Análise: Rise & Shine (PC/XBO) e a salvação do mundo dos videogames

Apesar de falhas no roteiro, o jogo é uma interessante mistura de ação frenética com seções de puzzles e minigames.

em 14/01/2017


O universo dos videogames corre sério perigo! Gamearth, local onde vivem nossos personagens mais queridos, está sendo invadido por soldados brutamontes vindos diretamente de uma região no espaço conhecida como Nextgen. Para piorar a situação, o lendário herói que estava destinado a acabar com os inimigos foi facilmente derrotado logo no início da guerra. Porém, nem tudo está perdido, já que o destino (ou foi obra dos “criadores”?) fez a esperança ressurgir do ponto mais inesperado possível.


Esperava estar entrando em uma aventura cheia de referências aos games clássicos e modernos quando li essa sinopse de Rise & Shine, título lançado para PC e que foi desenvolvido pelo estúdio Super Awesome Hyper Dimensional Mega Team. Mesmo com a expectativa de encontrar figuras já conhecidas, fui positivamente surpreendido pela enorme quantidade de detalhes que remetem a outras obras. Brincar de procurar easter eggs é, sem dúvidas, a parte mais divertida do jogo.

Se a surpresa foi boa com as menções a ícones como Super Mario, Zelda, Gears of War e Metal Gear, o mesmo não pode ser dito em relação ao enredo. A sensação que fica é que a narrativa foi deixada de lado pelos produtores e o resultado final acaba sendo uma série de acontecimentos superficiais com personagens totalmente genéricos e sem profundidade. É triste ver o potencial desperdiçado, já que a trama tinha tudo para ser o ponto forte da obra.
Gamearth está em caos total!
Havia um vasto campo a ser explorado nesse conflito entre diferentes gerações da história dos videogames, ainda mais com os protagonistas tendo o conhecimento de que estão em um mundo onde tudo o que acontece depende da vontade dos “criadores”.  Entretanto, o título se desenrola e termina com várias questões em aberto e falsos dilemas morais que falham completamente no quesito emocionar os jogadores.

Corra, pule, atire e... morra

A missão de salvar Gamearth acaba caindo no colo do pequeno Rise. O garoto presenciou a morte do guerreiro lendário, que antes de perder sua última vida entregou uma poderosa arma ao menino. A pistola chamada de Shine tem consciência própria e garante a seu portador a habilidade de respawn infinito. E, acredite, você vai agradecer muito ter esse poder de voltar dos mortos.

O game apresenta elevado grau de dificuldade, com quase tudo no cenário querendo acabar com o protagonista. Os tiroteios frenéticos lembram bastante Metal Slug, sendo necessário bolar estratégias para derrotar os inimigos antes que eles acabem contigo. Apesar de desafiador, o título não é daqueles que fazem o jogador passar raiva, mas sim incentiva a repetir o mesmo cenário por várias e várias vezes. No total, são cinco fases e demorei cerca de cinco horas para finalizar a jornada, sendo que nem percebi que havia passado tanto tempo.
Todos os chefes têm algo em comum, adoram apelar


Colabora para não deixar a aventura maçante o fato de que cada nível apresenta novidades na jogabilidade. Apenas a primeira e a última se resumem a sair atirando primeiro para perguntar depois. Nas outras três, existe um misto de ação com puzzles, minigames e até o desafio de pilotar um barco voador, ao melhor estilo shoot 'em up. Há ainda diferentes tipos de munições e maneiras de disparar Shine, que precisam ser usadas nos momentos corretos. Com tantas possibilidades, fica a sensação de que o jogo poderia ser um pouco maior para poder aproveitá-las melhor.

Todas as fases escondem alguns baús e objetos colecionáveis para serem coletados. Mesmo que esses itens fiquem para trás, somente eles não são grande atrativo para o fator replay. A não ser que seu objetivo seja adquirir todas as conquistas, Rise & Shine é um daqueles títulos para se jogar uma única vez. Outro motivo que pode chamar a atenção dos mais hardcore para uma nova seção depois de encerrada a primeira jornada é o modo Iron Man, em que Shine perde seu poder de respawn e qualquer morte de Rise significa game over.
Munição elétrica pode abrir portas

Um tiro certeiro

Para se livrar dos vilões de Nextgen, Rise tem uma série de habilidades. O garoto corre, pula, desliza, se esconde e atira. Podem parecer poucos comandos, mas a maneira como os controles estão originalmente dispostos no teclado atrapalham muito. Tive que reconfigurar os botões para conseguir me acostumar com eles. No teclado, ficam as teclas de movimentação, já para mirar e atirar usamos o mouse. Na página do Steam, consta a informação de que o game tem suporte para controle, mas tentei e não consegui utilizá-lo.

Todos os movimentos são bastante precisos e o tempo de resposta é, praticamente, imediato. Isso auxilia muito nos tiroteios mais intensos, em que qualquer bobeada pode colocar tudo a perder. Em um jogo com seções de ação tão frenéticas, é indispensável que os controles sejam perfeitos e Rise & Shine consegue entregar esse alto nível de qualidade em relação aos comandos.
Que dupla!

Obra animada

A direção de arte do game merece todos os elogios. A equipe realizou um belo trabalho de animação em 2D, mesclada com poucos elementos em 3D. O resultado é um jogo visualmente muito bonito e que impressiona pelo seu colorido. Todos os cenários são bastante detalhados e diversas vezes acabei morrendo por estar prestando atenção em outros elementos da paisagem, me “esquecendo” dos perigos que me rodeavam. As animações também são ótimas e os movimentos dos personagens acontecem de maneira natural.
Se estamos no mundo dos games, não poderiam faltar os zumbis


Porém, alguns detalhes chegam ser bizarros, e até perturbadores. Quando Rise morre, é normal ver sua cabeça rolando pelo mapa. Já em uma das fases, é possível enxergar algumas pessoas enforcadas no plano de fundo. Esse conteúdo mais pesado destoa do restante do jogo que, no geral, é mais leve e com diversas piadinhas.

Outro ponto de destaque é a trilha sonora, que junto com os gráficos, consegue passar a sensação de perigo constante. Cada fase tem sua música própria, que combina com todo o contexto e colabora para tornar a experiência ainda mais imersiva. Mesmo repetindo por várias vezes o mesmo nível, não me enjoei de nenhuma das canções.

O herói que precisamos

Deixando os problemas com enredo de lado, o game consegue ser bastante divertido. Seja combatendo os brucutus de Nextgen e suas máquinas mortíferas, ou então, procurando as inúmeras referências espalhadas por toda a jornada, o título tem capacidade de entreter por algumas horas. A sensação é de que poderia ser até um pouco maior, quem sabe até com o dobro de fases. A dificuldade elevada acaba sendo um dos grandes atrativos, já que é muito boa a sensação de vitória após superar os desafios mais complicados. No final, Rise & Shine se revela um indie que merece ser colocado na wishlist.
Quantas referências existem nesta imagem?

Prós

  • Dificuldade elevada, porém estimulante;
  • Belíssimos gráficos e músicas;
  • Enorme quantidade de easter eggs;
  • Controles precisos;
  • Jogabilidade e desafios variados.

Contras

  • Enredo muito raso;
  • Poderia ter quantidade maior de fases;
  • Fator replay praticamente inexistente. 
Rise & Shine — PC/XBO — Nota: 7.5
Versão usada para análise: PC
 Revisão: Ana Krishna Peixoto

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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