Análise: Vostok Inc. (Multi) traz boas ideias, mas peca pelo ritmo extremamente lento

Levar o progresso para todos os planetas do universo não é tão legal quanto parece.

em 11/10/2017


Somente em nossa vizinhança no sistema Solar temos sete planetas (aparentemente) inabitados e que oferecem à raça humana interessante potencial de exploração. Considerando ainda que há bilhões de corpos celestes esperando para serem descobertos, embarcar em uma espaçonave e partir em busca das riquezas desses novos mundos parece ser ideia interessante. Essa é a premissa inicial de Vostok Inc., jogo desenvolvido pelo estúdio Nosebleed Interactive e distribuído pela Badland Games.


Disponível para PlayStation 4, PS Vita, Xbox One e PC, o título parte da premissa de que é possível faturar alto levando o progresso humano para a vastidão do universo. No jogo, assumimos o papel de CEO da Vostok Inc., uma construtora que realiza obras em diferentes planetas e fatura alto quando os empreendimentos começam a operar. O objetivo, claro, é aumentar cada vez mais o número de prédios sendo construídos pela galáxia para que os lucros permaneçam em crescimento constante.

Início sonolento

Como todo negócio, o começo da jornada é bem difícil e exige paciência até se atingir o mínimo de sucesso. Porém, em Vostok Inc., as coisas acabam demorando bem mais do que deveriam. No princípio, com acesso somente aos planetas do sistema Solar, a viagem se resume a visitar Marte, Urano, Netuno, Vênus e demais corpos celestes para investir nas primeiras obras. Com pouco dinheiro, não há muitas opções de construções. Isso faz com que o início do game seja extremamente parado e exige que o jogador seja tolerante com as tarefas a serem realizadas.
Viajando pelo espaço


Com o principal desafio se resumindo a conseguir administrar seus recursos, vale muito mais a pena construir quatro empreendimentos pequenos em quatro planetas diferentes em vez de todos em um único mundo, pois quanto mais se investe em um único local, mais aumenta o preço dos próximos edifícios. Assim, a estratégia é analisar bem onde será gasto o dinheiro para que os retornos financeiros sejam interessantes.

Conforme seus ganhos forem crescendo, novas alternativas vão sendo liberadas. É possível aprimorar sua nave, melhorar a qualidade dos empreendimentos construídos — o que vai aumentando consideradamente seu retorno financeiro —, criar tecnologia para o radar, entre outras. O problema é que para começar a ter acesso aos materiais mais interessantes são necessárias algumas horas de jogo. Não seria exagero nenhum dizer que o primeiro grande desafio de Vostok Inc. é superar o sonolento início, em que nada de interessante acontece.

Combates?

Viajar pelo universo não é tão tranquilo assim. O caminho entre um planeta e outro é repleto de asteroides e naves alienígenas que farão de tudo para destruí-lo. No entanto, entrar em combate é opção bastante insatisfatória pela falta de recompensas. Gastar tempo atirando contra os inimigos resulta em pequenas quantidades de dinheiro, que podem ser totalmente desprezadas caso seus empreendimentos estejam rendendo lucros medianos. Acaba sendo bem melhor apenas ignorar todos os perigos do espaço e continuar rumo ao seu destino.
É melhor fugir do que lutar


Também conta no momento de fugir dos combates os controles pouco responsivos. A espaçonave que comandamos parece estar viajando no gelo em vez de no universo e acaba deslizando demais. Com isso, acertar certos tipos de inimigos é uma tarefa bastante complicada, principalmente aqueles com padrões de movimento mais rápidos e que se chocam contra seu veículo para danificá-lo. Somando esses pequenos problemas, acabam sendo totalmente dispensáveis as partes mais shoot 'em up do game.

