Análise: Dishonored 2 (Multi) não é mais tão vingativo

O novo jogo da Bethesda se foca em mecânicas, mas deixa a desejar em sua trama.

em 04/12/2016

Desde seu anúncio oficial, na edição do ano passado da E3, Dishonored 2 (Multi) foi um dos jogos mais esperados do ano. Da mesma maneira que seu predecessor, foi desenvolvido pela Arkane Studios, estúdio subsidiário da Bethesda.

A monarca solitária 

A história de Dishonored 2 se passa 15 anos após os eventos do primeiro jogo, o Lorde Regente foi derrotado por Corvo Attano e a temida Praga de Ratos, marcante na história de Dunwall, finalmente teve fim. Emily se tornou uma bela jovem e agora comanda o reino Gristol, tendo Corvo como seu conselheiro. A calmaria, no entanto, não dura muito. Aliada ao novo Duque de Serkonos, a misteriosa Delilah revela ser a legítima herdeira do trono, petrifica seu companheiro(a) (Corvo ou Emily, dependo de sua escolha) e se autoproclama a nova rainha, tornando o destino das ilhas incerto.

Ao contrário do primeiro jogo, não há nenhum sentimento intenso de ódio e vingança que realmente incentive seu personagem a seguir em frente ou mesmo que faça com que você realmente se importe com a narrativa. Seu companheiro(a) está vivo(a) e, desta vez, não há nenhum grupo da resistência para ajudá-lo a reaver o trono de Emily, como no primeiro jogo da série. Seus aliados se limitam a capitã da embarcação Dreadful Wale, Meagan Foster, e ao gênio inventor, Anton Sokolov.

Isso nos leva a pensar: será que Emily estava sendo realmente uma boa governante? Indagações como essa não são respondidas e uma das poucas coisas que sabemos é que após seu trono ser usurpado, alguns impostos foram aumentados.

O Estranho, entidade fonte dos poderes dos protagonistas, em certos momentos tenta questionar se Emily realmente se sensibilizou com a situação da plebe, agora que não é mais rainha e pôde observar de perto a realidade de Dunwall, mas a personagem simplesmente se cala. Seja como for, elementos que trouxessem mais respostas e reflexões acerca dessas indagações não só seriam interessantes como também poderiam enriquecer a trama, mas esses momentos são quase inexistentes.

As únicas coisas realmente claras são as figuras que você terá que encarar — matar ou descobrir como inibi-las — para pôr fim ao golpe político e reassumir o trono. O como e o porquê não são muito aprofundados e os objetivos são quase sempre impostos de imediato ao jogador ao início de cada missão, sem muita elaboração prévia.

Além disso, com exceção de Delilah, a história e personalidade de nenhum dos NPCs são realmente exploradas, logo não há nada que faça com que você realmente se importe com qualquer um deles, sejam aliados ou inimigos.

Aliás, a maior parte dos elementos relevantes na trama já haviam sido apresentados anteriormente. A vilã Delilah já havia sido introduzida na DLC, The Brigmore Witches, e a relação entre Corvo e Emily não é explorada em Dishonored 2, só é rapidamente explicada nos primeiros minutos de jogo. Em outras palavras, toda sua motivação fica isolada no primeiro jogo da série e aqueles que não usufruíram deste, acabam, em certa medida, sendo lesados.

Despertando sua criatividade assassina 

Diferente dos rumores e de outros jogos distribuídos pela Bethesda, Dishonored 2 não dispõe de mundo aberto, apesar disso, possui vastos mapas com várias missões secundárias e itens espalhados. Seu ponto forte, entretanto, continua por conta de suas mecânicas de furtividade.

Da mesma maneira que Dishonored (Multi), essas mecânicas continuam complexas e numerosas. Por sorte, o jogo possui um longo e instrutivo tutorial, que ajudará a introduzir as principais delas, deixando, ao mesmo tempo, muito espaço para a criatividade do jogador, que pode realizar as mesmas ações ou objetivos de inúmeras maneiras distintas.

