Análise: YIIK: A Postmodern RPG (Multi) é uma jornada psicodélica

YIIK é um interessante e ambicioso RPG que consegue proporcionar uma experiência sobrenatural psicodélica, mas tem problemas em sua narrativa.

em 17/01/2019
Com claras inspirações em RPGs japoneses como Earthbound e Persona, YIIK: A Postmodern RPG apresenta uma jornada psicodélica pela década de 90 com direito a várias referências e piadas. Devido a uma série de acontecimentos surreais, um grupo de jovens acaba se unindo para investigar o desaparecimento de uma garota misteriosa. O resultado é uma aventura sobrenatural.

Uma boa história desnecessariamente arrastada


Recém-formado, o jovem Alex retorna a sua pacata cidade natal. Enquanto explora a área, o protagonista se depara com um gato estranho e acaba indo para uma fábrica abandonada na periferia da cidade. Lá ele se depara com estranhos eventos e encontra uma estranha garota chamada Semi Pak, que desaparece misteriosamente.

Em busca de respostas, Alex reúne um grupo de pessoas um pouco esquisitas que também se interessaram no caso devido a um vídeo do misterioso desaparecimento que foi postado no ONISM 1999, uma message board focada em teorias da conspiração. O elenco, tanto jogável quanto os NPCs, é bem diversificado e com traços bastante característicos, como o próprio protagonista, um hipster que tende a refletir constantemente sobre o que está acontecendo ao seu redor com intermináveis monólogos internos.


A narrativa acaba sendo mais arrastada do que o necessário, com diálogos na maior parte do tempo menos interessantes do que a direção de arte. Através do texto, o jogo muitas vezes descreve os efeitos psicológicos dos eventos para o protagonista, mas o psicodelismo das artes e movimentos de câmera bem empregados já são suficientes. Com isso, a camada extra de diálogo e interpretação acaba tendo como efeito o enfraquecimento do fluxo narrativo.

Nesse sentido é bastante interessante a escolha por 3D com traços cartunescos ao invés do já comum 2D retrô muito utilizado por jogos indies. Outro aspecto que valoriza bastante a experiência é a boa dublagem, utilizada durante a maior parte dos eventos principais, e que contribui muito para a construção dos personagens.

Entrando no ritmo das batalhas


 Entre os momentos de avanço da narrativa, temos, como esperado de um RPG, várias batalhas. Para enfrentar os inimigos, cada personagem da equipe se utiliza de um item bem particular, que não seriam utilizados como armas normalmente. Por exemplo, Alex usa um vinil, um de seus amigos uma câmera fotográfica e uma outra personagem um bambolê.

Além de serem as armas dos personagens, esses itens aparecem como prompts na tela e é necessário que o jogador aperte botões no timing correto para atacar. Com isso, cada personagem exige inputs diferentes e mesmo as habilidades muitas vezes exigem algum tipo de ação do jogador. Por exemplo, a habilidade Banish transforma o jogo em uma batalha de ação em que é necessário atacar o inimigo diretamente e evitar os tiros dele. Se o jogador for derrotado, a técnica falha.


Outra coisa que chama a atenção são as criaturas enfrentadas. Há tartarugas samurais (claramente inspiradas nas Tartarugas Ninjas), alienígenas, placas de “pare”, pessoas exóticas e várias outras coisas. Para se defender dos ataques delas, também é necessário acertar o timing, que varia de acordo com a técnica utilizada pelo inimigo. Ao contrário das habilidades dos protagonistas, há bem menos variedade de defesas, o que facilita o aprendizado.

É clara a intenção cômica na maior parte dos inimigos e isso também é perceptível nos textos da batalha, cheios de piadas e trocadilhos. Esse humor, aliado a uma excelente trilha sonora, tornam a atmosfera dos combates bastante agradável. De fato, a escolha de não limitar as batalhas a uma única música por região, como é comum em jogos do gênero, foi um fator que muito favoreceu a minha experiência pessoal com o game, criando expectativa toda vez que uma nova batalha estava para começar.

Conforme as criaturas são derrotadas, pontos de experiência são recebidos pelos personagens e armazenados. Mas para efetivamente fortalecê-los é necessário explorar a Mind Dungeon, uma espécie de torre que guarda potenciais upgrades atrás de suas portas. Cada porta possui um modificador (+0.5, +1, +1.5, +2) e é possível selecionar qual atributo de Alex fortalecer. Há também algumas que guardam habilidades novas para os personagens.


Ao gastar 100 pontos de experiência, o jogador libera o próximo nível com novas portas e seus aliados também ganham nível (se tiverem pontos suficientes). Também é possível fortalecê-los, incentivando-os a subir de nível através de um robô que fica na entrada da dungeon, mas isso só terá efeito se eles tiverem obtido pontos de experiência suficientes.

Essa desassociação dos pontos de experiência com o tradicional aumento imediato de nível e força é interessante, mas não há nenhum incentivo para se manter em níveis mais baixos. Apesar disso, poder explorar a Mind Dungeon e escolher os devidos upgrades dos atributos de Alex é uma forma bastante interessante de apresentar visualmente o crescimento do personagem, com direito a algumas mensagens crípticas na transição entre alguns níveis. Esse local abstrato tem clara inspiração na Velvet Room de Persona, o que fica ainda mais claro graças ao guia, um corvo de voz grave e misteriosa.

Uma jornada psicodélica

Antes de encerrar, gostaria de ressaltar um aspecto bem específico. Enquanto a maior parte de YIIK é marcada pelo progresso do jogador em conquistar novos aliados na busca de respostas aos estranhos eventos que estão acontecendo, o momento próximo do final do jogo quebra profundamente o ritmo, oferecendo um progresso marcado pelo calendário de forma similar aos jogos da série Persona a partir do 3.

O conteúdo desse trecho no entanto é muito limitado, com alguns diálogos de equipe bastante interessantes, sidequests simples e uma limitação do uso da Mind Dungeon. Pessoalmente, senti falta de poder pular completamente os dias até o final porque completei tudo o que me interessava fazer rapidamente e ainda faltava muito tempo para terminar essa etapa.

Apesar de todos os poréns que mencionei em relação ao jogo e, em especial, à sua narrativa, YIIK é um interessante RPG que promete uma experiência psicodélica ambientada nos anos 90 e cumpre com louvor sua ambição. Algumas de suas escolhas são questionáveis, mas o jogo é recomendado, em especial, para fãs do gênero.

Prós

  • Os membros da equipe tem personalidades marcantes;
  • Dublagem de alta qualidade;
  • Escolhas visuais interessantes constroem bem a atmosfera psicodélica;
  • Trilha sonora muito boa e diversificada.

Contras

  • Narrativa desnecessariamente verborrágica;
  • Quebra de ritmo próximo do final é maçante por falta de conteúdo (e falta de opção para pular os dias que faltam do calendário);
  • É possível ficar preso e impossibilitado de continuar em alguns pontos do jogo.
YIIK: A Postmodern RPG – PC/PS4/Switch – Nota: 7
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Link Beoulve
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ysbryd Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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