João Pedro Meireles - Bastion: O resgate de Zulf
Eu nunca fui uma pessoa fácil de se emocionar, ao menos no que tange produtos artísticos e de entretenimento. Não é de se estranhar que no auge dos meus 19 anos, época em que adquiri Bastion (e tive o prazer de conhecer o trabalho da SuperGiant Games), nenhum jogo tinha chegado sequer perto de me emocionar. Bem, isso mudou, e de forma radical, graças ao trabalho impecável de um dos melhores jogos que a indústria já nos proporcionou.(Atenção: Spoilers a frente): Todos que jogaram Bastion sabem o quanto a presença de Zulf e Zia é algo muito importante na trama. Se antes achávamos que todos que moravam nos territórios humanos haviam morrido na calamidade, encontrar outros dois sobreviventes é algo muito forte dentro da proposta do jogo e sentir compaixão pelos dois Uras é algo quase natural. Quando Zulf te trai, cego pelo ódio e rancor causado por todo o sofrimento que a humanidade pusera sobre seus ombros, o jogador vê uma grande mudança de paradigma, ao ver o então aliado virar um antagonista.
O grande problema é que ir atrás de Zulf (e das partes da Bastion que ele havia levado consigo), que se escondia nos territórios de sua raça, faz com que seus irmãos Ura também o tratem como um traidor, já que este era o responsável por trazer o jogador (e toda a destruição causada por ele) a sua até então pacífica terra. Aí é que vem o grande momento do jogo. Deixado para morrer por sua própria raça, o jogador encontra o antigo aliado e tem duas opções: salvá-lo ou deixá-lo sofrer pela sua traição. Caso você escolha salvar Zulf (por favor, faça isso) uma das cenas mais impactantes da história dos jogos se desenrola. Pela primeira vez dentro do jogo você não pode atacar ou desviar, pois leva Zulf em seus braços, e é alvejado por todos os Uras, lutando para conseguir andar e sobreviver a onda de ataques. Com suas poções de vida se esvaindo, o fim parece próximo, já que o caminho é longo demais para conseguir sobreviver. Até que, de repente, os ataques param. Os Uras reconhecem seu sacríficio e o deixam continuar, respeitando o ato de compaixão do protagonista. Com tudo isso, é claro, ao som de uma das jóias da OST, fica (ao menos para mim) quase impossível não chorar ao ver essa cena (mesmo depois de já tê-la jogado pelo menos duas vezes).
July Dourado - Crisis Core: Final Fantasy VII: final
É impossível falar de uma cena marcante de um jogo sem citar o final de Crisis Core: Final Fantasy VII. Aqueles que jogaram Final Fantasy VII anteriormente já sabiam como se daria o desfecho da história, mas ninguém esperava que ela acabasse de uma maneira tão surpreendente e emocionante.(Atenção: Spoilers a frente): Enquanto tentava chegar à Midgar junto com Cloud, Zack se depara com um exército de soldados da ShinRa, os mesmos inimigos que você já cansou de derrotar durante todo o game. Aquela parecia mais uma batalha como outra qualquer, exceto pela triste melodia que tocava ao fundo, bem diferente das canções mais agitadas que haviam marcado presença até então. No decorrer da luta, temos mais um sinal de que algo está errado: O DMW, sistema do jogo que permite usar habilidades especiais aprendidas com outros personagens, quebra e começa a mostrar flashbacks de Zack com seus companheiros, numa clara representação de que nosso herói se lembrava de todos os seus amigos no momento de maior dificuldade.
Após certo tempo, o protagonista começa a perder as forças e a movimentação do personagem fica bastante pesada, dando sinais de que aquela luta aparentemente fácil havia se tornado uma das mais difíceis do jogo. Nesse momento, nem Potions e nem magias de cura podem salvar nosso herói, e é aí que percebemos que, por mais que tentássemos resistir e lutar, aquela seria realmente a última batalha de Zack. Pela primeira vez, nos damos conta de que o fato de ele ser o protagonista do game não o torna invencível. Finalmente, depois de ter derrotado um grande número de soldados, Zack é abatido por apenas três deles. A partir disso, vemos uma belíssima e triste cena em CG carregada de simbolismos e referências ao jogo de PlayStation 1, mostrando Aerith e também a última conversa entre Cloud e Zack.
Essa ideia de unir o gameplay e as cutscenes para compor o final do jogo foi realmente fantástica e trouxe uma carga emocional muito maior do que esperávamos. Essa união nos permitiu acompanhar o desfecho de Zack não só como espectadores, mas como jogadores também, e é por essas e outras que é impossível esquecer desse belíssimo título.
