Quando um mangá faz sucesso, é comum que ele se torne um anime. Em seguida, quando sua versão para televisão também experimenta do mesmo sucesso, a marca logo começa a se expandir, culminando, eventualmente, em uma adaptação para videogame. Essa prática logo se intensificou no passo em que era mais fácil para os ocidentais terem acesso a essas séries graças à internet, fazendo com que certos títulos que normalmente ficariam presos à escala nacional se tornassem conhecidos no mundo todo.
Dessa forma, nossa proposta é criar uma lista com os melhores jogos de anime ou mangá produzidos durante esse fenômeno de globalização da cultura, próprio do século XXI. Para tal, consideraremos as seguintes regras:
- Cada série só tem direito a uma entrada própria na lista, sendo considerada a melhor delas. Jogos que facilmente poderiam estar presentes serão citados como menção honrosa.
- Muitos desses jogos, principalmente os de luta, geralmente exigiriam um equilíbrio e solidez maior dentro do seu gênero, mas não os possuem. Os jogos não serão analisados de forma tão técnica assim. O que se busca é identificá-los a partir da diversão que eles podem proporcionar.
- Serão desconsiderados jogos de animes que já surgiram dos games. Digimon e Pokémon são dois exemplos de séries que não estarão presentes na lista.
- O mesmo vale para o foco. Se o foco de um jogo consistir em algo além do anime ou mangá, também não será contabilizado, como Tatsunoko Vs. Capcom, cujas atenções dos personagens do estúdio de animação são igualmente divididas com os da empresa de games. Nota-se que isso é diferente de uma série de jogos consolidada que tenha spin-offs temáticos de séries de anime, como acontece com Dynasty Warriors, visto que o foco ainda não foge do anime em questão.
10 – Saint Seiya: Sanctuary Battle (PS3)
Desenvolvido pelo estúdio Dimps (que ainda vai aparecer mais algumas vezes nas próximas colocações), Sanctuary Battle é tranquilamente um exemplo de jogo que agrada aos fãs da série que estão dispostos a se divertir sem prestar atenção nos defeitos técnicos.
O título segue o estilo Musou, ou seja, é um beat’em up moderno em um ambiente em três dimensões similar à Dynasty Warriors ou Sengoku Basara. De um modo geral, esse tipo de jogo é divertido, o problema é que o gameplay acaba se tornando repetitivo com o tempo, deixando-o chato. Não é errado colocar que esse tipo de game é feito puramente pelo fanservice, visto a quantidade de personagens jogáveis comum do estilo, algo que se repete, por exemplo, em Fist of North Star: Ken’s Rage, Arslan Senki ou, saindo dos exemplos de anime, Hyrule Warriors.
É notável que a recepção morna a Sanctuary Battle resultou posteriormente na produção de Brave Soldiers e Soldiers’ Soul, este, inovador no Brasil por trazer a dublagem original do anime. No entanto, como tais jogos de luta não foram considerados grande coisa pelos fãs, é possível que a franquia volte novamente para a geladeira e fique sem receber novos títulos por mais uns anos.
9 – YuYu Hakusho Forever (PS2)
Derivado de um anime queridinho dos fãs brasileiros por conta de sua dublagem, YuYu Hakusho Forever foi lançado em 2005 apenas no Japão e é uma das últimas iterações da série nos games — ela ainda ganharia um jogo para Arcade e um para DS em 2006, ficando por aí. Personagens da série até chegaram a aparecer em Jump Super Stars, Jump Ultimate Stars e J-Stars Victory Vs, mas nada próprio até então.
Desenvolvido pelo estúdio Dimps, assim como o jogo da colocação anterior, YYH Forever é um jogo de luta simples, porém consistente. O modo história se foca no Torneio das Trevas e pode ser jogado com vários personagens diferentes. Vencendo-o, o último arco do anime é desbloqueado e pode ser jogado apenas sob os pontos de vista de Yusuke, Hiei e Kurama. Ainda assim, há uma gama considerável de personagens e o jogo vai agradar aos fãs da série.
8 – Attack on Titan (Multi)
Ataque dos Titãs, como o mangá foi lançado por aqui pela Panini, é provavelmente um dos maiores sucessos recentes. Depois de um anime cuja recepção foi positiva, um jogo logo tratou de ser desenvolvido.
De responsabilidade do estúdio Omega Force, Attack on Titan é um hack ‘n slash carregado de ação de proporções épicas, dado o tamanho colossal dos inimigos. É possível observar a atenção aos detalhes presentes. O problema é que, como muitos títulos baseados em anime, ele logo fica repetitivo e cansativo, principalmente por conta da falta de variedade dos próprios estágios do jogo.
