Análise: State of Mind (Multi) é um teste para os limites da humanidade

Desvende mistérios e descubra a vida de personagens envolvidos em uma trama que questiona os limites da tecnologia.

em 24/08/2018
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Imortalidade talvez seja o sonho mais antigo que permeia a mente humana. A morte nos assusta, sempre estamos tentando encontrar formas de vencê-la e a tecnologia pode ser a solução. E se pudéssemos viver para sempre tendo nossas mentes transferidas de computadores para novos corpos em um ciclo infinito? Essa é a trama principal de State of Mind, o último lançamento da Daedalic Entertainment que, mesmo com alguns tropeços, consegue entregar uma boa história de ficção-científica com ótimos personagens e um estilo visual único, capazes de criar um jogo de qualidade satisfatória.

Real versus Virtual

A trama de State of Mind se passa em um futuro não muito distante. Mais especificamente, em 2048. Na realidade pintada pelo game, o mundo e a sociedade estão mais dependentes da tecnologia do que nunca, com drones, robôs e até drogas virtuais fazendo parte do cotidiano de todos. E é justamente a vida de um jornalista que critica ferozmente essa “hiperdigitalização” do mundo que o jogador irá acompanhar.
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Richard Nolan é um jornalista que reclama dos impactos da tecnologia na sociedade. Mal sabe ele o quanto irá precisar dela...
Richard Nolan é o redator do The Voice, o maior jornal eletrônico de tecnologia de Berlim e acaba de se recuperar de um grave acidente de carro, mas sua memória está muito confusa. Sua mulher Tracy e seu filho James estão sumidos e ele começa a perceber aos poucos que o desaparecimento dos dois pode estar ligado a algo muito mais complexo e grave. Nesse ponto o jogador é apresentado ao outro personagem principal do game, Adam Newman, também um jornalista que mora na belíssima City 5.
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Adam Newman é um jornalista da bela City 5. Coincidência?


O problema é que o jogador logo se dá conta que Adam vive em um mundo virtual, quase perfeito e que sua vida, em muitos aspectos, parece imitar a de Richard. Mesmo que se perceba um esforço dos desenvolvedores em construir um clima de suspense e mistério, não demora muito se perceber que Adam é uma versão virtual de Richard e que existe uma conspiração transferindo mentes humanas para uma realidade digital a fim de colocá-las em corpos reais mais tarde. A solução definitiva para a imortalidade.
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Transferência neural não é um tema de ficção-científica muito inovador.
State of Mind abusa de muitos temas já estabelecidos no gênero da ficção-científica e, mesmo que não tente “reinventar a roda”, para alguém fã desse tema como eu, assim que você se dá conta do que está acontecendo, não existem muitas surpresas.para o jogador. Toda a trama cai em um clichê em que o único aspecto que impede você de desligar o jogo e fazer um sanduíche é assistir ao final porque você se conectou aos personagens e suas histórias de vida.
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O game pode ser um clichê. Mesmo assim, é um clichê belo e cheio de estilo.

Os fantasmas das máquinas

A tecnologia que State of Mind propõe para transferência mental não é perfeita e possui alguns efeitos colaterais problemáticos, porém onde ela falha, o jogo é capaz de acertar em cheio na atuação dos personagens e em suas histórias pessoais. Existe um tênue limite entre o clichê banal e uma estrutura narrativa que explora o lugar-comum da forma correta. State of Mind consegue se encaixar perfeitamente nessa segunda opção.
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Conhecmos Lydia mais a fundo pela metade da história, mas acabamos nos aproximando muito dela.
Desde o início da história o jogador consegue acreditar em Richard, Adam, Lydia e tantos outros personagens que encontra ao longo das 12 horas de gameplay. Existe uma conexão clara e forte que faz com que o usuário queira acompanhar suas histórias até o final. Os aspectos responsáveis por isso são a ótima atuação vocal e as histórias pessoais de cada um, extremamente realistas e críveis. Quando você se envolve no mundo pessoal de cada personagem, a banalidade da história de ficção-científica que tece o pano de fundo do jogo passa completamente despercebida.
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Mesmo que a vida de Adam não seja real, teria ela menos valor?
É uma infelicidade que certos pontos da trama, que não parecem ser tão relevantes para a construção da história ou dos personagens, recebam mais atenção que outros. Isso quebra o ritmo da narrativa e deixa diversas lacunas. O robô de Richard, Simon, por exemplo, em certo ponto da história começa a se destacar e o interesse do jogador por algo que quebre o clichê da narrativa desperta. Porém essa esperança morre logo em seguida quando o personagem novamente é jogado para escanteio. É como se os desenvolvedores não estivessem certos sobre qual caminho seguir e fazem experimentações durante o game, somente para optarem pelo mais simples posteriormente.
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Presenciamos a revolta dos robôs, mas o assunto não vai adiante.
Sem fazer muito alarde, o game possui um sistema de escolhas que altera certos capítulos da história e até a forma como a narrativa termina, mas no fim tudo se resume a uma escolha binária que, implicitamente, o jogador já imagina quais serão as consequências. Felizmente, ambos os finais são conclusões satisfatórias para as histórias dos personagens e encorajo o jogador a explorar cada detalhe da trama para perceber como essas decisões se constróem.
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Muitas escolhas de Richard e Adam são fixas, mas você será capaz de controlar o destino dos personagens até um certo nível.

