JoJo’s Bizarre Adventure - Heritage for the Future: lembranças da era de ouro da Capcom

O título, lançado originalmente para Arcade, ainda é um sólido e divertido jogo de luta, mesmo quase 20 anos depois de seu lançamento original.

em 18/06/2017

Quando JoJo’s Bizarre Adventure: All-Star Battle (PS3) foi anunciado em 5 de julho de 2012, a base de fãs de JoJo entrou em furor, pois aquele jogo de luta, cuja proposta juntava uma infinidade de personagens dos diversos arcos da franquia, era o sonho de todo entusiasta da série que há tempos havia sido negligenciada, não só no ocidente, mas também no próprio oriente. Ela não recebia um projeto de grande porte desde o suposto fracasso do filme de Phantom Blood, que, apesar de ter sido exibido nos cinemas, nem versão em DVD acabou recebendo.


No entanto, seria muita injustiça dizer que o fã de JoJo estava mal servido de jogos de videogame. Além de um game do filme citado anteriormente e outro que adapta o quinto arco do mangá, ambos beat 'em up para o PlayStation 2 que nunca chegaram ao ocidente, JoJo’s Bizarre Adventure: Heritage for the Future (Arcade/PlayStation/Dreamcast) é, até hoje, um sólido jogo de luta que se sustenta como tal – ao contrário de uma infinidade de outros que podem até ser divertidos, mas que jamais perdem a estigma de games de anime, ou, nesse caso, de mangá, visto que o anime sairia quase quinze anos depois (até então, apenas uma série em OVA com apenas um pedaço da terceira parte tinha sido lançada).

Lançado originalmente para a placa CPS-3, o último sistema CPS que a Capcom utilizaria para a produção de seus jogos antes começar a desenvolver para a plataforma Naomi, da Sega, Heritage of the Future impressiona. A CPS-3, apesar de pouco aproveitada (foram desenvolvidos apenas seis jogos para ele), era o que havia de mais avançado para a época e isso reflete no jogo, seja tanto na questão visual quanto de gameplay.
Apesar de parecer uma bagunça, com praticamente quatro lutadores em tela - os personagens e suas Stands ativadas -, é bem fácil pegar o jeito do jogo e entender como ele funciona.
Visualmente falando, é um jogo maravilhoso. Observa-se esmero no trabalho dos sprites e das animações, fluidas, vívidas. Tais animações contribuem para suavizar o gameplay, que roda de forma tênue, mas dinâmico e acelerado, baseado na mecânica conhecida de jogos cuja jogabilidade se baseia na combinação de movimentos circulares da alavanca direcional (ou do direcional analógico, se considerarmos as versões de PlayStation e Dreamcast) em combinação dos botões, que aqui são quatro. Três deles dizem respeito aos ataques (fraco, médio e forte) e um deles envolve o sistema de Stand, que amplia as possibilidades de combinações de ataques.

Stand é como se chama o espírito que serve de manifestação do poder do personagem. Pense nas sombras de Blue Dragon (X360) ou nas Personas de Shin Megami Tensei, é algo parecido.  Ao utilizar o botão de Stand, o espírito aparece paralelamente ao personagem e uma nova variedade de ataques pode ser utilizada pelo jogador, além de diminuir o dano recebido (parte dele é revertido no medidor de Stand, que funciona como guard meter), aumentar o alcance e o dano infligido. Também ligados à mecânica de Stand e que colaboram com a solidez do título de luta é a possibilidade dos Tandem Attacks, que envolvem pré-programar comandos durante a ativação da habilidade Stand que irá efetuá-los automaticamente enquanto o usuário pode realizar outras ações separadamente.
Com apenas o mangá como referência, a Capcom caprichou na transposição de cenas icônicas para o modo história.
Além das lutas multiplayer, há também dois modos disponíveis para quem for jogar sozinho. O primeiro é o Story Mode, que segue a história do mangá sob o ponto de vista de cada personagem escolhido. O segundo é o Challenge Mode, um nome chique para Survivor Mode com dificuldade ampliada. Em outras palavras: jogue até perder.

A diversidade do título também se estende aos personagens, cada um com sua personalidade e poderes únicos. A estética detalhada do jogo contribui para que os lutadores sejam únicos à sua maneira, principalmente quando casada com a trilha sonora. Lembrada atualmente pelo mercenarismo, a Capcom na década de 90 não dava ponto sem nó em suas produções e dificilmente entregava produtos aquém das expectativas, o motivo de hoje uma infinidade de seus fãs mais antigos derramar uma lágrima de decepção e nostalgia ao verem o rumo que a empresa tomou. O esmero da produção foi tão grande que até o criador da série, Hirohiko Araki, participou em partes da produção do jogo, criando um design exclusivo para a personagem Midler (que mal havia aparecido direito no mangá) e de uma arte exclusiva para promover o título.
O design da Midler (à direita) foi feito pelo autor especialmente para o jogo.
Em relação aos ports para outras plataformas, é interessante notar que a versão de PlayStation acabou sofrendo um pouco por não ter a capacidade de reproduzir o título da mesma forma que o arcade original. Dito isso, a Capcom também teve a preocupação de adicionar mais conteúdo como forma de compensação, exemplificado pelo Super Story Mode, que concerne em um modo história mais graúdo e que envolve a construção de uma história mais unificada onde o jogador não vai estar limitado ao personagem que escolheu no começo, jogando com vários outros ao longo do enredo.

Há também mini-games que envolvem personagens do mangá que não entraram no roster final de lutadores, no intuito de transformar a experiência mais completa. O principal problema de tal versão, no entanto, é que, devido às limitações do PlayStation em si, a performance do gameplay acabou sofrendo, visto que o jogo exige precisão e o console não podia oferecê-la da mesma forma que as placas do arcade original.
O trabalho que a Capcom fez com os sprites é, até hoje, impecável. 
É válido lembrar que Heritage também recebeu da Capcom uma versão em HD lançada digitalmente para Xbox 360 e PlayStation 3 em 2012 e que contava com multiplayer on-line. Tal port ficou sob a alçada da CyberConnect2, a mesma que foi responsável por desenvolver All-Star Battle. No entanto, devido ao vencimento da licença, o jogo saiu de catálogo em 2014.

Quase vinte anos depois e mesmo com All-Star Battle, o que teoricamente deveria ser seu sucessor moral, Heritage for the Future é um jogo de luta balanceado que ainda tem seu valor competitivo. Ele ainda carrega o valor simbólico de ser um dos últimos bastiões da Capcom em seus tempos áureos, além de, acima de tudo, ser um dos principais responsáveis por apresentar a série aos jogadores ocidentais. É por isso que até hoje o jogo está presente nos corações dos fãs mais old schools da franquia.

Revisão: Jaime Ninice

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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