Semblance (PC/Switch) é um jogo indie do estúdio sul-africano Nyamakop. Foi lançado no dia 24 de Julho de 2018 para PC (disponível na plataforma da Steam) e Nintendo Switch e traz uma estética minimalista bem amarrada, junto a uma proposta 2D do gênero puzzle com plataformas.
O desenvolvimento do jogo em si é uma ótima surpresa, pois Semblance demonstra que é possível fazer um jogo excepcional, mesmo com uma estética minimalista e uma jogabilidade simples.
Uma inovação
Para os amantes de desafios com quebra-cabeças, Semblance proporciona uma experiência muitíssimo bem-vinda. Inovando as características do gênero, a mecânica do jogo gira em torno de ser possível moldar e recriar as plataformas com movimentos simples em que o personagem se choca com os sólidos do cenário e os deforma. Indo mais além, o personagem em si, uma bolinha roxa simpática, é moldável e isso deixa tudo ainda mais interessante. À medida que o jogo progride, todos esses elementos vão se juntando e tornando a experiência única.
A forma como o jogo faz o jogador pensar em formatos e soluções para as plataformas, a fim de chegar à próxima fase, é simplesmente genial. Pois os desafios à percepção são simples, afinal, são apenas sólidos básicos, mas ao mesmo tempo tudo ocorre de forma complexa. Quanto mais elementos presentes no quebra-cabeça, mais complicado fica achar o caminho certo para moldar as formas, isso proporciona, no final, uma satisfação incrível que contribui muito para a progressão do jogo.
A estética minimalista
O Minimalismo é decorrente de uma série de movimentos artísticos, culturais e científicos que ocorreram em diversos momentos, em sua maior força no século XX, e marcaram uma estética. A proposta era a de empregar o menor número de elementos, sendo então estes os de base mais fundamentais, possíveis nas obras e manifestações do movimento.
Semblance trabalha isso de uma forma inteligente. Como dito anteriormente sobre o personagem principal e as plataformas, tudo isso se encaixa completamente na estética, o que traz uma simplicidade que, por outro lado, demonstra a complexidade das possibilidades mecânicas do jogo.
Além disso, a trilha sonora é perfeita. Fugindo da característica antiga, porém recorrente dos jogos de plataforma, que possuem sons repetitivos que acabam se tornando cansativos, Semblance consegue acrescentar uma trilha sonora sutil, que em alguns momentos é quase imperceptível, já em outros traz certa emoção.
Para amarrar esses elementos, a arte visual do jogo também não deixa a desejar. O cenário no primeiro plano é simples, contudo o plano de fundo oferece um contraste bem-vindo. Consegue impressionar com poucos elementos geométricos e esse contraste distancia o jogo de parecer apenas algo simplório, e caracteriza portanto a cereja do bolo no que diz respeito à estética abordada.
Uma história no mínimo intrigante
Mesmo partindo de um gênero que muitas vezes não amarra o jogador pelo enredo, Semblance apresenta uma história completamente simples, mostrada sem diálogos, apenas com efeitos visuais que traz uma inquietação e uma curiosidade grande ao jogador sobre o que se passa naquele mundo.
A história é registrada principalmente a partir de inscrições nas paredes, que demonstram certa inteligência das criaturinhas do jogo. Além disso, algumas dessas inscrições estão escondidas pelo mapa, em caminhos inusitados que precisam de uma certa perspicácia para encontrar, o que torna a experiência intrigante dessas inscrições ainda mais potencializada. Tudo isso contribui para curiosidade acerca dos elementos por trás do jogo e adiciona profundidade à experiência.
Progressão de dificuldade perfeita
Uma das coisas que mais pode definir a experiência do jogo é sua progressão de dificuldade, principalmente em um gênero em que a história não é o foco e sim a dificuldade e o desafio das etapas.
Em Semblance, essa progressão traz uma satisfação enorme, pois não se torna enfadonha, nem muito frustrante. É uma medida perfeita, pois coloca o jogador num estado de fluidez com as mecânicas do jogo, com desafios que vão crescendo cada vez mais em dificuldade, mas sem cortar completamente o ritmo. Ou seja, as pausas e as progressões rápidas são intercaladas nas fases de modo a impulsionar a continuidade da jogatina.
Contudo, a separação das fases do jogo, as quais o jogador acessa através de portais, proporciona um momento de pausa a partir do sentimento de “dever cumprido” que deixa a escolha de continuar ou não bastante natural. Talvez se essa progressão não tivesse este último elemento, a jogabilidade poderia parecer forçada pelo senso de desafio. Desta forma, Semblance demonstra uma balança perfeita de dificuldade. Em que, talvez, seu único “defeito” seja a pequena extensão do jogo.
Um sentimento de “quero mais”
Ao atingir o final do jogo, o sentimento que fica é o de querer mais. Por ser um jogo minimalista, sua curta extensão pode ajudar a impedir que a experiência se torne repetitiva e maçante, por outro lado, o sentimento de querer mais desafios e explorar mais as possibilidades do jogo é inevitável.
A experiência excepcional de Semblance é um tiro certeiro e rápido que clama por uma continuação mas que, ao mesmo tempo, não deixa a desejar.
Prós:
- Proposta minimalista não exclui gráficos incríveis;
- Efeitos sonoros excelentes;
- História intrigante;
- Inovação no gênero Puzzle;
- Progressão de dificuldade perfeita;
Contras:
- O jogo poderia ser mais longo;
- Colecionáveis escondidos são interessantes mas não instigam a jogar de novo;
Semblance — PC/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Renata Bottiglia
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nyamakop.