Das telonas para os consoles, dez filmes que influenciaram os videogames

Do espaço sideral às corridas de rua; grandes filmes criam febres, tendências e conceitos muitas vezes aproveitados pelos jogos.

em 22/11/2015
A relação entre cinema e videogames não fica restrita somente aos jogos baseados em longas ou o inverso. Filmes de sucesso de crítica, de público, ou ambos, criam toda uma atmosfera, ou digamos, uma febre, por causa de determinadas características que eles apresentam aos espectadores. Na ânsia de viver aventuras interativas tais como as vistas nas telonas, muitos deles recorrem aos jogos para se divertir. Desde seu início, a indústria dos videogames soube captar e desenvolver seus produtos de acordo com essas modas e tendências de temáticas.


Conheça agora alguns dos filmes que mais influenciaram os jogos, levando em consideração não exatamente sua qualidade ou influência dentro do cinema (ainda que na maioria dos casos seja possível também perceber a confluência destes elementos), mas sim seu impacto no desenvolvimento dos jogos.

10 – Matrix


Diferentemente da maioria dos filmes citados neste artigo, Matrix talvez tenha sua influência nem tanto na temática ou no enredo, mas em uma mecânica. Com alguns dos melhores usos da câmera lenta em todo o cinema, essa ficção científica de ação marcou para sempre os games com um recurso; o “bullet time” – o “tempo da bala”, isto é, o acompanhamento da trajetória da projétil em câmera lenta.

Inúmeros foram os jogos que aproveitaram desse recurso ao longo dos tempos, a ponto dessa mecânica ter se tornado praticamente um clichê. No entanto, grandes foram os jogos que a usaram muito bem, como do pioneiro Max Payne ao recente Sniper Elite.

9 – As Tartarugas Ninjas (Teenage Mutant Ninja Turtles)

Também com uma influência diferente das demais, a estória de tartarugas mutantes adolescentes criadas e treinadas por um mestre das artes marciais transformado em um rato mutante, tornou-se bastante importante do ponto de vista comercial. Depois da chegada de Street Fighter II, em 1991, duvidava-se que os jogos beat’em up conseguiriam sobreviver à experiência dos jogos de luta um contra um.

O sucesso dos filmes das Tartarugas Ninjas, entre 1990 e 1993, conseguiu manter e ainda aumentar o sucesso dos jogos baseados nos personagens - que foram apresentados ao público antes mesmo dos filmes, nos quadrinhos e séries de TV – como também gerar outras séries inspiradas nela, como Battletoads.

Ao fim, a popularidade dos filmes das Tartarugas Ninjas – e o consequente sucesso da série de jogos – possibilitou uma vida maior ao gênero beat’em up (que posteriormente não sobreviveria aos ambientes 3D), assim como popularizou o uso de personagens antropomórficos (que misturam características de animais e humanas) nos jogos, e ainda serviu como fórmula de sucesso para adaptações de séries e filmes em jogos através do gênero beat’em up, como foi o caso de Power Rangers.

8 – O Enigma do Horizonte (Event Horizon)

Este é um daqueles filmes que, em seu lançamento, quebram estúdios e abalam carreiras de atores e diretores, mas que com o tempo acabaram sendo considerados obras de grande relevância, não só para o cinema. Em O Enigma do Horizonte, de 1997, a humanidade tenta explorar além do sistema solar através do uso de buracos de minhoca (wormholes), "atalhos" no espaço-tempo – a mesma premissa do recente Interstellar.

A primeira tentativa com a nave Event Horizon – em português, horizonte de eventos, que é o nome aplicado pela física a uma região fronteiriça do espaço-tempo (uma variável da teoria dos buracos de minhoca), acaba falhando. A nave desaparece durante 7 anos até misteriosamente reaparecer nos limites do Sistema Solar; assim uma equipe de resgate é despachada para investigar o que houve com ela pelo tempo em que esteve sumida.

Uma ficção científica de terror, o filme foi assumidamente a inspiração para a série Dead Space de acordo com seu criador, Jason Graves. No entanto, sua temática e enredo tocam em vários elementos usados por jogos posteriores e anteriores deste mesmo gênero, como o DOOM original, sem revelar muitos spoilers

7 – Alien: o Oitavo Passageiro (Alien) e Aliens: o Resgate (Aliens)

No final dos anos 1970, a ficção científica se popularizou muito no cinema e passou a se enveredar com outros gêneros, como o terror e o suspense, no caso de Alien: O Oitavo Passageiro, de 1979. Por conta das limitações técnicas dos videogames no momento de seu lançamento, a influência de sua premissa – “No espaço, ninguém pode te ouvir” – não foi sentida imediatamente. No entanto, assim que os games se tornaram capazes de explorar sua complexidade, os frutos começaram a ser colhidos.

Inspiração para a criação da série Metroid, frequentemente o clima e o suspense do filme de Ridley Scott são emulados em jogos até os dias de hoje (especialmente porque os jogos baseados na série deixaram, em muitos casos, a desejar), tendo em vista que o filme se tornou um pilar do gênero ficção científica de terror. 

Sua sequência, Aliens: O Resgate, de 1986, que levou o clima da série com muito mais ação, também é lembrada em vários os jogos em que exterminar alienígenas monstruosos faz parte de sua missão; como, por exemplo, os Colonial Marines. Eles são um grupo de Spaces Marines (algo como Fuzileiros Espaciais), um dos arquétipos de personagem que, após a popularização através do filme, se tornou um dos mais requisitados nos jogos posteriormente, tais como os protagonistas de Duke Nuken, DOOM e Quake.  

6 – Rambo II: a Missão (Rambo: First Blood Part II)

Um homem sozinho lutando contra exércitos inteiros de intermináveis inimigos, acertando todos os seus tiros enquanto os adversários erram todos os deles – Rambo é praticamente mais um videogame do que um filme. Após um primeiro longa, que reunia elementos de ação e suspense, Rambo II: a Missão, de 1985, partiu para a ação desenfreada. O protagonista precisa resgatar prisioneiros de guerra no Vietnã e causa um genocídio que atinge a marca de centenas de milhares de inimigos mortos.

Ao longo da terceira era dos videogames (a era dos 8-bits), várias foram as ocasiões em que os jogos emularam aspectos de John Rambo. Da chacina desenfreada contra os inimigos, ao uso de armas extremamente pesadas e até mesmo à faixa na cabeça, Rambo marcou amplamente os jogos, como na série Contra e também o emblemático Ikari Warriors

5 – O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan)

A II Guerra Mundial é, provavelmente, o evento mais narrado pelo cinema – são inúmeros os clássicos deste subgênero, que começaram a ser produzidos imediatamente após o término do conflito. No entanto, o filme de 1998 injetou ainda mais popularidade a essa temática. Em O Resgate do Soldado Ryan, a guerra é representada com generosas parcelas de brutalidade, crueldade e humanidade simultaneamente. Além disso, são exibidas muitas sequências dignas de um grande épico de ação, especialmente a abertura durante o Desembarque na Normandia.

Enquanto filmava as cenas finais do filme, o diretor Steven Spielberg entrou em contato com a desenvolvedora DreamWorks (posteriormente adquirida pela EA) pensando na produção de um FPS, nos moldes de 007 Goldeneye, mas baseado na II Guerra Mundial, para o PlayStation. Com o sucesso do filme, o desenvolvimento de Medal of Honor começou a todo vapor, escrito pelo próprio Spielberg, e o jogo foi outro grande sucesso.

Após ele, jogos baseados na II Guerra Mundial (especialmente FPSs) tornaram-se um pilar consolidado por muitos anos na indústria, dando origens a outras séries longevas do gênero, como Call of Duty e Battlefield 1942, até o tema cair em declínio nos últimos tempos e essas séries passarem a abordar outras épocas.

4 – A Identidade Bourne (The Bourne Identity)

Existem filmes que conseguem transformar gêneros tão cheios de convenções como a ação. Foi o caso de Rambo, Duro de Matar, por exemplo, e mais recentemente A Trilogia Bourne. Adaptados dos romances de Robert Landlun, a trama de espionagem conseguiu reunir elementos convencionais de filmes de espiões, ao mesmo tempo que se destacou em relação às demais obras de então.

Com muita influência também da série de TV 24 Horas, os filmes, lançados de 2002 a 2007, caracterizaram-se por uma forte verossimilhança das habilidades de Jason Bourne e das soluções encontradas por eles para as dificuldades enfrentadas. Não dependendo de recursos Deus ex-machina, equipamentos sofisticados, super-poderes ou de inimigos pouco inteligentes, o protagonista usava suas habilidades físicas e intelectuais para escapar de rivais tão astutos como ele.

Após transformar o próprio cinema, como forçando um reboot da série 007, os jogos de ação e aventura também foram influenciados por ele. Elementos de parkour, usados por Bourne em vários momentos ao longo dos filmes, foram implementados até mesmo em jogos “de época”, como Assassin’s Creed, mas também em FPSs contemporâneos, que passaram a ter sequências quase de jogos plataformers. Também se multiplicaram Quick Time Events durante os estágios para simular lutas intensas entre seu personagem e inimigos ou então para usar habilidades além das armas para derrotá-los. A partir de então, começaram a surgir tramas mais elaboradas e complexas, conforme apresentadas pela Trilogia Bourne.