7 – Afro Samurai (PS3/X360)
Inicialmente um doujin, isto é, um trabalho publicado de forma independente, Afro Samurai acabou se tornando um ícone por promover um choque entre elementos tipicamente ocidentais e orientais. Com um visual estiloso e trilha sonora empolgante, o jogo é um hack ‘n slash que diverte bastante, mas é recomendado àqueles que querem uma jogatina descompromissada, visto que a câmera tem problemas consideráveis que desmotivam qualquer um que quiser levá-lo a sério, além de se tornar repetitivo com o tempo, como grande parte dos jogos do gênero. O fato de ter duração de jogo de locadora (aproximadamente seis ou sete horas) também acaba tirando um pouco do mérito do título.
Uma sequência intitulada Revenge of Kuma chegou a ser lançada em 2015 para PlayStation 4 e PC e se propunha ser episódico, em três capítulos, mas a recepção negativa acabou fazendo com que a produtora cancelasse os volumes seguintes e devolvesse o dinheiro de quem já havia comprado a primeira parte.
6 – JUMP Ultimate Stars (DS)
Sem nunca ter sido lançado no ocidente, JUMP Ultimate Stars não foi a primeira tentativa de reunir os principais personagens da revista em um jogo, apesar de ser, talvez, uma das mais conhecidas ao lado de J-Stars Victory Vs, que até chegou a ser lançado por essas bandas em 2015. É possível dizer até que existe uma espécie de franquia, considerando uma que reunião entre os medalhões da marca na época foi promovida já no SNES, com Famicom Jump: Hero Retsuden.
O jogo é de luta — o que é compreensível, visto que a maior parte dos títulos presentes no crossover são justamente mangás de batalha — e conta com trezentos e cinco personagens jogáveis que vêm tanto de séries modernas, como One Piece, quanto das mais clássicas, como Hokuto no Ken.
Com uma jogabilidade similar à da série Smash Bros., a peculiaridade principal está na forma como é possível montar times diversificados com lutadores de especialidades diferentes. Cada personagem tem um valor específico e vai ocupar um espaço dentro de uma grade (similar a uma página de HQ) com dimensões 4 x 5 para, ao fim, criar uma equipe customizada. Considerando a quantidade de personagens disponíveis, as combinações são praticamente infinitas. Pode parecer confuso, mas, textos em japonês à parte, é bem fácil de pegar o jeito.
O jogo entretém por algum tempo, embora justamente essa quantidade absurda de conteúdo a ser liberado acaba sendo um empecilho, visto que apenas os jogadores dedicados conseguirão desbloquear tudo sem ficarem entediados. É um desses exemplos que como jogo de anime é fantástico, mas como jogo de luta, acaba capengando um pouco na hora de segurar a atenção.
5 – Ghost in the Shell: Stand Alone Complex (PS2)
Baseado não no filme, mas na série de anime de 2002, Stand Alone Complex se destaca na multidão formada pelos jogos de luta dessa lista por ser um third person shooter. O diferencial se dá na alternância de gameplay entre a Motoko Kusanagi e seu parceiro, Batou, em níveis específicos que irão fazer uso das características exclusivas de cada personagem. Além disso, o jogo também se destaca no level design e na jogabilidade frenética embalada por músicas envolventes e visual de primeira linha. A única ressalva a ser feita é, talvez, que o jogo acaba sendo muito curto, o que deixa uma impressão de experiência incompleta.
4 – Bleach: Dark Souls (DS)
Desenvolvido pela Treasure — responsável por Ikaruga (Multi), Bangai-O (Multi) e Sin and Punishment (N64) — Bleach: Dark Souls é um jogo consistente. Sequência de The Blade of Fate, o jogo de luta para Nintendo DS conta com uma história própria que se dá após a deserção do vilão Aizen, ao fim do arco da Soul Society. O grande destaque, no entanto, é a diversidade de personagens jogáveis e o gameplay viciante, que oferece uma variedade de combos que é suficiente para agradar aos jogadores que preferem um jogo de luta mais complexo.
Considerando as limitações do aparelho, os sprites são muito bem trabalhados e contam com uma animação fluida na maioria das vezes. O principal destaque, no entanto, é a presença de cartões que podem ser utilizados no meio da luta e, por alguns segundos, concedem power-ups aos personagens, como aumentar o ataque do jogador por alguns segundos ou fazendo com que a barra de especial carregue mais rápido. Considerando o suporte para o recurso de Download Play do console, é um excelente jogo para reunir os amigos que não têm o cartucho.
3 - JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle (PS3)
All-Star Battle é uma carta de amor ao fã de JoJo que, na altura de seu anúncio, em 2012, já tinha perdido as esperanças de qualquer novo material a respeito da série além do próprio mangá. Tendo como base o gameplay do jogo da década de 90, o CyberConnect2 se apegou aos detalhes: desde os golpes complexos e especiais até à pose dos personagens parados, tudo, sem exceções, veio diretamente do mangá, por mais que seja um único quadro sem qualquer relevância de uma página aleatória.
Apesar de ter alguma consistência na jogabilidade e no equilíbrio entre os personagens, o jogo, no entanto, não vai além de um Party Brawler e pouco tem a oferecer para uma cena competitiva. Tal qual JUMP Ultimate Stars, a quantidade de conteúdo extra a ser liberado — como as roupas alternativas, por exemplo — também pode afastar um jogador que não tem tanto tempo ou paciência disponível para desbloquear tudo.
O story mode também deixa a desejar, principalmente porque, durante sua produção, pouco foi revelado sobre ele a não ser que era “um modo de história pouco convencional”, mas não havia nada de não-convencional nele. Considerando tudo isso, All-Star Battle pode ser interessante para quem não é fã, mas logo vai ser deixado de lado. Entretanto, o título ainda é muito querido no coração dos fãs que hoje podem se considerar muito bem servidos de material a relacionado à série.
Com o sucesso do jogo, a CyberConnect2 chegou a produzir outro jogo de JoJo, Eyes of Heaven, mas acabou sendo uma experiência esquecível, principalmente ao lado de toda minúcia que fez ASB ser o que é.
2 – Dragon Ball Z: Burst Limit (PS3/X360)
Na verdade, dava para fazer uma lista só com jogos de Dragon Ball — e vários deles são realmente muito bons —, mas Burst Limit é especial. Lançado em 2008, o jogador já estava saturado dos Budokai Tenkaichi, com seus enormes cenários 3D e personagens infinitos produzidos para o jogo de maneira quase industrial.
O estúdio Dimps, que havia sido responsável pelos três primeiros Budokai, colocou o excesso de explosões de lado para dar prioridade à porradaria física pura e irrestrita. Para tal, o estúdio eliminou a mecânica de carregar o medidor com KI para então convertê-lo em golpe especial, fazendo com que o jogador tenha de recorrer a golpes físicos com uma frequência maior.
É também um dos jogos mais bonitos da franquia até hoje, visto que o visual cel-shaded se mostrou muito mais agradável do que os modelos plastificados de Raging Blast. Nesse quesito, apenas FighterZ promete superá-lo.
Seu único defeito é a ausência de conteúdo. Considerando o que já foi conquistado em títulos anteriores, o fato de Burst Limit representar apenas a fase Z até o arco dos Androides é decepcionante.
Menções honrosas: Dragon Ball: Budokai Tenkaichi 3 (Wii/PS2), Dragon Ball GT: Transformation (GBA), Dragon Ball Xenoverse 2 (Multi).
1 – Naruto Ultimate Ninja Storm 3 (PS3/X360)
Eu sempre brinquei que os jogos de Naruto são melhores do que a própria série. A franquia Ultimate Ninja Storm é o exemplo supremo dessa constatação. O terceiro jogo, especificamente, se destaca por segurar o fôlego dos primeiros, consertando a maioria dos seus defeitos e melhorando o que já era bom. Aqui, o mundo aberto inútil do segundo título não têm mais vez.
O estúdio CyberConnect2 foi extremamente competente na composição do modo história, visto que toda passagem importante da série ganha novas proporções. As lutas contra os chefes todas elas ganham sequências que não estavam presentes no mangá, o que contribui para uma reinterpretação interessante dos fatos já explorados e conhecidos dos fãs da série.
Ainda assim, o principal problema do jogo acaba por ser narrativo. Por ter sido lançado no olho do furacão, bem no clímax da Guerra Ninja, o encerramento pareceu abrupto, visto que não passava de um recurso barato para preencher um vazio de um arco de história que ainda não tinha sido concluído.
O terceiro jogo da série Ultimate Ninja Storm ainda recebeu uma versão mais encorpada chamada Full Burst e uma sequência direta, mas o fato da marca Naruto como um todo ter se desgastado acabou ofuscando a luz desses novos jogos.
Menções honrosas: Naruto Clash of Ninja Revolution 3 (Wii).
Revisão: Ana Krishna Peixoto