terror disponíveis no PC.

em 27/02/2019

Desenvolvido pela Red Candle Games e publicado pela Winking Entertainment, Devotion é um jogo de terror cujo tema principal é claro já em seu título. Se é possível definir toda a sua história em um termo apenas, “devoção” certamente é a palavra mais adequada. Com visão em primeira pessoa, a obra coloca o jogador para explorar um velho apartamento de uma família comum e religiosa.

No entanto, o local está longe de ser normal. É um mundo distorcido onde o espaço nem sempre faz sentido, tudo é muito escuro e há uma sensação constante de estar preso em um pesadelo.

Uma história sobre devoção


Taiwan, anos 80. Du Feng Yu, sua mulher, Li Fang, e sua filha, Mei Shin, levam uma vida aparentemente normal em um apartamento modesto. No entanto, nada é tão simples quanto parece e, conforme o jogador vai explorando o passado desses moradores, uma série de eventos sombrios vem à tona.

Elementos da cultura taiwanesa da época marcam fortemente a exploração. Além de uma presença forte da religiosidade (com o culto à figura de Cigu Guanyin), há também uma curiosa utilização de um programa de auditório ficcional. Junto com vários outros objetos do cenário, eles são pistas para o jogador, pedaços de um quebra-cabeça a ser montado até o final do jogo.


Obviamente eles também são elementos fundamentais para o horror do título. Imagens de pessoas reais estão presentes em fotos e no próprio programa de TV já mencionado, adicionando uma sensação de realismo ao horror que também é fortalecida pelo uso de vozes em várias cenas.

Além de pessoas reais, são usados também alguns bonecos em tamanho real. Um recurso que adiciona bastante tensão quando está presente em cena, servindo não apenas para reconstituir eventos do passado, mas também oferecer uma série de sensações desconfortáveis.

Também muito importantes para o terror são a iluminação e o uso de sons, que se complementam muito bem no título e fortalecem a sensação de medo. A partir do uso inteligente desses elementos, o jogo consegue criar até mesmo alguns jumpscares bem efetivos. (Eu mesmo pulei da cadeira de verdade pelo menos umas duas vezes…)

Isso tudo é bem complementado pela seriedade da história. Seu tom trágico e a simplicidade dos personagens são elementos importantes para fazer com que o jogador sinta empatia pela situação dos membros da família e, mais do que isso, até se questione seriamente sobre outras possibilidades que poderiam fazê-los felizes.

Andando pelo passado 


Em termos de jogabilidade, a maior parte do título funciona mais como um walking simulator com alguns elementos de puzzle que são basicamente levar itens para seus destinos corretos. Uma boa parte do jogo se passa em um cruzamento entre três períodos de tempo e o jogador precisa utilizar objetos de uma temporalidade em outra para conhecer mais a história e avançar.

Apesar disso resultar em pouco desafio, a jornada (de cerca de três horas) é marcada por muitos momentos horripilantes. A graça do jogo está justamente aí. Na claustrofobia por estar preso em um ambiente fechado e escuro, na sensação de impotência e fraqueza por ser apenas uma pessoa comum sem nenhuma arma ou habilidade especial, no medo constante de que subitamente algo roube os frangalhos de tranquilidade oferecidos pelo gameplay.

Na tentativa de evitar spoilers, acredito que o melhor a dizer é que quem é fã de jogos de terror ou quer experimentar um bom título do gênero dificilmente sairá desapontado de Devotion. Infelizmente, no momento da publicação deste texto, o jogo foi retirado temporariamente do Steam para a realização de uma série de testes para corrigir crashes e garantir que não hajam materiais indevidos (utilizados como placeholder durante o desenvolvimento).

Quanto à questão dos crashes, não vi nenhum problema do tipo enquanto jogava. Já o aspecto dos placeholders se refere a uma polêmica envolvendo o uso de uma imagem com dizeres pejorativos que comparavam Xi Jinping, presidente da China, com o urso Pooh, o que gerou muito descontentamento entre os jogadores chineses. A imagem não tem nenhuma relação real com o jogo e o desleixo da desenvolvedora custou caro, resultando em um review bomb da obra, ou seja, um número muito alto de avaliações negativas desse público insatisfeito.

Felizmente essa polêmica recente em nada influencia a qualidade da obra. Assim que o jogo voltar ao ar, recomendo fortemente a quem tem interesse em títulos de terror que lhe dê uma chance.

Prós

  • Ótima construção da atmosfera de terror;
  • Cenários cheios de detalhes interessantes que servem como pistas do enredo;
  • A trama é bem amarrada;
  • Boa utilização de iluminação e efeitos sonoros;
  • Atuações vocais de qualidade e o uso de imagens de pessoas reais adicionam camadas de realismo ao terror.

Contras

  • Não oferece muito desafio.
Devotion – PC – Nota: 9.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Candle Games e pela Winking Entertainment

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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