The Dwarves (Multi): Uma jornada épica, mas cheia de tropeços

Jogo, baseado em livro, traz um universo interessante, mas mecânicas problemáticas e bugs comprometem muito o resultado final.

em 04/01/2017
The Dwarves é um jogo lançado pelo estúdio alemão King Art Games, tendo sido financiado por uma bem-sucedida campanha no Kickstarter em 2015, que levantou mais de US$ 300.000. Baseado em um romance escrito pelo autor, também alemão, Markus Heitz, o jogo se baseia nos fatos descritos no primeiro livro (de um total de cinco). Ele nos traz uma mistura de RPG tático com ação em tempo real, em combates que geralmente envolvem muitos inimigos. Alguns elementos de RPG de mesa também estão presentes. Apesar de trazer vários bons ingredientes, os defeitos complicam seriamente o resultado final apresentado.




Por se tratar de um jogo baseado em um livro, é justo começar falando sobre a trama, uma das partes que mais me agradou. The Dwarves se passa no mundo de Girdlegard, contando-nos a história de Tungdil Bolofar, um anão órfão, adotado por um mago quando ainda era criança e que cresceu entre humanos. Tungdil é um personagem interessante, ao mesmo tempo em que tem a habilidade nata da forja e de manipular o ferro; é um anão estudado, aprecia a leitura e costuma tentar resolver problemas de maneira mais diplomática, características não muito comuns em sua raça.

O que move Tungdil na narrativa é seu primeiro encontro com outros anões, que aparecem com a missão de buscá-lo e levá-lo de volta ao seu povo. Paralelo a isso, o protagonista ainda terá de lidar com a Terra Perecida, um Mal de eras atrás que está de volta para aterrorizar os povos livres daquele universo.
The Dwarves tem muitos momentos onde o jogador pode escolher como prosseguir com uma situação.
O mundo de Girlegard, se você é fã de J.R.R. Tolkien e outras obras que tratem desse tipo de fantasia, será bem familiar. Temos elfos (já poucos em números) vivendo com humanos, orcs sendo uma raça essencialmente má e anões que adoram viver em montanhas. Esses que, como são o foco da história, têm sua sociedade muito mais detalhada, com diversos clãs, brigas internas, sucessões reais, etc. Espere vários clichês típicos do gênero, mas a construção é bem feita, então isso não é um problema. Vale dizer que, pelo que pesquisei, o jogo faz alguns cortes e adaptações na história em relação ao livro. Não tenho como fazer uma comparação entre os dois, mas ao menos o que é apresentado no jogo é bem satisfatório nesse quesito.

Focando mais nos personagens, e seu grupo vai ter uma alta rotação de aliados, no geral eles são bem carismáticos. Não espere diálogos filosóficos e aprofundados, mas ao longo do jogo pequenas conversas vão dando mais vida às relações entre os anões e outros aliados. Eventualmente alguns personagens ganham mais destaque do que outros, mas quase todos têm seus “15 minutos” de destaque ao longo da jornada.

Confusão na Batalha

O jogo transcorre no mapa-múndi e você avança conforme um tabuleiro. Existem vilarejos, fazendas, acampamentos inimigos, entre outras localidades que, quando não estão ligados à missão principal, podem trazer eventos e missões secundárias. Nessa parte o jogo se aproxima muito de RPGs de mesa, no sentido de dar opções de ações e diálogos, cada uma com consequências a curto e/ou longo prazo. Mesmo a narração do jogo é feita como se fosse um Mestre de RPG expondo os fatos.

Para mim, fã de histórias fantásticas, esta parte RPG me agradou, mas é inegável que ela deixa o jogo em um ritmo bem lento. Praticamente não existem lutas aleatórias, só as atreladas às missões. Não são raros os intervalos em que você passa um bom tempo sem lutar efetivamente. Cheguei até a comentar com alguns amigos que The Dwarves é quase uma Visual Novel de anões. E pelos problemas que o jogo tem nas mecânicas de luta, bem que poderia ser mesmo.
Esse é o mapa de Girdlegard
De longe, a parte das mecânicas de luta é o lado fraco do título. É comum na maioria das histórias que anões sejam excelentes guerreiros. Em The Dwarves, apesar disso se aplicar ao enredo, o mesmo não pode ser dito sobre a mecânica de batalha, que é muito confusa e mal executada.

Dentro dos cenários de batalha, seu grupo pode ter até quatro personagens. Você controla um por vez, mas pode trocar entre eles a qualquer momento. Da mesma forma, pode pausar o jogo e dar um comando específico para cada um, que será executado assim que a ação voltar. E aqui moram todos os problemas. Pra começar, a inteligência artificial é muito falha, dificilmente um NPC usa uma habilidade especial e não é raro alguém do grupo se distanciar e se tornar alvo fácil dos inimigos. Também não é raro um aliado ficar parado após matar um oponente, mesmo que ainda existam inimigos no cenário. Diversos outros bugs também atrapalham, como personagens “deslizando” no cenário.
Por mais bacana que a ideia de diversos inimigos na tela, as falhas técnicas tiram muito da diversão do jogo.
Assim, você não pode confiar na máquina te ajudando. A saída então seria jogar de forma estratégica, parando a luta para dar comandos individuais, certo? Seria, se o sistema fosse bem feito. Você só pode dar um comando por vez, o que te obriga a parar a todo o momento. Seria diferente, talvez, se fosse possível acumular funções ou criar modelos de formações, mas definitivamente não é o caso aqui.

Não fossem esses problemas irritantes o suficiente, o jogo sofre com picos de dificuldade absurdos, que aliados com problemas de mecânicas ficam ainda mais acentuados. Em alguns momentos, simplesmente surge um desafio muito maior do que o jogador enfrentou até aquele momento. Mesmo havendo o sistema de níveis para os personagens, a quase totalidade das lutas está atrelada a história, não existindo espaço para o “grind”. Só para citar um exemplo: o primeiro chefe do jogo é absurdamente difícil. Mesmo selecionando a dificuldade Fácil, foram mais de 30 minutos para conseguir sucesso. Não era algo desafiador, era só chato. Enquanto tentava me manter vivo com um personagem, lidando com oito a dez zumbis, o outro apanhava para o chefe. Como a inteligência artificial é bem burra, os personagens que eu não controlava não usavam ataques especiais ou sequer usavam um item de cura. Com o tempo, você vai aprendendo a lidar melhor com esses problemas, mas isso não significa que eles deixam de existir.
Vamos ver quem pega as referências
Na parte gráfica, The Dwarves não traz nada espetacular, mas é competente. O visual dos anões é bem diferente entre si, dando personalidade para cada um deles. Os mapas e outros NPCs são simples e me agradaram. É o famoso “não se destaca, mas também não compromete”. Infelizmente não posso dizer o mesmo da câmera. Apesar de ter livre controle sobre ela, durante as missões, houveram momentos onde ela se posicionava atrás de objetos do cenário, atrapalhando a visão que eu tinha de algum personagem, principalmente na transição entre membros do meu grupo. Com isso, a câmera acaba se tornado mais um fator que precisa ser gerenciado na luta, algo que não deveria acontecer.

O jogo tem dublagem em inglês ou alemão, mas traz suporte ao nosso idioma, nos menus e legendas que, apesar de alguns erros de grafia esporádicos, é bem feita. O problema que encontrei aqui é que por vezes as caixas de texto não acompanhavam a fala do narrador. Mudando o idioma para inglês não notei esse erro ocorrer.

Quanto à parte sonora, esta sim merece elogios. Todas as composições são orquestradas e muito bem executadas. Somadas a elas, a banda alemã Blind Guardian também contribuiu com uma música, “Children of the Smith”. Existe uma missão secundária que faz referência à banda. Eu tentei realizá-la, para ver se a música seria tocada dentro do jogo, mas um bug fez um dos itens da missão sumir, o que tornou a tarefa impossível.

It’s a mine!

The Dwarves cai naquele clássico grupo de jogos que teria um potencial incrível, mas joga tudo montanha abaixo devido a erros de execução, essencialmente no gameplay, e com bugs diversos. O que é bem triste, pois a história me agradou bastante e os personagens têm bastante carisma. A forma como a trama é exposta e o sistema de decisões, muito próximas aos RPGs de mesa, também foram boas decisões. Uma pena que tudo isso seja manchado pela parte técnica.

Prós

  • História bem construída;
  • Personagens carismáticos;
  • Trilha sonora;
  • Boa localização para nosso idioma

Contras

  • Sistema de batalha falho;
  • Problemas na inteligência artificial;
  • Picos de dificuldade;
  • Bugs acontecem com certa frequência;
  • Posicionamento da câmera nos combates;
The Dwarves — PC/Linux/Mac/PS4/XBO — Nota: 6.5
Versão usada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério


Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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