Com a expectativa para a
Brasil Game Show 2016, não pude deixar de recordar minha primeira experiência em eventos no setor, ainda antes de escrever sobre videogames. Claro que sou fã do
Ítalo Chianca e de suas crônicas encantadoras e não poderia deixar de registrar, seguindo seu exemplo, este momento tão oportuno que passei ao estar na primeira
Electronic Game Show brasileira, lá no longínquo ano de
2004… Muitos estandes, jogos para testes, campeonatos, lançamentos nacionais e internacionais, ídolos da indústria, enfim, um grande evento para guardar na memória.
Sonhando acordado…
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Duas edições do Jornal SEGA Mania. Acervo Pessoal |
Quando era pequeno, sonhava acordado ao receber as revistas como o
Jornal Sega Mania, ao alugar algumas fitas na locadora da esquina nos finais de semana ou quando me reunia com amigos em casa para umas boas partidas de videogame. Tempos bons que ficam marcados na memória, assim como do tempo das saudosas revistas de videogame dos anos 1990 e 2000, durante as surpreendentes idas às bancas de jornais, tão completas e presente em cada esquina naquela época.
Ler o editorial e expedientes da equipe de redação que fazia as revistas que lia na época me transportava para um mundo gamer mais experiente, além de demonstrar um pouco dos seus cotidianos durante o trabalho a cada edição lançada, uma época em que não tínhamos Facebook ou Twitter para seguir suas postagens. Queria mesmo era ter um momento, ao menos alguns minutos, em que pudesse estar ao lado destes membros da mídia e também da indústria gamer e entre fãs de jogatinas, todos reunidos para longas conversas e partidas. Ainda bem que eu teria muito mais que isso, um dia inteiro, ou quase, em uma viagem inesquecível…
Vocês viram isso?!?
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A grande atração do evento. Acervo Uol Jogos |
Certo dia, em uma de minhas leituras habituais das revistas de videogame, deparei-me com uma informação marcante. Uma das grandes propagandas veiculadas continha um anúncio que me chamara e muito a atenção:
“A Maior Feira de Jogos da América Latina agora no Brasil”. Ainda meio anestesiado com o que isto poderia representar e incrédulo de como ainda não tinham surgidos eventos de jogos eletrônicos no Brasil, ao menos não nos moldes de uma grande exposição como a
E3, ficava imaginando como seria este dia e passava a ler o máximo de informações sobre.
Lembrava-me, neste período, das cartas que a editora das revistas recebia e registrava, por vezes, na seção editorial, bem como fotos de leitores que tinha ido visitar a sede onde eram produzidas as matérias das revistas e conhecido seus respectivos redatores. Com a
EGS 2004, esta era a oportunidade perfeita para conhecer os meus ídolos, pensei, e isto se juntaria ainda ao fato de estar presente na história dos games no Brasil e de conhecer um pouco mais de um nicho que se aproximava do formato de uma autêntica E3.
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Matéria Especial sobre a EGS 2004 na EGM Brasil #34, página 10, dezembro de 2004 |
Originária do México com debute em 2002, a EGS, ou Electronic Game Show, teve sua primeira edição brasileira na cidade de São Paulo, dentro do Pavilhão Branco do Expo Center Norte, entre os dias 18 (apenas para imprensa), 19, 20 e 21 de novembro de 2004. A abertura do evento contou com o, então, ministro da cultura, Gilberto Gil, que também anunciou os ganhadores do concurso
Jogos BR, um estímulo ao mercado de produção de games nacionais. Também por lá, passariam diversas empresas e personalidades do ramo de entretenimento eletrônico:
Nintendo,
Atari,
Electronic Arts,
Microsoft,
Nokia,
ATI,
Level Up, eram só alguns dos grandes nomes. Ou seja, estariam todos lá, naqueles dias e naquele local para celebrar o sucesso dos games como cultura da nação, agora, brasileira. E claro que eu não queria ficar de fora desta.
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Estande da Microsoft com Zoo Tycoon. Acervo Uol Jogos |
Mãe, vou ali e já volto!
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N-Gage, uma das atrações. Acervo Uol Jogos |
Calma, não pensem que eu havia embarcado nesta jornada sozinho. Como não tinha amigos que compartilhassem do mesmo frisson e que estivessem, ao mesmo tempo, dispostos a embarcar nesta aventura, contei com a companhia de minha mãe, sem a qual esta viagem nunca teria se realizado. Embarcamos numa aventura que se iniciou na Rodoviária Novo Rio, lá pelo início da madrugada, e teve seu
start, de fato, quando chegamos à fila do que seria a entrada para a primeiríssima feira internacional de jogos eletrônicos do país.
Na verdade, havia lá fora mesmo um “tutorial” bem interessante já para esquentar os motores da galera antes mesmo de entrar no Expo Center: uma Van toda desenhada com a arte de
Metroid Prime 2: Echoes, continuação do clássico Metroid Prime estacionada e com as portas abertas. Dentro dela, alguns GameCubes rodavam o mais novo jogo de
Samus Aran em sessões contadas de aproximadamente 15 minutos.
Nem é preciso dizer o quão importante foi a ajuda da minha mãe para segurar meu lugar na fila para a compra do ingresso, ainda mais que ela viria me avisar que estava já na hora da gente entrar na EGS, finalmente, quando eu tinha acabado de jogar a minha sessão. Prontamente, entreguei o controle para um dos expositores que organizava as sessões e fui correndo com ela para o portão principal, onde uma boa alma havia guardado a nossa vez de entrar (meus sinceros agradecimentos a este salvador da pátria, quem quer que tenha sido).
