Análise: Lakeview Cabin Collection (PC) bagunça sua mente e entranhas com um terror bizarro

Com base nos filmes produzidos nos anos 70 e 80, o jogo o transporta a cenários clichês, mas de situações estranhas.

em 04/02/2016

Ir ao cinema e ver um bom filme de terror é algo cada vez mais escasso. A fórmula está cansativa. Tornamo-nos mais exigentes. Antigamente, quando o cinema ainda não era um fenômeno tão grande como hoje, com produções de altíssimo custo e arrecadações ainda mais altas, os filmes de terror costumavam seguir uma mesma linha. Um grupo de pessoas presas em um lugar onde havia algum assassino querendo matá-las por qual motivo que fosse. A fórmula não enjoava os espectadores, que amavam! Hoje vemos tudo com um olhar de admiração. Until Dawn é um belo exemplo de jogo que decidiu reviver esse gênero da velha maneira, mas Lakeview Cabin é outro a se inspirar nas décadas de 70 e 80 dos filmes de terror, apesar de mostrar do seu jeito mais bizarro, massacrante, confuso e do modo totalmente indie que bem gostamos.

Uma caixinha de brinquedos

Ao iniciar o jogo, não há menu, não há opções; há um jovem ,um mendigo com uma shotgun, dois trabalhadores e um cinema. Neste cinema, você já passa a entender como é Lakeview Cabin Collection, claramente composto por mais de um jogo. São três games com um quarto em preparação. No cinema, você pode entrar na sala que pretende, cada uma correspondente a um jogo. Um pequeno loading e pronto, começou.

O interessante desse início é que, desde o começo, o game já quer ensinar como jogar. Os controles são apresentados espontaneamente. Um tijolo está na sua frente, chegando perto, a tecla de ação é mostrada. Se quiser, é possível usar o mesmo objeto para atingir o mendigo. Mais adiante, uma porta e uma dica de como dar uma espiada. A visão não é agradável. “Os esgotos gritam para mim” escrito com sangue na parede ao lado de um cadáver. Não é uma frase vazia, pois deixa um mistério no ar. Qual foi a causa da morte? À medida que se explora o cenário, percebe-se que o próprio cinema, inicialmente só um lugar onde se poderia escolher os jogos, se revela tão jogável quanto, até com um assassino dentro dos esgotos. Maneira diferente de se começar um jogo, não é?


Em cada título, você tem o controle de quatro personagens metidos em alguma armadilha mortal, com um ou vários assassinos atrás deles. A missão é escapar, mesmo que sobreviva somente um. Cada jogo mostra situações singulares em locais diferentes. Em um, é preciso só matar os assassinos; em outro, é necessário buscar gasolina numa mansão repleta de seres bizarros para abastecer sua van. É bacana saber que há maneiras diferentes de chegar ao final dos jogos, já que as maneiras oferecidas estão todas dispostas. Mas nada fica claro, nada é entregue nas mãos: são as suas que devem vasculhar o suficiente para sentir algo palpável e útil para sua sobrevivência. A chave para tudo isso é a exploração.

Cadê o roteiro?

Cada jogo é curto o bastante para tomar somente cerca de meia hora para ser finalizado, ou seja, não precisa de tanto tempo se dedicando para concluir o objetivo de escapar vivo, certo? Não. Apesar de curtos, eles não são tão simples. Por mais evidente que seja o objetivo, as suas ferramentas não recebem sinalização alguma que ajude a identificá-las. Como já dito, nada é entregue nas mãos.

Com os quatro personagens disponíveis, não há alternativa que não seja caçar pistas de como solucionar os puzzles impostos. Uma porta com tábuas pregadas por cima? Um machado resolve isso. Uma chave numa prateleira bastante instável? Talvez reunir dois personagens pelados na cama resolva isso. Bem, é, resolve mesmo. É engraçado perceber como alguns puzzles são solucionados de modo tão inesperado. Uma transa. Uma ida à privada. É cômico e ajuda a relaxar. A nudez é livre e representada "fielmente" por pixels que não nos deixam ver além do que podemos imaginar. E digamos que nesse ponto de “falta de pudor”, o jogo representa uma considerável parcela de filmes de terror lançados, em que o caos não é desculpa para um momento mais picante.


