O que será da nova empreitada da empresa de Seattle no concorrido mercado de games? Fizemos uma análise das diversas investidas feitas pela companhia, os projetos em desenvolvimento e os rumos e expectativas para os próximos anos.
A Amazon
Se alguém te perguntasse o que é a Amazon, qual seria a primeira resposta que viria a sua cabeça? Talvez você diria "ah, é uma empresa americana que vende livros pela internet". Sim, esta informação é verdadeira. A Amazon foi fundada em 1994 por Jeff Bezos e seu site, o Amazon.com, teve sua estreia nos Estados Unidos no ano seguinte, em 1995. Hoje a empresa tem mais da metade das vendas online nos Estados Unidos. Porém, essa não é a única informação válida sobre a Amazon.Sabe aquele ditado popular que diz "quem tudo quer nada tem"? Pois é. Ele não se aplica a Jeff Bezos e sua empresa. A Amazon hoje é muito mais do que um site de vendas online. Ela é a líder em computação em nuvem com o Amazon Web Services, desbancando uma concorrente de peso, a Microsoft. Com relação ao recente mercado de Inteligência Artificial, a Amazon lançou a Echo, capaz de controlar várias funcionalidades da casa, e que detém cerca de 70% do mercado. Sabemos que a empresa é líder no comércio eletrônico americano, mas isso não parece ser suficiente, pois o objetivo agora é atingir o varejo físico (e seu principal concorrente é o Walmart), sendo que, para isso, Jeff Bezos comprou a Whole Foods, rede americana de supermercados, por cerca de 13 bilhões de dólares. A Amazon investe também em robótica com a Kiva Systems, produzindo drones que fazem entregas, no mercado de distribuição de vídeos digitais com o Amazon Video Direct, ou ainda fazendo frente à Netflix com o seu Amazon Prime Video — o filme “Manchester à beira-mar” foi o vencedor de dois oscars e vários outros prêmios internacionais e é uma das grandes produções da Amazon em seu serviço de Streaming —, que terá um investimento de mais de quatro bilhões de dólares esse ano em produções originais.
A Amazon, sem dúvida, está atirando para todos os lados, e se você está achando que isso é algo ruim para a empresa e seus investidores, está completamente enganado. Estudos já projetam que a Amazon poderá se tornar a primeira empresa a ter valor de mercado de 1 trilhão de dólares. O que faz com que a companhia tenha um futuro tão promissor são suas ambições e disposição para arriscar em diversos mercados distintos. E como não poderia ser diferente, o mercado de games é um dos alvos da Amazon.
Os primeiros passos: Twitch e Amazon Game Studios
Em 2014, Emmett Shear, um dos criadores do Twitch, anunciou a venda do serviço de streaming de jogos para a Amazon por 970 milhões de dólares. Rumores na época apontavam que o Google estava prestes a comprar o Twitch por aproximadamente 1 bilhão. Os objetivos da gigante de buscas da internet eram claros: o Youtube, seu principal serviço de streaming, possui como maior audiência os canais que transmitem partidas online. Adquirir a empresa de Shear era, ao mesmo tempo, eliminar a concorrência e melhorar seus serviços. Jeff Bezos viu uma grande oportunidade para que a Amazon pudesse entrar em um novo mercado com o pé direito, e assim comprou o Twitch. Segundo dados oficiais, o Twitch tem uma média de 55 milhões de visitantes por mês, transmitindo 15 bilhões de minutos em conteúdo.No mesmo ano da compra do Twitch, a Amazon criou o Amazon Game Studios, que seria responsável pela criação de jogos da companhia. Para esta tarefa, a Amazon recrutou Kim Switft, a game designer que já esteve envolvidas em séries consagradas do mundo dos games como Portal, Left 4 dead e Far Cry 2. Recentemente, em fevereiro deste ano, o Amazon Game Studios anunciou outro nome de peso para sua equipe: John Smedley. Ele é o co-criador do game EverQuest e, antes de assumir seu novo cargo, foi presidente da Sony Online Entertainment e DayBreak Game Company. Junto do anúncio do novo colaborador, a Amazon divulgou um novo estúdio para sua divisão de games em San Diego. A subsidiária já conta com outros estúdios em Seattle e Orange County e a abertura de um novo estúdio parece demonstrar que a empresa pretende investir pesado na área. Já há, inclusive, alguns títulos divulgados que parecem muito promissores.