Vinícius Veloso - The Last of Us - O início arrasador
Apesar de todo o hype criado durante o período de produção de The Last of Us, confesso que não acompanhei tão de perto o desenvolvimento da saga pós-apocalíptica da Naughty Dog. Quase que sem querer, e por falta de opções na loja de games que frequento, acabei adquirindo o título logo em sua semana de lançamento, quando ainda não existiam tantos vazamentos sobre o enredo espalhados pela internet. Se a expectativa não era tão elevada quando coloquei o disco no PlayStation 3, apenas 10 minutos de jogatina foram suficientes para sugar toda minha atenção e me envolver completamente na trama.(Atenção: Spoilers a frente): Antes mesmo de o fungo Cordyceps devastar a humanidade, a vida do protagonista Joel não estava nada fácil. Em dificuldades financeiras e procurando emprego, a situação era tão crítica que ele acaba se esquecendo do próprio aniversário. Somente a pequena Sarah, sua filha, se recorda da data especial e dá um relógio de presente para o pai. Sem muitas razões para comemorar, a dupla logo vai dormir, entretanto a noite de sono é interrompida com as primeiras notícias de que algo não está bem nos arredores.
Na tentativa de se afastar do perigo, pai e filha se juntam à Tommy, irmão de Joel, e partem de carro em direção da cidade. Porém, em meio ao caos de explosões e gritos de pessoas desesperadas, o automóvel do grupo se envolve em um acidente e Sarah machuca a perna. Rodeados pelo caos, Joel passa a carregar a garota no colo na procura de um abrigo seguro. Durante a busca, Tommy fica para trás para atrasar um grupo de infectados que os perseguia.
Seguindo pela floresta e deixando os barulhos dos horrores cada vez mais para trás, tudo parece ter ficado bem quando Joel e Sarah encontram um militar. A princípio, o soldado passa a impressão de que está disposto a ajudar, porém, após uma ordem em seu rádio, ele aponta a arma para a dupla e dispara sem nenhum ressentimento. Pai e filha caem no chão e o atirador se aproxima para finalizar o trabalho, mas, no último momento, Tommy aparece para salvar seus parentes. O alívio dura pouco, Joel se levanta e percebe que Sarah foi baleada. A adolescente não resiste ao ferimento e, nos braços de seu pai, solta o último suspiro. O choro do protagonista é tão intenso que o jogador consegue sentir toda a dor.
Essa relação entre Joel e Sarah, que influenciará profundamente os acontecimentos futuros, conseguiu mexer com meus sentimentos de maneira muito forte. Foi graças a esse início arrasador que fiquei grudado no jogo até atingir seu final.
Gustavo Dourado - NieR: Os sacrifícios de Kainé, Nier e Emil.
Posso não ter jogado tantos jogos quanto gostaria na vida, mas posso dizer que possuo uma longa e grande história com diversos gêneros e estilos diferentes. Lembro de ter chorado apenas uma vez por causa de um game (até porque, é impossível não fazê-lo ao terminar Crisis Core Final Fantasy VII pela primeira vez), mas isso é um feito que poucas mídias conseguiram realizar com a minha pessoa. Após meses de procura, finalmente consegui minha cópia de NieR, um game que há muito ansiava jogar. E já aviso que tal ansiedade não foi em vão, logo separar apenas um momento que me marcou neste jogo é difícil, realmente, mas quando o peito aperta e você sente a tristeza dos personagens, acaba ficando claro.(Alerta de Spoilers): Nier, em sua incessante busca por uma cura para a doença de sua filha, Yonah, acaba encontrando alguns grandes companheiros, como o petulante livro Grimoire Weiss, que se prova um grande amigo com o tempo, a impudica Kainé, a guerreira que também se mostra uma grande (e irritada) companheira, e, claro, Emil, o pequeno e “indefeso” garoto que viveu isolado do mundo por conta de sua maldição: tudo o que olhar torna-se pedra.
Ao impedir que uma horda de pequenos Shades, seguida por um gigantesco e monstruoso, destruísse o vilarejo, Nier, Weiss e Kainé, na biblioteca da cidade, que servira de abrigo para os civis, incluindo Yonah, acabam prendendo o que restou do monstruoso Shade em um depósito da biblioteca. Como se não bastasse, o verdadeiro vilão da trama, Shadowlord, se revela, juntamente de Grimoire Noir, o livro que antagoniza Weiss na antiga profecia.
Kainé, utilizando todas as suas forças, que aliás estavam se esvaindo, segura as portas do depósito, logo não podia fazer nada além de apenas assistir (e xingar) enquanto Shadowlord e Noir torturavam Nier e Weiss. Como se não bastasse, o vilão ainda sequestra Yonah, ferindo gravemente Nier. Emil, embora tivesse o poder de seus olhos, não passava de um garoto sem condições de lutar, fisicamente falando, logo nada poderia fazer.
Kainé, já sem forças, percebe que, para que nem tudo se perca, ao menos mais um sacrifício deve ser feito, logo, suplica para que Emil a petrifique no portão, para selá-lo. Emil, Nier e até mesmo Weiss não acreditam no pedido da amiga, mas diante das opções, esta era é a única que poderia encerrar as perdas daquele fatídico dia, que marcou com mais perdas que seria possível suportar, deixando claro que dada a situação do mundo, as coisas só iriam piorar, destacando o peso do significado da missão de Nier e suas amizades.
Muito mais do que apenas jogos
Em um mundo onde as narrativas melhoram a cada dia, não é de se estranhar que tantos momentos apareçam em uma indústria que cada vez mais consegue nos emocionar. E para você leitor, qual jogo deixou sua marca?
Capa: João Pedro Meireles