Análise: Dead Cells (Multi) é um jogo com personalidade e muitas inspirações

O jogo da Motion Twin bebe da fonte de jogos como Dark Souls, Castlevania, entre outros, mas não deixa de ter sua própria personalidade.

em 06/08/2018


Dead Cells (Multi) foi desenvolvido pela empresa francesa Motion Twin, que disponibilizou seu projeto para o acesso antecipado nos computadores em 2017, com previsão de ser lançado no dia 7 deste mês de agosto, para todas as plataformas domésticas. E seu game indie, no estilo roguevania, com certeza merece a atenção de seu público alvo, ele é divertido, bonito e charmoso. Mas vamos aos detalhes.

Não é só a morte que nos espera

O jogo não se preocupa em contar uma história profunda e complexa, mesmo que um enredo exista. Nosso personagem é um prisioneiro em uma ilha desconhecida, e começamos com ele já morto, depois de ressuscitado, um guerreiro nos diz que não temos mais uma cabeça, e isso nos torna imortais. Ele volta a vida e no lugar de sua cabeça existe uma chama esfumaçada. Essa característica deixa o protagonista mudo, mas não menos comunicativo.


A comédia é algo bem interessante que o jogo sabe explorar. Não temos um rosto, então a graça acontece com os movimentos que fazemos ao interagir com as coisas e ver um balão com o que estamos pensando. Quando liberamos o ferreiro, e verificamos sua pedra de amolar (a única ferramenta que ele tem no local), o personagem pensa: “isso não pode melhorar armas como arcos. Esse jogo tem um péssimo design.” É super divertido o ver interagindo com o cenário e os NPCs, demonstrando confusão, dando “joinha” ou chutando portas.

A misteriosa ilha onde estamos é perigosa e cheia de lugares abandonados e deformados. E a interação com esses ambientes e NPCs vão nos entregando o enredo, mesmo que muito seja interpretativo. Quando morremos, a ilha se reconfigura, novos cantos são gerados e novos NPCs vão aparecendo, vivos ou mortos. Por exemplo, a primeira pessoa com que interagimos está viva na nossa primeira run, na segunda ela está morta na entrada da próxima fase, e na terceira seu corpo está podre. Fazer essas mudanças conforme seguimos no game é bem interessante e nos instiga a prosseguir querendo descobrir mais.


Ação estilo roguelike

Os desenvolvedores chamam Dead Cells de roguevania, misturando a ação, alguns processos do estilo roguelike, como mapas procedurais, e o estilo de exploração de jogos como Castlevania e Metroid. Para isso, eles criaram os aspectos das salas a mão, sua arte, forma e detalhes, e com isso determinaram em regras como o computador deveria apresentar ao jogador cada uma delas. Isso permite que eles não pareçam artificiais, como poderia acontecer (e acontece) com outros títulos do mesmo estilo.

E no centro do jogo está a ação, que foi tão polida quanto seus mapas. Como um roguelike, ele presa por variedade e múltiplos ataques, lhe dando a opção de usar duas armas por vez, variando de espadas leves, pesadas, arcos e flechas, martelos, entre outras, e mais dois espaços para armadilhas, como bombas que congelam e balistas automáticas. Com as armas em punho que o jogo brilha, a mecânica de combate é muito agradável e fluida de se usar. Isso permite uma esquiva, contra-ataques e pulos mais precisos. Fazer combos com seus equipamentos também é possível, o que diversifica e te faz querer experimentar o máximo de combinações possíveis. O que não funcionou comigo foram os controles usando o analógico, senti que perdia muito o controle do personagem, mas felizmente existe a opção de usar os direcionais.


