Análise: Catherine Classic (PC) — um port simples de um puzzle envolvente

Jogo desenvolvido pela Atlus continua sendo uma instigante aventura pelos pesadelos de um jovem adulto.

em 26/01/2019

Desenvolvido pela mesma equipe de Persona 5, Catherine é um puzzle instigante e envolvente que foi originalmente lançado no PlayStation 3 e Xbox 360 em 26 de julho de 2011. O jogo fez bastante sucesso, superando expectativas de venda da Atlus tanto no Japão quanto no Ocidente, e apenas agora, mais de sete anos depois, recebeu um port para PC com o título Catherine Classic.

No controle de Vincent, o jogador precisa escalar uma torre cheia de obstáculos que aparece em seus pesadelos. Ao mesmo tempo, a vida cotidiana sossegada do rapaz começa a passar por uma série de reviravoltas que podem alterar definitivamente o seu futuro.

Relacionamentos complicados


Se tornar um adulto não é fácil. Além do trabalho e das contas para pagar, várias são as expectativas que a sociedade tem sobre como as pessoas devem se portar a partir de uma certa idade. Casamento, filhos e uma vida estável são algumas dessas “obrigações”. Mas Vincent Brooks não quer nem pensar nelas, seu único desejo é manter o status quo: sair toda noite para beber e encontrar os amigos, morar sozinho em sua kitnet e curtir a companhia de Katherine McBride, com quem namora há 5 anos.

Infelizmente, as coisas não poderiam continuar assim e um dia sua namorada começa a exigir uma postura mais séria dele. Estressado com a situação, ele começa a se envolver com uma garota sedutora de nome curiosamente similar, Catherine. Em paralelo com as reviravoltas nos relacionamentos amorosos de Vincent, o protagonista começa a ter pesadelos nos quais ele precisa escalar uma torre composta por vários blocos para sobreviver.

Além dele, outros jovens adultos estão se esforçando para continuar vivos e, com sorte, acabar com o pesadelo. Ao longo do jogo, Vincent pode interagir com eles na torre e no bar Stray Sheep. Além de obter informações e algumas dicas úteis para resolver os puzzles, o jogador também pode influenciar no destino de alguns deles.

Outros personagens importantes são os amigos de Vincent, com os quais ele encontra toda noite no bar. Com eles, o protagonista discute os eventos da história e os rumores sobre os pesadelos que tem se espalhado pela cidade. Tanto os amigos mais próximos de Vincent quanto os indivíduos de menor relevância para a trama são bastante carismáticos e os seus dramas pessoais são instigantes, refletindo uma discussão sobre a natureza humana e a complexidade dos relacionamentos interpessoais.

Essa discussão também é apresentada nos pesadelos. Conforme o jogador avança pela torre, perguntas são feitas para determinar a mentalidade de Vincent. É importante destacar que as escolhas alteram uma tendência do personagem e não necessariamente seu comportamento.

Durante o gameplay, percebi que há pouco impacto das escolhas nas ações de Vincent antes da reta final da história. A sensação é a de que o jogador controla os desejos mais profundos do protagonista, mas seu superego os reprime durante a história até o momento em que ele precisa tomar uma atitude mais drástica. Uma ideia interessante, mas incômoda para uma mídia interativa.

Um puzzle envolvente

A maior parte dos títulos desenvolvidos pela Atlus são do gênero RPG, porém, Catherine é um caso curioso, se destacando com um gameplay no estilo puzzle. Nas fases, o jogador precisa utilizar bem os blocos à sua disposição para escalar uma misteriosa torre que aparece nos sonhos de Vincent. E não dá para ficar parado procurando a melhor forma de subir. Afinal, há um limite de tempo para as ações do jogador demarcado pela queda dos andares (que pode ser claramente visualizada pelo mapa à esquerda na tela).

