Análise: Hyper Light Drifter (Multi) é uma misteriosa e desafiante aventura

Ótima ambientação e dificuldade intensa marcam a jornada de um espadachim por um mundo impressionante.

em 03/08/2016
Gosto muitíssimo quando um jogo me transporta completamente para dentro de seu universo. Hyper Light Drifter, um título independente para PC, PlayStation 4 e Xbox One (e futuramente outros consoles), conseguiu me prender fortemente com sua excelente ambientação e mecânicas bem executadas. Explorar seu mundo me fez sentir inúmeras sensações, algumas delas conflitantes, mas no final eu não queria mais sair dele.

Um mundo misterioso

Hyper Light Drifter, resumidamente, é uma espécie de Zelda da era 16 bit com temática futurista. Controlamos um personagem, que supostamente está doente, em uma aventura por um mundo exótico: o lugar parece ter tecnologia avançada, mas algo aconteceu e só se vê ruínas, sombra de um passado provavelmente glorioso. A questão aqui é que nada é explicado, como a motivação do herói ou o atual estado do mundo — o jogador está tão perdido quanto o espadachim de capa.


A aventura começa exatamente assim: depois das cenas iniciais, somos jogados em uma cidade, livres para explorar. Algumas dicas sutis aparecem em alguns lugares em forma de desenhos e diagramas (o jogo não apresenta texto, fora as explicações dos controles no início), mas somente isso. Pouco a pouco, ao visitar os lugares, você vai entendendo naturalmente como tudo funciona e a experiência vai ficando bem legal.

Imersão por meio da exploração

Essa falta de explicações pode ser um grande defeito para muitos, mas para mim foi bem interessante. Hyper Light Drifter tem um universo muito belo e intrigante, que te convida a explorá-lo. Bastam poucos minutos para entender os movimentos básicos do herói: um botão para o ataque com a espada, outro para a pistola e um terceiro para uma investida (que serve para alcançar locais distantes, além de funcionar como esquiva). A estrutura de jogo também aparece rápido e você entende que tudo se resume a explorar as regiões desse mundo, enfrentando inimigos e coletando alguns itens que ajudam na progressão. Há muita liberdade e praticamente todas as áreas do mundo estão disponíveis para visitação desde o início da aventura.


Explorar o universo de Hyper Light Drifter é prazeroso, principalmente por conta do desenho das localidades: tudo é muito orgânico e bem montado, com elementos que incentivam experimentação. Vira e mexe aparece um suposto bloqueio, mas basta insistir um pouco para encontrar a continuação do caminho. É muito comum a câmera te mostrar trechos supostamente inacessíveis e você ficar se perguntando como fazer para chegar lá, se precisa de alguma habilidade futura ou algo parecido.

O trunfo é que, salvo alguns trechos extremamente específicos, a maioria dos segredos podem ser alcançados com as técnicas básicas do espadachim. Sendo assim, sempre me peguei tentando encontrar maneiras de chegar nesses lugares supostamente inalcançáveis e sempre me surpreendi na solução — é tudo muito inteligente. É engraçado que em uma primeira incursão em uma região tudo parecia inalcançável, mas depois meus olhos já estavam treinados e já conseguiam ver as sutis dicas visuais que indicavam supostos segredos. Só não gostei do mapa: ele é confuso e dificulta a exploração, principalmente nos momentos nos quais você está revisitando cenários.


Boa parte do prazer de explorar está na riqueza dos detalhes. As localidades de Hyper Light Drifter são muito bem construídas, repletas de segredos e minúcias — percebe-se que os desenvolvedores foram muito cuidadosos no momento de desenhar os cenários. Até os menus são estilosos e bonitos. Além disso, o jogo apresenta gráficos em pixel art lindíssimos, que retratam perfeitamente as ruínas de um mundo futurista, mas em ruínas. A música complementa a ambientação com composições suaves, misteriosas e intrigantes.

Matando e morrendo

Fora da exploração, temos os combates, que são frenéticos, intensos e extremamente brutais. As batalhas são bem estratégicas, mesmo com o ritmo acelerado, e é necessário ficar atento para atacar e esquivar nos momentos corretos. O jogo não dá muito espaço para o fracasso e qualquer erro é fatal — morrer o tempo todo para monstros comuns é frequente. Sendo assim, para sobreviver, é importante ficar atento às dicas visuais e golpes dos inimigos.

A dificuldade sobe ainda mais nos confrontos contra os chefes. Eles são imensamente poderosos e contam com padrões de ataques complexos, o que exige ainda mais atenção e reação rápida. Perdi as contas de quantas vezes morri tentando derrotar esses mestres, por mais que no final das contas tudo não passa de entender seus golpes e nunca ser afobado. Mesmo sendo derrotado inúmeras vezes, gostei bastante de todas as batalhas contra os chefes por conta da intensidade da ação e complexidade dos confrontos.


Pode parecer que o combate de Hyper Light Drifter é difícil demais ou injusto, mas na verdade ele só exige muito do jogador. Existem outras habilidades de combate que podem desbloqueadas, como uma poderosa estocada ou a capacidade de rebater projéteis, contudo até elas exigem domínio — uma investida com a espada na direção errada pode te jogar em um buraco, um golpe no momento incorreto ao tentar rebater uma bala pode ser fatal. Você vai morrer um pouco até pegar o jeito das coisas, mas basta treino e domínio dos movimentos do herói para sair vitorioso. Ter ritmo e cadência é essencial.

Complicação estilosa

A batalha é uma das minhas características preferidas em Hyper Light Drifter. Sempre fiquei tenso ao enfrentar inimigos, pois rapidamente entendi que todos os confrontos podem ser complicados. No início atacava de qualquer jeito, o que resultava em mortes o tempo todo. Porém, conforme fui avançando na aventura, aprendi a ler com calma cada situação.

Claro, as coisas não são tão simples assim: quando você está quase dominando os padrões de ataques, aparecem novos inimigos para deixar tudo complicado de novo. E para piorar, os monstros passam a atacar em bando — a mistura de ataques deixa as coisas bem caóticas. Há também um modo cooperativo local no qual dois heróis superam os desafios em conjunto, perfeito para aqueles que estiverem passando por problemas nas batalhas.


Também gostei muito da desenvoltura do herói nas batalhas: os movimentos do andarilho são estilosos, ágeis e precisos. Eu sempre acho legal desferir uma sequência de ataques combinados com tiros e esquivas certeiras, o resultado visual é muito gratificante (isso, claro, quando saio vitorioso de um combate).

Aventura enigmática incrível

Hyper Light Drifter é um jogo construído com esmero e o resultado é ótimo. A ambientação é excelente, principalmente por conta do visual e música excepcionais. O mundo é complexo e repleto de segredos, sempre achei muito divertido vasculhar todos os cantos. Por fim, temos um combate intenso, estiloso e difícil, que exige muito do jogador sem ser injusto. Claro, alguns podem não gostar da história enigmática, da dificuldade das batalhas e da confusão do mapa, o que pode ser classificados como problemas. Mesmo assim, no fim das contas Hyper Light Drifter é uma aventura extremamente prazerosa e incrível.

Prós

  • Excelente visual e ambientação;
  • Combate difícil, porém recompensador;
  • Mundo rico e repleto de segredos.

Contras

  • Mapa confuso.
Hyper Light Drifter — PS4/XBO/PC — Nota: 9.5
Versão utilizada na análise: PC
Revisão: Ana Krishna Peixoto

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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