Need For Speed High Stakes (Multi) e as memórias de um filho com seu pai

Carros, perseguições e alguns controles quebrados renderam momentos inesquecíveis.

em 01/03/2016
A infância é cheia de momentos especiais que ficam guardados na memória. Na vida de quem adorava videogames nos anos 1990, como eu, ir à casa do amiguinho que tinha Mega Drive era animal, assim como também era emocionante ir ao boteco da rua de baixo para se acabar no fliperama. Havia ainda aquele dia mágico de passar com a mãe na locadora e alugar o seu jogo favorito. Tudo isso era muito divertido.



Algo que ficou bem marcado em minha memória foi o momento em que ganhei meu segundo videogame, o bom e velho e Playstation. Quando meu pai e minha mãe chegaram com o console em casa, logo saímos para buscar alguns jogos para aproveitar o fim de semana. Como tudo relacionado a videogame na época era caro, tive que ser bem seletivo e pegar jogos que me entreteriam por bastante tempo, entre eles Need For Speed 4: High Stakes (Multi), que comemora hoje 17 anos.
Sempre gostei de jogos de corrida, então a viagem para chegar até minha casa e finalmente poder jogar a novidade foi angustiante. Veja bem, até aquele momento, o jogo de corrida mais moderno que eu havia posto minhas mãos foi Top Gear 3000, e sim, eu tinha completa consciência da existência de coisas mais elaboradas. Então, por favor, entendam a ansiedade de um garoto de nove anos de idade.


Quando chegamos em casa foi só alegria! Coloquei o disco naquele PSone novinho em folha e, junto com meu irmão, fiquei quase que aquele sábado inteiro em frente à TV pilotando carros. Houve algumas paradas para jogar Resident Evil 3 — que meu pai não queria comprar de jeito nenhum por causa da violência, diga-se de passagem —, mas acho que posso dizer que passamos a maior parte do tempo com as mãos no volante, ou melhor, no DualShock.

Lembro-me como se fosse hoje de me impressionar com o quão bonito o jogo era ao vivo. “Olha, é praticamente de verdade!” eu comentava com meu pai. E ele só observava impressionado. No domingo foi a mesma história. Acordamos e fomos direto para a sala. Mas, para minha surpresa, ao chegar lá vejo meu pai, que nunca foi muito fã de videogames — “Isso aí estraga a TV!” era uma de suas frases favoritas —, havia se rendido ao mundo das corridas virtuais.


Ele quase nunca se envolvia com as coisas que nós gostávamos, sempre foi aquele cara meio distante e fechado, que estava mais preocupado em colocar a comida em cima da mesa. Para mim, aquele foi um momento muito especial por poder ter meu pai ali, gente como a gente, divertindo-se com algo do qual eu entendia e gostava muito. Sabe o pai jogar bola com o filho? A sensação foi algo próximo disso.

Foram muitas semanas de jogatina compartilhadas. Juntos nós destravamos muitos carros, conquistamos muitas pink slips e chegamos até a habilitar o helicóptero da polícia. Mas o mais engraçado é a quantidade de manias que um passou ao outro durante esse tempo. Jogar em pé ao lado da televisão, virar a mão como se estivesse em um volante, jogar controles na parede... É, esse último poderia ter ficado de lado.

Desde então a série tem sido minha favorita do gênero, apesar de alguns (leia-se vários) escorregões nos últimos anos. Neste fim de semana pude reviver um pouquinho daqueles dias de felicidade: comprei em uma promoção muito bem-vinda via PSN o último Need For Speed (Multi), lançado em 2015. Mais legal que pagar R$ 90 em um jogo tão novo foi que, depois de mais de 15 anos, tive exatamente a mesma conversa com meu pai. O tempo passa, mas as memórias ficam conosco para sempre.

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Diego Migueis

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