Como nos jogos da série Souls, a dificuldade aqui é amarga, e morrer vai ser algo bem comum. Claro, o game te ajudará como for possível, te dando pergaminhos para evoluir algum atributo, como Força, Vida ou Estratégia, ou embutindo alguma runa, que nos dão algumas vantagens, como força com o sangue cheio, mais vida. Mas quando somos derrotados pelos inimigos voltamos para o início da primeira fase, na Prisão, sem os status que evoluímos durante a jornada. Esse é um jogo de uma run só, ou seja, se você perder para algum inimigo, vai voltar para o começo da primeira fase, que é a prisão. Isso pode parecer maçante, já que você irá fazer o começo, várias e várias vezes, mas ele consegue divertir em cada uma delas, e até nos fazendo querer superar nosso último embate.

Essa diversão que sentia jogando não me fez ficar menos frustrado em algumas partes. Morrer no chefão era muito fácil, e chegar nele novamente ficava cada vez mais complicado. E devo admitir que deixei o controle algumas vezes, mas sempre havia uma vontade de voltar, e derrotar quem quer que fosse que tivesse me matado. E esse problema não está no jogo, todas as vezes que isso aconteceu a falha era comigo. Eu não me equipei direito, não soube esquivar na hora, deixei que me cercassem, muitos podem ser os motivos. Mas não desistir é muito importante para superar estes desafios.


Muitos detalhes para observar

Para seu visual, o estúdio quis usar o famoso pixel art, e mesmo pixelado, eles fizeram um ótimo trabalho nesse quesito, tanto nas animações de movimento, coisas quebrando, como uma porta ou vaso, o mexer da chama da sua cabeça, quanto na aparência dos mais variados inimigos, que vão de espadachins, criaturas verdes que pulam, criaturas rosa que jogam uma parte do seu corpo e explodem, magos esqueléticos, arqueiros, além dos chefões, incrivelmente difíceis e divertidos.



Ao derrotar os inimigos, podemos ganhar ouro para comprar equipamentos com o vendedor em cada fase, ou célula para trocarmos por melhorias ou itens com o Colecionador, que estará todas as vezes entre os mapas. Além disso, podemos recuperar nossa poção e barra de vida. Essa mecânica é bem útil e muito bem utilizada na jogatina, é ótimo poder relaxar um pouco depois de matar várias criaturas e quase morrer algumas vezes.

O som também faz um ótimo trabalho em Dead Cells, cada fase possui uma música que transmite bem a vibe dela. A Prisão toca uma música um pouco melancólica, no Esgoto ela transmite um ar mais pesado, estamos no meio de uma sujeira. Além dos efeitos de ataque e grunhidos dos inimigos, corvos voando, água caindo.



O jogo ainda possui portas de desafios de tempo, no qual ele cria uma fase totalmente nova, com vários inimigos e nos faz ter que chegar no final dela com vida e derrotar o chefão, ganhando pontos a cada inimigo derrotado. Os fatores dessa fase bônus não são para facilitar, apesar de que aqui os itens não mudam de lugar e eles podem ser bem úteis.

Vale sim a pena!

Com todas essa qualidades, Dead Cells, é um excelente título roguelike para curtir, e pode apostar que você vai adorar as mais de 20 horas de conteúdo que ele vai proporcionar. Mesmo tendo algumas dificuldades com o controle analógico e algumas mortes rápidas bem frustrantes, eu amei toda a experiência e até ri com vários momentos da jogatina. Se você tiver a oportunidade de jogá-lo, aproveite. Vale muito a pena.

Prós

  • Os contos da história vão se moldando conforme você morre e as fases mudam;
  • O sistema de level up funcionar por pergaminhos consumíveis;
  • A variedade dos equipamentos e itens;
  • Movimentação rápida e divertida;
  • Visuais e sons de excelente qualidade;
  • Mapas procedurais muito bem montadas, deixando a jogatina bem fluida e orgânica;
  • Inimigos difíceis de derrotar, mas nunca injustos.

Contras

  • Controle analógico terrível de usar;
  • A frustração de morrer inúmeras vezes virá em algum momento.
Dead Cells — PS4/XBO/Switch/PC — Nota: 9.0 
Versão utilizada para análise: PS4
Análise produzida com cópia digital cedida pela Motion Twin
Revisão: Ana Krishna Peixoto

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