Análise: Resident Evil Zero HD Remaster (Multi) mostra o terror antes da mansão

O clássico da maior série de survival horror retorna mais belo do que nunca.

em 18/01/2016
A Capcom revolucionou o mundo dos jogos em 1996 com o lançamento de Resident Evil, que popularizou o gênero survival horror. A busca da equipe Alpha da S.T.A.R.S. pelos membros desaparecidos da equipe Bravo, que levou os poucos sobreviventes à mansão mais famosa dos games, marcou gerações e deu início a uma das franquias mais bem-sucedidas dos videogames e também do cinema.


Resident Evil Zero, lançado originalmente para GameCube e mais tarde contando com um port para o Wii sem muitas alterações, tem como objetivo contar o que exatamente aconteceu com a equipe Bravo e o que Rebecca Chambers enfrentou antes de chegar à mansão do primeiro jogo. Os fãs também apreciarão as interações entre Albert Wesker e William Birkin, vilões dos dois primeiros jogos da série. A versão Resident Evil Zero HD Remaster, criada para PC e os consoles da Sony e da Microsoft, dá uma nova chance àqueles que não tiveram a oportunidade de experimentar este jogo anteriormente por estar limitado a consoles da Nintendo.

Uma experiência sem muitas alterações

O jogo em si não sofreu grandes mudanças. O gameplay envolve o controle de dois personagens simultaneamente, o que na época era uma grande novidade. O jogador pode alternar o controle sobre Rebecca, mais frágil mas com a habilidade de misturar ervas de cura, e Billy Coen, mais resistente, com o pressionar de um botão. Ao controlar um deles, é possível enviar comandos simples para o outro personagem, como ordens para ficar parado ou seguir, ou se ele deve atirar nos inimigos próximos ou não. É possível deixar o outro personagem sozinho, mas é importante sempre contar com armas e balas em seu inventário, pois, se ele for atacado e morrer nesse meio-tempo, ocorre um game over. Caso o jogador esteja distante do segundo personagem e este receber danos, um chamado de socorro pelo walkie talkie é feito e o jogador pode escolher entre levar o personagem atual até o outro para salvá-lo ou simplesmente trocar o comando para controlá-lo diretamente.
O primeiro jogo da série a oferecer dois personagens controláveis ao mesmo tempo.
Uma das grandes mudanças com relação aos jogos anteriores é a ausência dos baús de inventário. Desde o primeiro jogo até Code: Veronica havia baús espalhados pelo jogo, onde era possível depositar itens e retirá-los em qualquer outro baú. Em Resident Evil Zero não há mais esta opção; a alternativa é deixar os objetos no chão em qualquer lugar desejado. Por um lado, isso dá um toque de realidade ao jogo e permite que o jogador possa liberar espaço no inventário sem precisar voltar a um baú, mas, por outro lado, exige mais retornos a áreas anteriores para recuperar os itens necessários. Quando os dois personagens estão próximos, é possível transferir itens dos inventários diretamente de um para o outro.
Vários itens espalhados pelo chão.
Resident Evil Zero é considerado um dos mais difíceis dos jogos clássicos da série. Considerando os inimigos resistentes como o Leech Zombie ou rápidos como os macacos infectados e da fragilidade de Rebecca e impossibilidade de levar muitas armas, já que as mais fortes ocupam duas posições no inventário, além da dificuldade inerente do sistema de saves e falta de checkpoints comuns nos jogos atuais, o nível de habilidade exigido para esse jogo pode assustar os mais inexperientes. Felizmente, o game disponibiliza três níveis de dificuldade, sendo que no Easy os danos são bem menores e há mais munição e itens de cura espalhados pelos cenários.

Beleza em alta definição

O grande chamariz deste remaster são os cenários em alta definição. Antigamente os jogos da série utilizavam cenários pré-renderizados, o que significa que eles não eram 3D em tempo real. Por causa disso, aumentar a resolução deles foi um processo ainda mais complicado, já que cada imagem devia ser tratada separadamente. Felizmente, a Capcom fez um ótimo trabalho. Todos os cenários ficaram muito bonitos e é difícil notar que eram imagens em baixa resolução. Ao contrário dos cenários de Resident Evil HD Remaster, em que algumas áreas do jogo como o subterrâneo deixavam à mostra certo desleixo, neste game em nenhum momento isso ficou aparente.
Todos os cenários receberam atenção especial.
Assim como no remaster do primeiro jogo, é possível escolher manter a proporção original do jogo de 4:3 com barras pretas nas laterais, ou tornar o jogo widescreen. Neste segundo modo, o jogo recebe um zoom, fazendo o cenário ocupar a tela inteira, e um pequeno deslocamento para cima ou para baixo acontece dependendo da posição do personagem na tela. Em raros momentos a segunda opção me causou certa confusão, já que alguns itens se localizam no topo ou na base da tela e é necessário que o personagem faça a tela se deslocar um pouco para que elas fiquem visíveis.

Mesmo com os cenários pré-renderizados, alguns itens do jogo são em 3D em tempo real, com o exemplo mais óbvio sendo as portas utilizadas nas animações ao passar de um cômodo para outro. Além delas, outros itens nos cenários que são animados, como elevadores, também são em 3D. A resolução de suas texturas foram ampliadas, que faz com que em boa parte deles não seja notada a diferença entre os modelos 3D e os cenários pré-renderizados. Nas animações das portas que fazem com que elas sejam vistas bem de perto, contudo, além de um item ou outro de cenário por causa do mesmo motivo, é possível ver a diferença em relação às belíssimas artes usadas nos cenários.
É possível ver a diferença das portas em 3D com as mesmas pré-renderizadas.

Controle para puristas e fãs mais recentes

Outra adição vinda de Resident Evil HD Remaster são os controles. No modo alternate, o direcional se comporta de maneira semelhante aos jogos 3D pós Nintendo 64, fazendo o personagem se deslocar para a direção pressionada, tornando os controles mais prazerosos para aqueles desacostumados com a jogabilidade antiga. Apesar disso, os controles clássicos no "estilo tanque", em que apertar para os lados rotaciona os personagens e para cima e para baixo os fazem andar para frente e para trás, também se encontram presentes, satisfazendo os puristas.

Sobre os controles, há algo que realmente incomodou. Enquanto os controles pelo teclado são completamente configuráveis, os por joystick se limitam a cinco configurações pré-determinadas pela Capcom. O problema é que nenhuma delas é semelhante aos controles de Resident Evil HD Remaster. Por causa disso, aqueles acostumados com o primeiro jogo, como eu que o joguei recentemente, têm que se adaptar aos comandos diferentes. Várias vezes troquei de personagem quando queria abrir o inventário, ou abri o inventário quando na verdade queria correr. Podermos configurar os botões, ou pelo menos termos a opção de uma configuração mais semelhante ao do primeiro jogo, seria muito mais confortável.
Várias opções de controle, mas não o suficiente.

Jogue na pele do maior vilão da série

A maior novidade é o Wesker Mode, liberado depois que o game é terminado uma vez. Nele, Wesker substitui Billy durante todo o jogo e Rebecca usa uma skin exclusiva com roupa preta e olhos vermelhos como os de Wesker. A maior parte das alterações são cosméticas, já que a quantidade de danos recebida por ambos permanece a mesma, itens não são alterados de qualquer forma, as cenas em CG mostram Billy, e, em cutscenes, as vozes também são de Billy ao invés de Wesker. Além de alguns detalhes como curtas falas na voz do próprio Wesker durante o gameplay, o que muda realmente é a adição de duas habilidades para o vilão, sendo a primeira um forte ataque a distância chamado Death Stare que pode ser carregado para aumentar sua potência, e a segunda, uma corrida veloz chamada Shadow Dash.

Enquanto que a utilidade do Shadow Dash é questionável por não derrubar inimigos e pelos corredores pequenos e apertados do jogo, além de sua ativação muitas vezes acidental, o Death Stare é uma habilidade interessante para aqueles que já zeraram o jogo e querem uma partida com menos preocupação em economizar munição. Apesar de não substituir completamente as armas mais fortes, por causa de uma pequena demora na sua ativação que a torna pouco aconselhável para inimigos mais rápidos ou situações de emergência, sua força a torna útil para inimigos comuns e até mesmo chefes. Explodir cabeça e membros de zumbis com a olhada mortal é especialmente satisfatório. Infelizmente, apesar da aparência alterada de Rebecca com olhos vermelhos, ela não possui as habilidades de Wesker. Portanto, jogar com ela neste modo não é diferente de jogar com ela no modo normal.
Wesker é acompanhado por Rebecca com uma skin exclusiva.
Outra novidade são novas skins para ambos os personagens, algumas sendo bônus de pré-venda que provavelmente serão futuramente vendidas como DLC. Também há camisetas feitas por fãs para Rebecca, vencedores de um concurso promovido pela Capcom em que o público escolheu quais estampas entrariam no jogo. Além destas skins, aquelas disponibilizadas no jogo original continuam presentes.
A piada feita no primeiro jogo é sempre lembrada pelos fãs.

Um ótimo jogo ignorado por muitos

Um dos mais ignorados jogos da série finalmente pode ser aproveitado por um público maior. Mesmo não cumprindo sua promessa original de revelar a maioria dos mistérios dos primeiros jogos da série, possui um enredo interessante para os fãs, inclui visitas rápidas a locais presentes em Resident Evil 2, e a dinâmica entre dois personagens foi uma novidade interessante para uma série que estava caindo na mesmice. Mesmo não tendo a mesma fama dos jogos que cronologicamente vieram depois, merece ser jogado por fãs do gênero.

Prós
  • Belos cenários em alta definição;
  • Jogabilidade clássica baseada em survival horror;
  • Dinâmica de dois personagens mais interessante que em jogos posteriores;
  • Enredo envolve Wesker, Birkin, e explica acontecimentos do primeiro jogo.
Contras
  • Controles diferentes do remaster do primeiro jogo;
  • Falta dos baús causa retornos excessivos a áreas anteriores;
  • Fragilidade excessiva de Rebecca nos modos Normal e Hard;
  • Modo Wesker é divertido mas não traz grandes novidades.
Resident Evil Zero HD Remaster — Multi — 8.5
Revisão: Bruno Alves
Capa: Daniel Serezane 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.