Quem viveu a infância no início da década de 1990 lembra muito bem da febre que envolveu o lançamento do Game Boy. Apesar de não ser o primeiro portátil da Big N, certamente foi o console que revolucionou o mercado e abriu portas para incontáveis possibilidades. Mesmo com todo o sucesso, a plataforma também apresentava seus pequenos “defeitos”, como a tela monocromática e sem iluminação que impossibilitava jogatinas em ambientes escuros.
No entanto, é justamente na “falha” do Game Boy que reside o charme visual de Madcap Castle, título desenvolvido pelo estúdio brasileiro Diel Mormac Games e distribuído pela Indústria de Jogos. Aparentemente simples aos olhos menos atentos, o projeto mostra que a beleza dos videogames não mora somente em gráficos ultrarrealistas. Essa é a prova de que também é possível criar cenários muito interessantes apenas aproveitando traços simples e diferentes tons da mesma cor.
Outra opção que conta pontos para a direção de arte é a distribuição de itens decorativos pelas fases, iniciativa que elimina o aspecto monótono do jogo. Afinal, passar muitos minutos olhando para a tela com poucas cores pode ser cansativo, o que atrapalharia a experiência de maneira geral. Porém, os variados elementos em pixel art, que podem ser simples objetos ou easter eggs, cumprem bem a função de servir como pontos de descanso para os olhos.
Consegue pegar todas as referências desta fase? |
Jeitinho retrô, mecânicas modernas
Recentemente, estamos sendo bombardeados por uma quantidade incontável de jogos que buscam suas inspirações no passado. Geralmente, esses títulos não apresentam nada de muito novo e poderiam ter sido lançados tanto em 2018 quanto em 1988. O grande erro dos produtores, nesses casos, é acreditar que um visual que remete aos clássicos é o suficiente para vender um game — algo que em quase 100% das vezes se mostra mentira.Com Madcap Castle eu senti que poderia muito bem o estar experimentando em meu Game Boy antigo, se não fosse por um fator importante: a enorme quantidade de elementos se movimentando na tela simultaneamente. Se tivesse sido produzido para o portátil, sem sombra de dúvidas o jogo teria que perder boa parte de seu desafio, pois o console não tem a capacidade de processar tanta informação de maneira simultânea sem engasgar.
Muitas balas ao mesmo tempo! |
Sejam balas atiradas contra o protagonista ou ratos correndo de um lado para o outro, o número de elementos com animações no cenário é elevado, principalmente, nos níveis mais difíceis. É essa mistura de elementos retrô com opções que se tornaram possíveis graças a atual tecnologia que colaboram para o sucesso de games com o estilo clássico — fórmula que se popularizou com a excelente aceitação que Shovel Knight recebeu do público e crítica.
Perdidos no castelo
O enredo de Madcap Castle é bastante simples. O jogo conta a história de um mago que cansou de ver seu Game Boy ficar sem baterias e resolveu procurar uma solução para o problema. Em suas buscas, ele descobre pilhas mágicas que possuem energia infinita. No entanto, alcançar o artefato dos sonhos não será tão simples, pois o item está muito bem guardado em um castelo repleto de monstros e armadilhas.Com um total de 150 fases, o jogo mistura elementos de plataforma e puzzle. Cada uma das salas, que funcionam como level único, apresenta um pequeno quebra-cabeça que precisa ser solucionado a fim de liberar o caminho para o próximo desafio. No início, as fases podem ser terminadas em menos de um minuto, porém a dificuldade é crescente e conforme o avanço do jogador vai ficando cada vez mais complicado resolver as charadas.
Em busca das pilhas infinitas |
É justamente no level design que mora um dos problemas mais graves de Madcap Castle. Não são raras as fases que obrigam o jogador a superar determinado obstáculo para chegar ao canto direito da sala, apertar um botão, ter que passar por todas as armadilhas novamente para apertar um novo botão que surgiu do lado esquerdo, e depois ter que atravessar todos os perigos uma terceira vez para alcançar o portão de saída.