Os jogos do Amazon Game Studios: Breakaway, Crucible e New World
Breakaway é o jogo que mais recebeu informações, incluindo um gameplay. O game é em terceira pessoa e temos dois times de 4 players. O objetivo é pegar uma esfera e levar até o campo adversário marcando ponto. Breakaway possui elementos de MOBA e será um investimento da Amazon no segmento de e-sports, pois é visível que o game mira concorrentes como Overwatch e League of Legends.Ainda em versão Alpha, não há previsão de lançamento. O que se sabe é que o jogo estará disponível para PC.
Crucible foi apresentado em um vídeo de divulgação do Amazon Game Studios com informações de bastidores e falando um pouco também sobre ambientação e inimigos. Segundo o estúdio, trata-se de um shooter em terceira pessoa em um planeta alienígena. Assim como Breakaway, o foco será no cenário competitivo e na integração do jogo com a plataforma de streaming da Amazon, o Twitch.
New World foi anunciado como um sandbox que se passa durante a colonização nos Estados Unidos, mais precisamente no século XVII e com a presença de vários elementos sobrenaturais. Haverá, segundo o estúdio, a possibilidade de partidas singleplayer e multiplayer, além da possibilidade de um sistema de classes.
Produzindo jogos: Amazon Lumberyard
Todos os jogos que a companhia disse estar produzindo têm algo em comum: todos eles estão sendo desenvolvidos na plataforma Lumberyard. Trata-se de uma poderosa engine para a produção de jogos 3D e VR. A Amazon está investindo não somente na criação de jogos, mas também em oferecer uma engine própria, o que pode parecer uma estratégia consistente para se conseguir apoio de outros estúdios e firmar grandes parcerias.A engine Amazon Lumberyard é claramente focada na produção de jogos AAA. Ela possui integração nativa com o Amazon Web Services, serviço de nuvem da empresa, e também com o Twitch. A integração entre os outros produtos da companhia é certamente um grande atrativo e também um marcador de qualidade que deve dar pontos positivos à engine da Amazon.
Outro aspecto importante é a gratuidade do serviço. Em oposição a outras engines consagradas, o Amazon Lumberyard não cobra nenhuma assinatura ou divisão de receita com a publicação do produto final. A engine está disponível em sua totalidade de forma gratuita no site da Amazon Web Services. O único valor cobrado é o que for utilizado dos recursos oferecidos pela plataforma em nuvem da empresa.
Rumores e expectativas
Com o forte investimento no mercado de games (Twitch, jogos e engine própria), já era de se esperar que rumores surgissem. Um deles ocorreu em 2013, quando vários fóruns especulavam que a Amazon poderia entrar na famosa "guerra dos consoles". Há um bom tempo temos um mercado dividido entre Microsoft, Sony e Nintendo. O rumor pareceu fazer muito sentido, pois seria um grande passo nos investimentos no mercado de games— e é válido lembrar que a Microsoft vem sendo uma das principais rivais da Amazon por ser também do ramo da tecnologia e já possuir seu console.A verdade é que os rumores não se confirmaram e quatro anos depois não vimos nenhuma notícia sobre o tal console da Amazon. Porém, as especulações em torno da Amazon estão sendo importantes para o mercado de games. Afinal, trata-se de uma gigante e tudo o que ela fizer (ou até mesmo deixar de fazer) vai causar alguma reação. É possível que não haja nenhum console sendo desenvolvido, mas devemos lembrar que da Amazon não se deve duvidar. A empresa já se aventurou em várias áreas e, com certeza, Jeff Bezos não teria nenhuma objeção caso alguém venha com uma proposta de um console sob o selo de sua empresa. As expectativas em torno do que a Amazon vai aprontar no mercado de games são enormes, e ela não se resumem apenas a lançamentos de jogos, mas nas formas de produzí-los e até mesmo onde jogá-los.
O que resta agora é aguardar quais serão os próximos passos da Amazon nas diversas áreas e, principalmente, no que diz respeito aos games.
Revisão: Arthur Maia