Análise: Jurassic World Evolution (Multi) é a melhor experiência de criar um parque dos dinossauros

O novo título da Frontier Developments revive o gênero de simulação econômica com extenso conteúdo e ótima qualidade.

em 05/07/2018
Simuladores de economia eram muito populares principalmente no final dos anos 1990 e início dos 2000. É dessa época que temos a popularidade de títulos como SimCity, Zoo Tycoon e RollerCoaster Tycoon. Porém, temos em pleno 2018 um novo título do gênero baseado no mundo dos dinossauros de Michael Crichton, que chegou aos cinemas pelas mãos de Steven Spielberg. Jurassic World Evolution (Multi) consegue pegar um gênero em desuso e transformá-lo de tal forma, que mostra como é sensacional ver um jogo desse tipo na atual geração.


Com uma extensa quantidade de conteúdo, detalhes administrativos complexos e desafios consideráveis para não cairmos na mesmice, Jurassic World Evolution consegue traduzir com grandes tons de realidade a rotina do que seria a complexa e extensa administração de um parque do porte do que vemos nos novos filmes do universo do Parque dos Dinossauros.


Detalhismo visual de cair o queixo

Em 2003 tivemos a primeira experiência com um simulador de parque dos dinossauros. Este era Jurassic Park: Operation Genesis (Multi), que trazia pela primeira vez a oportunidade de criarmos e gerenciarmos um parque dos dinossauros inteiramente nosso. Agora, 15 anos após o lançamento, recebemos uma versão incomparável, com melhorias gritantes e recursos incríveis. Se Jurassic World Evolution se diferencia de inúmeras formas do seu “antecessor”, a mais chamativa no primeiro momento é em seu visual.

Isso porque Jurassic World Evolution tem um realismo incrível, já sentido nos primeiros minutos de jogo. O que mais chama atenção no aspecto visual é a liberdade com a qual utilizamos a câmera de jogo. Ao contrário da maioria dos jogos mais conhecidos do gênero, que mantém a visão prioritariamente aérea, como se fossemos deuses naquele ambiente controlado, Jurassic World nos dá oportunidades incríveis de observar vários detalhes dos parques e ilhas com os quais trabalhamos.



Desde diferenças sutis entre os turistas até uma observação detalhada de cada dinossauro do parque, podemos ver nos mínimos detalhes tudo que construímos. Isso sem telas de carregamento, problemas de textura ou bugs. Jurassic World Evolution consegue ser um jogo belíssimo olhado de longe e ainda mais incrível ao chegar bem perto.

Respeito a todos os fãs da franquia

Jurassic World Evolution não se encaixa exatamente em uma época muito clara da franquia. Isso porque alguns elementos sugerem que estamos em um período entre os dois filmes novos da franquia, mas ao mesmo tempo temos personagens que já deveriam estar mortos conversando com outros que estariam em locais diferentes, caso o período retratado fosse exatamente entre filmes. O que acontece, na realidade, é que a “história” de fundo não interessa em nada na jogatina.



Para talvez compensar essa falta de contextualização no universo riquíssimo da franquia, os desenvolvedores prepararam diversos detalhes que fazem os fãs de carteirinha do Parque dos Dinossauros darem ótimos sorrisinhos de canto de boca enquanto jogam. Entre eles, já podemos citar de primeira o fato de todos os personagens de filmes que aparecem estarem com seus dubladores originais dos filmes. Assim, ao jogar a versão dublada do game e se deparar com uma mensagem de Ian Malcom, é a voz do Ian Malcom do Parque dos Dinossauros original que você ouvirá falando, e isso faz toda a diferença.

Fora a excelente dublagem, temos também a trilha sonora original da franquia, com os tons já muito conhecidos na cultura pop. Mas não só de música e personagens que os fãs estarão munidos, pois os próprios dinossauros emitem sons idênticos aos dos filmes. Destaque aqui para o estrondoso rugido do Tiranossauro Rex e os sons enigmáticos dos Raptors, que estão representados com fidelidade incrível ao que vemos nos filmes antigos da franquia.



Como se não bastasse todo esse conteúdo respeitoso, ainda temos um banco de dados desbloqueado paulatinamente que conta diversas histórias e detalhes de vários personagens, lugares e elementos distintos de todos os cinco filmes da franquia até então. Desde o laboratório que leva o nome Hammond até um perfil explicando quem era o Sr. DNA, tudo aqui respeita bastante a franquia, tratando tanto ela como seus fãs com o devido respeito.

