Análise: Punch Club (PC) é retrô e repetitivo

Mergulhado em uma atmosfera retrô, o jogo mistura várias referências à cultura pop com um gameplay que une elementos de RPG com gerenciamento de personagem.

em 22/01/2016
Em busca de vingança contra o assassino de seu pai, um jovem lutador procura se tornar o campeão mundial, ao mesmo tempo em que investiga o misterioso crime. Partindo dessa premissa, Punch Club (PC) coloca o jogador na posição de controlador de todos os aspectos da vida do personagem, desde a alimentação até seus relacionamentos, quase como um The Sims, mas com muita pancadaria.

Punch Club foi desenvolvido pela russa Lazy Bear Games e nasceu de uma GameJam. O título flerta bastante com os anos 1970 e 1980, pois existem várias referências a filmes dessas épocas durante a campanha, desde do cartaz do filme “Rocky” no porão da casa do protagonista, até um certo “Don” que o emprega momentaneamente.

Briga retrô

Logo de cara, um dos maiores pontos positivos de Punch Club se destaca: os belos gráficos pixelizados. Bem detalhados e atraentes, os cenários e personagens do jogo possuem um charme singular, pois remetem bastante aos jogos do Super Nintendo. No menu, inclusive, existe uma opção chamada “retrô”, que deixa o jogo com algumas listras na tela, aumentando a imersão no clima proposto pela história.

Após iniciar o jogo, o jogador dá nome ao personagem e é jogado diretamente na história. Infelizmente, não há qualquer opção de customização, algo bastante frustante, tendo em vista que existem vários modelos interessantes entre os personagens. A história é contada por meio de algumas poucas e rápidas cutscenes, além de diálogos com NPCs importantes. O ritmo é rápido e logo o jogador está em busca de se tornar vencedor da liga local. Os rumos tomados pela história, entretanto, são pouco atraentes, fazendo com que perca a importância com o passar da trama.

Apesar da trama principal ser lenta, existem vários outros eventos espalhados pela cidade que podem chamar a atenção do jogador, como participar de brigas de rua, entregar pizzas para ganhar dinheiro e até mesmo virar um criminoso. Algumas são obrigatórias e outras optativas, mas todas dão bônus e benefícios interessantes ao jogador. 

O áudio não recebeu o mesmo tratamento atencioso dado aos gráficos e acaba se tornando repetitivo com o passar do tempo. Apesar de variar em algumas situações pontuais e possuir algumas músicas empolgantes, elas se repetem excessivamente. Tirar o som do jogo pode acabar sendo a única saída para alguns jogadores.

Vida de lutador

Assim que o jogador toma controle do personagem, o pequeno mapa da cidade é liberado e se pode escolher para qual ambiente o lutador irá se deslocar, como uma mercearia, a academia ou sua casa. Todos os comandos são realizados pelo mouse, havendo uma interação mínima com o teclado. É nesse momento que o aspecto de gerenciamento de tempo e do personagem toma de conta da experiência. O personagem possui quatro status diferentes: vida, fome, alegria e energia, que devem ser trabalhados separadamente para manter o lutador em boa forma. Caso ele fique triste, seus treinos darão menos resultado e baixa energia irá diminuir sua performance na luta, por exemplo.

Punch Club funciona com um sistema de dias. Existe um relógio e cada atividade desempenhada pelo personagem demandará tempo, seja para se locomover de um ponto a outro ou os períodos em que passa treinando. O tempo também influencia na quantidade de fome e energia, logo, é preciso uma ponderação por parte do jogador sobre como ele irá administrar o personagem.

Logo que os treinos começam, o jogador precisa focar nos três elementos que compõem as características do lutador: força, agilidade e vigor. Cada uma delas é responsável pelo dano dado pelos golpes, a frequência com que o personagem pode desviar dos ataques e sua resistência a danos, respectivamente. Para evitar que o jogador passe tempo demais treinando seu personagem, o jogo sugere ao jogador que desenvolva, no máximo, dois desses atributos.

Durante as primeiras horas de Punch Club, o jogador buscará treinar e fortalecer seu personagem o máximo possível, mas como o lutador ainda está no início da carreira, ele precisará de um emprego para comprar comida e pagar o acesso a academia se quiser se fortalecer. Contudo, é nesse momento em que surge o maior defeito do jogo: a perca de atributos com o passar do tempo. Ao final de cada dia, o personagem perde um determinado valor dos atributos que possui. Dessa forma, ele precisará treinar bastante para que consiga se desenvolver, o que acaba deixando a experiência excessivamente repetitiva, pois o personagem precisa dormir, se alimentar e trabalhar e tudo consome tempo. Logo, os dias ficam mais curtos e o lutador perde mais atributos do que ganha. Para exemplificar: enquanto jogava, meu personagem ganhou 220 pontos de agilidade, mas perdeu 160 de um dia para o outro. 

 Esse aspecto da jogabilidade é compreensível, pois procura fazer com que o jogador se envolva mais com o personagem, mas acaba por atrasar bastante o restante do jogo e parecendo uma forma fajuta de aumentar a longevidade do título. Em níveis mais avançados, é possível passar mais de uma hora desenvolvendo um atributo antes de lutar, o que deixa a experiência extremamente maçante, acabando com o fator viciante do jogo.

Estratégia no combate

A cada final de luta, o personagem ganha alguns pontos de experiência. Esses pontos são distribuídos em uma árvore de habilidades, com quatro vertentes de desenvolvimento: básicos, caminho do urso, caminho do tigre e caminho da tartaruga, Para desbloquear os caminhos, o jogador precisa liberar os pontos respectivos na árvore básica. A cada nova atualização, o item seguinte se torna mais caro, o que limita o jogador a explorar apenas um dos caminhos por vez, aumentando o fator replay do jogo. Em cada uma das árvores, existem skills e golpes exclusivos, que se adaptam a variados estilos de jogo, dos mais agressivos aos mais pacientes.

O combate em Punch Club funciona da seguinte forma: o jogador seleciona quais habilidades o personagem utilizará no combate. Quando estiver pronto, a luta se inicia e o lutador age sozinho. A escolha desses golpes é fundamental para o desenvolvimento da luta, pois podem virar o jogo caso o personagem esteja em desvantagem. Se o adversário gasta energia demais durante o combate, o lutador mais descansado poderá utilizar isso a seu favor e nocauteá-lo, virando o combate e ganhando o jogo. Essa dinâmica é muito bem realizada e jogadores experientes certamente conseguirão criar combos devastadores.

Luta cansativa

Apesar da ótima atmosfera criada, da caracterização dos personagens e referências divertidas, Punch Club acaba por ficar excessivamente repetitivo e cansativo com o passar do tempo. A campanha pouco motiva a jogador a continuar, o que diminui ainda mais o interesse no jogo. Jogadores pacientes e determinados certamente irão se divertir com o título, mas desde que aguentem as infinitas horas de treino.

Prós

  • Visual e clima retrô;
  • Diversificação das estratégias de combate.

Contras

  • Repetitivo ao extremo;
  • Desbalanceamento entre tempo treinando e quantidade de lutas;
  • Trilha sonora pouco variada;
  • História fraca.
Punch Club — PC — 6,0
Revisão: Gabriel Verbena
Capa: João Gilberto Melo

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