Análise: Final Fantasy VI (PC/Mobile) volta a dar as caras com um novo estilo

Aventure-se em seu celular ou computador para explorar essa releitura do clássico RPG que mudou paradigmas no SNES

em 10/01/2016
Final Fantasy VI é meu jogo favorito da famosa franquia japonesa de RPG. Eu o joguei várias vezes desde que ele foi lançado para o SNES no distante ano de 1994, assim como também o aproveitei nas versões lançadas para PlayStation e GBA. Um novo port foi lançada em 2014, com várias alterações e voltada para celulares, mas essa versão acabou não tendo tanta repercussão. Em 2015, porém, ela foi adaptada para computadores e distribuída via Steam, facilitando o acesso de uma enorme base instalada de usuários que agora podem desfrutar desse clássico ou experimentá-lo pela primeira vez. Mas será que vale a pena?


Caminhos da neve

Tudo começa com dois soldados conversando na neve, utilizando enormes armaduras mecânicas para se locomover. Existe uma terceira pessoa na conversa, uma quieta garota de cabelos verdes. Ela não chega a falar nenhuma palavra, e os soldados explicam que isso acontece graças a uma lavagem cerebral sofrida pela garota, que agora está sob total domínio deles. Rapidamente os três continuam a marchar em direção a uma cidade, em busca de algum artefato ou ser mágico, escavado sem querer pelos mineiros locais, que interessa a seus superiores. Não me canso de ver a cena inicial de Final Fantasy VI, e olha que, nas primeiras vezes, não entendia nada do que estava escrito na tela.
Outros personagens como Edgar e Locke não demoram a entrar em cena


Uma das vantagens iniciais desse novo port é o fato de estar totalmente traduzido para o português; finalmente um reconhecimento da existência dos jogadores brasileiros. Isso, combinado com o fato de que todos os dialogos foram traduzidos a partir da versão japonesa da história em vez dos textos norte-americanos do SNES, facilita enormemente nosso entendimento da complexa trama do jogo. Esse ponto é importante, pois a tradução original para o SNES foi bem malfeita na época, mudando o sentido de diversas partes da história, nomes de itens e até mesmo dos golpes especiais, graças a censura de temas mais complexos ou palavras de conotação religiosa.
A tradução ficou ótima, já que adaptaram até expressões coloquiais

Visual renovado ou piorado?

O fator que causa maior estranheza quando comparando com quem jogou a versão original acaba sendo os gráficos. Os cenários de fundo ficaram bonitos em alta definição, porém os sprites foram bastante alterados: foram redesenhados e retrabalhados em uma espécie de versão “super-deformed” ou “chibi” dos personagens. Essa versão não foge tanto da arte original, no entanto, pois foram feitos por Kazuko Shibuya, o mesmo artista que trabalhou nos sprites da versão de SNES.
Essa arte de Kazuko ainda para a versão de SNES foi a base do novo modelo de personagens


Porém, apesar de estarem em alta definição, tanto os personagens quanto os planos de fundo parecem ter sido pouco trabalhados, ficando com falta de proporçao ao serem aplicados no jogo, que utiliza um filtro gráfico bem simples que retira uma infinidade de detalhes dos personagens. Isso poderia ser facilmente corrigido com um pouco mais de dedicação dos programadores, o que melhoraria bastante o visual apresentado. Tal discrepância é pouco visível nos celulares devido ao tamanho da tela, porém fica gritante no PC. Veja a comparação na imagem abaixo:
Enquanto o remake tira o serrilhado do personagem, também tira os detalhes. Isso podia ter sido corrigido ao filtrar a imagem.


Outra adição gráfica dessa versão foi o fato deos personagens ganharem pequenos retratos no campo de texto enquanto estão interagindo em alguma conversa. São bem úteis para que você não se perca no ritmo de uma conversa mais longa ou complexa. Esses retratos já existiam no jogo original, porém somente no menu de jogo. Eles foram redesenhados baseados na arte conceitual criada por Yoshitako Amano para o lançamento original, que também foi responsável por esses desenhos para diversos outros jogos da franquia.

Equilibrio e ruina

A versão para celulares ganhou uma adaptação razoável de jogabilidade. Os comandos ficam agregados em uma barra inferior, que vão subindo conforme chega o turno do personagem. É fácil de entender e retira de sua visão as barras ATB que marcavam a chegada de turnos. Alguns comandos especiais, como Blitz, de Sabin, exibem um teclado em toda a tela com as direções para você enviar os comandos facilmente. Já as técnicas de espada de Cyan ganharam o nome de Bushido e retiraram a barra de carregamento da tela. Muito útil para uma tela limitada.

Infelizmente, não houve um retrabalho disso para a versão de computadores. Fica meio tosco jogar com os menus resumidos da mesma maneira em uma tela maior. Pelo menos alteraram a questão dos Blitz de Sabin, e as setas dos comandos se limitam a aparecer em volta do personagem e não ocupar toda a tela.

Se você era fã das risadas maléficas de Kefka ou das divertidas músicas de sua trilha, por outro lado, não vai ter problemas com esse port. Elas continuam por aqui na sua melhor forma, temdp até mesmo subido do nível, já que a equipe adaptou os áudios originais em frequências mais altas.

Aposta certeira

A história aqui chega a explorar alguns temas pesados, como gravidez na adolescência, suicídio e religiões extremistas, tópicos raros de se ver durante a década de 1990 e que os roteiristas da Square souberam explorar muito bem. Retrabalhar o roteiro pelos textos originais ficou muito bom, e mesmo jogadores veteranos conseguirão enxergar certos fatos de maneira diferente com isso. E, para tornar o jogo mais fácil, o jogo dá dicas de quais caminhos devem ser seguidos ou então para qual local avançar de forma a dar sequência na história. Útil para que o jogador não se perca após ficar algum tempo sem jogar. Não se engane, contudo: Final Fantasy VI nunca foi um jogo fácil. Alguns monstros nas dungeons finais podem dizimar seu grupo, mesmo com você tendo um nível mais alto.
As cenas cômicas continuam lá, pode ter certeza.

Essa versão Final Fantasy VI está disponível para celulares iOS e Android em suas respectivas lojas online, além de para computadores via Steam. Apesar do visual gráfico afastar algumas pessoas logo de cara, sua jogabilidade e a incrível história compensam muito qualquer uma de suas falhas, principalmente se você nunca chegou a jogar esse sexto episódio. Vale muito a pena comprar caso esteja em um preço camarada. Pode não ser a versão definitiva do jogo, porém é a oportunidade mais acessível de experimentar o título que briga com Final Fantasy VII pelo troféu de melhor jogo da série.


Prós
  • Totalmente traduzido em português;
  • História retrabalhada a partir do roteiro original, sem censuras;
  • Áudio fidedigno ao original e com frequência ainda melhor.

Contras
  • Gráficos mal-trabalhados;
  • Pouco foco na adaptação do jogo para PC.

Final Fantasy VI — PC/Mobile Nota 8.5


Revisão: Bruno Alves
Capa: Peterson Barros

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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