Avançando pelas várias fases, novos blocos com efeitos especiais são apresentados, como aqueles que ativam armadilhas ou os de gelo (que escorregam). É necessário aprender a usá-los de forma eficiente para não ficar batendo muito a cabeça lidando com os desafios. Também é necessário disputar lugar com outras ovelhas, que podem elas mesmas movimentar blocos, atrapalhando suas jogadas e deixando o jogador preso em algum canto.

No entanto, além da movimentação dos blocos e do próprio Vincent, o jogador também conta com a possibilidade de desfazer algumas de suas jogadas, voltando os objetos para seu posicionamento anterior. Como isso também impacta outros elementos do cenário, percebi que, especialmente nos chefões (grandes criaturas que aparecem em algumas fases, interferem na disposição de blocos e atacam diretamente o jogador), essa habilidade podia ser exageradamente útil, desfazendo as ações deles.

Além disso, o “desfazer” também pode ser usado para recuperar totalmente a barra de step, que é a principal fonte de pontuação dos puzzles. Quanto mais steps o jogador consegue acumular, melhor a pontuação no final, classificada em bronze, prata ou ouro. Caso o jogador consiga subir praticamente toda a área sem quebrar a barra, obtém o troféu de ouro e, com ele, é possível pular totalmente o desafio na próxima vez que jogar, caso queira fazer todos os finais de forma mais rápida. Obter a pontuação mais alta também abre fases extras no Babel que, ao invés de apresentar blocos fixos, são randomizadas.


Além das fases da história, o jogador tem uma boa oportunidade para treinar e aprimorar seus conhecimentos utilizando uma máquina de arcade dentro do bar. Nela é possível jogar o minigame Rapunzel, que muito se assemelha ao desafio que Vincent encara nos pesadelos. No entanto, ao invés do limite de tempo, o jogador precisa alcançar o topo dentro de um certo número de jogadas. Quanto mais eficiente, melhor a pontuação.

De forma geral, em todos os seus modos, o jogo combina uma ideia simples de “puxar blocos para subir até o topo” com algumas especificidades que permitem situações que parecem inicialmente impossíveis de lidar, mas que até se tornam fáceis com um pouco de conhecimento. Por exemplo, em alguns momentos é fundamental saber que os blocos conseguem se manter em pé, contanto que haja um suporte para qualquer uma de suas arestas. Ou a possibilidade de se pendurar na lateral dos blocos e contornar a área movimentando-se para a esquerda ou para a direita. O resultado é viciante, tive muita vontade de explorar as minúcias do gameplay e aprender mais técnicas para poder melhorar minha habilidade de escalada.

Um port simples e funcional de um clássico


A versão de PC não apresenta grandes novidades em relação ao lançamento original no PS3 e Xbox 360. Há uma opção para utilizar a dublagem japonesa, mas a sensação é de que ela foi apenas colocada lá sem os devidos cuidados. Afinal, há alguns trechos não legendados (de falas com menor relevância). Em raras ocasiões também há stutters (quebras de frame) em algumas cutscenes.

A adaptação dos controles para o teclado também tem alguns problemas, em especial, pelo fato de alguns menus utilizarem “wasd” e outros as setas direcionais, o que não faz nenhum sentido. No entanto, durante as fases mesmo, como são necessários poucos botões, é bastante tranquilo não utilizar um controle.

Felizmente esses pequenos desleixos de forma alguma minimizam o valor da obra. Para qualquer pessoa que ainda não jogou o título e não deseja esperar pela sua versão expandida, Catherine Full Body (PS4), Catherine Classic é certamente recomendado.

Prós

  • Puzzles viciantes oferecem um bom desafio;
  • Jogabilidade simples permite fácil aprendizado, ao mesmo tempo em que há diversas minúcias que podem ser exploradas em soluções espertas para os desafios;
  • Personagens carismáticos e com dramas interessantes;
  • Animação facial dos personagens é bem expressiva.

Contras

  • Não oferece nada novo para quem já jogou o título anteriormente;
  • Influência indireta do jogador através da barra de alinhamento pode ser incômoda.
Catherine Classic – PC – Nota: 9
Revisão: Rui Celso
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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