Análise: Darksiders 3 (Multi) está na luta entre o bem e o mal

Terceiro jogo da saga dos cavaleiros do apocalipse traz Cólera atrás dos Sete Pecados.

em 04/12/2018
Após seis anos do segundo jogo e um futuro incerto devido à falência da THQ e do fechamento da própria Vigil Games, desenvolvedora original da série, esse retorno de Darksiders é, até certo ponto, surpreendente. Embora não seja uma franquia extremamente popular, ela possui uma grande legião de fãs, incluindo esse que vos escreve, que ficaram muito animados com o anúncio de Darksiders 3. Mas será que essa empolgação é correspondida?


Esse terceiro jogo foi desenvolvido pela Gunfire Games que conta com vários profissionais que trabalharam nos jogos anteriores. Traz alguns conceitos interessantes e em certos aspectos mantêm o legado da franquia. Por outro lado, comete alguns erros que estragam a experiência. Vamos nos aprofundar em cada um desses aspectos nos próximos parágrafos.

A luta pelo equilíbrio

Darksiders 3 traz Fury como protagonista — traduzida como Cólera no português. Assim como Darksiders 2, essa aventura se passa no período de cem anos entre o prólogo e o restante do primeiro game. Por ordem direta do Conselho das Chamas, Cólera parte para recapturar os Sete Pecados, entidades que fugiram para a Terra após o fim do mundo.

Cólera a princípio não se importa com seus irmãos, com os humanos ou quem quer que seja exceto por sua montaria, Ímpeto. Ao contrário de Guerra e Morte, que partem em jornadas em busca de respostas, honra e redenção, a amazona só sai para cumprir mais um trabalho.

Essa mudança de perspectiva foi uma ótima decisão narrativa. Enquanto os outros dois cavaleiros já possuem personalidades bem claras e um propósito definido, o enredo de Darksiders 3 foca mais na evolução de sua protagonista. Seus valores são confrontados por inimigos e aliados e fazem Cólera questionar suas motivações, a fazendo crescer como indivíduo enquanto ela decide o que realmente quer para si e o que de fato importa.

Claro que ele também está de volta
Nessa campanha quem merece destaque também são os Sete Pecados. Dentro da trama, todos eles contribuem de certa forma nessa transformação de Cólera. Talvez com exceção da Gula, na minha opinião, todos são muito bem construídos e com visuais muito interessantes, da mesma forma que as respectivas batalhas.

O único “contra”, que de fato nem chega a ser um ponto negativo, é a lore do universo ainda não avançar em relação ao final do primeiro Darksiders. Mas contanto que a Gunfire consiga terminar essa história, acho que está tudo bem por enquanto.

O chicote vai estalar

Cada um dos cavaleiros possui características de combate distintas, o que influencia no gameplay da cada jogo. Guerra é um guerreiro forte e pesado enquanto Morte é um combatente versátil, com suas magias e usos de diferentes armas. Cólera conta com um arsenal bem mais modesto que seus irmãos, mas ainda assim eficiente. Sua arma principal é o chicote e ao longo da campanha irá receber quatro armas secundárias na forma de Poderes Abismais, cada um referente a um elemento: fogo, eletricidade, terra e gelo.

O único recurso para evitar dano é a esquiva que, se executada no instante do impacto, permite um contra-ataque especial aplicando dano extra. Então sim, praticamente todas as lutas serão de movimentação intensa. Até porque não dispomos de muitos recursos defensivos e uns três ou quatro ataques consecutivos são suficientes para nos levar a óbito.


Ainda falando de combate, exceto pelas lutas contra chefes, a grande maioria dos inimigos normais segue o padrão de ataques corpo a corpo e não exige estratégias específicas. Por um lado isso pode trazer um sentimento de mesmice a longo prazo, mas por outro permite que usemos os diferentes ataques como quisermos. Particularmente não senti esse cansaço, mas entendo alguém apontar essa questão.

Sobre a evolução de personagem, o sistema de níveis foi mantido de Darksiders 2 mas foi bem mais simplificado. Só existem três atributos: vida, ataque físico e ataque arcano. Cada nível ganho dá um ponto para ser usado em alguma dessas opções. É possível melhorar armas e aprimoramentos também.

Alguns podem dizer que é um retrocesso mas vejo de forma diferente. Darksiders 3 é um jogo que se classifica como um autêntico hack’n’slash, no qual o que importa é só destruir inimigos. Sim, poderiam ter sido colocadas algumas camadas a mais de complexidade como uma ou duas armas extras ou algumas habilidades adicionais, mas por outro lado fico muito feliz que o sistema de loot tenha ido embora, por exemplo. No final de tudo acho que o saldo é positivo nesse ponto.


Dark Souls Siders

Eu sou uma pessoa muito crítica quando se fazem comparações a Dark Souls de forma gratuita, algo que algumas mídias fazem de forma bastante frequente. Mas ao jogar Darksiders 3 não há como negar as inspirações que o jogo da From Software teve sobre o design desse título.

Esqueça o fator “dificuldade” da série Souls. Darksiders 3 tem sim alguns picos de dificuldade desnecessários, mas são mais erros de projeto do que desafios fervorosos. No geral, uma vez que você entende o sistema de batalha e evolui o poder de Cólera, essas situações ficam cada vez mais esparsas.

Juntar grupos de inimigos não é recomendado e saber gerenciar suas lutas é algo necessário para avançar, mas nada tão complexo quanto um Bloodborne. Eu diria que o maior vilão dessas lutas é a câmera, que fecha no seu personagem e não raramente vai fazer você levar algum golpe de um adversário fora da visão. Além do mais existem a Forma do Caos e as explosões de Fúria (que variam de efeito de acordo com o poder ativo) que servem para ajudar nesses momentos de aperto.


