Apesar da existência de casas de karaokê ser algo bastante incomun no Brasil, soltar a voz é passatempo que atrai a atenção de bastante gente. Não é à toa que, no final dos anos 1990, as máquinas de videokê marcavam presença em todo tipo de festa. Poder cantar suas canções preferidas e ainda ver o desempenho ser pontuado no final fazia com que muitos se sentissem verdadeiras estrelas da música. Com o sucesso que esses equipamentos faziam há algum tempo, um jogo como Stage Presence teria tudo para se dar bem em terras verde e amarela.
O projeto desenvolvido pelo estúdio Sea Green Games e distribuído pela tinyBuild deixa de lado os controles convencionais e aposta somente na voz dos jogadores. O game traz como objetivo principal entreter uma plateia enfurecida com o show que apresenta problemas técnicos. Todos os instrumentos da banda falharam e cabe ao vocalista usar seus dons para manter o público feliz enquanto a equipe tenta arrumar a guitarra, a bateria e o baixo. Manter a reputação do grupo musical estará em suas mãos, ou melhor, em suas pregas vocais.
Prepare a voz |
Papel de vocalista
Minha experiência com Stage Presence aconteceu totalmente no PC, usando o microfone da câmera e com a ação acontecendo na tela. No entanto, para tornar a jogatina mais imersiva, o game oferece suporte a óculos VR. Usar o aparelho provavelmente deve deixar as coisas interessantes, afinal, encarar o público furioso com a sensação de realmente estar no palco não é tarefa das mais fáceis. Porém, a sensação de assumir o papel do vocalista não é muito bem transmitida na maneira tradicional de se jogar, muito em função dos gráficos estilizados.Nos cenários onde a quantidade de pessoas que assistem ao show é maior, como aqueles a céu aberto, foi usada técnica de deixar pontos luminosos na plateia para passar a sensação de casa cheia. As luzes, que deveriam ser os espectadores usando pulseiras brilhantes ou filmando a apresentação com os celulares, fazem parecer que a banda está se apresentando no topo de um prédio com a cidade iluminada ao fundo. Teria sido melhor colocar mais NPCs ao invés de substituí-los pelos flashes, como acontece nos cenários fechados.
Muita luz para pouca gente |
Falando nos espectadores, eles serão o termômetro do sucesso ou fracasso de sua carreira como vocalista. Se sua improvisação for boa, a plateia te aplaudirá, mas se não gostarem de sua voz, objetos serão atirados na direção do palco. Quanto mais as pessoas gostarem das músicas a capella, melhor será a pontuação. Os resultados podem ser comparados em um ranking global, ou seja, todos aqueles anos tentando alcançar os 100% no videokê não foram desperdiçados.
Carreira de sucesso
Stage Presence apresenta três modos de jogo, o livre, o carreira e o multiplayer. No primeiro, é possível escolher a casa de show e o nível de exigência da plateia. Já na carreira, acompanhamos a ascensão da banda, que começa fazendo shows pequenos e vai crescendo conforme a habilidade de improvisação for melhorando. O grande problema é que esse modo acaba se tornando bastante repetitivo: em todas as apresentações os instrumentos falham e cabe ao vocalista salvar o dia. O grupo precisa investir urgente em equipamentos novos.A ideia da improvisação é bastante legal, mas se torna o único diferencial do jogo. Seria bem melhor se o game fosse musical, com o jogador cantando acompanhado pelo restante da banda e, ocasionalmente, alguns problemas o obrigassem a sair do lugar comum. Agora a repetição torna o título repetitivo e cansativo, já que aquilo que você cantou na última fase pode ser usado novamente para agradar o pessoal e continuar avançando na carreira de sucesso.
I wanna be a rockstar |
Animando festas
O terceiro modo, o multiplayer, é online e deveria reunir cantores e espectadores do mundo inteiro. A promessa é que o jogador pode abrir sua partida para qualquer um assistir em tempo real e avaliar o desempenho da improvisação, elogiando o vocalista ou atirando um tomate bem no meio de seu rosto. É possível entrar nessas seções tanto como cantor quanto como espectador. Porém, tentei por diferentes vezes entrar no multiplayer, mas o jogo nunca encontrou nenhuma sala aberta.Se o online não tem jogadores suficientes, Stage Presence é um interessante título para ser aproveitado em festas. Reunir os amigos para cada um improvisar em cada fase acaba sendo bastante divertido. Ao final da apresentação, algum trechinho da cantoria é repetido e, nesse momento, acontecem as melhores risadas quando a jogatina acontece em grupos. Aproveitar o game em encontros casuais também faz lembrar a fama que os equipamentos de videokê fizeram tempos atrás.
O lado ruim da fama
A ideia de Stage Presence é bastante promissora, mas a execução deixa a desejar. No nível fácil, por exemplo, apenas fiquei batucando na mesa próximo do microfone e a mensagem que apareceu foi que eu tinha voz de anjo. Não sabia que esses seres celestiais se comunicavam via batidas. O controle de voz e a pontuação funcionam diferente daquilo que realmente deveria acontecer, deixando de recompensar adequadamente aqueles cantores que conseguem mandar bem com a voz.Quem aí está curtindo esse show sem instrumentos? |
Talento desperdiçado
A sensação que fica ao jogar o game é que faltou aquele algo a mais dos produtores. A proposta poderia ser melhor explorada e o conteúdo mais amplo do que realmente foi entregue. Repetir toda vez o mesmo roteiro de instrumentos quebrados é enjoativo e torna a jogatina bastante repetitiva. Ao menos, o jogo funciona como um divertido party game. O maior erro, porém, são os controles a base de voz mal calibrados, um projeto como esse não poderia jamais ter erro tão grave. Talvez o título funcione melhor no VR.A sensação que fica é que Stage Presence foi lançado com alguns anos de atraso. O game teria feito mais sucesso na época do videokê ou quando jogos musicais, como Guitar Hero e Rock Band, eram a febre do momento.
Prós
- Funciona como party game;
- Suporte aos óculos VR.
Contras
- Modo online às moscas;
- Graves problemas com o controle de voz;
- A história dos instrumentos quebrados se repete demais.
Stage Presence — PC — Nota: 5.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto