Análise: The Hex (PC): um jogo sobre os mistérios dos jogos

Novo projeto do criador de Pony Island nos leva ao passado de ilustres protagonistas para desvendar um segredo.

em 03/11/2018
Em uma taverna isolada em algum canto do mundo, seis hóspedes se fazem presentes. Junto a eles, o próprio dono do recinto, que recebe uma ligação inusitada. Em meio a uma noite chuvosa, ele é informado por um anônimo que um de seus hóspedes cometerá um assassinato, sem mencionar os nomes do culpado ou da vítima. Quais seriam as peças e motivações desse crime são dúvidas que ficam no ar.




É essa a motivação inicial de The Hex, mais recente trabalho de Daniel Mullins, criador de Pony Island (PC). Se você conhece o título anterior do desenvolvedor já deve imaginar que este jogo não se trata de um mero mistério policial. Temos aqui uma narrativa repleta de segredos e uma mensagem por trás do óbvio, em um exercício bastante interessante de metalinguagem.


Os mistérios por trás do mistério

Algo de diferente já pode ser percebido logo de cara, quando tomamos conhecimento da lista de hóspedes do Six Pint Inn, todos eles são protagonistas de diferentes jogos. Há um mascote de jogos de plataforma, um lutador, uma maga, um soldado espacial, um sobrevivente do apocalipse radioativo e um “jogador em primeira pessoa”. Para desvendar o mistério sobre o assassinato, iremos passar pelas memórias de cada um deles para obter as chaves desse quebra-cabeça.

Essa jornada pelo passado se dá indo de fato ao jogo de origem de cada um dos seis suspeito, para entender quem eles são e o que levou cada um a estar ali naquela noite sombria. Assim que essas regressões começam que The Hex começa a mostrar um algo a mais nas suas intenções. Isso não somente pela evolução da narrativa, mas nas observações e críticas que ele faz ao próprio mercado de jogos.

O primeiro “jogo” dentro do jogo, Super Weasel Kid, é um bom exemplo. Weasel Kid é uma mistura de Mario, Sonic e Crash, referenciando os clássicos games de plataforma dos anos 90. As pessoas gostam dele, é uma obra prima. Sua continuação traz um protagonista mais “radical”, dividindo opiniões e o terceiro game, Super Weasel Kid ‘08: Super Redux é algo que nunca sequer deveria ter existido. E eu espero que vocês tenham pego essa referência.


Isso continua ao longo de todo The Hex, com cada protagonista contando seu passado dentro de seu próprio jogo. Por isso, é até difícil falar de jogabilidade pois ela muda conforme o trecho, variando de um jogo de luta até um RPG tático. Mas tudo bem simplificado, pois os controles se resumem ao mouse e as teclas WASD. Em termos de ritmo, o segundo terço do jogo é um pouco cansativo, pois é onde moram os trechos mais extensos, mas nada que comprometa o todo.

Mas mais importante do que os trechos isolados é perceber o quadro maior, sobre o que essas pequenas histórias realmente falam, sobre jogos. Como são feitos por seus desenvolvedores, como são recebidos pelo público e como são consumidos enquanto mídia.


Ao mesmo tempo que The Hex te conduz para resolver o misterioso assassinato, ele expõe muitos espectros do nosso mercado de jogos. Não necessariamente criticando, mas levantando questões interessantes, geralmente de forma irônica, mas coisas que nos fazem pensar sobre toda nosso mercado de games, as coisas boas e as ruins.

Os alvos não são só os jogos por si só, como zoar estereótipos clássicos de Final Fantasy, mas como desenvolvedores lidam com fracasso e sucesso, as reações positivas e negativas de jogadores na internet, produtoras de games, a cultura de streamers e modders.


Sempre há um segredo

The Hex traz uma forte metalinguagem e quebra de quarta parede em sua narrativa, mas no final do dia, ainda é um jogo com um mistério a ser resolvido. Inicialmente os capítulos parecem meio desconexos, mas eventualmente os fatos vão se agrupando até o primeiro grande clímax.

O jogo traz vários segredos para serem explorados, sendo que é bem provável que você o termine sem desvendar 100% do que está escondido. Felizmente, depois de zerado há um seletor de capítulos, o que facilita esse trabalho. Não que isso vá resolver todas suas indagações. Ao menos nesses dias pós lançamento, é possível encontrar algumas teorias e dúvidas que, pelo menos por enquanto, estão longe de serem resolvidas.


Obrigado por jogar

The Hex faz parte de um seleto grupo de títulos que quebra a quarta parede nos games e o faz de forma muito interessante, falando de jogos dentro de um jogo. Sobre a forma como são desenvolvidos, vendidos e consumidos. Faz isso usando intencionalmente alguns clichês, mas que aqui estão encaixados em uma lógica que faz sentido.

Com um roteiro muito bom e que evolui de forma bastante interessante, é um ótimo candidato para aqueles que gostam de conteúdos mais subjetivos e histórias que rendem boas teorias. Mecanicamente ele é bem simples, mas isso não é um problema.

O forte de The Hex é a forma como se comunica com o jogador e como ele pega várias tramas, aparentemente isoladas e as converge para o mesmo ponto. Para quem gosta de games como OneShot, Undertale ou do próprio Pony Island, é uma boa pedida.

Prós

  • Narrativa pouco usual;
  • Quebra da quarta parede bem executada;
  • Mensagens secretas que incentivam a desvendar o jogo.

Contras

  • Alguns trechos longos demais.
The Hex — PC — Nota: 8.5

Revisão:Ana Krishna Peixoto
Análise produzida com cópia digital cedida pela Daniel Mullins Games


Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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