Administração com ótimos desafios

Ao começar a jogatina, entramos no papel do novo administrador do parque. Fora citado que outros desastres já aconteceram e, com isso, estamos no papel de resolver todos os antigos problemas, criando assim um parque totalmente funcional e que, principalmente, renda lucro o suficiente para continuarmos investindo na criação de dinossauros cada vez maiores e mais raros.



No jogo, passamos por diversas ilhas, pertencentes ao arquipélago das Ilhas das Cinco Mortes. Antes de ir para a grande ilha conhecida dos filmes, a ilha Nublar, passamos por outras quatro ilhas bem menores, cada uma com um desafio específico a ser completado. Na primeira, somos apresentados de forma orgânica a todos os mecanismos de administração do parque, que não são poucos. Em seguida, temos o desafio de lidar com sabotagens e problemas climáticos constantes. Já na terceira ilha, temos o desafio de começar a estruturar o parque a partir de um início envolto em dívidas imensas. Na quarta, somos colocados contra o próprio terreno, sendo obrigados a administrar muito bem o escasso espaço que temos para construir.

Todo esse percurso do “modo história” para chegar finalmente à Ilha Nublar leva cerca de 15 horas para ser feito, isso sem alcançar pontuações máximas em cada uma das ilhas. Entretanto, o jogo permite que o jogador acesse qualquer uma das ilhas anteriores sempre que quiser, possibilitando assim que um jogador retorne à primeira ilha após liberar espécies e recursos interessantes mais pra frente, só para melhorá-la ainda mais e conseguir pontuações maiores de público e equipe.



Todos esses desafios iniciais são complementados por missões aleatórias que são dadas por três representantes das equipes de administração do parque: divisão de pesquisa, de segurança e de entretenimento. Temos ainda outro desafio embutido: a popularidade com as divisões. Isso porque, ao fazer missões para uma das divisões e, consequentemente, aumentar sua popularidade com ela, você também perde popularidade com as duas outras divisões.

Assim, além de cumprir o objetivo das missões, é preciso ter bastante estratégia sobre como agir frente a política de cada divisão, coordenando de forma balanceada todas as missões para que ninguém fique com uma popularidade negativa com você. Isso acarreta sabotagens no parque que geram prejuízos e atrasos no desenvolvimento. Todo esse senso de desafio imposto pela mecânica administrativa do parque encaixa muito bem com o jogo, fazendo com que ele não caia na mesmice que outros simuladores deste tipo caem. Com isso, mesmo após 20 ou 30 horas de jogo, ainda há coisas interessantes para serem feitas, dinossauros para serem liberados e missões a serem cumpridas.


Um pouco de “mão na massa”

Uma das inovações mais incríveis que Jurassic World Evolution trouxe foi a possibilidade de entrar no corpo de algumas unidades do parque e agir de forma “manual” durante as operações. Assim, além de construir estabelecimentos, enviar equipes de escavação por todo o mundo, administrar vendas e energia, e criar dinossauros, você também pode entrar na pele das equipes de segurança e de controle do parque, tornando a experiência muito mais pessoal do que em outros jogos do gênero.

No parque, temos divisões de segurança para transporte dos Dinos, administração de remédios e segurança em si, evitando que eles fujam ou ataquem pessoas. Essas divisões ainda são responsáveis por reabastecer os tanques de alimentação e consertar danos em edifícios e cercas. O que acontece é que, no domínio de jeeps ou helicópteros, você pode tanto delegar tarefas a essas unidades como também controlá-las manualmente e você mesmo fazer os serviços.



Assim, você pode literalmente brincar de caça aos dinossauros, observá-los mais de perto e até temos um recurso de fotografia que rende tanto troféus de conquista como também renda para o parque. Todos esses elementos estão muito bem encaixados com o contexto todo da criação do parque, justificando a presença dessas mecânicas ali. Isso porque, mesmo que a maior parte dessas tarefas possam ser delegadas à NPCs, fazê-las manualmente é muito mais rápido e eficiente.

Incrível quantidade de conteúdo

Outro ponto muito positivo de Jurassic World Evolution é a quantidade de conteúdo que o jogo possui. Aqui não estou falando apenas da ótima quantidade de dinossauros do título (que inclusive já foi atualizado com novas espécies após o lançamento do último filme da franquia). Além do óbvio, temos também recursos detalhados de gastos do parque, opções de pesquisa e melhoria de construções e dinossauros, através do laboratório de pesquisa, e muito mais.



