O antigo ditado popular já dizia que paciência é uma virtude. Quem domina a arte de ter calma e permanecer sereno nas situações mais complicadas consegue alcançar resultados melhores, pelo menos, em Road to Ballhalla. Desenvolvido pelo estúdio Torched Hill e distribuído pela tinyBuild, o jogo está disponível para PC, via Steam. A premissa da aventura é trivial: assumimos o controle de uma bola e devemos guiá-la por labirintos cheios de armadilhas. Entretanto, a simplicidade termina por aí. O nível de dificuldade beira o absurdo e não serão raras as vezes em que o jogador empacará em alguma fase e terá vontade de arremessar o teclado contra a parede. Prepare um suco de maracujá para manter os nervos no lugar e vamos juntos percorrer o árduo caminho em direção à Ballhalla.
O salão dos mortos
O nome do game não poderia ter sido melhor elaborado pelos desenvolvedores. A palavra Ballhalla é uma junção de Ball, em referência à esfera protagonista, e Valhala – que na mitologia nórdica é um salão com 504 portas para onde são levados alguns dos guerreiros que caíram em batalha. Como o jogador vai morrer (e muito), nada melhor do que o lendário local ser lembrado no título. A criatividade dos produtores vai além, para nossa infelicidade. Durante toda a jornada, pequenos textos aparecem na tela e, na maioria das vezes, as frases estão lá para zoar quem está jogando. Em diversas situações, eu já estava nervoso com os obstáculos intransponíveis e ficava ainda mais irritado com essas piadinhas.Para piorar a situação, existem dicas que estão lá mais para te atrapalhar do que para ajudar. Por exemplo, toda vez que a esfera acaba destruída é preciso apertar a tecla Enter para voltar ao último checkpoint. Em certa fase, aparece um texto falando para o jogador morrer de propósito, pois assim, será informada a maneira de evitar ficar todo momento pressionando o Enter. Na maior inocência, acreditei e me joguei do penhasco. A resposta que veio: “Basta você não morrer mais”. Haja paciência...
Juro que essa imagem não está de ponta cabeça |
Girando sem parar
Os controles de Road to Ballhalla são extremamente simples, usamos somente as setas para movimentar a esfera e existe, ainda, uma tecla para aumentar a aceleração. Talvez, esse conceito de levar uma bola através do labirinto fosse melhor aproveitado em dispositivos móveis, com o sensor de movimento e as inclinações do aparelho indicando o caminho a ser seguido. Os desafios são bastante intuitivos, tirando as paredes, todo o restante do cenário quer acabar com você. Em algumas fases, nem paredes existem e ultrapassar as bordas dos corredores resulta em uma dolorosa queda.Os meus maiores pesadelos foram as fases em que o caminho é invisível. Em uma primeira olhada, os enormes buracos parecem obstáculos impossíveis de serem vencidos. Porém, ao se aproximar lentamente do penhasco, é possível perceber que a rota para o outro lado está lá, só que não pode ser vista. A solução é ir se movimentando lentamente e memorizando todas as curvas. Confesso que foram mais de 100 mortes para cruzar um pequeno trecho com esse desafio.
Além desses quebra-cabeças que exigem boa memória, a grande maioria dos demais perigos pode ser evitada com a análise do timing das armadilhas. Com o passar do tempo, fui percebendo que Road to Ballhalla não se resume a habilidade e velocidade nos dedos. O jogo apresenta outros elementos que realmente te auxiliam na progressão: se prestarmos bem a atenção na trilha sonora de algumas fases, fica mais fácil de pegar o tempo em que os inimigos aparecem. Já em outros níveis, a análise visual é o mais importante para se atingir o sucesso. Essa exploração de diferentes sentidos é um dos pontos fortes do game.
Encara essa? |
Respire fundo
Sem sombra de dúvidas, a paciência é a sensação mais exercitada na jornada rumo à Ballhalla. Em alguns momentos, quando travava em certos obstáculos, a raiva era tamanha que eu tentava simplesmente acelerar para chegar o mais rápido possível ao final da fase, porém com essa atitude conseguia apenas colecionar mais e mais mortes. A solução nesses casos era sempre a mesma: respirar fundo, segurar a ansiedade e ir com calma para superar as armadilhas. A recompensa poderia não vir na primeira tentativa, mas era muito mais fácil progredir com os nervos controlados.Apesar de ser desafiante, a duração do título não é tão longa. Mesmo com as incontáveis mortes, é possível finalizar a campanha principal em cerca de quatro horas. Cada labirinto costuma apresentar novas armadilhas e as mistura com os obstáculos mostrados anteriormente. Com isso, a aventura não se torna repetitiva ou cansativa. O fator negativo é que não existem outros modos de jogo além do principal. O menu indica que há planos para algo parecido com Super Mario Maker (Wii U), em que os próprios jogadores criam diferentes fases e as compartilham com a comunidade. Entretanto, não há nenhum indicativo de quando essa opção estará funcionando.
Para os masoquistas, todas as fases apresentam desafios extras que estimulam o fator replay. Basicamente, é necessário revisitar os níveis para coletar 100% de pequenas bolas de energia que liberam caminhos secretos e também terminá-los no menor tempo possível. Existe um ranking online com as marcas atingidas pelos demais jogadores e você pode comparar o seu desempenho com o restante da comunidade.
Não existe caminho de volta |
Continue a rolar
Se for encarado como um passatempo casual, o título consegue divertir com seu humor sádico e piadinhas que tiram o jogador do sério. Quem gosta de desafios e não se irrita com facilidade, pode gastar umas boas horas nos labirintos. Por outro lado, se você é daqueles que se estressa com qualquer coisa, minha sugestão é que passe bem longe de Road to Ballhalla.Prós
- Fases não são repetitivas e costumam apresentar novas armadilhas;
- Desafios multissensoriais, que exigem o uso da visão, audição e agilidade;
- Controles simples.
Contras
- Elevado nível de dificuldade pode espantar alguns jogadores;
- Jornada é curta e há um único modo de jogo;
- As trollagens dos produtores chegam a incomodar em alguns momentos.
Road to Ballhalla — PC — Nota: 5.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto