Análise: Stage Presence (PC) tenta transformar o karaokê em videogame

Ideia do game até que é interessante, porém a execução deixa a desejar.

em 24/04/2017


Apesar da existência de casas de karaokê ser algo bastante incomun no Brasil, soltar a voz é passatempo que atrai a atenção de bastante gente. Não é à toa que, no final dos anos 1990, as máquinas de videokê marcavam presença em todo tipo de festa. Poder cantar suas canções preferidas e ainda ver o desempenho ser pontuado no final fazia com que muitos se sentissem verdadeiras estrelas da música. Com o sucesso que esses equipamentos faziam há algum tempo, um jogo como Stage Presence teria tudo para se dar bem em terras verde e amarela.


O projeto desenvolvido pelo estúdio Sea Green Games e distribuído pela tinyBuild deixa de lado os controles convencionais e aposta somente na voz dos jogadores. O game traz como objetivo principal entreter uma plateia enfurecida com o show que apresenta problemas técnicos. Todos os instrumentos da banda falharam e cabe ao vocalista usar seus dons para manter o público feliz enquanto a equipe tenta arrumar a guitarra, a bateria e o baixo. Manter a reputação do grupo musical estará em suas mãos, ou melhor, em suas pregas vocais.
Prepare a voz

Papel de vocalista

Minha experiência com Stage Presence aconteceu totalmente no PC, usando o microfone da câmera e com a ação acontecendo na tela. No entanto, para tornar a jogatina mais imersiva, o game oferece suporte a óculos VR. Usar o aparelho provavelmente deve deixar as coisas interessantes, afinal, encarar o público furioso com a sensação de realmente estar no palco não é tarefa das mais fáceis. Porém, a sensação de assumir o papel do vocalista não é muito bem transmitida na maneira tradicional de se jogar, muito em função dos gráficos estilizados.

Nos cenários onde a quantidade de pessoas que assistem ao show é maior, como aqueles a céu aberto, foi usada técnica de deixar pontos luminosos na plateia para passar a sensação de casa cheia. As luzes, que deveriam ser os espectadores usando pulseiras brilhantes ou filmando a apresentação com os celulares, fazem parecer que a banda está se apresentando no topo de um prédio com a cidade iluminada ao fundo. Teria sido melhor colocar mais NPCs ao invés de substituí-los pelos flashes, como acontece nos cenários fechados.
Muita luz para pouca gente


Falando nos espectadores, eles serão o termômetro do sucesso ou fracasso de sua carreira como vocalista. Se sua improvisação for boa, a plateia te aplaudirá, mas se não gostarem de sua voz, objetos serão atirados na direção do palco. Quanto mais as pessoas gostarem das músicas a capella, melhor será a pontuação. Os resultados podem ser comparados em um ranking global, ou seja, todos aqueles anos tentando alcançar os 100% no videokê não foram desperdiçados.

Carreira de sucesso

Stage Presence apresenta três modos de jogo, o livre, o carreira e o multiplayer. No primeiro, é possível escolher a casa de show e o nível de exigência da plateia. Já na carreira, acompanhamos a ascensão da banda, que começa fazendo shows pequenos e vai crescendo conforme a habilidade de improvisação for melhorando. O grande problema é que esse modo acaba se tornando bastante repetitivo: em todas as apresentações os instrumentos falham e cabe ao vocalista salvar o dia. O grupo precisa investir urgente em equipamentos novos.

A ideia da improvisação é bastante legal, mas se torna o único diferencial do jogo. Seria bem melhor se o game fosse musical, com o jogador cantando acompanhado pelo restante da banda e, ocasionalmente, alguns problemas o obrigassem a sair do lugar comum. Agora a repetição torna o título repetitivo e cansativo, já que aquilo que você cantou na última fase pode ser usado novamente para agradar o pessoal e continuar avançando na carreira de sucesso.
I wanna be a rockstar

Animando festas

O terceiro modo, o multiplayer, é online e deveria reunir cantores e espectadores do mundo inteiro. A promessa é que o jogador pode abrir sua partida para qualquer um assistir em tempo real e avaliar o desempenho da improvisação, elogiando o vocalista ou atirando um tomate bem no meio de seu rosto. É possível entrar nessas seções tanto como cantor quanto como espectador. Porém, tentei por diferentes vezes entrar no multiplayer, mas o jogo nunca encontrou nenhuma sala aberta.

Se o online não tem jogadores suficientes, Stage Presence é um interessante título para ser aproveitado em festas. Reunir os amigos para cada um improvisar em cada fase acaba sendo bastante divertido. Ao final da apresentação, algum trechinho da cantoria é repetido e, nesse momento, acontecem as melhores risadas quando a jogatina acontece em grupos. Aproveitar o game em encontros casuais também faz lembrar a fama que os equipamentos de videokê fizeram tempos atrás.

O lado ruim da fama

A ideia de Stage Presence é bastante promissora, mas a execução deixa a desejar. No nível fácil, por exemplo, apenas fiquei batucando na mesa próximo do microfone e a mensagem que apareceu foi que eu tinha voz de anjo. Não sabia que esses seres celestiais se comunicavam via batidas. O controle de voz e a pontuação funcionam diferente daquilo que realmente deveria acontecer, deixando de recompensar adequadamente aqueles cantores que conseguem mandar bem com a voz.
Quem aí está curtindo esse show sem instrumentos?

Talento desperdiçado

A sensação que fica ao jogar o game é que faltou aquele algo a mais dos produtores. A proposta poderia ser melhor explorada e o conteúdo mais amplo do que realmente foi entregue. Repetir toda vez o mesmo roteiro de instrumentos quebrados é enjoativo e torna a jogatina bastante repetitiva. Ao menos, o jogo funciona como um divertido party game. O maior erro, porém, são os controles a base de voz mal calibrados, um projeto como esse não poderia jamais ter erro tão grave. Talvez o título funcione melhor no VR.

A sensação que fica é que Stage Presence foi lançado com alguns anos de atraso. O game teria feito mais sucesso na época do videokê ou quando jogos musicais, como Guitar Hero e Rock Band, eram a febre do momento.

Prós

  • Funciona como party game;
  • Suporte aos óculos VR.

Contras

  • Modo online às moscas;
  • Graves problemas com o controle de voz;
  • A história dos instrumentos quebrados se repete demais.
Stage Presence — PC — Nota: 5.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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