System Shock, do cyberpunk ao steampunk
Criado pelo game designer estadunidense Ken Levine, BioShock é considerado o sucessor espiritual de System Shock (PC), da Looking Glass Technologies e lançado em 1994. O cyberpunk de tiro em primeira pessoa que se passava em 2072 teve a participação de Levine e outros membros da Irrational Games — presentes também na atual 2K Boston — em sua produção.System Shock narra a história de um hacker anônimo que luta para derrotar a malévola inteligência artificial SHODAN. O jogo se passa em Citadel Station, estação espacial de 2072. Após o hacker ser pego acessando arquivos confidenciais, um executivo da TriOptimum Corporation oferece ao protagonista a chance de ter as acusações retiradas se ajudá-lo a hackear SHODAN. Criado por Doug Church e Warren Spector, o jogo também inspirou Deus Ex (PC/PS2), da Ion Storm, igualmente dirigido por Spector.
A trama sobre um futuro distópico dominado por uma inteligência artificial e com reviravoltas na história baseou o conceito central do que mais tarde se tornaria BioShock. Ao contrário do original, BioShock foi ambientado dentro do gênero steampunk e com fortes influências de biopunk, gênero caracterizado pelo foco em mudar o corpo humano através da genética artificial.
O objetivismo de Andrew Ryan
O Objetivismo é uma corrente filosófica criada pela autora e filósofa russa-americana Ayn Rand. O conceito é a base de crenças de Andrew Ryan, o magnata fundador de Rapture. Segundo o Objetivismo, a realidade existe independente dos sentimentos do ser humano e que a razão é o único modo de perceber essa realidade. Assim, a razão é o único conhecimento válido, na qual toda pessoa deve existir em função de seus próprios propósitos.A premissa objetivista é o embasamento da criação de Rapture, cujo propósito é justamente libertar os seres humanos dos limites morais, estéticos e tecnológicos da sociedade. O ideal de Andrew Ryan era levar a humanidade a uma nova fase, sem limites ou fronteiras. Inclusive, o personagem Atlas é baseado em um dos livros principais de Ayn Rand, intitulado A Revolta de Atlas, de 1957.
Literatura e trilogia
BioShock teve ainda mais duas sequências, BioShock 2 (Multi) em 2010 e BioShock Infinite (Multi), de 2013. O segundo título retorna a cidade aquática de Rapture, enquanto o terceiro e último game é localizado em Columbia, cidade flutuante de 1912 criada pelo profeta autoproclamado Zachary Hale Comstock. Diferentemente dos dois primeiros jogos, BioShock Infinite segue a doutrina do Excepcionalismo Americano, cujo ideal é de que o EUA é um país diferente de todos e seu destino é mudar o mundo.Além da trilogia de jogos, BioShock também possui uma versão em livro, intitulado Bioshock: Rapture (John Shirley, 2011). A obra literária é um prequel aos jogos e mostra o processo de elaboração de construção de Rapture por Andrew Ryan. A distopia retrofuturista também teve um filme anunciado pelas produtoras cinematográficas Take Two e Universal Studios em 2008, mas infelizmente o projeto foi cancelado em 2013.
Nestes dez anos, BioShock se tornou referência quando o assunto é distopia, bem como símbolo de uma jogabiliade atrelada a uma história intrigante, provocativa e questionadora da sociedade. O game serviu e serve de inspiração para diversos ramos da indústria de entretenimento — cinema, televisão, literatura, entre outros —, e sem dúvida continuará contribuindo como inspiração para boas histórias e bons jogos.
Revisão: Vitor Tibério