Na parte de pesquisas, existe toda uma árvore de habilidades para cada edifício do parque, fazendo com que o desenvolvimento do parque como um todo seja bastante personalizado. Além disso, temos também pesquisas voltadas para a manipulação genética dos dinossauros, possibilitando a criação de algumas espécies híbridas, como o Indominus Rex e o Indoraptor, e até outros pontos que melhoram a saúde, a convivência social ou até a coloração dos monstrengos.

Toda essa extensa gama de possibilidades pode fugir do controle às vezes, deixando o jogador um pouco perdido frente a tantas opções. Entretanto, o jogo não se perde por conta disso, só acaba deixando algumas mecânicas um tanto escondidas para quem não investiga o suficiente. Por exemplo, temos o banco de dados da InGen com informações a respeito de tudo e de todos no parque, informações essas que vão sendo desbloqueadas ao longo do desenvolvimento dos parques e pode ajudar bastante em alguns momentos.

Inteligência artificial de primeira

Outro ponto muito chamativo no jogo é o nível de qualidade da inteligência artificial como um todo. Desde os visitantes correndo dos dinossauros em fuga até a reação das divisões de equipe frente às suas escolhas, tudo faz sentido e é tão realista para um parque de seres pré-históricos revividos por manipulação genética numa ilha da Costa Rica. Mas entre todas as inteligências artificiais envolvidas no jogo, a que mais chama atenção é a dos dinossauros.

Isso porque os dinos aqui são complexos o suficiente para tornar a sua existência no parque o mais realista possível. Cada um possui uma ficha técnica própria com níveis de saúde, sede, fome, conforto, socialização, população e outros dados. Esses níveis são diferenciados para cada espécie, fazendo assim com que um T-Rex seja mais antissocial do que um Raptor, ao mesmo tempo que um Braquiossauro prefere mais florestas do que um Triceratops e por aí vai.



Se qualquer um desses níveis estiver no vermelho, o dinossauro não estará confortável em seu cercado, fazendo com que ele force uma fuga e cause o caos no parque. Para além dessas mecânicas de pura jogabilidade, temos também alguns detalhes no comportamento dos animais que chega a dar um frio na barriga quando observados por muito tempo.

Isso porque os dinossauros de fato vivem no parque. Ao observar um Velociraptor de perto, vi padrões de comportamento nele que seriam inimagináveis há alguns anos em jogos deste tipo. O dinossauro vai beber água quando está com sede e procura por alimento caso esteja com fome. Mas, para além disso, ele socializa com os demais raptores, observa o ambiente e reage a ele. Ao passar um helicóptero acima de seu cercado, o dino ficou observando-o atentamente. Além disso, assim que foi criado, estudou todo o perímetro de seu cercado, visivelmente calculando as possibilidades de fuga. Todos esses detalhes fazem da experiência de jogo muito mais completa e rica.


A experiência definitiva de um Jurassic Park

Jurassic World Evolution (Multi) coleciona um número incrível de qualidades e quase nenhum defeito. Um jogo que tinha tudo para ser estritamente comercial, por conta do marketing em cima do novo filme da franquia, na verdade trouxe uma experiência legítima de administrar um parque dos dinossauros. A experiência de jogo é incrível, com detalhes excelentes para fãs do gênero e da franquia, além de possibilidades muito bacanas de jogo.

Se o jogo peca em alguma coisa é, talvez, em não ter modos de jogo variados, com edições livres e outros fatores que são típicos de jogos do gênero administrativo e de simulação. Porém, isso não deixa de fazer com que o novo título seja uma excelente experiência, que traduz com maestria tudo que deveria ter de problemas e glórias em um parque dos dinossauros.


Prós

  • Extensa quantidade de conteúdo;
  • Inteligência artificial dos dinos impressiona bastante;
  • Trilha sonora original dos filmes;
  • Dublagem de excelente qualidade;
  • Desafios e missões melhoram o ritmo de jogo;
  • Elementos administrativos bem realistas;
  • Visual incrível com nível de detalhismo sensacional;
  • Extensa quantidade de dinossauros;
  • Informações de todos os filmes da franquia;
  • Modos manuais de contenção são um ótimo acréscimo à experiência.

Contras

  • Quantidade de conteúdo pode deixar jogadores perdidos às vezes;
  • Ausência de modos variados de jogo.

Jurassic World Evolution - PS4/XBO/PC - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PS4

Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Frontier Developments

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
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