Análise: F1 2017 (Multi) prova ser possível evoluir mesmo quando tudo parece ótimo

Game consegue manter todas as características positivas que marcaram as últimas edições, além de melhorar alguns pontos que causavam reclamações.

em 06/09/2017


Lançados anualmente, os games esportivos enfrentam o desafio de acrescentar novidades expressivas a cada temporada. Com os jogadores esperando muito mais do que simples atualizações de atletas e equipes, os desenvolvedores precisam usar a criatividades para bolar conteúdos relevantes e que justifiquem a compra das versões mais novas. Seja incluindo um modo história ou trazendo os ídolos do passado de volta à ativa, o gênero vem conseguindo manter o interesse de seu público cativo.


Justamente apostando nas lendas de outrora, a Codemasters lançou F1 2017. O simulador da categoria mais nobre do automobilismo mundial chegou com a já conhecida qualidade visual e controles refinados, porém, trazendo de carona a possibilidade de pilotar carros clássicos que marcaram época. Na lista de máquinas lendárias estão a McLaren MP4/4, guiada por Senna em seu primeiro título mundial; a Renault R26, usada por Alonso no bicampeonato; e a Ferrari F2007, último modelo da escuderia a sagrar-se campeão, com Räikkönen, em 2007.

O mais interessante é que o estúdio não tentou se aproveitar da nostalgia dos fãs da categoria somente alterando as skins dos carros. Sentar no cockpit de cada um dos carros históricos é uma experiência única. Respeitando as tecnologias que existiam nas épocas em que seus motores roncavam nos autódromos do mundo inteiro, as máquinas apresentam mudanças de velocidade e estabilidade. No entanto, bastam apenas algumas voltas no comando das máquinas clássicas para conseguir domá-las sem maiores problemas.
A lendária McLaren MP4/4 de Ayrton Senna


Não são somente os controles variam conforme a época do carro: o barulho que os motores fazem muda de um modelo para o outro. Além disso, os marcadores de velocidade, marchas e outras informações presentes na tela também se modificam de acordo com o veículo. Todos esses detalhes podem parecer pequenos separados, mas, quando juntos, conseguem mostrar para o jogador as diferenças entre a habilidade que o piloto precisava ter no passado e o preparo que deve demonstrar atualmente. Nessa minha experiência, ficou claro que guiar um F1 antigamente era tarefa bem mais trabalhosa.

Para conquistar o lugar mais alto do pódio, a Codemasters poderia ter aproveitado os carros clássicos para também inserir no game os pilotos lendários e circuitos que fizeram história, mas que hoje não estão no calendário oficial da categoria. Está certo que a presença dos atletas é mais complicada devido a negociações envolvendo o uso das imagens, porém, vale a pena a tentativa para os futuros games da franquia.

A presença dos carros históricos não está simplesmente jogada em F1 2017, pois o título consegue aproveitar seu principal diferencial de outras maneiras. Além da possibilidade de pilotar os modelos históricos nos circuitos que compõem o calendário deste ano da categoria, há ainda a participação deles no modo principal do game: a carreira. Em alguns momentos de sua jornada no circo da F1, você será convidado por empresários para guiar as máquinas icônicas em provas de exibição. Solução simples, mas totalmente funcional de inserir os clássicos na temporada 2017.
Correndo com os clássicos


Tornando-se um campeão

Escolher o nome e a nacionalidade que aparecerá no grid, customizar a aparência do piloto, definir as cores do capacete e eleger qual será a escuderia são os primeiros passos do modo carreira. Nesse momento inicial, nenhuma decisão é tão importante quanto optar por qual equipe guiar. Como na vida real, os times mais fortes exigem de seus pilotos resultados expressivos, já nos menores a pressão diminui. Entretanto, fugir das grandes responsabilidades também te afasta do pódio.

Minha experiência começou dentro de uma Sauber e o melhor resultado foi um quinto lugar no GP da China, o que levando em consideração as limitações da escuderia já é um grande feito. Já ao mudar as cores do carro para o vermelho da Ferrari, logo na minha corrida de estreia, acabei terminando na primeira colocação. As diferenças em fazer parte de um time ou outro também podem ser sentidas no momento de ajustar o carro, sendo que lidar com as máquinas dos times menores é bem mais difícil.

