Atualmente, mesmo com títulos memoráveis como Rayman Legends (Multi) e a reformulação das franquias do encanador bigodudo e do gorila de gravata pela Nintendo, tanto o gênero plataforma quanto o bullet hell estão muito mais populares através das desenvolvedoras independentes. Jogos como FEZ (Multi), Braid (Multi) e Super Meat Boy (Multi) são a prova disso. Nessa onda de jogos independentes carismáticos e criativos, Rive (PC/PS4) supera as expectativas e traz para nós a mistura perfeita dos dois gêneros clássicos, com uma obra que beira a perfeição.
Um bullet hell que dá gosto de jogar
Esse adrenérgico gênero de videogames também conhecido por como shoot 'em up é marcado por uma jogabilidade rápida, comandos apressados e muita ação em sequências incríveis. No estilo plataforma, o shoot ‘em up ficou bastante famoso com a franquia Metal Slug mas atualmente não é sempre que vemos uma criação adequada para o gênero. Felizmente, Rive possui todos os requisitos para considerá-lo um bullet hell de primeira.Para início de conversa, seus controles são fluidos e instintivos ao ponto do jogador conseguir literalmente superar alguns desafios no susto (ou caso tenha respostas absurdamente rápidas a determinados estímulos). Essa facilidade dos controles, muito bem adaptada ao Dualshock 4 garante que a jogatina não se torne exaustiva e nem frustrante por conta dos controles não acompanharem o ritmo do jogo. Muito pelo contrário: tudo funciona como uma grande, explosiva e barulhenta ópera de destruição, com sua nave aracnídeo pulando, correndo e voando em 360° de pura ação.
E para completar a graça do gênero, o nível de dificuldade do jogo encontra o limiar perfeito entre alto grau de desafio e frustração desenfreada. Dificilmente um jogador mais controlado vai perder a paciência jogando Rive, isso porque mesmo que o jogo tenha um nível de dificuldade elevado, o design das fases somado aos controles muito bem desenvolvidos faz tudo funcionar da maneira correta. Desse modo, o jogador não se frustra com algo que simplesmente “não tinha como ele desviar”, pois era possível desviar, sim, mas simplesmente não tínhamos coordenação motora e respostas rápidas o suficiente para lidar com o desconhecido naquele momento. Isso torna o jogo instigante, por conta dessa constante contemplação de desafios cada vez mais elaborados.
Mas também um jogo de plataforma de primeira
Mesmo com todos esses artifícios muito bem estruturados para garantir que Rive seja um excelente jogo do estilo bullet hell, nada do gênero plataforma foi deixado de lado, garantindo que os artifícios desse gênero também estejam muito bem colocados no título da Two Tribes. Com uma história simples, mas muito cativante, Rive se passa quase que todo dentro de uma misteriosa nave recheada de robôs, máquinas mortíferas e inteligências artificiais engraçadas. Os desafios encontrados através da exploração em plataforma são ótimos e, misturados com a adrenalina do bullet hell, deixa tudo em um ritmo incrivelmente frenético.No jogo, você é um explorador espacial carrancudo que acorda após um breve período em suspensão de consciência. Nesse momento você descobre que está à deriva no espaço sideral com a sua pequena e mortífera nave aracnídea, com a qual você assalta, coleta e saqueia diversos lugares através do infinito. No meio de uma corrente de asteroides, o protagonista se vê obrigado a entrar na nave onde todo o game acontece. Com a ajuda da inteligência artificial que supostamente controla todo o lugar, o explorador tenta simplesmente coletar mantimentos e sair dali, mas tudo se torna cada vez mais complexo pois tudo na nave quer matá-lo.
Esse enredo serve como pano de fundo para momentos de jogatina que vão te fazer suar. Mesmo ambientado em uma nave espacial perdida no espaço, os ambientes conseguem ter uma variação interessante, mostrando o centro de controle da nave, área de fundição de metais, encanamentos, parte elétrica e até os incríveis trens-bala, um dos momentos mais divertidos do jogo. Impossível não lembrar de títulos como Super Metroid (SNES) e Megaman X (SNES) enquanto vence cada uma das missões.
Além de tudo isso, a mecânica de hackear alguns tipos de robôs permite que a jogabilidade ao estilo plataforma não se torne repetitiva e nem cansativa, pois o cenário, os robôs, o protagonista e as habilidades do jogador entram em constante relação, fazendo tudo correr com muita coordenação e atividade. Essa combinação de precisão e fluidez faz com que a jogabilidade seja divertida e instigante para quase todo tipo de público.
Um show de luzes e explosões
Somado a isso, a trilha sonora do jogo é ótima. Músicas animadas com um toque eletrônico que ajuda a ambientação futurista contribuem para instigar ainda mais o jogador a se animar jogando. As mais de 6 horas de campanha passam quase despercebidas graças a essa combinação perfeita de sons, visuais, enredo e jogabilidade. Mesmo os ambientes mais escuros ou aqueles com maior número de elementos simultâneos não perdem nada em qualidade ou detalhismo. Realmente um trabalho exemplar por parte do pessoal da Two Tribes.
