Vale citar que esse é o segundo jogo da série, sendo que o primeiro Zwei foi lançado em 2000 para PC e posteriormente recebeu versões para PS2 e PSP, todas exclusivas do território japonês. Mesmo se passando no mesmo mundo, as histórias dos dois títulos são completamente distintas, assim The Ilvard Insurrection pode ser jogado tranquilamente por quem não conhece a série. A título de curiosidade, os protagonistas do primeiro jogo aparecem nessa continuação.
Zwei nos traz dois protagonistas: Ragna Valentine, um caçador de tesouros que, fazendo um bico de entregador, é abatido em pleno voo por criaturas estranhas e cai em Ilvard. Provavelmente ele teria morrido se não fosse a interferência de Alwen, uma vampira da linhagem dos Trueblood que o salvou fazendo um pacto de sangue. Como “pagamento”, ela pede ajuda de Ragna para recuperar seus poderes mágicos e seu castelo, que foram usurpados por alguma entidade desconhecida.
Aqui, temos um exemplo típico de que mesmo uma história simples pode nos cativar quando bem contada, a começar pela dupla que puxa o enredo. Ambos os personagens não são aqueles engessados e clichês, e a relação entre eles vai se fortalecendo aos poucos. Isso é mostrado não somente pela preocupação mútua, mas em diálogos bobos com um fazendo piada com o outro. E nada que fique piegas, eles vão se tornando “brothers” no melhor sentido da expressão.
Essa aventura de Ragna e Alwen também é fortalecida pelos outros NPCs que acabam dando vida ao jogo. Muitos deles não são só postes repetidores de falas e acabam tendo micro-histórias que se desenvolvem ao longo do jogo. Não se tratam de side quests, mas de mudanças que acontecem em paralelo ao avanço pelo jogo. Dá até para passar batido por algumas delas.
A parceria entre Ragna e Alwen acaba se estendendo não só pela narrativa, mas pela mecânica de combate, na qual os dois são as faces de uma mesma moeda. Zwei é um RPG de ação e cada um dos personagens tem uma técnica distinta: Ragna possui uma espécie de corrente chamada Anchor Gear e realiza ataques corpo a corpo. Já Alwen pode disparar projéteis mágicos a distância. O bacana é a possibilidade de alternar entre os dois a qualquer momento, inclusive durante combos, já que, tecnicamente, cada um é um botão de ataque diferente e quem entra já chega atacando.
Outro sistema que torna Zwei bem diferente de outros jogos é seu sistema de progressão de níveis que usa comidas. Funciona da seguinte forma: existem inúmeros pratos que “caem” dos monstros. Todos eles restauram uma quantidade de HP e dão uma certa quantia de experiência. E aqui que entra a sacada: a cada 10 itens iguais você pode ir até a cidade e trocá-los por outro prato que dá bem mais experiência do que a soma das partes. Porém, esses mesmos pratos são sua única fonte de recuperação de vida nos calabouços. Assim, é preciso equilibrar essas duas coisas.
Inicialmente, eu achava que esse sistema seria meio quebrado, mas funciona de forma bem satisfatória. Existem alguns desafios extras que certamente vão exigir um farm de comidas, no entanto, para o desenrolar da campanha, não tenho do que reclamar. De acordo com o desenvolvedor é até possível terminar o jogo no nível 1, mas isso já é desafio demais para mim.
Tesouros, muitos tesouros
O termo “caçador de tesouros” não é somente uma alcunha para Ragna neste jogo, pois existem muitos coletáveis. Muitos mesmo. Cada calabouço tem ao menos um tesouro, que pode ser levado para a Guilda dos Caçadores para ser exposto. Cada tipo de monstro pode deixar cair uma miniatura, que também é exibida em outro museu (são 158 ao todo). Armaduras, acessórios e gadgets também possuem uma lista própria que precisa ser completada. Alguns até podem ser comprados com ouro, mas adivinha quem vai ter que se enfiar em calabouços matando monstros em busca de moedas?Por fim, lembra-se que falei sobre os outros NPCs e suas pequenas histórias? Pois bem, existe uma aba no menu que mostra o perfil de todos os personagens que você encontrou. Todos sem exceção, além da descrição básica, possuem 3 informações adicionais que, a princípio estão bloqueadas. Para desvendá-las é preciso conversar com todo mundo periodicamente.
Entrando nos quesito técnicos, quero comentar sobre a localização. Se muito da força do jogo está em seus diálogos, isso se deve ao bom trabalho na tradução e adaptação. Infelizmente, não tive acesso ao original em japonês, mas essa versão em inglês traz ótimas passagens, especialmente as bem humoradas. Zwei não é totalmente dublado, somente cenas chave da história, o que é uma pena pois o trabalho foi muito bem feito nesse quesito.
Para encerrar Zwei traz gráficos muito bonitos para o que propõe, com uma direção de arte muito bem realizada. A parte sonora também não deixa por menos. Minha única reclamação é com os controles, especificamente a seleção de itens, armas e magias na tela de jogo, que não é muito intuitivo. Especialmente para os ataques, poderia ser feito um uso melhor dos direcionais digitais ou dos botões traseiros.
Em busca do castelo!
Zwei: The Ilvard Insurrection pode ter chegado atrasado para nós aqui do ocidente, mas é um jogo tão bem feito que vence facilmente esse problema temporal. O sistema de combate de Zwei é bom e repleto de ação, similar a jogos da série Ys, também produzidos pela Falcom. Seu sistema de troca de personagens e da evolução baseada em comida são ótimos e tornam todo o progresso muito interessante.Mas no fim acho que a grande força desse jogo está em sua história leve e divertida, junto aos seus carismáticos protagonistas. Não espere nenhuma trama intrincada ou vários sub-plots. Ela pode soar até boba em alguns pontos, mas aquela “boba” que você gosta e quer ver onde vai parar. E no final das contas, caçar tesouros é um ótimo passatempo, não?
Prós
- Personagens cativantes;
- Diálogos engraçados;
- Sistema de progressão baseado em comida;
- Colecionáveis.
Contras
- Seleção de magias e armas durante combate;
- Demora na localização ocidental.
Zwei: The Ilvard Insurrection — PC — Nota: 9.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto