Análise: Tales of Berseria (PS4/PC) é um JRPG sombrio e cativante ao mesmo tempo

Controle um grupo de anti-heróis em uma aventura repleta de ótimos sistemas e situações.

em 16/02/2017
Tales of Berseria, o mais recente título da franquia de JRPGs para PS4 e PCs, quebra vários paradigmas da série. Em vez da tradicional jornada para salvar o mundo, o foco é uma trama de vingança repleta de personagens com motivações nada heroicas. Isso, em conjunto com um ótimo combate e muitos outros sistemas, resulta em uma aventura divertida e interessante.

Sede de vingança

Berseria já mostra que não é um Tales comum pela sua história. A protagonista é Velvet, uma garota que está em busca por vingança. Ela quer matar Artorius, uma pessoa que sacrificou o irmão dela para obter um poder que é capaz de afastar uma doença que transforma as pessoas em bestas. Ela própria meio que foi acometida por essa enfermidade: um de seus braços vira uma grande garra e ela é considerada um “demônio”. Vários outros personagens se juntam a ela, cada um com seus motivos nada nobres: Rokurou quer assassinar seu irmão mais velho, Eizen é um pirata que carrega uma terrível maldição, Magilou é uma bruxa charlatã, e assim por diante. A sensação geral é de um grupo de desajustados que só estão juntos por conta da conveniência — ao menos inicialmente.

A temática de Berseria é bem diferente em relação aos outros Tales: não temos mais um grupo de heróis em uma jornada para salvar o mundo. Na verdade, é quase o contrário, já que Artorius é considerado o salvador da humanidade. A trama tem uns aspectos sombrios e algumas reviravoltas bem interessantes, mesmo sendo um bocado previsível e com muitos clichês. A história se passa muitos anos antes de Tales of Zestiria, o que esclarece alguns pontos do jogo anterior, porém a trama de Berseria funciona por si só.


Os personagens são ótimos, assim como as interações entre eles. Em um primeiro momento, eles parecem bem estereotipados, porém a personalidade de cada um se desenvolve bastante. Velvet, por exemplo, é fria e calculista, capaz de fazer qualquer coisa para alcançar sua vingança — mas lá no fundo ainda existe uma garota gentil que se importa com seus companheiros. Já Laphicet é um garoto que tenta encontrar sua própria identidade e seu lugar no mundo, ele funciona como contraponto em relação à personalidade mais intensa dos outros personagens. Uma das minhas personagens favoritas é a exorcista Eleanor: por vários motivos, a garota é forçada a acompanhar esse grupo de “vilões” e seus princípios conflitam demais com os interesses dos outros, resultando em momentos intrigantes e interessantes. Todos os personagens têm esse tipo de desenvolvimento e sempre fiquei curioso para os conhecer melhor.

As relações entre os protagonistas é explorada principalmente nas conversas opcionais já tradicionais da série. Algumas dessas cenas ajudam a desenvolver as personalidades dos anti-heróis, outras reforçam os laços entre todos no grupo. Desta vez elas estão mais detalhadas e contam com animações e imagens de fundo, sendo o resultado bem convidativo. As minhas favoritas são as conversas divertidas, principalmente quando a bruxa maluca Magilou aparece  — todas as cenas com ela costumam ser bem engraçadas. Os personagens carismáticos e suas relações entre si é uma das minhas características favoritas de Berseria. Assim como Zestiria, os textos de Berseria estão completamente em português e a adaptação ficou boa e com poucos erros.


Muita liberdade no combate

Mecanicamente, Berseria reproduz os conceitos explorados nos últimos jogos da série. A aventura de Velvet é dividida entre momentos de exploração (em cidades, campos e calabouços) e combates.

De longe, o sistema de batalha é a melhor característica do jogo. O combate é uma evolução dos sistemas dos últimos Tales e tem como destaque a liberdade: tudo acontece em tempo real, sendo que cada um dos quatro botões principais do controle são utilizados para ativar golpes e técnicas. O legal é que é possível determinar livremente os ataques de uma sequência e misturar todas elas. Com isso, há liberdade para montar combos que exploram as fraquezas dos inimigos.


O tamanho do combo é determinado pelas Almas, que funcionam como uma espécie de medidor de fôlego. Cada personagem começa o combate com algumas Almas, sendo possível conseguir mais ao atordoar ou derrotar inimigos. As Almas também podem ser consumidas para executar um golpe especial chamado Libertação da Alma, exclusivo de cada personagem. Velvet, por exemplo, libera seu braço demoníaco e entra em um estado fortalecido — o golpe permite estender combos e é bem poderoso caso seja utilizado nos momentos corretos. Gerenciar as Almas é essencial para se dar bem nos confrontos: gaste-as de qualquer jeito e seu personagem ficará praticamente vulnerável. Há também várias outras técnicas avançadas, como troca de personagens, combos que exploram fraquezas dos inimigos e ataques finalizadores, que tornam os combates ainda mais interessantes.

O sistema de batalha é flexível, porém essa liberdade pode deixar as coisas banais: é perfeitamente possível vencer somente apertando os botões de qualquer jeito, principalmente na dificuldade “Normal”. Achando tudo muito fácil, coloquei logo no modo “Difícil”, aí sim foi necessária estratégia para vencer (por mais que em vários momentos golpear de qualquer jeito ainda seja viável). Só vi necessidade de usar técnicas avançadas nas dificuldades superiores.


Percebi, então, que o combate do jogo permite que tanto casuais quanto veteranos se divirtam com ele. Particularmente, gostei demais do sistema de Libertação de Alma, que me permite montar combos impressionantes ou virar completamente a situação com um golpe poderoso. Gostei também do fato de que cada personagem tem particularidades próprias, sendo que o jogo incentiva experimentar cada um deles (principalmente por meio da troca instantânea de personagem durante as batalhas). O combate é intenso e enfrentei inimigos sempre que possível só para me divertir.

Um Tales nos moldes de sempre

Quando não estão batalhando, Velvet e seus companheiros viajam pelo mundo de Midgand. Nesse momento, Tales of Berseria entra no lugar comum de muitos outros JRPGs e repete alguns problemas recorrentes da série.

O grupo explora locais sem grande inspiração, como florestas, cavernas e praias, todos eles com visual bem genérico e comum. Há uma ou outra localidade levemente interessante, mas a maioria das áreas são nada memoráveis. O jogo usa o mesmo motor gráfico de Zestiria, ou seja, a aparência é de um título desenvolvido para PS3 e apresenta gráficos datados, texturas medianas e muita coisa reaproveitada do jogo anterior. A única exceção são os os protagonistas, que apresentam muitos detalhes e visual mais elaborado. Espero que os próximos episódios da série utilizem tecnologias atuais para deixar tudo com um visual melhor.


Explorar as regiões do jogo não é nada especial, principalmente por conta do desenho dos mapas. As localidades do jogo são simples e, em sua maioria, lembram mais grandes corredores com um monte de inimigos. Um ou outro calabouço apresenta algum tipo de puzzle, mas são todos bem básicos (e às vezes até mesmo irritantes). Há muita coisa escondida nos mapas, como baús e outros itens, o que ajuda a amenizar a simplicidade dos mapas. Mesmo assim, em alguns momentos, eu perdi a paciência e passei a desviar dos inimigos para chegar rapidamente aos objetivos.

Esses problemas são compensados pela existência de muita coisa legal para explorar. Berseria conta com vários outros sistemas interessantes, como a descoberta de ilhas distantes por meio de navegação e muitas habilidades para aprender via equipamentos. Há também algumas poucas missões paralelas opcionais para fazer, como a caça a demônios poderosos, minigames e arenas espalhadas pelo mundo. A quantidade de coisas opcionais disponíveis é menor em relação aos outros títulos da série, porém o conteúdo é bom e divertido.


O ápice da série

Tales of Berseria se destaca principalmente nos aspectos não usuais da série. Gostei demais da trama ser centrada justamente em um grupo de desajustados, sendo que cada um dos personagens do grupo é único e bem construído. Outra característica ótima é o sistema de batalha: é intenso, divertido e repleto de possibilidades. O visual e os mapas do jogo deixam a desejar, porém não chegam a atrapalhar a experiência como um todo. Tales of Berseria é um ótimo JRPG e é, também, um dos melhores de toda a série.

Prós

  • Personagens cativantes e carismáticos;
  • Combate ágil e repleto de possibilidades;
  • Temática e tramas interessantes.

Contras

  • Visual datado;
  • Mapas sem inspiração;
  • Ambientação genérica.
Tales of Berseria — PS4/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4

Revisão: Luigi Santana

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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