Durante a exploração por objetos úteis que ajudem a bolar um plano de fuga, vem o tédio. Quase tudo é selecionável, e nem tudo é útil. Tentativas são feitas com frequência. Abrir armários, bolsas, caixas. Pegar caixas de remédio, armas de brinquedo, tijolos, sacos de lixo. Chega o momento em que tudo parece poder esconder algo por trás e oferecer a oportunidade de salvação, e o pensamento não é em vão. Há uma fase em que é necessário abrir cerca de 10 portas de salas semelhantes (e mortais), tentando achar algo que não se sabe o que é, até que, por um acaso, o que você procurava mas não sabia, é encontrado. Em outro jogo, a chave de um puzzle é o código Morse que a trilha sonora esconde.

O pessoal realmente se empolgou na produção e exagerou na dificuldade de certos desafios. A partir desses verdadeiros obstáculos impostos, o cansaço toma o lugar da diversão, e o jogador já não se encontra mais tão envolvido, tão engajado a continuar.


Encaixando peças de um quebra-cabeças

Um quebra-cabeça. A história por trás de Lakeview Cabin Collection se revela isso, um quebra-cabeça. As peças são dispersas e, de modo muito estranho, se ligam. Os três jogos disponíveis são interligados, e saber disso é uma surpresa tão grande por ser tão absurdo e confuso.


A teoria proposta pelo jogo é estranha e difícil de alcançar. Vídeos no YouTube chegam a tentar explicar, assim como textos na comunidade do Steam, mas parece não valer a pena perder tempo tentando entender o modo como os desenvolvedores pretenderam criar um universo que englobasse os jogos, que parecem se passar em locais diferentes, com assassinos diferentes. O mais certo é não pilhar com a ideia e continuar tentando jogar.


Olhando com os ouvidos

Alguns julgam a visão o nosso sentido mais importante, mas digamos que em Lakeview Cabin, o que foi levado a sério mesmo foi a audição. O trabalho de som foi ótimo. A trilha sonora adiciona momentos de tensão na hora certa, naquela em que o jogador parece mais vulnerável e estressado. A alusão aos filmes de terror das décadas de 70 e 80 também é notada nesse quesito. São sons que nos assustam do mesmo modo que assustaram nossos avós e pais. São músicas que remetem a tempos antigos, mas que provocam medo ainda no presente.


A parte visual não é desmerecida. Mais uma vez, a arte feita por pixels se mostra rica quando usada corretamente. Não nos cansamos. Além da beleza própria de elementos naturais, como árvores, ou de objetos humanos, como um quarto mobiliado, é bacana de se ver e tentar procurar com os olhos algo que não pode passar despercebido. O melhor é a combinação do gênero de terror com o pixel art. Com golpes, os personagens se enchem de sangue no corpo, e a expressão de dor é totalmente visível. A morte pode ser ainda mais “bela”. Um personagem morto todo mutilado e crucificado não é tão comum de se ver. Uma boa extravagância visual.


Um dia a vida dá lugar a morte

Sim, um dia isso acontece, mas garantimos que não é provável que seja como Lakeview Cabin retrata. Sua morte não vai ser consumada por um serial killer mascarado e com um ar totalmente aterrorizador. Pelo menos é isso que esperamos. O terror de Lakeview é eficiente em surpreender com o imediato. Os assassinos diversificados trazem desafios para que sejam detidos e amedrontam qualquer um antes que se tenha coragem o suficiente para enfrentá-los.



A trilha sonora contribui ainda mais para adicionar o clima de terror existente. Juntamente, a arte visual foi bem-feita no sentido de mostrar todo o cenário na sua atmosfera sanguinária. Ainda assim, as dificuldades que o jogo traz ao simplesmente jogar mostram que o game não é para qualquer um que aprecie um terror, mas que tenha paciência e perseverança.
A busca que o jogador necessita fazer para achar seu rumo não é tão fluida como deveria. Ao ver tantas opções, não fica nada claro o que se deve fazer para chegar ao final desejado. Talvez esse tenha sido o maior erro do jogo: dificultar a experiência do usuário com puzzles confusos. No final de tudo, o jogador se divertiu com os sustos, deleitou-se com a música, mas não conseguiu chegar onde queria, que era terminar o jogo. Complicado, não?

Prós

  • Mecânica simples
  • Muitas possibilidades de interação
  • Soundtrack arrepiante e envolvente
  • Desafios diversificados

Contras

  • Puzzles nada claros
  • Complexidade e falta de dicas geram confusão no que se deve fazer
  • História de fundo desconexa e mal contada
Lakeview Cabin Collection – PC – Nota: 7.0

Revisão: Henrique Minatogawa
Capa: Felipe Araújo

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