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Kombi Metroid Prime 2 Echoes. Acervo Farofeiros.com.br |
Aos que estiverem lendo esta crônica, ou que compartilham da ida ao evento, sabe que aquela época foi realmente especial. Garotos portando seus Game Boys, duelando com Pokémon enquanto esperavam a longa fila, a Nintendo com o seu recente
Game Cube nacional a todo o vapor e muitos lançamentos. Além disso, a Microsoft entrava no ramo dos consoles com seu Halo, equipes de eSport iniciavam a moda das aventuras virtuais profissionais e muitas outras novidades ocorriam. Enfim, a onda gamer estava se mostrando cada vez mais madura.
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Painel gigante do game Half-Life 2. Acervo Uol Jogos |
Filas, jogos, brindes e ídolos, a feira começou!
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Um dos pontos de testes |
Entrava, agora no salão e a emoção se construía aos poucos dentro de mim. Vocês não imaginam o que senti quando avistei, logo ao entrar no pavilhão, uma tela gigante rodando o jogo para GameCube
Donkey Konga, com espaço para quatro jogadores no centro do palco da Nintendo. Ao lado dela, diversas outras empresas revelavam seus jogos e novidades recém-lançadas ou com datas para os próximos meses. Andar no meio de tudo isso, ver a grande movimentação de fãs, respirar videogame o tempo todo e até mesmo tomar um café ao lado da equipe de Counter Strike Mibr era sensacional e super gratificante. É verdade que a emoção corria solta.
Os maiores lançamentos estavam lá para serem testados: jogos como
Pikmin 2,
Paper Mario: The Thousand Year Door,
Viewtiful Joe,
Prince of Persia: Warrior Within,
Half-Life 2,
Halo 2,
Zoo Tycoon 2,
TaikoDom, eram só alguns dos exemplos. Porém, o mais importante da feira, um novo console portátil que viria não para substituir o Game Boy, mas para ser uma extensão dos consoles Nintendo, chamado
Nintendo DS, estava presente na feira para ser testado antes mesmo do lançamento nacional, concomitante ao americano, com uma fila gigante presente durante todo evento. Posso contar que tive a sorte de aproveitar bastante toda a EGS, desde entrar em algumas filas e receber convites para jogar GBA multiplayer até às disputas em Quiz pra ganhar revistas como prêmio.
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Especial da revista Nintendo World #77 |
Além dos visitantes poderem se divertir testando os grandes lançamentos para o ano, também havia campeonatos de diversos jogos, todos com direito a brindes como bonés, revistas, camisas e até bolas de tênis com a marca de Mario Tennis. Eram títulos do calibre de
Mario Kart Double Dash,
Soul Calubur 2,
Mario Power Tennis,
Super Smash Bros. Mellee (em que me arrisquei em algumas partidas sem sucesso) e Donkey Konga (sim, foi uma emoção enorme jogar no telão e escolher o hit
“We Will Rock You” para batucar e bater palmas com uma torcida de peso no palco). Também pude conhecer e testar um game de corrida utilizando o bluetooth do novíssimo Nokia N-Gage, e até assistir a febre Pokémon presente com o Desafio à Elite dos 4 utilizando os jogos
FireRed e LeafGreen,
Ruby & Saphire e
Pokémon Colosseum.
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Vitrine Retrô |
Ademais, a mais esperada atração por mim, que me direcionei prontamente direto assim que entrei nos galpões do Expo Center foi a visita ao estande da Conrad Editora, que publicava as revistas Nintendo World e EGM Brasil, EGM PC, entre tantas outras que apresentavam novidades do universo geek/gamer/otaku. Finalmente, tive a alegria de ver, tirar fotos e até bater um bom papo com meus ídolos de publicação das revistas que lia: figuras conhecidas como Pablo Miyazawa, Eduardo Trivella, Ronny Marinoto, Fábio Santana, Erik Araki, Daniel Van Nieuwenhuizen Junior, Odair Braz Jr., Felipe Azevedo, entre tantos que acompanhava pelas revistas de videogame estavam lá. O estande exibia diversas publicações da editora, mas também continha uma vitrine de consoles retrô, espaço para palestras e alguns consoles do lado de fora para competições, inclusive com os próprios redatores. Também passavam por lá personalidades musicais como o
Nino MegaDriver, além de cosplayers variados.
Fui embora de lá com a sensação de dever cumprido e o sentimento de querer ficar ainda mais ligado neste mundo gamer.
Para guardar na memória
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Logotipo Electronic Game Show |
A edição #77 da Revista Nintendo World, em seu especial sobre o evento, constatou que a EGS 2004 recebeu cerca de 22 mil pessoas nos três dias de evento e que contou com diversas equipes de cobertura jornalística, que encheram revistas, jornais e a televisão com reportagens
in loco. A exposição certamente foi um marco para indústria brasileira de games por ser o primeiro evento do gênero a acontecer no país e isto serviu para consolidá-la como um meio importante para o mercado e mais experiente no sentido evolutivo de eventos neste setor.
E você, leitor, esteve na EGS 2004 ou na EGS 2005? Está ansioso pela BGS 2016 e quer encontrar a equipe na feira? Conte-nos abaixo nos comentários!
Revisão: Ana Krishna Peixoto