Somado a esse subgênero, a equipe da Spellbind Studios introduziu os artifícios dos Roguelikes para melhorar a experiência da jogatina. Esse subgênero se caracteriza pela geração aleatória de masmorras e batalhas baseadas em turnos. Deste casamento, surgiu Rogue Wizards, um jogo de exploração de masmorras com batalhas baseadas em turno bem competente, mesmo que suas tentativas de inovação para o gênero dos RPGs não seja exatamente o ponto alto do game.
História interessante de igualdade
O jogo possui dois modos básicos de se jogar. O primeiro deles é o clássico modo história, que dá ao jogador uma possibilidade de exploração dos artifícios do jogo de modo mais seguro. O pano de fundo da história é interessante e cativa nas primeiras horas. Você é um humano (ou humana) capaz de utilizar magias e, por isso, é levado a outro mundo por um mago chamado Maugris, que precisa da sua ajuda para resolver os problemas daquele lugar.Ali você descobre que o mundo no qual você está é regido por seis elementos mágicos complementares: Fogo, Gelo, Terra, Ar, Natureza e Cósmico. Entretanto, um poderoso usuário de magia chamado Hosperak transformou toda a sua ganância em poder e dominou os mais poderosos magos de cada caminho da magia, utilizando seus poderes para que todos os elementos sirvam somente a ele, ameaçando destruir todo o equilíbrio daquele mundo e de todos os outros.
Cabe a você e a todos os outros usuários de magia recrutados por Maugris desfazer todo o mal que Hosperak e seus magos causaram àquele mundo, encontrando e enfrentando cada um deles a fim de recuperar o equilíbrio entre os elementos. Com um clima de fantasia épica bem no padrão de outros jogos do gênero, o que chama mais atenção na história do jogo são os diálogos do protagonista com outros personagens, quando questões relacionadas a classe e gênero são colocadas em xeque, algo bem interessante, pena que tratado aqui de forma bem superficial.
Gauntlet mode: o clássico desafio do gênero
Enquanto o modo história lhe dá todas as oportunidades de experimentar tudo que o jogo pode lhe oferecer, infelizmente, ele tem um problema terrível: seu final aprisiona seu personagem em um loop infinito, impedindo de reutilizá-lo após o término da história. Um dos gostinhos mais legais de jogos de RPG é o “pós final” onde os jogadores mais assíduos buscam alcançar os níveis mais altos que o jogo lhe dispõe, encontrando itens lendários e destruindo monstros cada vez mais impossíveis de se derrotar.Infelizmente Rogue Wizards não fornece isso; pelo menos não no modo história, o que causa certa frustração em quem chega à conclusão da história imaginando o que poderá fazer depois. Felizmente, o jogo conta com outro modo chamado Gauntlet que é a pedida certa para jogadores que buscam a exploração máxima de seu personagem. Com a premissa de terminar quando o personagem morrer, esse modo é totalmente focado na exploração de calabouços gerados aleatoriamente.
Com o nível de dificuldade levemente maior que o modo história, o modo Gauntlet atrai pela possibilidade de evolução longínqua. Mas a falta de um objetivo máximo claramente delimitado (como a derrota de Hosperak no modo história) leva a jogatina um ar repetitivo em alguns pontos, e isso se deve a dois problemas que vamos falar mais especificamente mais adiante.
“Esse monstro de novo?”
Um dos principais problemas que encontramos no título é a falta de variedade de criaturas. É verdade que podemos encontrar cerca de três a quatro tipos de criaturas diferentes por elemento. Porém, é importante ressaltar que dentre essas quatro variações, duas são muito parecidas, mudando uma habilidade e algum detalhe da criatura. Somado a isso, os minibosses das fases (criaturas um pouco mais fortes que a maioria, mas não tão fortes quanto os magos) são apenas versões maiores das criaturas que já havíamos visto inúmeras vezes ao longo das dungeons, sem nada de novo em aparência, comportamento ou habilidades especiais.
Essa falsa variação de criaturas deixa o jogo um pouco repetitivo em alguns momentos. Mesmo trazendo combinações de monstros de diferentes elementos em alguns momentos da jogatina, nada muda ao enfrentá-los. Isso demonstra também certa ausência de complexidade no desenvolvimento da inteligência artificial deles, que não mudam em nada seus comportamentos individuais em relação às demais criaturas próximas. Combinações de habilidades distintas aumentando o nível de desafio do jogo é algo inexistente.
Podiam usar a criatividade dos nomes nos designs também |
O mesmo ocorre com a jogabilidade ao enfrentar os temidos magos elementais no modo história do jogo. Cada um possui suas magias elementais e suas habilidades de teletransporte e invocação próprias, mas o comportamento e modo de usar esses artifícios acaba sendo o mesmo em todos os casos. Uma das únicas variações entre os magos talvez seja o nível de poder deles (pontos de vida e dano) em relação aos seus próprios níveis como jogador. Fora isso, nada de muito surpreendente é encontrado após umas 4 horas de jogatina.
Visual leve e carismático
Mesmo com os problemas citados até aqui, Rogue Wizards agrada em alguns outros pontos. Um deles é, sem dúvidas, seu visual. Com traços carismáticos que lembram jogos trabalhados em flash ou alguns de browser, o título da Spellbind funciona perfeitamente em quase todo tipo de computador encontrado no mercado atualmente. Porém, seus visuais e animações são bonitos e agradáveis mesmo com poderio gráfico mais leve, o que é algo muito positivo.
Esse visual complementa o layout inteiro do jogo, o qual foi muito bem organizado e possui funcionamento rápido. Por conta da leveza do game, loadings e menus são facilmente acessados, assim como as ações de entrar e sair do jogo. Em um título com várias opções de menus, inventários e árvores de habilidade, a leveza dos comandos entre essas abas é ótima para que os controles fluam de modo mais atrativo.
Essa mecânica leve e rápida do jogo acaba somando algo a mais à jogabilidade de exploração das dungeons. O sistema aleatório cumpre sua função de forma satisfatória e os detalhes e movimentos das cavernas, calabouços e templos são bastante atrativos. A mecânica de visibilidade ao estilo de Bastion (Multi) pode confundir um pouco no início, mas o jogador facilmente se acostuma com ela e o excesso de movimentação na tela acaba sendo superado.
O ponto alto é a diversidade de evolução
Mas de tudo que Rogue Wizards tem a oferecer, seu sistema de evolução de classes é o que mais agrada durante as horas de jogatina. O seu personagem não é apenas um ávido conhecedor dos caminhos da magia, mas também um exímio usuário de praticamente todos os tipos de armas, das comuns espadas e arcos até exóticas armas de roda, shurikens e lanças. Toda essa variedade e a possibilidade de se tornar cada vez mais forte em cada uma delas com a frequência de seu uso tornam a evolução pessoal muito personalizada.
Toda essa variedade é resumida durante os combates na necessidade de se usar armas de curto e longo alcance combinadas com magias em área ou de efeito. Isso obriga o jogador a ser versátil e buscar cada vez mais o equilíbrio em seus atributos, algo raramente pensado em jogos de RPG voltados para um único jogador e com controle de um único personagem.
Além desse uso criativo de diversos atributos diferentes, o jogo também conta, em seu modo história, com uma mecânica de desenvolvimento de cidade interessante. Ao longo do tempo, com cada personagem que você encontra pelo caminho, uma nova área da sua cidade é liberada e novas funções lhe são permitidas (como manufatura de runas, compra e venda de armas, armaduras e poções, contratação de pets e encantamento de armas e equipamentos). Entretanto, toda essa criatividade mecânica se torna obsoleta a partir de um determinado ponto do jogo, quando suas armas passam a evoluir muito mais através do seu uso, inutilizando as vendas. Além disso, não há diferença de preços na hora de vender seus espólios em cada uma das lojas, deixando desnecessária a existência de tantas delas.
Um jogo com altos e baixos, porém, divertido
É verdade que Rogue Wizards não é uma referência de RPG criativo e desafiador. Mesmo assim, o título agrada e consegue trazer diversão aos jogadores, tendo ou não falhas facilmente detectáveis por alguns, mas nem tanto por alguns outros. A verdade é que o lançamento da Spellbind Studios é um RPG casual divertido que, jogado de forma despretenciosa pode agradar bastante alguns. Entretanto, aos jogadores de RPG mais ávidos pela evolução rápida e hardcore, o título não tem muito a acrescentar.
A percepção final que podemos dar sobre o jogo é que ele é um título mediano em alguns pontos e até bom em outros. Não chega a ser péssimo em nenhum, na verdade, mas fica aquele gostinho lá no fundo de algo que poderia ser mais potencializado, mas acabou sendo pensado de forma simples demais. Acaba que por conta desse balanceamento quase frustrante entre qualidades e defeitos, a experiência de cada jogador pode ser muito diferenciada com o título, amando-o, odiando-o ou sendo “só mais um RPG”.
Prós
- Belos traços e animações;
- Bom sistema de exploração de dungeon;
- Layout simples e menus rápidos;
- Variadas possibilidades de evolução do personagem;
- Modo Gauntlet divertido e mais desafiador;
- História com artifícios interessantes.
Contras
- Pouca variedade de monstros por elemento;
- Repetitividade do nível de desafio em alguns momentos;
- Inteligência artificial pouco inteligente;
- Combates se tornam repetitivos demais com o tempo;
- Mecânica de construção de cidade pouco aproveitada.
Rogue Wizards — PC — Nota: 6.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto