BGS 2017: Observações e considerações sobre o meu primeiro Brasil Game Show

Amenidades de um jornalista que teve como a décima edição do evento a sua primeira vez.

em 19/10/2017


Eu nunca tinha ido a uma BGS antes. Apesar de ser bem prático para mim — o evento geralmente é ou no pavilhão do Anhembi, ou na Expo Center Norte, locais próximos de onde eu moro —, eu acabava evitando porque considero o ingresso meio caro e prefiro gastar o valor em videogames, de fato, visto que os jogos em si têm vida útil maior do que um dia de evento. Nesse ano de 2017 me surgiu a conveniência de ir na faixa como imprensa, credenciado pelo GameBlast. Como a oportunidade caiu no meu colo, acabei topando.


Obviamente, eu me enrolei nos preparativos, pedindo ajuda a todo momento para preencher os formulários e cadastros prévios e conseguir a aprovação por parte do evento. Depois de aprovado, recebi a minha credencial para ser impressa e levar ao evento.

Prevendo o caos que seria a BGS no feriado, optei pela quarta-feira, que ainda era dia útil. Acho válido comentar que cheguei cansado porque inventei de ir a pé e, por mais que fosse perto, andar o caminho todo, em meio ao calor safado que fazia naquele dia, não foi uma boa ideia.

Chegando lá, segui pela entrada de imprensa e quebrei a cara, porque achava que com a credencial eu iria entrar mais rápido. Fiquei uns vinte minutos na fila até a moça me avisar que, como eu tinha impresso a credencial, eu poderia simplesmente ter entrado direto com ela e evitado o transtorno. Tudo bem, falha minha.

O estande da Saraiva tinha várias estátuas legais, como essa da Laura...
Comecei a dar uma volta para me habituar ao local assim que entrei. Logo encontrei os estandes da Microsoft, Sony e Ubisoft. Cheguei a testar alguns jogos e me encontrei com um colega de redação mais acostumado ao evento, que me explicou como proceder, testar os jogos, coisa e tal. Aproveitei que tinha pouca gente para testar os jogos, coisa que não pude fazer no meu segundo dia lá por conta das imensas filas que se formavam — inclusive para o banheiro.

Um questionamento, a meu ver, é que achei meio preguiçosa a ausência de algumas expositoras. A Bandai Namco, por exemplo, poderia ter seu estande próprio para o Dragon Ball FighterZ e Ni no Kuni II, principalmente porque esse segundo tinha uma demo que durava uns quinze minutos ou mais e só contava com duas máquinas disponíveis no estande da Sony. Tanto a Bandai quanto a Sony iriam se beneficiar dessa cisão, visto que sobrariam mais estações para Detroit: Become Human, que formava uma fila quilométrica mesmo na quarta-feira. Ni no Kuni II poderia também ganhar mais máquinas caso a Bandai Namco montasse sua própria área de exposição, desafogando a coisa toda.

Também achei interessante a quantidade de jogos já lançados que ganharam espaço. Até dá para relevar alguns, como é o caso do Cuphead e Marvel Vs. Capcom: Infinite, que acabaram de sair e nem todo mundo já jogou, mas outros, como os jogos da série LEGO ou mesmo o Injustice 2, já têm algum tempo de mercado e poderiam dar espaço a diferentes títulos. O mesmo vale para as estações com PES e FIFA. Por mais que também tenham acabado de sair, dá para observar que eram jogos com um público bem menor se comparado a outros.

O que mais me fascinou, no entanto, foi a praça de alimentação. Achei até que tinha mais variedade de escolha para comer do que, de fato, para jogar. Eu ficaria o dia todo lá só beliscando nos food trucks de hambúrguer e comendo batata frita. Tinha até uma barraquinha de pastel e outra com raspadinha que, na sexta-feira, meu segundo dia de evento, cruzava toda a praça, uma área bem considerável.

E essa do Scorpion, do Mortal Kombat. 
Achei intrigante também a presença de um quiosque do Cinemark, vendendo pipoca. Encarei como uma crítica irônica a respeito da indústria atual que concentra seus esforços na produção de filmes jogáveis. Minha ideia era pegar um saco de pipoca e aparecer na fila do Detroit, perguntando se a fila para o filme era aquela, só de sacanagem.