A grande influência de Dark Souls aqui se vê na construção dos cenários e todo o level design. Ao contrário de seus antecessores, não há mapa em Darksiders 3, apenas uma bússola apontando a direção do próximo chefe. A construção dos mapas se dá de uma forma, com atalhos e rotas escondidas, que torna todas as áreas interconectadas, o que é bem legal. A última grande região do jogo, Cicatriz, é a que traz essa característica de forma mais evidente.

Os checkpoints funcionam da mesma forma que as bonfires, mas aqui são os pontos do Vulgrim, o demônio comerciante. Aqui a execução peca um pouco pois alguns checkpoints são muito distantes uns dos outros, o que pode deixar as coisas entediantes se você travar em algum ponto e precisar ficar fazendo o mesmo caminho várias vezes. Isso se agrava pelos problemas de performance do jogo, que falarei melhor mais adiante.

Para fechar esse tópico é importante falar sobre os puzzles, característica bem comum na série. Os presentes na parte inicial são satisfatórios mas não muito memoráveis, situação que muda de figura uma vez que adquirimos todos os poderes Abismais. Cada um deles dá uma habilidade extra a Cólera e alguns itens e áreas só podem ser acessados combinando essas funções. No geral são usos bastante inteligentes e desafiadores.


Os grande pecados

O grande vilão por trás de Darksiders 3 tem um nome: desempenho. Essa análise foi feita em um PlayStation 4 Slim sob o patch 1.03 e a performance do jogo deixou muito a desejar. As telas de carregamento são muito demoradas, quebrando o ritmo da ação com frequência quando Cólera morre — especialmente considerando o sistema de checkpoints. Há também travadas constantes para carregar o mapa, especialmente em regiões grandes a céu aberto. Loadings de 20 segundos foram comuns e cheguei a pegar um de 40 segundos.

Outros problemas incluem texturas que demoram para carregar, mesmo em cenas de animação ou em inimigos próximos e quedas de FPS. Pelo que pude apurar, a maioria desses problemas estão nas versões de console, com o PC tendo vantagem nesse quesito. Um determinado bug de som simplesmente silenciou todos os áudios do jogo e do sistema (sons de menus e Spotify). Só encerrando o game que a situação voltou ao normal.

Outros erros menores acontecem com certa frequência. Felizmente, de acordo com o Discord oficial do jogo os desenvolvedores parecem estar comprometidos em solucionar esses bugs e futuras atualizações já estão nos planos. Espero que eles consigam resolver a maioria desses problemas.


Os cavaleiros estão chegando

Visualmente Darksiders 3 está longe de ser o jogo mais bonito da geração atual. Particularmente acho que até o visual do remaster de DS 2 é um pouco mais refinado. De qualquer forma, segue o padrão já estabelecido e acredito que essa tenha sido uma decisão acertada. O traço dos personagens tem fortes referências nos quadrinhos e mudar isso seria um erro. Ponto positivo na parte gráfica deve ser dado ao visual de Cólera, com suas transformações em cada um dos poderes.

Sobre sua duração, DS 3 é um jogo longo, com uma campanha que deve levar umas 13 a 15 horas para ser finalizada. Porém apesar da missão principal ser bem extensa, praticamente não há objetivos secundários ou colecionáveis para vasculhar os mapas após o fim do jogo, o que é uma pena, pois por seguir a “escola” Dark Souls de level design, há muito potencial para explorar as ligações das regiões e áreas secretas. Não vejo motivo para isso a menos que o jogador queira fazer 100% das conquistas.

Um último fato que me chamou a atenção é a ausência de baús. Todos os itens são meros pontinhos de luz. Enquanto que para itens normais essa é uma boa solução, ter uma marcação visual especial para artefatos importantes seria bom, até por conta de algumas áreas só poderem ser acessíveis após Cólera adquirir um novo poder.


Darksiders 3 é um bom jogo. Traz uma ótima heroína e bons vilões focando mais na evolução da protagonista, algo que não tinha sido feito até então na série. Seu sistema de combate é simples comparado aos títulos antigos, mas ainda consegue trazer algo divertido e com um bom desafio.

Os mapas grandes com o toque “Dark Souls” ganharam muito mais valor de exploração. Uma pena que o jogo não possua praticamente nenhum extra que justifique essa jornada adicional. De qualquer forma mesmo durante a campanha principal ir abrindo caminhos e redescobrir lugares conhecidos é bastante prazeroso.

Infelizmente o jogo peca muito na parte técnica com loadings demorados, problemas de textura e quedas de FPS. Algo deveras complicado para um título que visualmente não aparenta demandar tanto da máquina.

No geral é um jogo mais contido que seus antecessores mas que deve agradar fãs de longa data. Para novos nesse universo, pode ser uma boa pedida desde que se tenha em mente que, em resumo, Darksiders 3 é um jogo bem direto, sobre matar monstros e passar de fase.

Prós

  • Cólera é uma ótima protagonista;
  • Evolução da trama;
  • Bons antagonistas;
  • Mapas interligados;
  • Puzzles que usam todos os poderes Abismais

Contras

  • Falta de conteúdos extras;
  • Câmera durante o combate;
  • Puzzles do começo do jogo
  • Telas de carregamento demoradas;
  • Problemas de performance;

Darksiders 3 — PS4/XBO/PC — Nota: 7.5
Versão usada para análise: PlayStation 4

Revisão: Link Beoulve
Análise produzida com cópia digital cedida pela THQ Nordic


Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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