Análise: Into the Stars (PC), uma boa (mas repetitiva) jornada espacial

A ambientação exemplar do game da Fugitive Games é prejudicada pela repetitividade.

em 24/03/2016
A ideia de se pegar algum produto bem-sucedido e refazê-lo “no espaço” não é algo incomum na indústria de jogos eletrônicos (ou em outras mídias). Temos vários exemplos de games que são basicamente algum conceito utilizado anteriormente ajustados para uma abordagem mais científica. Alpha Centauri levou Civilization às galáxias; Space Quest adicionou alienígenas e viagens temporais à fórmula de King’s Quest; agora, Into The Stars (PC) tenta levar a grande jornada migratória de Oregon Trail às estrelas.


Mas simplesmente reinventar algo no espaço sideral não é o bastante. A nova ambientação exige que os criadores ajustem diversos elementos, principalmente estéticos e narrativos, para tornar a obra convincente. Se o arcabouço de arquétipos de ficção científica não é usado de forma satisfatória, passa-se a sensação de que estamos lidando com uma mera reciclagem. Felizmente, Into the Stars não sofre desse problema.

O principal forte do game é justamente a sua apresentação. Ele se aproveita do ambiente espacial para criar uma sensação de imersão fantástica. Graças ao visual e à trilha sonora, que foram influenciados da melhor maneira possível por Battlestar Galactica, o jogador desde o início se sente integrado em uma longa jornada galática, explorando as estrelas em um futuro distante.

Destaque vai para a escala do game. Jogos (e filmes, e séries, e livros…) com ambientação espacial costumam sofrer nesse aspecto, com coisas que deveriam ser gigantescas parecendo muito menores do que logicamente deveriam e vice-versa. Não aqui: tudo parece estar no tamanho certo. Talvez as medidas não sejam cientificamente corretas, mas acertaram na forma de mostrar o universo ao jogador. Os planetas realmente parecem imensos, e você sente que sua nave está de fato se esforçando para percorrer distâncias estrelares.

A liberdade de movimentação colabora para intensificar essa sensação. Nada impede que você pegue sua nave, Ark 13, e a atire no sol mais próximo, matando toda sua tripulação. Você é o capitão; você decide aonde ir e o que explorar. Seu destino é o planeta Titus Nova, mas o caminho deve ser descoberto por você.

Houston, temos um problema

Infelizmente, essa ambientação fantástica não é aproveitada pelos outros aspectos do game. As mecânicas até tentam, mas não são tão efetivas na arte de imergir e manter a atenção do jogador.

O exemplo mais notório são os elementos de city-building. Ark 13 abriga os resquícios da população humana e tem uma cidade inteira dentro dela, com milhares de pessoas. Como capitão, você pode ordenar a construção de estruturas que vão alterar a felicidade, a saúde e o crescimento do que restou da humanidade.

Ter uma pequena metrópole dentro de sua nave deveria ser algo fantástico mas, na prática, as coisas são menos emocionantes. A “última população humana” aparece para você como um simples holograma sem imponência. Suas decisões administrativas não trazem recompensas satisfatórias. A cidade pode crescer e evoluir, mas a única coisa que o jogador ganha ao final do game é uma pontuação um pouco maior. Cuidar da civilização é algo repetitivo e lento, tornando-se trivial a partir do momento em que se entende como as mecânicas funcionam.

Essa sensação é compartilhada pelos demais sistemas de Into the Stars. Todos eles tentam usar a ambientação espacial de alguma maneira que impressiona conceitualmente e deixa a desejar na prática. No final das contas, o título transforma-se num produto insípido.

Para ganhar, basta ter cuidado para que sua nave não fique sem recursos. Se eles estiverem a ponto de se esgotar, não há problema: basta parar no planeta mais próximo. Nele, é possível minerar elementos químicos e levar uma escolta à superfície para executar missões… mas essas coisas sofrem do mesmo problema da repetitividade. O jogo que começa como uma experiência imersiva e massiva lentamente se torna uma jornada lenta e entendiante.

Alerta vermelho

Dificuldades maiores inserem um novo elemento que consegue atenuar essa sensação: a perseguição dos Skorn. Ark 13 não é uma colônia de férias, afinal. A migração para Titus Nova tem como principal objetivo fugir da ameaça alienígena, que se faz presente nos modos Normal e Pursuit. Quanto mais tempo você fica em determinado setor galático, maiores as chances de ter que enfrentar uma nave inimiga.

Teoricamente, isso causaria uma sensação de urgência, fazendo com que a viagem para o novo lar dos seres humanos não se tornasse num mero passeio pelas galáxias. Mais uma vez, porém, a prática não faz jus à teoria. Mesmo com a constante perseguição dos Skorn, o game ainda é um gerenciador de recursos com esteroides. Suas paradas pelos planetas têm que ser mais rápidas, mas isso não é um grande empecilho.

O grande diferencial das dificuldades maiores é o fato de as batalhas se tornarem mais constantes. Isso, por si só, acaba sendo um ponto negativo, já que o combate rapidamente se torna desinteressante. Em linhas gerais, a mecânica se resume a usar as cores certas na hora certa. Os inimigos têm um escudo que pode ser vermelho, azul ou amarelo, mudando de frequência constantemente; você deve atirar neles usando uma cor diferente e ajustar as cores de seus escudos para bloquear os projéteis inimigos. Assim como as outras mecânicas do game, no início é interessante, mas fica repetitivo em pouco tempo. O fato de haver apenas um tipo de inimigo não auxilia muito.

Este é o grande problema de Into the Stars como um todo. Ele passa uma ótima primeira impressão, que se corrói rapidamente até o fim da jornada. É um jogo interessante, mas, se conseguissem preservar a sensação de se usar a nave Ark 13 pela primeira vez até a chegada em Titus Nova, ele certamente seria um excelente game, não apenas interessante.

Prós

  • Ótimo visual e trilha sonora;
  • Ambientação fantástica;
  • Vários sistemas interessantes…

Contras

  • … Que perdem o interesse por causa da repetitividade;
  • Combate desinteressante.

Into the Stars — PC — Nota: 7.0

Revisão: Bruno Alves

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