Minhas primeiras impressões de Assetto Corsa foram um tanto inconclusivas. O jogo tem uma abertura cinematográfica muito bem produzida mas, em seguida, me apresentou um menu principal simples e sem graça. Como qualquer pessoa sensata, naveguei até a opção "carreira" e fui procurar o primeiro desafio que estava disponível na categoria "novato". Voltas rápidas na pista Vallelunga com um Fiat 500 (pronuncia-se chinquechento), tranquilo. Após uma ou duas voltas para me adaptar com os controles e a física do jogo, consegui fechar uma volta no tempo exigido para receber a pontuação máxima do desafio. Ótimo. A seguir, uma corrida na mesma pista com sete outros 500s. Eu, um piloto veterano de Gran Turismo e Forza Motorsport, com certeza não teria dificuldade em superar aqueles brinquedos italianos com o meu próprio brinquedo italiano.
Me enganei. Todas as minhas esperanças de vitória foram embora após as primeiras curvas da corrida. Eu não estava dirigindo perfeitamente, afinal ainda não tinha compreendido completamente a dinâmica da direção, mas também não estava saindo (muito) da pista. Antes da primeira volta, eu estava em último lugar e muito longe dos meus rivais. Bem, ficou claro que Assetto Corsa não está interessado em mimar o jogador. Mudei a dificuldade das inteligências artificiais de médio para fácil e… Bem, pelo menos assim consegui ficar em sexto lugar por um tempo antes de cometer algum breve deslize e ser condenado novamente à última posição.
Naturalmente, fiquei frustrado. Sabia, por relatos alheios, que Assetto Corsa tem uma dedicação ao realismo superior à vista nas populares séries do PlayStation e do Xbox, mas não imaginei que o salto de dificuldade seria tão gritante. Ao entrar no Fiat 500 virtual, fiquei feliz em ver que o jogo parecia estar preparando uma escalada pelos estilos de automobilismo, mas imaginava que a dificuldade cresceria de forma proporcional à velocidade dos carros, o que não foi o caso.
Frustrado com o modo carreira, decidi aventurar-me em outros modos. As duas outras opções principais no menu são "eventos" e "pilotar". Abri a interface de eventos e escolhi um que me colocava em uma BMW M3 em Magione, outra pista italiana. Com mais cavalos sob o capô, percebi que a dinâmica da direção mudou bastante, então meu interesse pelo jogo foi novamente aceso.
Após algumas voltas na BMW, decidi procurar uma corrida online. Peguei uma Mercedes AMG GT3 e dei voltas em Brands Hatch enquanto o jogo buscava um oponente. Eventualmente, um oponente dirigindo uma McLaren da mesma categoria apareceu e nós tivemos uma disputa razoavelmente interessante, mesmo que em apenas dois jogadores, até a conexão de um dos lados cair e eu me encontrar novamente solitário na pista. Navegar pela lista de jogos disponíveis me mostrou que raramente tem mais do que um ou dois jogadores jogando juntos, então boa parte da competitividade do automobilismo é perdida.
A essa altura, havia tornado-se claro que tentar comparar Assetto Corsa diretamente com as séries estabelecidas de estúdios gigantes, Forza e Gran Turismo, era um esforço em vão. Ele claramente carece de muito do que o tornaria um videogame competente. Seu objetivo é ser um simulador de automobilismo, não um jogo, e todas as decisões de design parecem ter sido feitas para reforçar isso. No entanto, eu escrevo para o GameBlast e não o AutoBlast, então não posso simplesmente deixar de tratá-lo como um jogo completamente.
Havia chegado a hora, então, de dar a Assetto Corsa uma última chance. No modo de corrida livre, escolhi um dos meus carros favoritos, o Nissan GT-R GT3 com assistências em configuração de fábrica, no meu circuito predileto, Nürburgring Nordschleife. Nordschleife é uma pista fenomenal pois, além de combinar um autódromo moderno com uma estrada clássica, é longa demais para ser decorada completamente por um mero mortal como eu. Ao encerrar o breve trecho de autódromo, senti uma adrenalina inédita contornando as sinuosas vias alemãs no meu valente V6 japonês. A sensação foi tão impressionante que tive que ter certeza de que era simplesmente saudades da pista. Peguei meu controle de Xbox One, abri o Forza 6 e dei uma volta em Nürburgring com um GT-R. De fato, não havia comparação: no seu melhor, a experiência de dirigir de Assetto Corsa é indescritivelmente maravilhosa.
Em seguida, fui experimentar Lamborghinis, McLarens, Corvettes e Ferraris. Assetto não tem uma variedade enorme de carros nem de pistas, mas conta com as marcas esportivas mais famosas e autódromos lendários como Silverstone, Monza e Spa-Francorchamps, além de dez variações de Nürburgring e outros circuitos europeus menos conhecidos. A pequena variedade de automóveis resulta em uma alta precisão na simulação deles. Para se obter o melhor tempo, é necessário conhecer perfeitamente seu veículo e a pista onde vai correr, além de saber ajustar o automóvel para aproveitá-lo ao máximo nas retas e nas curvas.
O toque final nessa experiência repleta de emoções foi um evento usando uma Lotus de Fórmula 1 da década de 1960 em uma réplica do autódromo de Monza naquela época. Foi fascinante conferir por conta própria a versão original do que talvez seja a pista mais importante do mundo, e perceber como ela teve que mudar nas últimas décadas para se adaptar à tecnologia dos automóveis.
É muito difícil recomendar Assetto Corsa para um fã de videogames. Apenas os mais fervorosos dos entusiastas por automobilismo terão a dedicação e a paciência para conhecer cada carro e cada pista, para então descobrir a configuração ideal do veículo para um circuito. No seu melhor, Assetto Corsa é espetacular, mas, infelizmente, poucos jogadores conseguirão o aproveitar sem ter bastante conhecimento prévio do esporte.
Prós
- Quando tudo se alinha, a experiência de dirigir em Assetto Corsa é incomparável.
Contras
- Menus e interfaces ruins de navegar;
- Modo carreira sem nada que se assemelhe a uma curva de dificuldade;
- Eventos especiais não são diversão certa;
- Modo online morto;
- Quase toda a customização está sob uma camada de termos técnicos do automobilismo.
Assetto Corsa — PS4/XBO/PC — Nota: 6.5
Versão usada para análise: PS4