Desenvolvido pelo estúdio brasileiro BEHEMUTT, Mana Spark é uma interessante combinação de roguelike com combate isométrico. Com forte influência de Dark Souls, o jogo tem a premissa da humanidade sendo a minoria fraca pela falta da energia mana, coisa que as outras raças possuem, sendo assim, os humanos devem sobreviver aos perigos apresentados pelas raças que dominam magia.
O mundo de Mana Spark, tal qual o da série Souls, não possui heróis. As pessoas cansadas da opressão das outras raças decidem lutar por si próprias com as armas e as forças que possuem e nesse caso a arma é um arco e flecha usado pelos principais personagens pela maior parte do jogo, mais no final aparece a possibilidade do uso da espada mas o marcante é o combate à distância.
A proposta do combate me lembrou pela simplicidade a de Titan Souls. Pela maior parte do jogo à única arma de confiança é o arco e flecha e todo inimigo deve ser derrotado dessa forma. As variações na jogabilidade se dão pelas diferenças entre os personagens e os equipamentos encontrados..Inicialmente temos o caçador Ellis como única opção, sendo o mais equilibrado, atirando flechas em velocidade reduzida e podendo fazer rolamentos ocasionais para não ser atingido pelos inimigos. É o início ideal para se familiarizar com as mecânicas, Ellis consegue enfrentar facilmente os inimigos mais fáceis e subjugar as dificuldades enquanto vai progredindo e coletando equipamentos.
O jogo faz referências a monstros clássicos do D&D. |
Mas na medida que a progredimos para níveis mais difíceis, o personagem vai se tornando obsoleto e o jogo te dá a possibilidade de jogar com Jasika, a guarda, que tem uma mobilidade muito maior, dando três dashs consecutivos ou mais de acordo com os equipamentos invés de rolamentos e atirando flechas em velocidade muito superior a de Ellis, mas com um ponto contra: menos vida.
Apenas essa diferença entre os personagens já é suficiente para mudar a jogabilidade. Mesmo a mecânica de arco e flecha permanecendo, a progressão e a mobilidade são completamente diversas. Quando estava com Ellis privilegiava os equipamentos que aumentavam a velocidade de ataque, com Jasika procurava os que aumentavam força e vida. O caçador se dá muito melhor com inimigos fortes e lentos, a guarda contra inimigos rápidos e fracos.
O frescor do roguelike, de ter cada tentativa completamente diferente uma da outra, é muito bem utilizado em Mana Spark. Além das diferenças entre os personagens, os equipamentos introduzem novas mecânicas com pontos positivos e negativos, como poder colocar uma torreta que atira flechas automaticamente nos inimigos, mas também pode te acertar. Utilizar armadilhas para imobilizar, mas também ser atingido por elas. É imprescindível atenção a todo tempo, outro aspecto influenciado da série Souls.
Outro fator que inova cada tentativa são as habilidades compradas, que melhoram características passivas dos personagens, diferente dos equipamentos que dão habilidades ativas e tem tempo de recarga. As habilidades são equilibradas, aumentar muito o ataque mas diminuir a vida, aumentar muito a velocidade mas diminuir o ataque. Há exceções, com habilidades somente de status positivos como aumentar o ataque em medida moderada ou um pouco mais de vida.
As habilidades estão espalhadas por templos entre as fases e podem ser ativadas por dinheiros em salas especiais depois de um certo progresso. Essas evoluções continuam até o personagem morrer e são fundamentais para o sentimento de frustração ao perder um personagem com runas muito boas ou de satisfação de não ter evoluído tão bem antes de morrer em uma determinada tentativa. Todos os elementos do roguelike estão presentes e são feitos de forma magistral.
Os personagens são carismáticos e tem um senso de humor ácido. |
Os inimigos são variados e carismáticos, reproduzindo clichês do RPG de mesa. Como esqueletos, aranhas, orcs, necromancers ou até mesmo beholders. Tais elementos combinados com a pixel art simplista e a trilha sonora agradável só acrescentam coisas boas à imersão de Mana Spark. As batalhas não são repetitivas, a música não é cansativa e a arte é bonita e encantadora.
Indo longe nas referências a Souls, o acampamento comum é uma espécie de Firelink Shrire, onde todos os NPC’s encontrados se fixam. Lá é possível melhorar os equipamentos encontrados nos mapas, produzir comidas que melhoram os personagens e até mesmo pesquisar sobre determinados inimigos para enfraquecê-los.
Uma das belezas de Mana Spark é permitir apenas uma escolha por vez, o que faz com que a jogabilidade seja sempre desafiadora, independente das evoluções dos equipamentos ou das runas carregadas pelo personagem. Nos grimórios de pesquisa só um inimigo pode ser enfraquecido, apenas um equipamento pode ser carregado e só temos direito há uma comida por vez. Os bônus facilitam a progressão mas não atrapalham o sentimento de realização ao conseguir alcançar os chefes.
As batalhas com chefes são inventivas e divertidas. |
Um dos principais problemas que tive com Mana Spark foi a jogabilidade no controle, que parece um pouco desregulada em relação ao teclado e mouse. Tanto na mobilidade quanto na forma de atirar, as vantagens da precisão do mouse ficam muito evidentes e não parece ser uma questão de adaptação, mesmo nos menus o controle não funciona perfeitamente.
No final, Mana Spark é um jogo divertido e bem polido, que aposta nas inventividades do gênero e acerta em cada uma de suas escolhas. Sabe de suas limitações e não deixa isso atrapalhar com grandes pretensões ou arriscar onde não deve. A simplicidade, as pequenas referências e o carisma dos personagens são detalhes que só acrescentam na jogabilidade que já é certeira.
Prós
- Mecânica funcional.
- Jogabilidade divertida.
- Personagens carismáticos.
- Batalhas com chefes divertidas
Contras
- Jogabilidade quebrada no controle.
Mana Spark — PC — Nota: 9.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela BEHEMUT