O único momento em que as batalhas são interessantes é na hora de enfrentar os chefões de cada sistema. Depois de passar um (longo) período colonizando os diferentes planetas, chega uma mensagem que diz que uma grande nave inimiga se aproxima da região. Os duelos contra esses grandes vilões lembram bastantes os clássicos “jogos de navinha”, com tiros ocupando quase que toda a tela. Ao vencer esses confrontos, a empresa Vostok Inc. recebe o direito de viajar para outras galáxias com o objetivo de levar suas obras a novos mundos.
Batalha com os chefes são interessantes

Explorando a imensidão

Durante a jornada pelo universo, é possível encontrar astronautas perdidos que podem ser convocados para trabalharem na Vostok Inc., aumentando os lucros da empresa. No entanto, para que esses profissionais deem seu máximo, eles precisam ser alimentados, receber bebidas e materiais para se distraírem. Todos esses elementos podem ser coletados pelo espaço, mas também precisam ser racionados e distribuídos de maneira inteligente entre toda a equipe. Nunca vale a pena contar com um empregado satisfeito e os demais desanimados.
Tão importante quanto construir é fazer a gestão de sua equipe


Ter uma equipe grande, além de potencializar os lucros, oferece a possibilidade de passarmos o tempo aproveitando alguns minigames. Lembrando muito os jogos estilo brick game, há uma boa variedade de títulos originais. Quando as obras estiverem meio paradas, vale a pena dedicar alguns minutos para se divertir com esse pedaço de tecnologia “ultrapassada” encontrada no cosmos.

Nem tão belo

Graficamente, Vostok Inc. impressiona pouco. É verdade que não se pode esperar grande variedade de cenários quando todo o desenrolar do game acontece somente no espaço, porém os efeitos visuais são bem poucos e incapazes de diminuir a monotonia de ver um fundo escuro com poucas bolinhas brancas simulando estrelas.

O jogo fica boa parte de seu tempo no modo 2D e contando com um efeito parallax — quando as imagens que compõem o cenário se movem em velocidades diferentes para dar a sensação de profundidade. Já em alguns momentos, ao aterrissar ou decolar de um planeta, por exemplo, existem algumas animações em três dimensões. Além disso, os sprites são pequenos e pouco detalhados, apesar de aparecerem bem definidos na tela, além de incomodar um pouco acompanhar naves tão diminutas deslizando por ela.
Cenários são muito simples

Já a parte sonora do jogo cumpre o seu papel ao tentar criar o clima de odisseia espacial, mas é atrapalhada pela irritante voz do assistente — que vez ou outra surge na tela para informar quais são as próximas tarefas a serem realizadas. Essa pessoa que tenta te ajudar fala de maneira muito irritante, com um tom acelerado e fino, lembrando bastante os personagens Tico e Teco. Não aguentei ficar dez minutos com Vostok Inc. e aturando essa voz do assistente. O lado positivo é que é possível desativá-la no menu de opções.

O jogo também peca por não aproveitar a temática intergaláctica, deixando de lado a criação de planetas com elementos únicos. Seria interessante, por exemplo, se um tipo de empreendimento desse melhores resultados em um mundo em relação a outro com relevo ou clima diferentes, mas, no final, todos os planetas são semelhantes e acabam aceitando a construção das mesmas estruturas.

Acabamento falho

A ideia do game é bastante interessante ao tentar misturar a ação da exploração espacial com elementos de estratégia. O resultado final, porém, é um jogo que falha bastante no quesito de ser um shoot 'em up decente, mas que compensa parte desses problemas nos momentos de gestão de recursos e investimentos. Se não fosse pelo ritmo extremamente lento para que as coisas comecem a evoluir, seria possível afirmar que se trata de um divertido título de estratégia. No entanto, a excessiva demora é elemento mais do que justificável para desanimar o jogador no momento de dedicar mais algumas horas à Vostok Inc..
Poderia ser melhor...

Prós

  • Bons conceitos de gestão de recurso e estratégia;
  • Lutas contra chefões divertidas;
  • Variedade no gameplay com os minigames oferecidos pela equipe da empresa.

Contras

  • Ritmo demasiadamente lento estraga a experiência;
  • Combates totalmente dispensáveis;
  • Voz do assistente incrivelmente irritante.
Vostok Inc. — PS4/PS Vita/XBO/PC — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: João Pedro Boaventura

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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