Análise: Volume (Multi) e a aventura de um Robin Hood moderno

Do mesmo criador de Thomas Was Alone, jogo reaproveita mecânicas de Metal Gear Solid em uma combinação de stealth e puzzle.

em 28/01/2016

Misturar Robin Hood com Metal Gear Solid não é tão estranho quanto parece e Volume está aí para provar. Lançado em 2014 para PC e PS4, o game feito por Mike Bithell chega ao PS Vita. Afinal, assim como Thomas Was Alone (Multi), trata-se um jogo feito com um orçamento bem curto — cerca de £30 mil, contra os £5 mil de Thomas. Dentro de suas limitações, Volume é um ótimo jogo e cumpre o que propõe.

As formas poligonais ajudam a passar a impressão de um mundo virtual.

Solid Snake ou Robin Hood?

Volume é o nome de um aparelho usado para simular roubos e treinar tropas para invadir locais. O protagonista Robert “Rob” Locksley encontra o computador e decide fazer um “Let’s Play”, transmitindo na internet suas tentativas de superar as simulações. Sua companhia é Alan, a inteligência artificial que comanda o programa. Aos poucos, ele começa a chamar a atenção de Guy Gisborne, o presidente de uma corporação que dominou a Inglaterra. Gisborne tenta achar e capturar Rob, enquanto este começa a inspirar as pessoas a lutar contra a corporocracia. A luta de Robin Hood de Locksley lutando contra Guy de Gisbourne é uma das histórias mais famosas do lendário fora-da-lei inglês.

Essas simulações são feitas no mesmo estilo que o treino VR de Metal Gear Solid. Não é por acaso, pois o clássico do stealth action foi inspiração para Volume em vários aspectos. Bithell afirma que passou boa parte da adolescência jogando Metal Gear Solid e acha que os jogos mais atuais passam a mesma experiência. Dessa forma, tudo o que vemos em Volume é familiar.

A visão aérea mostra Rob e boa parte do cenário, com texturas que deixam claro que tudo é um holograma. Temos que navegar pelo mapa para coletar diamantes, que irão abrir o portal para terminar a fase. Claro, não é tão simples. Existem diversos tipos de inimigos e todos trabalham com um campo de visão, que varia de acordo com o inimigo. Ser visto pelo inimigo fará com que ele tente te eliminar. Não há barra de vida. Se tomar um tiro ou um golpe, já era.

Não temos armas, então o jeito é fugir (ou recomeçar do checkpoint).
Felizmente, os desafios não frustram o jogador. Há muitos checkpoints espalhados em cada estágio e não existe uma penalidade ao ser visto, exceto pela possibilidade de morrer. Na verdade, deixar um inimigo te encontrar pode ser útil em alguns trechos. Cada fase tem itens necessários para conseguir avançar. Essas ferramentas vão do básico “faça um som para atrair o soldado” até os mais apelativos, como ficar invisível ou se disfarçar como um deles. Não há nenhum tipo de arma que elimine os soldados, no máximo temos o Blackjack, que deixa um guarda tonto por alguns segundos.

O modo história é composto por 100 fases, de dificuldade crescente. Devo tirar o chapéu para Bithell e sua equipe, pois souberam transformar as fases em uma escalada perfeita. Nunca há um trecho que, de repente, fica muito mais difícil do que o estágio anterior. Cem fases parece muito. No entanto, o jogo foi feito para estimular as tentativas de terminar o mais rápido possível. Um nível só vai durar mais do que dois minutos se o jogador estiver muito perdido, distraído, ou usando uma ferramenta várias vezes para ganhar uma conquista/troféu.

A minha jornada através de Volume durou uma tarde inteira. Oito horas foram suficientes para jogar as 100 fases e ainda correr atrás dos outros troféus, tudo com muita tranquilidade. Acredito que seja o troféu de platina mais fácil que já consegui.

O editor de fases é bem completo, mas deveria usar a tela touchscreen do PS Vita.

Quer tentar de novo, Rob?

Metal Gear foi base para mais um aspecto de Volume. Em The Document of Metal Gear Solid 2, vídeo que acompanha MGS2: Substance, Hideo Kojima conta como usou peças de Lego para desenhar as fases. Bithell assistiu ao documentário e trouxe algo parecido para o jogo. Temos um sistema de criação de estágios. O editor pode recriar tudo o que foi visto no modo história. Depois de terminar sua obra-prima, o jogador precisa completar a fase uma vez para poder enviar para os servidores e disponibilizar com o resto do mundo. Existe até uma aba com as melhores fases escolhidas pela equipe responsável pelo jogo.

O baixo orçamento fica óbvio por algumas falhas de programação. Volume foi o primeiro jogo que eu vi travar no PS Vita. Isso aconteceu três vezes durante as fases e duas nos menus. Às vezes, quando tentamos ler um dos textos espalhados pelos estágios, perdemos completamente o controle de Rob, obrigando o jogador a reiniciar do último checkpoint. Outras vezes, não conseguimos pegar um item ou ler o texto. Até o menu principal sofre, com respostas lentas.

Com tantas fases e opções, o menu deveria ter sido melhor planejado (e sem lentidões).
Jogar no pequeno PlayStation não é tão bom assim. Na hora de mirar uma das ferramentas, temos que brigar com a sensibilidade alta do analógico direito e não tem como alterar o nível de resposta. Usar o editor de fases parece uma oportunidade perdida, por não fazer uso da tela sensível ao toque. Se a versão para o portátil da Sony já havia sido adiada para ajustes, poderiam ter aproveitado para adicionar o uso do touchscreen.

A história, embora tenha um conceito interessante, é mal contada. Os personagens falam durante a jogatina, então você tem que dividir a atenção entre prestar atenção no que é dito e desviar dos guardas. São poucas cutscenes e elas só aparecem na segunda metade do jogo. Rob, Alan e Gisborne são bem dublados, com destaque para o trabalho feito por Danny Wallace no papel de Alan. Wallace foi a voz de Shaun Hastings na série Assassin’s Creed e era o narrador em Thomas Was Alone.

Volume ainda não acabou. Existe a promessa de continuar a evoluir o jogo, baseado na resposta da comunidade. Este ano teremos a expansão Volume: Coda, com mais 30 fases. Está sendo criada pensando no PlayStation VR, mas o equipamento não será obrigatório. Espero que cumpram o prometido e resolvam as pequenas falhas.

Nem sempre é fácil atrair um guarda para longe de seu posto.

Considerações finais

Se você gosta de jogos stealth e tem alguns trocados sobrando na PSN ou Steam, Volume é uma ótima escolha. Não é muito longo, então jogue em pequenas doses, senão, quando perceber, ele já terá roubado algumas horas. No caso do PS Vita, você pode substituir as revistinhas da Turma da Mônica no banheiro por um portátil com Volume e não irá se arrepender.

Prós

  • A dificuldade foi bem escalonada;
  • Fases bem pensadas e variadas;
  • Dá para criar estágios e compartilhar na internet.

Contras

  • Poderia fazer uso da tela touchscreen do Vita;
  • Bugs e glitches podem travar o jogo;
  • O enredo é tão mal contado que é melhor ignorar;
Volume — PC/PS4/PSVita — Nota: 8,0
Versão utilizada para análise: PS Vita 

Revisão: Vitor Tibério
Capa: João Gilberto Melo 

Jornalista formado na FIAM-FAAM, escreve sobre suas três paixões: games, carros e cultura pop. Assinou textos para Nintendo World, Banana Games, Car and Driver, iG Carros e agora passa os dias falando de carros no Motor1.com Brasil.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.