Transhumanismo

Como State of Mind foca na sua narrativa, o aspecto jogabilidade é colocado em segundo plano. A mecânica do game se baseia em um sistema similar a um point n’ click, em que os objetos ou indivíduos do cenário possuem setas que sinalizam uma interação. Existem alguns puzzles ao longo do jogo, mas nada que irá exigir um grande esforço mental. A parte interessante fica por conta de poder alternar entre Richard e Adam nos mundos real e virtual para descobrir qual o próximo passo de investigação.
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Além de interagir, o jogador pode consultar informações sobre as pessoas e objetos ao seu redor por um mecanismo de Realide Aumentada.
Certamente os personagens e a forma como seus diálogos se desenvolvem auxiliam a trama a fugir da “mesmice” do gênero da ficção-científica, mas outro aspecto que contribui para State of Mind não cair na categoria de jogo genérico é seu estilo visual. Todo o game possui um visual poligonal, que lembram muito os gráficos de games do PS1 ou mesmo do Sega Saturn. É impressionante o mundo de atmosfera futurista e cyber-punk que os desenvolvedores conseguiram construir com apenas algumas formas geométricas simples. Junte a isso uma trilha sonora simples, mas poderosa, e você tem a ambientação perfeita para nenhuma história de ficção ficar sem destaque.
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O visual de polígons cria um estilo único ao game que captura com perfeição a atmosfera cyberpunk do game.
O único problema desse visual poligonal é quando os personagens estão passando por algum momento ou cena que exige um alto nível de transmissão de emoção. Os polígonos angulares não os ajudam a passar as sensações certas ao jogador e, por isso, muitos momentos que deveriam ter um grande impacto na conexão com o usuário perdem sua força. Felizmente esse visual não prejudica em nada a questão de visualização de objetos ou itens necessários para progredir na história.
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Infelizmente, os polígonos em baixa resolução falham ao capturar as emoções dos personagens de forma correta.
State of Mind é aquele clássico game com uma ideia boa que tantos outros filmes e séries, como Blade Runner e Matrix ou mais recentemente Westworld e Altered Carbon já nos mostraram que é possível explorar de uma forma fantástica, mas que, no fim, apenas nos deixa com um gostinho de “quero mais”. Talvez, se tivesse eliminado os puzzles ridículos e focado em mais detalhes da trama que poderiam construir uma narrativa mais poderosa, o game não iria passar apenas de mais um conto sobre como a humanidade quer vencer a morte a qualquer custo. Mesmo indo contra a ética e criando um mundo virtual tão complexo quanto o nosso para perpetuar sua existência.
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State of Mind é um bom conto de ficção-científica que, apesar de cair na banalidade, vale a pena ser experienciado.

Prós

  • Estilo visual cria a atmosfera perfeita;
  • Ótima atuação de voz e personagens bem construídos.

Contras

  • Estilo “poligonal” prejudica as emoções dos personagens;
  • Pontos mal-explicados/mal-explorados na história;
  • Mecânica de jogabilidade limitada e simples.
State of Mind - PS4/PC/Switch - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS4
Análise produzida com cópia digital cedida pela Daedalic Entertainment
Revisão: Link Beoulve



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