Mas simplesmente reinventar algo no espaço sideral não é o bastante. A nova ambientação exige que os criadores ajustem diversos elementos, principalmente estéticos e narrativos, para tornar a obra convincente. Se o arcabouço de arquétipos de ficção científica não é usado de forma satisfatória, passa-se a sensação de que estamos lidando com uma mera reciclagem. Felizmente, Into the Stars não sofre desse problema.
O principal forte do game é justamente a sua apresentação. Ele se aproveita do ambiente espacial para criar uma sensação de imersão fantástica. Graças ao visual e à trilha sonora, que foram influenciados da melhor maneira possível por Battlestar Galactica, o jogador desde o início se sente integrado em uma longa jornada galática, explorando as estrelas em um futuro distante.
Destaque vai para a escala do game. Jogos (e filmes, e séries, e livros…) com ambientação espacial costumam sofrer nesse aspecto, com coisas que deveriam ser gigantescas parecendo muito menores do que logicamente deveriam e vice-versa. Não aqui: tudo parece estar no tamanho certo. Talvez as medidas não sejam cientificamente corretas, mas acertaram na forma de mostrar o universo ao jogador. Os planetas realmente parecem imensos, e você sente que sua nave está de fato se esforçando para percorrer distâncias estrelares.
A liberdade de movimentação colabora para intensificar essa sensação. Nada impede que você pegue sua nave, Ark 13, e a atire no sol mais próximo, matando toda sua tripulação. Você é o capitão; você decide aonde ir e o que explorar. Seu destino é o planeta Titus Nova, mas o caminho deve ser descoberto por você.
Houston, temos um problema
Infelizmente, essa ambientação fantástica não é aproveitada pelos outros aspectos do game. As mecânicas até tentam, mas não são tão efetivas na arte de imergir e manter a atenção do jogador.O exemplo mais notório são os elementos de city-building. Ark 13 abriga os resquícios da população humana e tem uma cidade inteira dentro dela, com milhares de pessoas. Como capitão, você pode ordenar a construção de estruturas que vão alterar a felicidade, a saúde e o crescimento do que restou da humanidade.
Ter uma pequena metrópole dentro de sua nave deveria ser algo fantástico mas, na prática, as coisas são menos emocionantes. A “última população humana” aparece para você como um simples holograma sem imponência. Suas decisões administrativas não trazem recompensas satisfatórias. A cidade pode crescer e evoluir, mas a única coisa que o jogador ganha ao final do game é uma pontuação um pouco maior. Cuidar da civilização é algo repetitivo e lento, tornando-se trivial a partir do momento em que se entende como as mecânicas funcionam.
Essa sensação é compartilhada pelos demais sistemas de Into the Stars. Todos eles tentam usar a ambientação espacial de alguma maneira que impressiona conceitualmente e deixa a desejar na prática. No final das contas, o título transforma-se num produto insípido.
Para ganhar, basta ter cuidado para que sua nave não fique sem recursos. Se eles estiverem a ponto de se esgotar, não há problema: basta parar no planeta mais próximo. Nele, é possível minerar elementos químicos e levar uma escolta à superfície para executar missões… mas essas coisas sofrem do mesmo problema da repetitividade. O jogo que começa como uma experiência imersiva e massiva lentamente se torna uma jornada lenta e entendiante.
Alerta vermelho
Dificuldades maiores inserem um novo elemento que consegue atenuar essa sensação: a perseguição dos Skorn. Ark 13 não é uma colônia de férias, afinal. A migração para Titus Nova tem como principal objetivo fugir da ameaça alienígena, que se faz presente nos modos Normal e Pursuit. Quanto mais tempo você fica em determinado setor galático, maiores as chances de ter que enfrentar uma nave inimiga.Teoricamente, isso causaria uma sensação de urgência, fazendo com que a viagem para o novo lar dos seres humanos não se tornasse num mero passeio pelas galáxias. Mais uma vez, porém, a prática não faz jus à teoria. Mesmo com a constante perseguição dos Skorn, o game ainda é um gerenciador de recursos com esteroides. Suas paradas pelos planetas têm que ser mais rápidas, mas isso não é um grande empecilho.
O grande diferencial das dificuldades maiores é o fato de as batalhas se tornarem mais constantes. Isso, por si só, acaba sendo um ponto negativo, já que o combate rapidamente se torna desinteressante. Em linhas gerais, a mecânica se resume a usar as cores certas na hora certa. Os inimigos têm um escudo que pode ser vermelho, azul ou amarelo, mudando de frequência constantemente; você deve atirar neles usando uma cor diferente e ajustar as cores de seus escudos para bloquear os projéteis inimigos. Assim como as outras mecânicas do game, no início é interessante, mas fica repetitivo em pouco tempo. O fato de haver apenas um tipo de inimigo não auxilia muito.
Este é o grande problema de Into the Stars como um todo. Ele passa uma ótima primeira impressão, que se corrói rapidamente até o fim da jornada. É um jogo interessante, mas, se conseguissem preservar a sensação de se usar a nave Ark 13 pela primeira vez até a chegada em Titus Nova, ele certamente seria um excelente game, não apenas interessante.
Prós
- Ótimo visual e trilha sonora;
- Ambientação fantástica;
- Vários sistemas interessantes…
Contras
- … Que perdem o interesse por causa da repetitividade;
- Combate desinteressante.
Into the Stars — PC — Nota: 7.0
Revisão: Bruno Alves