3 – Velozes e Furiosos (The Fast and The Furious)

Não entrando na questão da qualidade dos filmes desta série, o longa lançado em 2001 mudou profundamente um dos gêneros mais importantes dos games. Após a chegada de Velozes e Furiosos, as corridas de rua e especialmente a customização (ou tunning) dos carros virou febre mundial e característica constante dos jogos.

Após essas características se tornarem modas no imaginário dos jovens, os jogos de corrida saíram de uma roupagem de automobilismo profissional e categorias de turismo (como Gran Turismo) para o universo das corridas de ruas, como marcou Need for Speed: Underground. Outra influência foi a de que elementos policiais (normalmente às avessas, fugindo da polícia) se tornaram também uma constante na maioria dos jogos de corrida.


2 – O Senhor dos Anéis (The Lord of The Rings)

Apesar de algumas tentativas animadas e até mesmo radiofônicas, por muito tempo duvidou-se da possibilidade de adaptar a até então maior obra de fantasia aos cinemas. A Sociedade do Anel, de 2001, provou que isso era possível e marcou para sempre a história do cinema. Desde então, dificilmente conseguimos imaginar criaturas como elfos, orcs, anões ou dragões sem ter como base as concebidas na obra original de Tolkien e nas adaptações de Peter Jackson.

Praticamente tudo que veio depois, em todas as mídias, teve que lidar com a presença do imaginário de fantasia apresentado pela trilogia Senhor dos Anéis, ao mesmo tempo que o gênero de MMORPGs presenciou um crescimento gigantesco impulsionado pela inspiração proporcionada pelos filmes em jogadores e desenvolvedores. Antes de 2001, até mesmo pela pouca abrangência da internet, existiam cerca de meia dúzia de MMORPGs (como Ultima Online, Tibia e Lineage), mas em pouco tempo eram dezenas de exemplares que até mesmo deram origens a outros gêneros como os MOBAs.

No entanto, a influência da obra era anterior mesmo aos filmes; estava presente nos jogos desde que os livros foram publicados nos anos de 1950. Justamente por dividir essa inspiração entre os livros e os filmes, no critério específico de inspiração cinematográfica, perde a liderança para o nosso primeiro colocado.

1 – Guerra nas Estrelas (Star Wars)

Existe uma razão por que alguns dos melhores jogos do início da era dos videogames serem Asteroids (1978), Space Invaders (1978), Galaga (1981), Yar’s Revenge (1981) dentre outros que remetem a temas da ficção científica e do espaço sideral: Guerra nas Estrelas. Lançado originalmente nos cinemas em 1977 (mesmo ano do lançamento do Atari VCS, posteriormente renomeado Atari 2600), a obra de George Lucas influenciou profundamente o cenário não apenas do cinema, mas de toda cultura pop de sua época.

Apesar de estar mais próximo da fantasia, essa série se situou no espaço sideral e aplicou uma grande injeção de ação e aventura no gênero, transformando a ficção científica em uma febre, popularizando-a em uma amplitude nunca antes vista. Isso refletiu no próprio cinema, que passou a receber obras como Alien, o Oitavo Passageiro (1979) e o ressurgimento de Jornada nas Estrelas (1979), obras de grande orçamento e sucesso para um gênero extremamente marginalizado no circuito comercial do cinema e TV.

A atmosfera criada ultrapassou os limites das telonas e chegou à nascente indústria dos videogames. Todos queriam viver aventuras especiais tais como as de Luke Skywalker, e os jogos se tornaram os principais meios de fazer as pessoas da época sentirem esse gostinho. Desde então, além dos próprios jogos baseados diretamente na série de filmes, Guerra nas Estrelas serviu de inspiração para criação de inúmeros jogos, não apenas diretamente, mas na popularização de tudo que fosse baseado no espaço, ou melhor, nas estrelas.

Menção Honrosa – Top Gun: Ases Idomáveis (Top Gun)

Se você reparar, perceberá que na maioria dos jogos de combate aéreo, o caça principal a ser selecionado, ou o primeiro, normalmente é um F-14 Tomcat. É o caso de Aerofighters Assault (N64) ou AfterBurner, por exemplo. O motivo disso é Tom Cruise, ou melhor, o Tenente Comandante Pete “Maverick” Mitchell, protagonista de Top Gun: Ases Indomáveis, de 1986. Com muita ação e intensidade, além de uma trilha sonora de grande sucesso, a popularidade do filme foi tão grande que a Marinha e a Força Aérea dos Estados Unidos montavam postos de recrutamento na saída das grandes salas de cinema, tamanha a vontade de se tornarem pilotos que muitos dos espectadores apresentavam.    


E vocês? O que acharam da lista? Concordaram com os filmes selecionados ou acredita que outros poderiam ter feito parte; quais outros longas mudaram a nossa forma de jogar videogames?

Revisão: Robson Júnior
Capa: João Gilberto Melo

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