Em sua jornada, você se deparará com diversos inimigos que vão desde soldados até autômatos e criaturas sobrenaturais. Para superá-los você terá a opção de matá-los (seja através de um confronto direto ou furtivamente), atordoá-los ou mesmo passar sem sequer ser notado. Isto quer dizer que o jogo pode adaptar-se ao estilo preferido do jogador, podendo variar entre um hack n’slash e um “ninja silencioso”. No entanto, é preciso escolher com sabedoria, pois suas ações podem não só atrair inimigos como também definem a conclusão do jogo.

Mas se mesmo após o tutorial você ainda não conseguir compreender o funcionamento do jogo, fique despreocupado, pois as primeiras fases foram feitas exatamente para introduzir o universo e as mecânicas aos novos jogadores, além, é claro, de ajudar a “reabilitar” os veteranos. Afinal de contas, Dishonored estreou há quatro anos e nem todos possuem memória eidética, sendo assim é preciso rememorar uma coisa ou outra.

Isso pode facilitar o primeiro contato com título, mas, ao mesmo tempo, gera a impressão de que não há grandes novidades, ainda mais quando se opta por jogar com Corvo, que possui as mesmas habilidades que no jogo anterior, com variações mínimas.

A partir do quarto estágio, todavia, são apresentados novos desafios que irão instigar até os mais experientes dos jogadores, como labirintos dinâmicos, construções cuja posição das paredes muda constantemente, e os uivantes, seres que precisam ser mortos duas vezes antes de desvanecerem.

Além disso, Emily possui um novo conjunto de habilidades que a distingue profundamente de Corvo, alterando o modo como você interage com os inimigos e o cenário, proporcionando uma nova experiência aos fãs da série. Com destaque para o Alcance Longínquo, uma mão fantasmagórica que literalmente pode arrastar tanto você quanto o inimigo para qualquer ponto a média distância que você desejar; e Aspecto Sombrio, que te transforma temporariamente em uma sombra, aumentando sua furtividade e facilitando o abate dos inimigos.

Ressaltando que Alcance Longínquo, teoricamente, tem a mesma finalidade que o poder Teleporte de Corvo, que imediatamente transporta o personagem a um ponto próximo. A habilidade da protagonista, porém, alcança maiores distâncias. Uma das variações de Teleporte (Teleporte Redirecionável), porém, possui outra vantagem, parando temporariamente o tempo e consequentemente permitindo ao jogador usa-lo maior precisão.

Em geral, os poderes de Corvo são agressivos, se focando na aniquilação dos inimigos, como Rajada de Vento, que lança uma espécie de mini tornado, sendo capaz de derrubar ou mesmo tirar a vida de seus adversários, além de destruir portas. Enquanto as habilidades de Emily são mais sutis, se concentrando simplesmente em sobrepuja-los, como é o caso de  Encanto, que faz com que os inimigos se tornem momentaneamente amigáveis, ignorem totalmente o personagem e, posteriormente, percam a memória.

O custo da vingança 

O estilo visual do jogo, que se assemelha muito a pinturas a óleo, foi mantido, e os gráficos foram aprimorados. O resultado disso são cenários ao estilo europeu e personagens belíssimos. O problema é que essas inovações tiveram um custo no desempenho do jogo que, apesar das várias atualizações, continua a sofrer algumas quedas nas taxas de frame, mas nada tão grosseiro a ponto de atrapalhar a sua jogatina. Na maior parte to tempo, o jogo consegue se manter acima de 30 fps.

Longe de ser uma desonra 

Dishonored 2 é um excelente jogo, tanto em relação ao visual quanto às mecânicas. A narrativa, no entanto, apesar de ter potencial, é pouco explorada, deixando a desejar. Além disso, o jogo ainda possui alguns problemas de desempenho, mas nada que influencie negativamente em sua diversão. Sendo assim, recomendo-o a todos que apreciam jogos de furtividade e belos cenários do velho continente.

Prós

  • Excelente mecânicas de furtividade;
  • Desafios inovadores;
  • Novo e original conjunto de habilidades; 

Contras

  • Falta de motivação;
  • Narrativa pouco explorada.
Dishonored 2 — PC/PS4/Xbox One— Nota: 8.5
Versão utilizada para a análise: PC
Revisão: Pedro Vicente

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