Dada a quarta-feira por encerrada, pretendia voltar na quinta, o que não aconteceu porque, por algum motivo, acordei basicamente sem sentir a minha garganta e sem conseguir falar absolutamente nada. Só consegui retornar na sexta-feira.

Considerando que eu saí de casa meio em cima da hora da entrevista que eu iria fazer lá (quando se mora perto, você cai na ilusão de que pode sair mais tarde quando, na verdade, não deveria), acabei decidindo ir para o evento de carro. Fiquei um pouco preso no trânsito que estava levemente engarrafado na avenida que levava ao Expo CN (Zaki Narchi, para os mais íntimos às ruas de SP) e deixei o meu carro estacionado no shopping Lar Center. Cheguei às 14h00, em cima da hora da entrevista que foi remarcada para as 15h00. Paciência; a culpa foi minha.

Em tempo: saí de lá às 19h00 e paguei uns vinte reais de estacionamento porque eu ainda enrolei um pouco no shopping antes de ir e acabou aumentando o preço. Eu me pergunto o motivo do estacionamento do local propriamente dito custar praticamente o dobro disso e estar bem mais lotado que o do Lar Center. As pessoas não sabiam da existência dele ou simplesmente têm preguiça de andar um pouco mais?
Uma das várias mesas de "degustação" da sala de imprensa da Sony.
Quando cheguei lá, eu me senti no inferno. Além de obviamente nem tentar jogar alguma coisa por conta das filas gigantescas, eu ficava nervoso por conta da quantidade de gente no local. Andar no evento era realmente um horror. Por sorte, a sala de imprensa da Sony era um negócio maravilhoso e me fez querer morar lá ou, pelo menos, ter aproveitado um pouco mais. Pessoalmente é uma prática confortável que fazem não apenas com a imprensa de games, mas em absolutamente em qualquer evento que seja.

Ainda assim, é meio errado porque isso muitas vezes é visto com maus olhos, pela possibilidade de um jornalista acabar se corrompendo facilmente com esse tipo de coisa. O Gamasutra trabalha num texto a respeito de a BBC ter comentado o fenômeno em que, na época do lançamento do Grand Theft Auto IV, os analistas não recebiam o jogo, mas eram convencidos a jogá-lo ou em salas de hotéis reservadas ou no próprio escritório da Rockstar. A Nintendo também o fez no Reino Unido, ao oferecer um ambiente onde os jornalistas se sentissem confortáveis.  A consequência disso é que quem passa por tais experiências acaba se sentindo acuado para levantar quaisquer defeitos que o jogo possa apresentar. Por mais que posso ter fugido do assunto, acredito que é uma reflexão válida, mas voltemos à BGS.
Quando tirei a foto, perguntei brincando aos pais se ele tinha idade para ter noção do personagem e eles responderam rindo: "não, ele só o conhece dos jogos Lego".
Depois da entrevista, fui fazer a cobertura fotográfica do Skydome. De verdade, eu gostaria de entender o motivo de insistir com a minha câmera fotográfica, sabendo que faz um bom tempo que ela está com problema no foco e na captação de luz (aqui o obturador deve ter chegado ao seu limite). Resultado: a maioria das fotos ficou feia e praticamente inútil.

Ao fim das minhas obrigações no Blast (que cumpri com muito gosto), consegui me encontrar com uns amigos que estavam passeando pelo local. Depois de uma hora com eles, mais ou menos, preferi ir embora por não estar mais aguentando o contingente cada vez maior de gente pelo evento.

De um modo geral, acredito foi uma experiência interessante, mas afirmo com toda a certeza que fiz muito bem em nunca ter pagado para entrar lá e assim vou continuar. De uma maneira prática, considerei o jeitão similar a um Anime Friends de luxo, sendo que aqui, obviamente, a comparação vai depender também do conceito formado a respeito do evento em questão, além de eu obviamente estar nivelando a coisa por baixo. Se bem que eu posso estar sendo pessimista, mas sempre me falaram tanto da Brasil Game Show que eu realmente achei que fosse encontrar algo diferente e único, o que, pessoalmente, não aconteceu.

Revisão: Bruno Alves


É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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