Jogos que zerei: a era 8-bits

Quando chega o final da década de 1980, e os consoles entram na 3ª geração, o termo “zerar” vira o objetivo de toda uma geração.

em 10/06/2018

Comecei a jogar videogames na segunda metade da década de 1980, quando meu pai trouxe um Philips Odyssey — ou Odyssey² — para casa. Mas, como a maioria dos jogos da 2ª geração, haviam pouquíssimos jogos com finais.



A maioria dos jogos do Odyssey² tinham como maior objetivo bater recordes, e os desafios eram feitos com a molecada do bairro. Lembro de inúmeras vezes quebrar o controle do Odyssey² porque morria logo e não conseguia ultrapassar a pontuação do meu irmão no Senhor das Trevas.

Mesmo assim, pouquíssimos jogos do Odyssey² nos davam a opção de competir com a máquina, como era o caso de Interlagos, Duelo no Velho Oeste, Alien! e Em Busca dos Anéis Perdidos (quando deixávamos a própria máquina assumir o papel de Senhor dos Anéis).

Alien! para Odyssey²

Mas, por ser um console bastante rudimentar, nós não tínhamos a história bem definida dentro do jogo, por isso, até havia um capricho nos manuais do Odyssey contando toda história do jogo, e tampouco tinham as famosas telas finais, mostrando a imagem do herói resgatando a mocinha ou salvando o mundo. Simplesmente quando vencíamos o Odyssey, o jogo parava, então, bastava apertar o reset e começar tudo de novo.

Porém, esta sensação de sentir-se desafiado, de realmente jogar um game com um objetivo na cabeça, e realmente adentrar-se na história do jogo, veio com a 3ª geração de consoles. Ela mudou o modo de ver os videogames, trouxe novos desafios e nos fez criar um novo termo que virou sinônimo de objetivo. Agora, os jogos vieram a nós para podermos, finalmente, zerá-los.

O primeiro jogo zerado

O Master System foi o console que me fez entrar na 3ª geração. Para mim, foi um salto tecnológico grande, comparando com o Odyssey². Lembro que um dos jogos que meu pai trouxe junto com o videogame foi Altered Beast.


O jogo não era difícil, aliás, bem mais fácil que a sua versão original dos Arcades, porém, o número limitado de vidas e a falta de continues deixavam um pouco mais complicadas as minhas tentativas de salvar Athena das garras do nefasto Neff.

Foi minha impaciência infantil e a ânsia de jogar logo o game que não me deixaram atentar a um detalhe. No próprio manual do jogo, nas fitas Tec Toy, havia no final uma sessão chamada Dicas úteis (poderia ser mais óbvio) e na do Altered Beast tinha uma muito boa: como conseguir “continues”.


A partir daí, já bastante treinado no jogo, se tornou muito mais fácil resgatar Athena. Cheguei, após algumas partidas, no covil do nefasto Neff, consegui memorizar todo o seu movimento e traçar uma estratégia de ataque capaz de derrotá-lo, que consistia em pular, virar uma bola de fogo (lembrando que na última fase estamos na forma de Lobo Dourado) e ficar o atingindo, repetitivas vezes por cima da cabeça. Logo a criatura explodiu, um pássaro branco surge do céu e se transforma em Athena, finalizando a jornada do centurião revivido por Zeus.

Lembro até hoje de detalhes deste final, da música e da sensação de ter zerado pela primeira vez um jogo. Foi uma satisfação grande de dever cumprido.

O próximo desafio: Black Belt

Dessa vez, procurei algo um pouco mais desafiador na minha biblioteca de jogos do Master System. Black Belt era um jogo bem mais frenético, muito mais que o Altered Beast. Você tinha que ser muito preciso nos golpes para poder correr e atingir seus adversários sem levar dano.


Levei um tempo pra descobrir essa manha do jogo, no começo eu ficava parado tentando enfrentar os adversários que apareciam na tela, mas sempre apareciam mais e eu acabava cercado por eles sem poder me locomover.

Uma vez descoberta a manha do correr e bater, o próximo passo foi descobrir como derrotar os sub chefes e os chefes, e nesse quesito irei destacar dois que me deram muito trabalho: Gonta e Oni.