Para completar a experiência agradável que visual e sons propiciam ao jogo, as curvas de aprendizado de comandos e de desafios é muito bem adaptada ao longo da jogatina. Os layouts bem organizados e com textos em português também ajudam bastante. Por fim, um elemento muito atrativo em jogos que a morte é algo comum e não tão frustrante: o reloading extremamente rápido. Isso possibilita que o jogador não perca o ritmo do jogo por conta de morrer várias vezes seguidas, assim como também poupa-o da frustração.
Checkpoints são estrategicamente bem distribuídos ao longo das fases, o que também ajuda ao combate à frustração enquanto se joga Rive. O modo história do jogo, batizado ironicamente de “Modo Difícil” é bem desafiador, mas pensado até para aqueles jogadores que não curtem muito jogos com extrema dificuldade. Isso porque após morrer uma quantidade considerável de vezes, o jogo te dá a opção de pular para um chamado “Modo Fácil” onde as armas do protagonista são mais fortes e os inimigos não tão rápidos, o problema é vencer o orgulho e aceitar jogar nesse modo que lhe dá apenas 50% da pontuação que você conseguiria jogando no modo tradicional do game.
Além disso, após encerrar o modo história do jogo, outros dois modos são liberados. O modo “Corrida Muito Rápida” é o clássico speed run, com a possibilidade de passar por todas as missões do jogo novamente, porém com o dobro da velocidade normal. Já o modo “Ficha Única” não dá ao jogador a possibilidade de repetir a jogatina, dessa forma, ele tem apenas uma vida para passar por todas as 12 fases do game. Esses níveis altamente difíceis garantem inclusive que o fator replay do jogo seja considerável.
Carisma e easter-eggs na medida
Outro elemento muito positivo no jogo é, sem dúvidas, o seu protagonista. O clássico machão dos anos 80 traz comentários ásperos, cínicos e muito engraçados para a jogatina. Vários dos seus momentos mais hilários são durantes suas conversas com a inteligência artificial da nave, que ora te ajuda bastante, ora de atrapalha de formas que você vai amar poder atirar nela. Essas conversas, muitas vezes são recheadas de easter-eggs e menções honrosas a frases e franquias icônicas das décadas de 1980 e 1990, enriquecendo ainda mais a jogatina.Como se não bastasse os diálogos bem adaptados ao contexto do jogo, algumas fases possuem homenagens a jogos clássicos dos arcade, óbvia inspiração principal para o desenvolvimento de Rive. Em um dos momentos mais marcantes, para lá da metade da campanha, uma fase é uma clara homenagem ao jogo Tetris. Em outro momento, o protagonista reconhece sua própria semelhança com momentos de Galaga e Space Invaders. Já em mais algumas cenas, citações adaptadas como “It’s a trap” de Star Wars e “Hello darkness, my old friend” da clássica música The Sound of Silence são pérolas cômicas muito bem encaixadas na jogatina.
Para além das conversas do protagonista e do design das fases, outro artifício muito criativo pensado no jogo são as mensagens de “game over” que ele traz. Em momento algum as palavras padrão de fim de jogo como “game over” e “you are die” são pronunciadas. No lugar disso, frases como “Can’ts Touch this”, “Fatality” e “Seriously?” aparecem no lugar. Além de serem ótimos easter-eggs, tornam o momento frustrante da morte algo muito mais cômico e divertido. Tudo isso é encaixado da forma correta no jogo, sem que este se apoie exageradamente nesses artifícios. Sem qualquer uma dessas menções ou easter-eggs, o jogo continuaria funcionando e sendo um excelente título. Aqui, o easter-egg volta à sua utilidade original: um extra que aumenta a qualidade do game, mas que não serve de muleta para o mesmo.
A perfeição em uma dança de explosões
Rive é um excelente título que garante horas de diversão e desafio para quase todo tipo de público. Com os artifícios criativos e inovadores do título, a Two Tribes conseguiu inovar a mescla de dois gêneros clássicos de games, fazer belas homenagens aos “anos dourados” dos arcade e ainda trazer um tudo isso em uma experiência genuína de adrenalina, respostas rápidas, cenas cômicas e muita ação.Ao terminar o modo campanha, tudo que se espera é que a empresa já comece o mais rápido possível a trabalhar em uma continuação. Não porque a história não possui um final (ela possui, é hilário!), mas porque a experiência em jogá-lo é tão boa, que você fica com o gostinho de quero mais, mesmo que o jogo não seja curto.
Prós
- Controles instintivos e jogabilidade fluida;
- Músicas instigantes e belos visuais gráficos;
- Curva de desafio adequada;
- História carismática e com tons cômicos agradáveis;
- Modos extra aumentam o fator replay;
- Easter-eggs na medida certa;
- Boas formas de homenagear os arcade;
- Boa curva de aprendizado;
- Menus rápidos evitam quebra do ritmo de jogo;
- Funções de hacker não deixam a experiência se tornar repetitiva;
- Ótimo design de fases;
- Adaptações de dificuldade tornam o jogo mais aberto a vários públicos.
Contras
- Sua mão pode cansar depois de mais de quatro horas de jogatina;
- Não existe Rive 2 ainda.
Rive — PC/PS4 — Nota: 10.0
Versão usada para análise: PS4
Versão usada para análise: PS4
Revisão: Ana Krishna Peixoto