Análise: The Red Strings Club (PC) é envolvente e ainda te ensina a fazer drinks

Publicado pela Devolver Digital, o jogo relaciona um barman, um hacker e uma androide contra uma grande corporação que quer controlar as emoções das pessoas

em 24/01/2018
Bebida alcoólica mexe com as pessoas. Quando o álcool chega ao cérebro tudo pode acontecer. Ficar feliz, eufórico, triste, choroso, corajoso... Mas e se você usasse a bebida para deixar as pessoas mais propícias a soltar informações importantes sobre uma grande corporação que pretende controlar os sentimentos humanos? Você acaba de ser apresentado a The Red Strings Club, novo jogo da Deconstructeam, publicado pela Devolver Digital.

O fim da tristeza é bom?

O início do jogo é o final. Um dos protagonistas, um hacker, está prestes a morrer (em queda livre de um edifício). Em um flash, somos jogados no “passado”, em um pequeno bar chamado The Red Strings Club.


Assim somos apresentados a Brandeis, um hacker revolucionário, e Donovan, um barman. Namorados, juntos em mais uma noite tranquila até que uma androide destruída adentra o bar. A máquina fugiu da Supercontinent quando presenciou o assassinato de uma revolucionária que invadiu o prédio. Agora, ela quer ajudar o casal a parar o ambicioso plano da empresa.

A Supercontinent é uma corporação que fabrica implantes de cerâmica para humanos. Cada implante tem uma função. Diminuir a fome, dar mais poder de persuasão, aumentar a sensualidade, ignorar a pressão social... Porém, a empresa tem pensado além. Cada implante possui ainda mais possibilidades escondidas. A Supercontinent deseja controlar a emoção das pessoas de forma única. Fazer com que todo mundo não sinta tristeza, raiva e qualquer outro mau sentimento. Entretanto, isso é bom? Até onde vai esse desejo de controle? É um pretexto para moldar a sociedade aos seus interesses?



A união no mínimo excêntrica de um hacker, um barman e uma androide é a única salvação para que a sociedade não se veja controlada pelas ambições da corporação. Felizmente, a história de The Red Strings Club é tão interessante quanto parece — baseada nas escolhas que se toma, seja em diálogos ou em ações.

As modificações são feitas de modo inteligente e natural. Durante uma conversação, você sem querer prejudicou uma funcionária da Supercontinent. No futuro, quando precisar de sua ajuda ela atenderá o celular dizendo que está encurralada com cachorros da empresa procurando-a, prontos para matá-la. E lá se vai uma ajuda útil por uma atitude que tomou na primeira hora de game.

Um dos maiores trunfos de The Red Strings Club é sua capacidade de fazer o jogador refletir. Não são diálogos vazios contando a história de modo seco, são conversas profundas, debates, que além de montar um mundo rico, instigam questionamentos. Você é contra o projeto da Supercontinent de controle de sentimentos negativos? Mas se você pudesse, evitaria que pessoas tirassem a própria vida? Evitaria casos de estupro? Evitaria a homofobia, machismo e outros preconceitos? Prepare-se, porque você terá que responder a tais perguntas.


Para completar, esse foi um dos jogos que mais me impressionou pela representação LGBT+. Logo nos primeiros minutos, é revelado que uma personagem é lésbica. Logo após, você nota que o hacker e o barman parecem mais próximos do que simples amigos, e de fato eles se amam e são namorados. Mais tarde, descobre-se que uma outra mulher é trans. Tudo é exibido de maneira natural, o que é perfeito. É necessário que a comunidade seja representada com normalidade, não como produto à venda dos simpatizantes (e ódio dos ignorantes).

Modelar cerâmica, fazer drinks ou invadir computadores... que tal fazer tudo isso?

Na maior parte do jogo você controla Donovan. Ele é o barman e encarregado de receber clientes e extrair informações. Com ele, você fará diversos drinks para tocar emoções pessoais, como medo, orgulho, luxúria... O que é melhor para o momento que deseja obter certo dado?



É mais difícil do que parece. Cada bebida mexe o círculo numa direção, o gelo diminui o círculo. Você pode conseguir em segundos ou em minutos fazer o drink ideal. Sempre mais desafios são acrescentados, como a necessidade de misturar bebidas numa coqueteleira. Mais líquidos ou drogas de características especiais.

Porém, há outras habilidades para serem exploradas, afinal cada um possui a sua. Você modelará implantes de cerâmica com a androide. É como fazer jarro de argila, com mais curvas e ainda uma música cyberpunk de fundo. Novamente, o jogo acerta na dose. Você escolhe quais implantes cada pessoa deve receber (com base em seus problemas), enquanto molda a cerâmica imagina o quanto isso pode dar certo e depois fica ansioso para saber se o resultado foi o esperado.


Novamente, há momentos de reflexão. Um dos clientes queria ter sucesso nas redes sociais. Com a instalação do implante para melhorar o desempenho nas redes sociais, ele voltou à empresa alegando que conseguiu muitos seguidores, mas também “haters”. Então você decide instalar a prótese que ignora ódio, porém ele perde sua desejada fama. Na terceira visita o jogador vê suas opções então monta o implante que ignora aceitação social. O cliente, então, manda e-mail dizendo que está muito feliz com o resultado, que agora sente-se livre para ser quem quiser, sem ligar para a opinião alheia e excluiu as contas de todas as redes sociais.

Enquanto isso, o hacker tem papel crucial no final do jogo. Ele invade fisicamente a Supercontinent e lá de dentro vai lidando com diversos setores e pessoas da empresa. Aqui que todo seu conhecimento deve ser posto em prática. Ligue para funcionários e simule as vozes de pessoas específicas. Quem tem raiva de quem? Quem simpatiza com quem? Quem tem influência sobre quem?


Com uma jogabilidade diferente para cada personagem, o jogador não se cansa de continuar indo cada vez mais fundo na campanha, seja como barman, androide ou hacker. Na medida certa, cada personagem consegue cativar e apresentar uma boa proposta de jogabilidade. Aliado com ótimos diálogos e propostas de reflexão, The Red Strings Club é oferece uma ótima experiência de gameplay.

Respeitavelmente cyberpunk em arte


Com temática cyberpunk, The Red Strings possui uma arte leve, mas representativa. O bar não se distancia de algum que haja em sua cidade. As roupas são as como que você deve usar, talvez até mais “conversadoras”. A visão da cidade também não é tão futurista, talvez uma São Paulo chuvosa com luzes coloridas nos prédios. Mesmo assim, não desqualifica a inclusão do jogo no gênero cyberpunk. Porém, não é um trabalho esplendoroso que consegue se destacar no meio indie.

A música, por outro lado, consegue impressionar mais. Equilibrada e onipresente, sempre há de fundo uma melodia para lembrar o mundo cyberpunk. No entanto, a soundtrack também não é tão pesada. Assim faz mais sentido, afinal, são minutos de diálogos e você precisa ter atenção neles. A música em The Red Strings Club precisa ser agradável e não chamativa, assim como ela é.

Quatro horas de muita satisfação


The Red Strings Club é um jogo curto. Com cerca de quatro horas eu cheguei ao final da história. Porém, esse não é um ponto negativo. No final eu pude entender o que cada ação que tomei resultou e a vontade foi de voltar tudo de novo e seguir outros caminhos.

Além disso, o jogo é muito bem feito, fazendo com que as quatro horas sejam prazerosas. É uma história bem desenvolvida, personagens cativantes, jogabilidades diversas e uma boa arte. Quatro horas são mais que o bastante para você se envolver em The Red Strings Club. Talvez também tenha havido uma preocupação de deixar não deixar o jogo longo, tanto para não cansar as pessoas como também aumentar a chances dela recomeçarem a campanha com atitudes diferentes.



Mais um ótimo jogo publicado pela Devolver Digital. The Red Strings Club é a escolha ideal para quem quiser passar uma tarde refletindo sobre felicidade, controle social e corporações, mas de forma divertida e envolvente.

Prós

  • A história é excêntrica e bem desenvolvida;
  • Personagens diversificados com diversas propostas de jogabilidade;
  • Diálogos e ações que fazem o jogador refletir;
  • A música não é forte, mas na medida certa;
  • Tempo de jogo curto não cansa e aumenta o fator replay.

Contras

  • A arte visual poderia ser um pouco mais chamativa e diferente
The Red Strings Club — PC — Nota: 9.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto

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