O primeiro jogo da série foi lançado no ocidente inicialmente apenas para PSP em março de 2011. Mesmo com os diversos elogios ao game, sendo comparado a clássicos como Grandia e Suikoden, suas vendas foram baixas. Entre as possíveis explicações para o fracasso, há o fato dele ter sido lançado no fim da vida do portátil no ocidente e até mesmo o nome considerado genérico. Todo o árduo trabalho, incluindo a editora Jessica Chavez ter trabalhado 14 horas por dia, 6 dias por semana, durante 9 meses, não foi recompensado e tanto a Falcom quanto a XSEED pensavam que não seria viável continuar a localização da série.
Como o primeiro jogo acaba em um suspense, os fãs insistiam pela sequência. Porém, depois de gastar tanto tempo e dinheiro com um jogo que falhou nas vendas, e com a sequência possuindo o dobro do tamanho, a XSEED não estava disposta a continuar com o projeto.
Ainda em 2011, Andrew Dice, co-fundador da Carpe Fulgur, ofereceu ajuda à XSEED para a localização de alguns jogos. A empresa foi bem-sucedida na tradução de Recettear (PC), vendendo mais de 100 mil cópias, e Trails in the Sky Second Chapter parecia uma opção perfeita. Depois de algumas negociações, as companhias entraram um acordo e Carpe Fulgur cuidaria da tradução enquanto a XSEED convenceria a Falcom a abrir o código e implementar o novo texto na versão de PSP.
Pelo fracasso do primeiro jogo, a Falcom se mostrou avesso à tradução de Second Chapter. A XSEED e a Carpe Fulgur fizeram um acordo não oficial, assim a Carpe Fulgur começou a trabalhar na tradução na esperança de que em breve a Falcom percebesse que lançar a série para o PC seria a melhor opção.
Dois anos se passaram e nenhum contrato foi firmado. Isso fez com que o progresso da tradução feita por Andrew Dice fosse lenta e inconstante, já que ele não sabia nem se o jogo seria lançado. Felizmente, por causa de uma sequência de sucessos da XSEED no PC, incluindo Ys Origins (PC), a Falcom finalmente cedeu e The Legend of Heroes: Trails in the Sky Second Chapter foi anunciado para o final de 2014.
O que deveria ser algo bom, revelou vários problemas. Os arquivos criados por Dice e seu sócio Robin Light-Williams estavam em um formato diferente do utilizado pela XSEED. Isso forçou Jessica Chavez a passar dois meses copiando e colando textos para o formato correto, entre outras correções. Além disso, apenas 50% do texto estava traduzido até então, o que fez a XSEED indagar por que a tradução não estava completa depois de dois anos.
O maior complicador, no entanto, foi que a tradução da Carpe Fulgur utilizava termos, conceitos e nomes diferentes daqueles utilizados na tradução do primeiro jogo, o que era inaceitável aos olhos da XSEED, já que a série possui um mundo consistente em que histórias e personagens são referenciados em todos os jogos.
O sentimento de fracasso levou Dice a um estado de depressão profunda, doença que ele já combatia desde a adolescência. Isto atrapalhou ainda mais seu progresso na tradução do jogo e ele começou até mesmo a ignorar os emails de Jessica Chavez, aumentando o estresse por parte de todos, principalmente de Chavez e seu sócio Light-Williams.
Esta situação o levou a uma atitude desesperada — em março de 2014, depois de fazer um cheque com o valor total de sua parte na empresa e deixar no apartamento de seu sócio, ele voltou ao seu próprio apartamento, fechou todas as janelas, deitou em sua cama, e apontou uma faca para seu próprio peito. Ao começar a empurrar a lâmina em direção ao seu coração, Light-Williams batia desesperadamente em sua porta. Dice decidiu que ele merecia pelo menos uma explicação. Light-Williams acabou convencendo seu sócio a desistir de tirar sua própria vida. Mais tarde, Dice desabafou sobre o ocorrido no blog da empresa.
As empresas cancelaram o acordo, e a Carpe Fulgur passou todo o trabalho feito até então para a XSEED, que cuidaria do restante. A tradução estava feita, mas a parte de edição, que adiciona personalidade para os personagens entre outros detalhes, estava apenas 50% terminada. Apesar do lançamento marcado para o final de 2014, logo ficou claro que isso seria impossível. Chavez levou mais meio ano para terminar a edição. É estimado que a o script tenha cerca de 716.401 palavras, sendo que para efeito de comparação, a trilogia completa de O Senhor dos Anéis possui 455.125 palavras.
Em janeiro de 2015 a edição estava pronta, e em março terminaram de implementar os textos no jogo. Depois disso, durante meio ano foi feito um rigoroso controle de qualidade, quando vários bugs ainda foram descobertos e a consistência dos nomes e terminologias foi confirmada. Esta etapa foi ainda mais demorada porque a versão de PSP precisava passar pela Falcom, que esteve bastante ocupada neste ano.
Entre os bugs, havia textos que aumentavam de tamanho. |
Em 29 de outubro de 2015, The Legend of Heroes: Trails in the Sky Second Chapter finalmente foi lançado para PC e PSP. Todas as dificuldades envolvendo as traduções dos jogos da série levaram a XSEED a temer a "a maldição de Kiseki", sendo que Kiseki é o nome de Trails in the Sky no Japão.
Como curiosidade, a XSEED anunciou no Twitter que ao contrário da versão de PSP do primeiro jogo da série, o lançamento da versão de PC, que aconteceu em 2014, foi um sucesso. Segundo a empresa, foi o mais bem sucedido lançamento da empresa para PC.
Fonte: Kotaku