O SAGA 2.0 levou os geeks para o Arena das Dunas

Um dos mais belos estádios de futebol da Copa do Mundo de 2014 deu lugar aos jogos de videogame e atrações de cultura pop.

em 22/10/2016
No fim de semana passado (15 e 16), ocorreu um dos maiores eventos de cultura pop do Nordeste, o SAGA Entretenimento, em sua versão SAGA 2.0. Foram várias atrações, locais, nacionais e até internacionais durante os dois dias de evento, que ocorreu nas dependências do estádio Arena das Dunas, um dos palcos da Copa do Mundo de Futebol do Brasil — aquela mesma do 7x1. YouTubers, cosplayers, cantores de música de animes e muitos jogos, dos mais variados tipos, estavam por lá, e nós fomos conferir.


O Arena das Dunas, estádio que recebeu recentemente a partida entre Brasil e Bolívia pelas eliminatórias, numa atuação de gala de Neymar e companhia, dessa vez, abriu suas portas para os geeks e para qualquer interessado em participar de um programa diferenciado e familiar. Parte das dependências do estádio — toda com ar condicionado —, por onde passa a área VIP e dos camarotes, estava aberta para o público, que pôde assistir às apresentações que aconteceram no palco principal, da localização mais cobiçada em dias de jogos.

Os YouTubers, que agora são os mais pedidos pelo público, devido ao seu enorme carisma e legião de fãs, apareceram aos montes. Dentre eles, provavelmente o mais conhecido era o Zangado, que conta atualmente com mais de 3 milhões de assinantes em seu canal. Já com a sua nova máscara — ele não mostra o seu rosto, que ainda é um grande mistério para os seus seguidores —, além da tradicional conversa, ele esteve no SAGA autografando o seu livro, que conta sobre a sua vida como gamer.

As atrações tradicionais eram fáceis de encontrar no evento, com destaque para os grupos de K-Pop, cada vez mais profissionais, que mereceram muitos aplausos do público, além de gritos de fãs mais animados; e para os cosplayers, que estavam em um nível muito alto, com roupas muito bem elaboradas. Havia os seis personagens principais da saga Assassin's Creed, o Big Daddy e a Little Sister de Bioshock, personagens de League of Legends, a Princesa Zelda e muitos outros.

A grande atração do fim de semana ficou por conta dos cantores Takayoshi Tanimoto e Ricardo Cruz. Tanimoto empresta a sua voz aos animes Dragon Ball Kai (Dragon Soul e Yeah! Break! Care! Break!) e Digimon Tamers (One vision) entre outros, e Ricardo Cruz é o cantor brasileiro da música de abertura da Fase Inferno de Hades. Além de suas músicas oficiais, eles cantaram outras de animes conhecidos e que sempre são pedidas pelo público, como Pegasus Fantasy e até mesmo We Are, de One Piece. Foi um show cheio de energia que por si só já valeria o ingresso.
Foto: Denyse Campos

Jogos para todos os gostos

As áreas mais interessantes do evento, entretanto, foram as destinadas aos jogos. Muitos torneios e jogatina grátis estavam disponíveis para o público, que teve uma enorme quantidade de opções para escolher. Até Maratona de Speedruns, pela primeira vez, fez parte do evento, com os jogos Dragon Ball Xenoverse e Dungeons & Dragons: Shadow over Mystara.

Como já é costume no SAGA, os consoles da atual geração estavam todos representados no evento com seus respectivos torneios. O PlayStation 4 contou com os clássicos Pro Evolution Soccer 2017, FIFA 17, Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 4, Street Fighter V e Rocket League. Eu senti falta apenas The King of Fighters XIV, lançado em agosto deste ano. Já para Wii U, houve torneios de Mario Kart 8, Super Smash Bros. for Wii U e Pokkén Tournament. O Xbox One ficou com Just Dance 2016, em uma área reservada exclusivamente para o jogo, até porque o pessoal precisa de bastante espaço para poder dançar à vontade. Na área de eSports, dois MOBAs que fazem muito sucesso em campeonatos pelo mundo todo foram os escolhidos: League of Legends e Overwatch. Os Card Games, físicos e digitais (Hearthstone), também receberam atenção especial da organização, contando com espaço próprio para acomodar melhor os participantes.
Os aguardados óculos de realidade virtual fizeram parte do evento e mostraram que não são uma tecnologia a ser subestimada. Um dos aparelhos era o Oculus Rift, com o qual eu testei dois jogos: Lucky’s Tale e um simulador de carro. O primeiro vem com o próprio óculos e traz uma raposinha simpática, porém genérica, em um jogo de plataforma estilo Crash Bandicoot. O game em si não era dos melhores, mas o simples fato de estar jogando usando a realidade virtual o tornou interessante. Isso porque é uma visão completamente nova de um jogo de plataforma, permitindo ângulos que antes não eram possíveis, o que deixa o jogador "dentro do jogo". Se a raposa precisava descer, era para baixo que devíamos olhar para acompanhá-la, o mesmo ocorrendo para onde ela fosse, deixando o simples ato de saltar de um ponto para o outro uma tarefa nova e divertida.

O simulador de carro, por sua vez, trouxe uma experiência mais imersiva, já que era em primeira pessoa e nos colocava no cockpit de um carro. Não era a tarefa mais fácil mantê-lo na pista, mas poder olhar para qualquer direção desejada, além de facilitar para ver as curvas, criava uma experiência mais real. Certamente a utilização de volante e uma cadeira mais apropriada permitirá criar um ambiente mais próximo da realidade.

