No meio disso, estabeleceu-se a cultura de adoração aos Mechas: embora vistos para a grande maioria do ocidente como robôs gigantes, o conceito original dessas unidades fictícias sempre foram a de enormes armaduras de combate. Isso fica explícito no título da série pai do gênero: Mobile Suit Gundam, onde as duas primeiras palavras passam essa ideia de serem armaduras e não robôs. Com isso, ficou cada vez mais fácil narrar histórias militares e espaciais com esquadrões de pilotos dos Mechas, tornando-se, de certa forma, um “conto de fadas” japonês em seu uso recorrente.
Adicionando os videogames na equação, é óbvio que teríamos vários exemplares de mechas nas ficções. Inicialmente, atuando apenas como adaptações de famosas séries anime do gênero, demorou um pouco até que armaduras próprias fossem criadas nos jogos. Eis que, no início dos anos 1990, a SEGA recebeu em seu Mega Drive um exemplar único: Target Earth, conhecido no Japão como Assault Suit Leynos e que, agora, mais de 20 anos depois, ganha um remake para PS4 e PC com o mesmo nome da versão japonesa original. Porém, a indústria evoluiu muito nesses mais de 20 anos que separam o original de sua versão refeita. Será que o jogo consegue adaptar toda a estrutura original para os olhares modernos? É isso que iremos responder nessa análise.
Tiroteio e conflitos pesados
Logo ao se iniciar o jogo, somos apresentados a uma animação de introdução que recria totalmente a abertura da versão antiga do game. Todas as cenas são versões remasterizadas do original, sem mudar nem pôr nada. Introduzindo a história do conflito entre os misteriosos seres que vieram das colônias espaciais contra o povo da Terra, você deve ir ao combate como um dos integrantes do esquadrão de Assault Suit.Em uma versão original, essa premissa era a principal história que tínhamos no jogo, tirando as informações antes do início de cada fase e as pequenas text box que apareciam ao percorrer elas. Aqui, o game se esforça para criar uma história densa, mas isso acaba tirando bastante da experiência. Assault Suit Leynos, em todas as suas fases, grita um ritmo frenético e bem construído que, infelizmente, é quebrado por intromissões de história (isso enquanto inimigos andam pela tela) ou pelas cenas de introdução dos chefes. As tais cenas de introdução, aliás, são as que mais afetam o jogo: ele continua rolando normalmente, mas a câmera sai do foco de seu personagem para mostrar, na outra ponta da fase, a chegada do chefe. Isso não só causa várias mortes injustas, como também é uma quebra de ritmo absurda: você não consegue prosseguir sua luta quando está totalmente sem visão em um ambiente 2D.
Estes dois fatores afetam muito ASL, já que ele conta com uma jogabilidade fantástica que te deixa com o gosto de “quero mais” a todo momento, mas, ao mesmo tempo, torna-se frustrante com essas intromissões que vão cada vez mais quebrando a estrutura de progresso do jogo. Dada a pergunta inicial do texto (o jogo consegue se adaptar bem para olhares modernos?), a resposta é um meio termo complicado, onde ao mesmo tempo que movimentações e tiroteios são perfeitos e bem construídos, junto de uma progressão de fases onde a dificuldade escala de forma sucinta, temos as interrupções que exterminam qualquer tipo de ritmo.
As várias opções de destruição para um Mecha
A série Assault Suit sempre foi conhecida pelo grande potencial de customização para as armaduras dos protagonistas. Não se trata de mudanças visuais, mas sim da grande quantidade de armas e opções de defesa que se colocam a sua disposição. Inicialmente, o jogador só conta com quatro opções: a metralhadora de munição infinita, o canhão laser, as granadas e o escudo. Conforme vai se avançando pelas fases e, dependendo de sua pontuação, mais opções vão sendo liberadas. Pelo tempo que joguei, observei que não existe frequência na liberação das armas, algo quase aleatório. Você pode até ganhar armas repetidas, mas isso é bom: significa que elas terão mais munição se decidir por equipar ela o número de vezes que a tem.O interessante é como o jogo permite que, a partir da escolha de armas, as experiências sejam diferentes. Você pode querer usar um Mecha mais focado em defesa, mas nisso as suas opções de armas serão altamente sacrificadas, ou pode querer uma versão que conte com as mais variadas formas de destruir os inimigos, mas para isso terá que sacrificar o dash. Apresentando esse sistema onde cada escolha parece realmente importar, o jogo abre um leque de opções enorme para cada jogador, permitindo que, mesmo sendo um jogo simples e linear em sua essência, ele se torne único para cada um.
O verdadeiro remake
Depois de terminar a campanha e ter liberado boa parte das armas, fui ver o que mais o jogo tinha a me oferecer. Seu menu inicial só contava com “new game, continue e options” desde o começo, então não parecia que teria muito mais o que fazer. Um pouco irritado pela performance fraca do jogo em meu computador durante a luta final, fui no menu de opções para procurar as configurações gráficas e… surpresa! O verdadeiro menu do jogo se abriu, apresentando várias novas opções de modos: Campanha, Arcade, Tutorial, Extra e Options.Fiquei surpreso, mas um pouco confuso, pois o título realmente escondeu boa parte de suas características em um menu que, provavelmente, pouquíssimas pessoas se dariam ao trabalho de entrar. Uma escolha um tanto infeliz, mas que ainda se mostrava interessante. Fui para o menu de opções e a segunda surpresa apareceu: não existem configurações gráficas no jogo. Ou seu computador é bom o suficiente para o rodar no máximo ou diga adeus para os 60 frames. É surpreendente isso pois, graficamente, o título não é nada muito incrível, mas, ainda assim, exigir uma RAM de 6 gigas para o rodar soa absurdo. Isso é fruto de uma má otimização do jogo para os computadores, que, para muitos, será notável em seu grande clímax.
Saí desse menu decepcionado e entrei no Tutorial. Bem básico, ele ensina todas as manobras e ataques do Mecha, sendo um bom começo para aqueles que preferirem treinar antes de qualquer coisa. Uma pena que esteja escondido. Depois, entrei no modo arcade e aí sim fui surpreendido de forma positiva: o jogo presente naquele modo era uma recriação 1:1 do original de Mega-Drive, sem nenhuma das adaptações e mudanças que a campanha apresentava. No caso, não existe quebra de fluidez no Arcade, nem por meio de intromissões da história ou introdução de chefes. É uma jogabilidade frenética e muitas vezes mais difícil que a experiência na campanha, só que é inevitável pensar que consegue ser superior em sua apresentação e jogabilidade.
O trunfo da adaptação
E, depois de tudo isso, responderei à pergunta lá do início do texto. O jogo é uma adaptação ruim para os olhares modernos em seu modo campanha, pois ele não precisava se adaptar. Isso se torna explícito a partir do seu modo arcade, recriação total do original onde nada é modificado e é bem superior do que a campanha.Nota-se então que o conceito de jogos envelhecerem é um tanto quanto falho. Mais de 20 anos depois, um jogo bom continuará sendo bom sem precisar ser modificado para as tendências atuais da indústria. Quem sabe, em um possível remake do segundo jogo da série Assault Suit, a desenvolvedora entenda isso.
Prós
- Jogabilidade frenética;
- Várias opções de customização;
- Modo Arcade fantástico.
Contras
- Modo campanha com péssimo ritmo;
- Não otimizado para os computadores;
- Mortes injustas a partir de introduções de chefes que tiram o foco do jogador.
Assault Suit Leynos - PS4/PC - Nota: 7.5
Versão usada para análise: PC
Revisão: Jaime Ninice