Master System: 30 anos de um mito

O Master System foi um console emblemático em todo o mundo, mas principalmente no Brasil. Para comemorar esta data, preparamos uma matéria em homenagem a ele.

em 26/10/2015

Após a crise na indústria de games e o surgimento do NES, as empresas começavam a se dar conta que aquele era um mercado rentável e que poderia ser a maior fonte de entretenimento no futuro. Com essa ideia, diversas empresas firmavam-se no ramo e entravam como desenvolvedoras de jogos para consoles, que na época tinham como foco principal o NES.

A Nintendo investiu pesado em seu console e em jogos com contrato de exclusividade, porque eles sabiam que não iria demorar a entrar um concorrente no mercado. Em 1981, uma veterana e respeitada empresa de Arcades preparava-se para entrar no ramo de consoles domésticos, ela chamava-se SEGA. Seu primeiro console de testes fora batizado de SG-1000 Mark I e lançado em 1983. Com um design simples e de coloração branca, o console não fez muito sucesso no Japão e teve apenas algumas unidades fabricadas. No ano seguinte, em 1984, a SEGA lança uma versão melhorada de seu console anterior, batizado agora de SG-1000 Mark II, mas o console ainda não conseguia emplacar no Japão.
SG-1000 Mark I
Em 20 de outubro 1985, a empresa estava cansada de tantos fracassos e resolveu dar a sua última cartada, lançando então a terceira e última versão de seu console, batizado de SG-1000 Mark III, que mais tarde viria a ser chamado de Master System. O console tinha como objetivo disputar o espaço no topo da indústria de games com o Famicom. O Master System tinha um potencial maior que seu rival, seus jogos conseguiam ser mais detalhados e de maior qualidade gráfica, mas, infelizmente, pelo fato de o console ter sido lançado mais tarde que o Famicom e pelos preços mais baixos do concorrente, ele não conseguiu emplacar no Japão.

O Master System atravessa o mundo

A SEGA estava perdendo a concorrência no Japão para o Famicom, seu console tinha boas vendas, mas não conseguia superar seu rival. Baseado nisso, a empresa toma uma importante decisão: assim como seu rival, eles também iriam lançar seu console no resto do mundo, começando pelos Estados Unidos, onde a Nintendo reinava mais que no Japão.

Foi uma manobra muito arriscada, mas a SEGA estava confiante com sua versão reformulada do Master System, que agora havia trocado a cor branca com azul pela preta com vermelho, deixando o console muito mais bonito e charmoso que seu concorrente NES. Então, em 1986, o Master System cruza os continentes e chega aos Estados Unidos, sua recepção foi boa nos primeiros dias, mas, infelizmente, a SEGA encontrou as mesmas dificuldades por lá que encontrara no Japão, não conseguindo assim quebrar a soberania da Nintendo.

Master System Americano

Os dirigentes da empresa estavam insatisfeitos com os resultados que o seu console apresentava na terra do Tio Sam, eles sabiam que não conseguiriam vencer a Nintendo por lá e então resolvem tomar uma medida drástica. A SEGA fecha uma parceria com a empresa de brinquedos Tonka Toys, que agora estava licenciada para distribuir o Master System. O único e grande problema é que a Tonka não entendia nada de videogames, o que acarretou em uma fraca campanha publicitária e o lançamento de jogos horríveis para ele, o que afundou ainda mais o console no país. Se estava ruim com a SEGA, com a Tonka estava pior, muito pior.

Se o Master System não ia bem nos Estados Unidos, o cenário não se repetia no continente Europeu. No Velho Continente, a Nintendo não tinha vez, seu console não emplacou muito e ali estava a chance da SEGA fazer dinheiro. O console conquistou os Europeus rapidamente e fez um sucesso tão grande que a empresa resolveu abrir uma filial no continente, não dando espaço para a Nintendo, que resolveu diminuir em 70% a distribuição de seu NES naquelas terras.

De olho no sucesso da SEGA na Europa, diversas desenvolvedoras resolveram lançar jogos para o Master System. Os títulos do console eram tão populares, que uma empresa chamada Tengen lançou algumas versões dos jogos dele para o NES, que, é claro, ficou com uma qualidade bem inferior. Todas as empresas queriam desenvolver para o Master System na Europa, pois era uma mina de ouro, os jogos vendiam como água e entre as principais empresas que levavam jogos exclusivos para o console estavam a Activision, Virgin Games, Sony, Codemasters e Acclaim.

Nem Europeu, nem Americano e muito menos Japonês, o Master System é Brasileiro

Com alguns clones de NES circulando pelo país, diversos brasileiros divertiam-se com eles e estavam deslumbrados com aquilo tudo, mas o Brasil ainda não tinha um console licenciado da nova geração e isso deu algumas ideias a uma certa empresa de brinquedos. A Tec Toy firmou uma parceria com a SEGA e trouxe oficialmente o Master System para as terras brasileiras, onde o console fez bonito e rapidamente conquistou o mercado de games no país.

Tec Toy, a empresa que trouxe o console para o Brasil

A parceria entre as duas empresas deu muito certo e, diferente do que a Tonka fez nos Estados Unidos, a Tec Toy investiu pesado em publicidade, fazendo seu console estampar capas de revistas e aparecer em comercias de TV. O apelo foi tão forte que até mesmo na novela da Rede Globo chamada “Tieta” o console deu as caras. Assim como abelha no mel, os brasileiros foram para cima do novo console tupiniquim, e no início dos anos 1990 o Master System era um fenômeno de vendas.

A manobra publicitária foi tão a fundo que, além de tudo o que fora citado, ainda seriam lançados camisetas, bichos de pelúcia, brinquedos etc. A Tec Toy ainda trouxe os periféricos do console para o país, como o Óculos 3D e a Pistola Light Phaser, que tiveram diversos comercias mostrando seu funcionamento. A SEGA ainda utilizaria o Anime “Zillion” para promover seu game e a Light Phaser, que era idêntica à pistola usada por um dos personagens.
Pistola Light Phaser


Com tanto barulho feito pelo Master System, o console chegou a dominar 90% do mercado de games no país, sendo lançadas mais tarde outras versões do console, como o Master System II e o Master System III. Como tudo um dia acaba, o console da SEGA começou seu declínio ainda nos anos 1990, mas isso não foi ruim não, pois ele abriu as portas para outro console da empresa, o Sega Gênesis (Mega Drive, no Brasil), mas isso é assunto para outra hora.

Alguns jogos da biblioteca do Master System
Com o surgimento da nova geração de consoles, o Master System foi sucumbindo no país, e aos poucos perdeu seu espaço para novas tecnologias. Ainda hoje são fabricados pela Tec Toy (agora Tectoy), com diversos jogos na memória e um visual mais atual e dinâmico, mas sem entrada para cartuchos. Por incrível que pareça, o console ainda vende muito, e somado com o Mega Drive, vendem aproximadamente 150 mil unidades por ano no Brasil. O fato é que o console foi o principal responsável pelo sucesso da indústria no país, e até hoje é o console que mais nos fez a cabeça, com manobras inteligentes da Tec Toy e jogos de qualidade, esta obra da SEGA traz muitas recordações de quem viveu naquela época e cresceu junto com a indústria.

Jogos exclusivos e de ótima qualidade

Se a Nintendo criou um mascote para emplacar, a SEGA não ficou para trás e logo lançou o seu também. Um de seus primeiros mascotes parecia mais uma cópia daquele bigodudo que vestia vermelho, mas não era, o jogo era graficamente melhor e o garoto andava de lancha, helicóptero, jogava pedra-papel-tesoura e ainda pegava diversos itens, ele chamava-se Alex Kidd.

O primeiro título fora lançado em 1986, com o nome de Alex Kidd in Miracle World, o jogo era totalmente original com gráficos ótimos e uma jogabilidade sensacional. Ele inovou o gênero de plataforma, pois os cenários não eram repetitivos e a diversidade de itens era enorme para a época, onde podia pegar anéis de poder, veículos automotores e voadores, e vários outros tipos.
Alex Kid in Miracle World
Além desse título, foram lançados outros cinco, que não fizeram sucesso igual ao primeiro, mas ainda assim conseguiram vender uma quantidade boa de unidades, o suficiente para não dar prejuízo à empresa, são eles: Alex Kidd: BMX Trial, Alex Kidd: The Lost Stars, Alex Kidd in High-Tech World e Alex Kidd in Shinobi World.

Com o tempo, Alex Kidd estava perdendo a graça e a SEGA precisava de outro mascote para dar um Up em suas vendas. Foi então que, em 1991, a empresa cria seu mais novo mascote, batizado de Sonic the Hedgehog. Inicialmente lançado para o irmão mais velho do Master System, o Mega Drive, ele também teve sua versão 8-bits, que foi tão boa que o bom e velho Alex Kidd fora totalmente esquecido e abandonado pela SEGA.
Mortal Kombat
Se Alex Kidd inovou o gênero de plataforma, Sonic o reinventou, com um visual inferior ao da versão lançada para o Gênesis, mas com uma ótima qualidade para a capacidade do console. O jogo vendeu milhares de cópias de sua versão para o Master System, desbancando o rival bigodudo e ajudando a vender ainda mais unidades do console.

Mas não pensem que os jogos de Master System eram apenas Alex Kidd e Sonic. Devido ao grande suporte dado pelas empresas que desenvolviam jogos, o console contou com inúmeros clássicos, como Street Fighter II, Zillion, Ghouls ‘N Ghosts, Castle of Illusion, The Lucky Dime Caper, Master of Darkness, Nuclear Creature, Mortal Kombat, Streets of Rage, Great Volleyball, Super Futebol, Shinobi e muitos outros.
Street Fighter II
No Brasil, os jogos eram constantemente lançados com encartes em português para chamar a atenção dos brasileiros, e a Tec Toy preocupava-se muito com isso, e querem algo melhor para chamar a atenção do que um jogo com a descrição em Português? Mas não parou por aí: aqui no Brasil ainda foram produzidos diversos jogos exclusivos de nossos personagens tupiniquins como: Mônica no Castelo do Dragão, Chapolim x Drácula — Um Duelo Assustador e Sítio do Pica-pau Amarelo.
Chapolim x Drácula - Um Duelo Assustador
Um dos games que fez mais sucesso no Brasil com certeza foi Phantasy Star, além de ser uma revolução no gênero de RPG, o jogo foi 100% traduzido para português, o que chamou muito a atenção dos Brasileiros, que não tinham muita noção de inglês. O jogo estampou diversos outdoors e comerciais de TV, fazendo uma verdadeira revolução, e um passo muito importante para a indústria brasileira, que infelizmente não teve continuidade em outros consoles.
Phantasy Star
Os jogos de Master System até hoje estão em nossas lembranças, seja por meio de coleção ou até mesmo por meio de memórias, os títulos nos causam nostalgia e nos remetem a um tempo em que não precisávamos nos preocupar com nada, apenas em nos divertir e aproveitar nossa infância, que fora recheada de diversão com este e outros consoles, marcando a vida de todos que vivenciaram aquela época.


Revisão: Alberto Canen
Capa: Daniel Serezane

Amante de Filmes, Seriados, HQ'S, Música, Games e todos tipos de cultura Nerd. Redator do site www.gamus.com.br e contribuinte do blog www.jogosdemegadrive.blogspot.com
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