Diferentemente da experiência caseira, havia uma opção de óculos com adição de uma cadeira com movimento, aumentando consideravelmente a imersão do jogador. O jogo que eu experimentei, dentre os possíveis, foi um simulador de montanha russa. Era tão real que muitas pessoas soltaram todo o ar dos pulmões aos gritos, ainda mais porque os trilhos iam para um penhasco, criando a ideia de um eminente desastre.

Havia outros jogos que utilizavam realidade virtual no evento, mostrando que a tecnologia é sim muito interessante. O grande empecilho, certamente, ao menos para o nosso país, é o preço, já que o Oculus Rift, além de muito caro – 600 dólares lá fora, sem os controles — exige um computador de ponta para rodá-lo, o que não custa pouco. A opção mais barata é o PlayStation VR (400 dólares), mas exige um PS4, e, no Brasil, vai demorar para se tornar acessível à maioria dos jogadores.

Indie's Alley

O Saga reservou um espaço especialmente para que os desenvolvedores e estúdios independentes pudessem exibir seus jogos. Cada estande contou com uma pequena área de 6m² (3m x 2m), nos quais os games estavam disponíveis para que o público pudesse testá-los. A maioria estava em um estágio pré-alpha, mas já foi possível ter uma boa ideia dos rumos que eles vão tomar. Outra vantagem dessa área foi justamente a possibilidade de conversar com os desenvolvedores e saber um pouco mais sobre como anda essa carreira no estado e até mesmo no país.

O Studio Kraken estava com um Visual Novel estilo policial noir chamado One for Sorrow. A jogatina durava aproximadamente 10 minutos, mas já foi tempo suficiente para despertar a curiosidade para continuar o intrigante enredo e criar uma boa expectativa para quando o jogo estiver pronto. Na trama, inspirada nos contos de Edgar Allan Poe, o jogador assume o papel de Carlos Augusto, um detetive de polícia que volta à ativa para investigar um estranho caso de assassinato. O interessante é que pelos desenvolvedores serem de Natal, diversos locais da cidade servirão de cenário para o game. Não que Japão, Estados Unidos e Europa, ou mesmo locais fictícios não sejam interessantes, mas títulos que valorizam a sua própria localidade são raros e devem ser incentivados.

Para financiamento do jogo, o Diretor do Projeto, Victor Olavo Rocca, revelou que eles pretendem utilizar o site de financiamento coletivo Kickstarter porque, como o gênero Visual Novel ainda não conta com muitos adeptos no Brasil, acaba sendo mais viável encontrar interessados em bancar o projeto lá fora — também por esse motivo o jogo contará com o idioma inglês, além do português. Talvez um enredo ambientado em uma cidade brasileira, como é o caso de One for Sorrow, desperte o interesse de mais jogadores pelo gênero.

O pessoal do Rapadura Studio (nome muito bacana para um estúdio localizado no NE) levou um joguinho de plataforma chamado Pixel Arena que remete aos clássicos da geração 16-bits, como Wonder Boy in Monster World (MD) — mais conhecido por aqui pelo seu port Turma da Mônica na Terra dos Monstros. O jogo ainda estava em uma fase bem inicial, como é próprio de versões pré-alphas, e ainda tem um longo caminho a percorrer, mas o seu estilo sempre atrai muito adeptos e, pela organização dos desenvolvedores, acredito que teremos uma ótima opção de jogatina quando ele estiver pronto. Fiquem de olho.

O ABXY ENTERTAINMENT também estava no Saga e levou o Enigma of the Sphinx, um jogo de plataforma bem viciante que lembra o conceito de Pac-man — ao menos no pouco que foi apresentado. No lugar de fantasmas, há múmias, e, no fazendo o papel do Pac-man, está o seu personagem, que deve coletar todas as jóias sem ser pego. É simples, mas está bem feito e cada morte incentiva a uma nova tentativa, sem frustrações.

Odisseia de Luna foi o jogo escolhido pelo Magari Game Studio para nos apresentar no SAGA. Trata-se de um título de plataforma e runner, no qual você deve fugir do Reino das Sombras, perseguido por uma entidade maligna chamada de O Ceifador. Além de saltos normais e pulo duplo, o game também utiliza inversão da gravidade em sua mecânica, que prima pela simplicidade, sendo necessário apenas um toque na barra de espaço para a personagem se movimentar. A ideia dos desenvolvedores é lançar o título para smartphones e que ele possa ser jogado com apenas um toque na tela para comandar, fugindo dos infames controles virtuais. O jogo já parece bem acabado, precisando de menos ajustes que outros títulos e esperamos vê-los na App Store e Play Store em breve.

O SAGA 2.0 foi um sucesso e isso se deve principalmente à competência e empenho dos organizadores, mas também ao incentivo da Lei Câmera Cascudo — semelhante à Lei Rouanet, em que o patrocinador poderá abater até 2% do ICMS. O SAGA foi um ótimo exemplo de como essas leis podem ser bem utilizadas, sem desvio por motivos diversos e ajudando aos eventos que de fato precisam de colaboração. Para se ter uma ideia, o primeiro lote teve a sua casadinha (os dois dias de evento) ao preço de 20 reais. Esperamos que mais projetos tão bons quanto o que tivemos nesses dias de evento possam receber o mesmo incentivo cultural.

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