No entanto, mesmo no cockpit de uma Mercedes ou Red Bull Racing, dirigir não é tão simples quanto guiar um veículo de passeio. O sucesso nas corridas passa por saber controlar a temperatura dos pneus e o consumo de combustível, por exemplo. Por isso, nos treinos livres do modo carreira, são oferecidos programas que te ajudam a compreender como seu carro se comporta dentro de cada circuito. No total, são cinco sessões: aclimatação de pista, gestão de consumo de pneu, ritmo de classificação, gestão no consumo de combustível e estratégia de corrida, sendo que as duas últimas são novidades de F1 2017.
Red Bull Racing e Mercedes, duas das melhores equipes da temporada


Participar ou não desses programas é completamente opcional. Os pilotos mais apressadinhos tem a possibilidade de apenas competirem no treino classificatório e corrida. Porém, eu senti que essas sessões são extremamente importantes por serem ferramentas indispensáveis para a evolução do jogador. Sendo encaradas como pequenos tutoriais, cada uma delas oferece expressivos auxílios para compreender e superar os desafios de todos os grandes prêmios. Portanto, é mais do que recomendado dedicar um tempinho para esses treinos livres que ainda oferecem outra recompensa interessante: pontos de aprimoramento.

A árvore de melhorias do veículo é outra grande inovação de F1 2017 em relação ao seu antecessor. O sistema passou por uma melhoria profunda e, agora, oferece um leque muito mais amplo de opções. As alterações foram tamanhas que até me assustei a primeira vez que a vi e imaginei que as coisas estavam bem mais complicadas. Entretanto, bastam poucos minutos para entender como os pontos de aprimoramento podem ser gastos a fim de melhorar características específicas do carro. A ferramenta lembra bastante os jogos de RPG, em que, para desbloquear uma das habilidades, é preciso ter outras já disponíveis.

Se mesmo analisando o gráfico de melhorias, ficar difícil de definir o que precisa ser aprimorado, o jogo oferece um assistente que opina os melhores locais para se gastar os pontos conquistados. Mesmo com a ajuda, os leigos na categoria podem ficar perdidos entre tantas possibilidades. O apoio ao jogador não se restringe somente à essa ferramenta, mas está disponível em todo o jogo, tornado F1 2017 bem mais atraente para os novatos de que seus antecessores.
A árvore de melhorias está muito mais completa

Acessível para todos

Uma das principais reclamações que a franquia vem enfrentando nos últimos anos é de ser um game com controles complexos e difíceis de serem dominados. E, realmente, as mecânicas não são nem um pouco simples, porém, de forma alguma isso é um fator negativo. Afinal, trata-se do simulador da categoria mais forte do automobilismo e pilotar um F1 é infinitamente diferente de guiar veículos de passeio. Esse desafio extra faz parte da magia do game.

Entretanto, a versão deste ano está bem mais acessível para os iniciantes que têm vontade de ingressar no mundo da velocidade. O título consegue variar drasticamente o nível de dificuldade dependendo da experiência dos jogadores. Os mais novatos podem contar com auxílio para manter o carro na pista, por exemplo, contanto com assistente que mostra o trilho mais veloz do circuito e indica os momentos adequados para acelerar e frear. Essas ajudas já existiam nos games anteriores, mas estão aprimoradas.

Já aqueles jogadores mais habilidosos têm a possibilidade de vivenciar experiência totalmente fiel ao cotidiano dos profissionais, personalizando todas as características do carro em função do estilo de pilotagem. Não somente na maneira de conduzi-lo, mas também no modo de prepará-lo para cada prova, mexendo nas misturas de combustível, tipo de frenagem, entre outras diversas possibilidades.
Até os jogadores casuais podem vestir o macacão vermelho da Ferrari

Piloto estrategista

No modo carreira, os pilotos não devem ser os melhores somente dentro dos carros. Ao lado do engenheiro da equipe, é preciso definir as estratégias ideais para cada grande prêmio e também saber quando mexer nos componentes dos veículos entre uma prova e outra, afinal, o regulamento da categoria limita essas mudanças e desrespeitar as regras significa perder posições no grid. Haverá situações, por exemplo, em que será preciso escolher entre largar das últimas filas ou correr o risco de ser pole position e ver o motor quebrar no meio da prova.

A estratégia adequada faz toda a diferença e é possível conversar com os engenheiros a qualquer momento para solicitar alterações que devem ser feitas no carro durante a próxima parada nos boxes. Em um chuvoso GP da China que disputei, faltando poucas voltas o céu limpou e a equipe me questionou se eu gostaria de uma parada extra para trocar os pneus intermediários pelos slick. Optei por continuar na pista, pois mesmo perdendo rendimento ainda era possível guiar o carro. Assim, ganhei mais algumas posições e consegui um lugar no pódio graças a essa ousadia.
Nunca subestime os conselhos de sua equipe

Pequenos deslizes

A série F1 também é reconhecida por sua excelência gráfica. O visual de circuitos, carros e pilotos não deixa nada a desejar e ver alguém jogando o game traz a sensação de que realmente trata-se da transmissão de um grande prêmio de verdade. As narrações em português do Brasil também auxiliam para criar esse clima de imersão, fornecendo, por exemplo, informações interessantes antes de cada prova.

