Análise: Sine Mora EX (Multi): mais viciante e preciso do que nunca

A versão definitiva do shoot ‘em up traz novidades para o cenário de guerra 2.5D e premia a nova geração de consoles com uma experiência ainda mais incrível.

em 02/10/2017

Jogos de “navinha”: esse subgênero não existe dentro do gênero de jogos de ação, tampouco representa um gênero de videogames como um todo. Mesmo sendo uma expressão mais conhecida pelo boca-a-boca do que formalmente nas teorias de game design, você sabe exatamente do que eu estou falando. Jogos de tiro em que se controla uma unidade motora aérea (nave) a fim de eliminar forças hostis, e que começaram com ideias simples, mas muito promissoras — como Galaga, Asteroids e Space Invaders. Como um tipo de jogo tão antigo e amplamente copiado por décadas pode ser divertido e inovador em 2017?

A arte da guerra

Sine Mora EX (Multi), renascido agora pelas mãos da THQ Nordic, é a versão definitiva do frenético shooter 2.5D — no melhor estilo bullet hellSine Mora (Multi), originalmente desenvolvido pela Grasshopper Manufacture e Digital Reality, contando com a supervisão e produção do excêntrico game designer Suda 51. Visando ao público que não teve a oportunidade de experimentar esse insano título na geração passada, o projeto de trazê-lo de volta foi um sucesso — ainda mais sabendo do alcance do título na atual geração, que ganha força e respeito a cada dia.

Será que você é capaz de escapar de tantos disparos?

É impressionante como Sine Mora EX é o tipo de jogo de “navinha” que inova, mas sem impedir que a nostalgia tome conta de nós. De início, o jogo apresenta uma campanha principal, ou Story Mode — na qual todos deveriam se aventurar, por se tratar de algo raramente presente em jogos deste tipo —, um modo arcade, modo de pontuação (Attack Score), modo de treinamento (Boss training), modo desafio (challenge) e modo versus.

As tantas opções refletem todo o cuidado dos produtores para poder entreter o público da melhor maneira possível, seja competindo contra suas próprias pontuações anteriores ou na pele de Akyta Dryad — protagonista pertencente à vertente rebelde da raça Enkie. E falando das narrativas — sim, temos duas delas sendo contadas ao mesmo tempo —, elas são divididas em fases e contam com uma seleção extensa de cutscenes e frases memoráveis entre cada ato. É uma pena que a escolha de design de misturar duas narrativas não tenha sido tão bem executada, e os menos atentos acabam se prejudicando no que diz respeito ao entendimento dos eventos.

O tempo não para

É curioso como o título do jogo reflete toda uma dualidade mecânica. Sine mora, do latim “sem atrasos”, cai muito bem com o clima do jogo e com o que devemos fazer para obtermos sucesso nessa aventura. O tempo é um dos elementos mais cruciais de sua jornada: ele dita quanto segundos você ainda possui para destruir aquele temido chefão ou para eliminar todas as unidades hostis em seu caminho. Com uma progressão lateral com velocidade constante de “rolagem”, seu tempo eventualmente irá se esgotar, caso você apenas desvie das naves em sua rota.

Tempo vai sendo adicionado ao seu relógio à medida que inimigos são destruídos.

Com intuito de incentivar o combate e o conceito de risco vs. recompensa, a mecânica mais interessante e funcional do jogo é o próprio tempo. Ao destruir um inimigo, você recebe uma bonificação de tempo baseada em qual rival fora eliminado. O contrário, porém, também se aplica: cada inimigo que te atinge com projéteis ou com o próprio veículo irá te penalizar, descontando alguns segundos de seu relógio. Você pode usar o tempo a seu favor em forma de uma habilidade especial, retardando sua velocidade e adquirindo uma movimentação mais cautelosa e precisa por um certo tempo. Você também pode recorrer a um dos diversos tipos de power-ups gerados em seu caminho aleatoriamente, e que vão te ajudar das mais diversas maneiras (bônus de tempo, upgrade de armas, escudo, etc.).

O tempo nunca parece o suficiente para cada seção da fase, mas o jogo impressiona ainda mais colocando inimigos escondidos prontos para serem dizimados, recompensando o jogador com alguns segundos a mais. As lutas contra os chefões são frenéticas e exigem precisão e perícia, mas não são, em momento algum, injustas. Cada chefe tem partes de sua estrutura mais frágeis e susceptíveis à destruição: cabe a você descobrir o ponto fraco de cada grande robô. O cuidado nos detalhes e a criatividade em cada um deles, bem como dos cenários, é digna de elogios, e nenhum chefe passa a sensação de repetição. Até o modo de jogo de repetir as lutas finais de cada fase acaba sendo divertido quando a ideia é aprender mais sobre os padrões de combate de cada grande rival.

Eu atiro, tu defendes e nós vencemos

A cada dia que passa, sinto que estamos nos afastando do modo cooperativo local em muitos jogos, e tudo isso graças aos modos online. Mas Sine Mora EX mostra que ainda é legal dar “tirinhos” dividindo a tela com um companheiro — principalmente na versão de Nintendo Switch, que é portátil e conta com dois “controles” de fábrica. O jogo permite que toda a campanha seja desbravada com seu amigo favorito, porém não permite que dois saves sejam criados na mesma conta do console — o que chega a ser patético nos dias de hoje.

Inimigos camuflam-se nas construções metálicas e enganam seu reflexo e percepção.

Enquanto o primeiro jogador controla a nave convencional da campanha, o segundo jogador pode alternar entre uma arma mas simples e um escudo de campo magnético — o segundo sendo muito bem-vindo em níveis que apresentam inimigos muito fortes ou frenéticos. A qualidade do som é boa, principalmente quando os dois jogadores estão atirando e sendo perseguidos por todos os lados, mas é a ausência de música que deixa a desejar. Nos poucos momentos em que ouvimos algum tipo de composição, ela parece simples demais, e poderia ser melhor explorada.

O modo versus, que é inédito, torna-se um dos fatores que mais contribui para a rejogabilidade do título. Seja em batalhas da esquerda para a direita ou na direção contrária, quebrando algumas das convenções de jogos side-scrolling, você vai querer desafiar seu companheiro ou companheira de games e esperar a primeira oportunidade para zombar ou ser zombado. Esse modo de jogo apresenta três opções de cenário com regras ligeiramente diferentes, mas, resumindo, trata-se de sobreviver a hordas de inimigos e ainda desviar dos disparos de seu rival, que vai tentar derrubar sua "navinha" a todo custo.

Com um estilo rápido e preciso como de Resogun (PS3/PS4/PS Vita) e provavelmente tomando inspiração das boss fights da série Metal Slug, esse é um título que merecia uma versão estendida — que chegou com tudo em versões para os consoles mais modernos. O preço? Bom, US$ 40 não me parece tão barato e convidativo para um jogo praticamente original de 2012, mas é um bom investimento para os velhos amantes de jogos de navinha "arcade".

Não há apenas veículos hostis: enfrentamos também um robô humanóide gigante.

Prós

  • Ótimo level design, incluindo variedade dos chefões;
  • Jogabilidade precisa e premissa divertida;
  • Diversos modos de jogo instigam a rejogabilidade.

Contras

  • Narrativa um pouca confusa;
  • Ausência de um trilha sonora mais impactante. 

Sine Mora EX — PC/PS4/Switch/XBO — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Ana Krishna Peixoto

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