Ficar indo e voltando acaba sendo bastante cansativo e frustrante, pois se o mago for pego por alguma armadilha quando já estiver indo para o final do quebra-cabeça, terá que refazer toda a fase desde o zero. A mecânica, que foi inserida para elevar o nível de desafio do game, acaba tendo resultado ao contrário do esperado, deixando algumas fases extremamente repetitivas e monótonas.
Também atrapalha bastante a experiência a caixa de colisão instável do personagem. Independentemente do obstáculo, basta apenas uma encostada em qualquer inimigo, espeto ou bala para que o mago morra. Ciente disso, o jogador precisa tomar muito cuidado em cada passo, pois é difícil calcular o que vai acertar o protagonista, já que sua hit box parece mudar de uma fase para outra. Por exemplo, em um desafio cheguei a ficar sobre os pixels do espinho e nada aconteceu, porém tentei o mesmo no puzzle seguinte e simplesmente fui obliterado.
Thwomp, é você? |
Abracadabra
Para variar um pouco o gameplay, o mago conta com alguns feitiços que o auxiliam dentro do castelo. Porém, o uso das magias é limitado. Em uma fase que preciso diminuir o tamanho do personagem, por exemplo, somente essa possibilidade estará disponível. Com isso, a mecânica acaba sendo subaproveitada, afinal seria bem mais interessante ter todo o arsenal de mágicas liberado a todo o momento. Pois, além de deixar a experiência engessada, a presença de um determinado feitiço em uma fase acaba “entregando” como o puzzle deve ser resolvido.Os controles também acabam atrapalhando um pouco no momento de usar os feitiços. Jogando no teclado, percebi que os comandos não respondem quando apertamos três teclas ao mesmo tempo. Ao tentar pular para frente e lançar uma magia, algum dos três movimentos não era realizado. Foram dezenas de mortes causadas por essa falha nos controles, problema que se torna bastante irritante, principalmente, nas fases que exigem reflexo rápido.
Apesar de ser uma possibilidade que poderia ter sido explorada de uma maneira melhor, o uso das magias acaba cumprindo o seu papel de tornar os puzzles menos repetitivos. Se não fosse esse recurso, o principal obstáculo a ser vencido até o nível 150 seria o tédio.
Um dos feitiços é conjurar galinhas... |
Poderosos chefões
Como todo bom representante do gênero plataforma, Madcap Castle também conta com batalhas contra chefões. Cada boss, encontrados no final das áreas do castelo, é responsável por confrontos bastante desafiadores. Saber usar corretamente o feitiço disponibilizado será sempre a chave da vitória, porém, mais importante do que usar a varinha é saber o momento certo para atacar.Os inimigos apresentam padrões de movimentos e é preciso ler e compreender a maneira como agem a fim de determinar o tempo certo para desferir seu golpe. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que entre as 10 melhores fases de todo o game, cerca de quatro se passam nas batalhas contra os chefões.
Um dos melhores chefes do game |
Meu querido Game Boy
Mesmo com alguns problemas pontuais que atrapalham um pouco a jogatina, o game consegue divertir com seu belo visual e, principalmente, por conseguir mesclar retrô e atual. É fácil passar horas dentro das centenas de salas do castelo procurando a maneira de avançar para o próximo nível. Com a curva de dificuldade que pune, mas também ensina o jogador, a sensação é de dever cumprido ao vencer cada obstáculo.Para quem sente saudades das marcantes telinhas verdes do Game Boy, Madcap Castle é uma escolha que consegue resgatar a nostalgia desta época ao mesmo tempo em que proporciona um desafio moderno e intuitivo.
Prós
- Belíssimo visual retrô;
- Apesar de subutilizada, mecânica de feitiços colabora para variar o gameplay;
- Batalhas interessantes contra chefões.
Contras
- Level design força o jogador a ficar andando de um lado para outro na mesma fase;
- Problemas com a caixa de colisão do personagem;
- Controles com problemas de resposta.
Madcap Castle — PC — Nota: 6.5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Diel Mormac Games