Se dentro das pistas o visual é praticamente impecável, o mesmo não acontece com o que está do lado de fora do circuito. Os detalhes externos deixam um pouco a desejar, como o público nas arquibancadas e os fiscais que ficam nas bordas das pistas. Um exemplo que me incomodou bastante foi durante uma largada em que me envolvi num forte acidente e acabei batendo na mureta, poucos metros longe de dois fiscais, que permaneceram imóveis olhando para o lado oposto de onde o carro com o bico destruído estava. Ambos pareciam duas estátuas.

Gostei bastante também dos efeitos que as condições climáticas causavam nas pistas. Na chuva, a dificuldade não se concentra em somente manter o carro na pista e tentar evitar derrapagens, mas também em enxergar o que está acontecendo com as gotículas respingando na câmera. A natureza, além de influenciar diretamente no visual da corrida, também pode ser um rival implacável que atrapalha na busca pela vitória.
Correr em dias limpos é bem mais fácil


Está certo que esses detalhes exteriores são quase imperceptíveis durante as provas, afinal, desviar os olhos da pista por poucos milissegundos pode significar uma escapada que comprometa toda a corrida. No entanto, os problemas ficam mais visíveis ao assistirmos os replays das provas. Também ocorreram alguns pequenos bugs gráficos durante minha experiência, aparecendo, por exemplo, um pneu flutuando sobre a linha de chegada durante todas as voltas de uma prova.

Mas esses pequenos deslizes não tiram o brilho visual do game e a parte gráfica é complementada com excelentes animações dos veículos. A preciosidade dos detalhes é tamanha que quando usamos a câmera de dentro do cockpit, as mãos do piloto respondem exatamente aos comandos que estamos executando no controle.

O capricho gráfico também se repete na parte sonora. Além dos inconfundíveis roncos dos motores, é possível perceber outros sons que fazem parte do circo da F1. Ao entrar na reta dos boxes, ouve-se o público vibrando nas arquibancadas, já as conversas com os engenheiros que estão nos boxes acontecem usando o sistema de sons emitidos pelo controle do PlayStation 4. Até hoje, esse foi um dos usos mais interessantes que um jogo fez das caixas de som localizadas dentro do DualShock 4.
Combine com sua equipe qual será a estratégia antes da parada nos boxes

O melhor do mundo

F1 2017 também traz seu modo online, em que é possível competir com pilotos virtuais do mundo inteiro. Se a jogatina em rede não trouxe tantas novidades na versão deste ano, a própria F1 tratou de aquecer as coisas. Os responsáveis pela categoria anunciaram a criação da Formula 1 eSports Series, em parceria com a Codemasters.

A competição começará com classificatórias online e os 40 melhores jogadores serão convidados para disputar as semifinais em Londres. Os 20 pilotos mais rápidos estarão no grande prêmio Abu Dhabi, que acontece em novembro, onde será definido o campeão mundial de F1 nos eSports. Eu nunca fui muito fã do modo online em games de corrida, mas, com essa possibilidade, já estou começando a aquecer os motores do meu carro.
Rumo ao topo!

Sempre evoluindo

Ano passado, ao analisar F1 2016, o classifiquei como: “a experiência definitiva dentro do cockpit”. Bastaram pouco mais de 12 meses para que eu percebesse que estava errado e a Codemasters conseguiu me mostrar que é sim possível melhorar um game que já está muito bom. O estúdio manteve o que já vinha dando certo, realizou um polimento em alguns pontos que causavam desconforto, como os controles complexos e, de quebra, ainda trouxe novidades com os carros clássicos.

F1 2017 é indispensável para todos os fãs que acordam domingo de manhã para acompanhar as corridas na televisão. Trata-se, sem dúvidas, do melhor simulador da categoria já lançado. Pelo menos, até que a versão 2018 seja lançada e nos surpreenda positivamente de novo.

Prós

  • Presença marcante de carros que fizeram história;
  • Controles continuam complexos, porém mais acessíveis;
  • Sistema de árvore de melhorias passou por um intenso melhoramento;
  • Modo carreira ainda mais completo.

Contras

  • Junto das máquinas clássicas, também poderiam existir pilotos e circuitos do passado;
  • Detalhes externos ao circuito não receberam o mesmo capricho gráfico dos elementos que estão dentro da pista;
  • Alguns bugs visuais.
F1 2017 — PS4 / XBO / PC — Nota: 9.5
Plataforma utilizada para análise: PS4
Revisão: Ana Krishna Peixoto

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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