Gonta até hoje me dá um certo trabalho, com ele eu precisava ser preciso nos saltos e não podia deixá-lo me acertar, pois seus golpes são muito fortes e tiram muito dano. Já Oni foi um caso a parte, demorei muito para descobrir uma maneira de acertá-lo, as dicas que vinham no manual não ajudava muito e, na raça, acabei descobrindo seu ponto fraco.


O maior problema com ele era a sua guarda sempre levantada e quando atacávamos, Oni era muito rápido em defender e desferir um contra-golpe, com isso, ele sempre me derrotava, até descobrir seu segredo. Não adiantava atacá-lo, o único jeito de ganhar dele era esperando seu ataque, nesse momento contava a agilidade com o controle, pois, ao atacar, Oni abaixava a guarda por alguns milésimos de segundo, então eu deveria ser rápido o suficiente para desviar do seu ataque e contra-atacar com um soco. Bingo! Descobrindo isso, Oni foi derrotado e hoje passo por ele sem dificuldade.

Quando zerei o Super Mario Bros. 3

Na minha infância nunca tive um console Nintendo, mas, mesmo sendo um seguista, sempre admirei os jogos da rival da Sega, que pude aproveitar muito na casa de amigos e primos. Um amigo que tinha era meu vizinho de condomínio, Fernando, que tinha um Phantom System. Quando ele ganhou o Super Mario Bros. 3 decidimos que iríamos dedicar nossos finais de semana para zerá-lo.


Foi até complicado, pois o jogo não tinha saves e tínhamos que enfrentar na raça, quer dizer que, um game over e já era, tínhamos que começar tudo de novo. Semanas jogando e já estávamos avançando bem, mas quando chegamos na Pipe World o negócio empacou.

Mas foi graças às boas revistas da época que descobrimos o caminho, era uma Supergames que vinha debulhando o Mario, dava dicas de como passar das fases e ainda de como conseguir itens secretos, inclusive as flautas mágicas. A partir daí, chegar no Castelo do Bownser foi moleza.

A famosa Warp Zone, local onde a flauta nos leva

Chegar ao Bownser foi um pouco mais difícil, levou o final de semana todo até enfrentarmos o monstrengo. Nesse dia em especial contávamos com um apoio, um primo de Fernando que morava em Recife passava férias na sua casa. Finalmente, com muito esforço, conseguimos derrotar o algós da Princesa Peach e resgatá-la, porém, a alegria foi tanta que o primo de Fernando começou a pular, num desses saltos ele pousou no fio do joystick fazendo derrubar o Phantom System. Foi uma sessão de xingamentos, primeiro por acharmos que o videogame havia morrido na queda, o que não aconteceu, segundo por termos perdido a tela final do jogo, foi uma decepção.

Na outra semana conseguimos chegar ao Bownser e derrotá-lo, desta vez sem euforia, ficamos apenas parados observando aquela tela final, a qual a Princesa agradece ao Mario por libertá-la e logo depois um retrospecto das fases que passamos até o resgate da Princesa. Finalmente conseguimos desfrutar o gosto da vitória e a sensação de orgulho pelo resgate da Princesa Peach.


A terceira geração trouxe um novo patamar de desafios para os jogadores, talvez seja a geração que tenha os jogos mais difíceis, alguns chamados de “inzeráveis”, como o Battletoads, e outros mais hardcores como os da série Contra (estes eu consegui zerar). Com isso, a 3ª geração trouxe de volta a vontade de ficarmos horas na frente da TV tentando ser o herói e salvar o dia, o mundo, Princesas, namoradas e até o Presidente. A 3ª geração de consoles foi a verdadeira heroína salvando todo o mercado de jogos eletrônicos e mantendo verdadeiros apaixonados pelos videogames como nós.

Revisâo: Ana Krishna Peixoto

Jornalista, advogado e músico, ofícios que exerço com paixão. O amor pelos videogames veio no mesmo período que me apaixonei pela música, quando ganhei meu primeiro console - o Philips Odyssey - foi amor a primeira vista, é uma relação eterna com o mundo dos games
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