Análise: Retome em Might & Magic: Heroes VII (PC) a disputa pelo poder

A popular série de estratégia acerta ao voltar a suas origens, mas tropeça em diversos bugs que não a deixam chegar a um ápice.

em 11/10/2015

A franquia Might & Magic começou com jogos de RPG em primeira pessoa, e esses por sua vez originaram a série de estratégia Heroes of Might & Magic, que servia como uma continuação das histórias dos RPGs. O auge da série de estratégia foi com o lançamento de Heroes of Might & Magic III em 1999. Porém a falência da 3DO Computing e consequentemente do estúdio New World Computing após o desenvolvimento do nada popular quarto jogo interrompeu esse sucesso. E poderia ter sido o fim da série se não fosse o fato da Ubisoft revitalizar a franquia com o lançamento do ótimo Might & Magic: Heroes V. O jogo criou uma nova mitologia para as histórias das diversas facções junto com a inversão do nome, priorizando a palavra Might & Magic na frente do restante. Vários spin-offs surgiram desse último jogo como Might & Magic: Clash of Heroes, Might & Magic: Kingdoms para browsers e até mesmo o retorno para os RPGs com Might & Magic X - Legacy.


O natural então seria continuar o lançamento de novos capítulos para a série de estratégia, mas isso foi bem mal-feito em Might & Magic: Heroes VI. O estúdio responsável pelo desenvolvimento do jogo o entregou com muitos bugs e coisas feitas pela metade, e teve de ser substituído para que a Ubisoft conseguisse entregar um produto final com alguma qualidade. Isso obviamente gerou uma repercusão bem negativa, e novamente parecia o fim da série. Todavia, a Ubisoft continua apostando em seu sucesso, com o lançamento de Might & Magic: Heroes VII. Será que ele consegue apagar o rastro de fracasso de seu antecessor?

O levante dos Grifos

A história se passa cerca de 100 anos antes dos eventos do quinto jogo e 200 anos depois do sexto. Nessa época, o maior império humano era dominado pela Casa dos Falcões, e a Casa dos Grifos era um de seus vassalos. Porém, nada contente com os rumos dado ao Império pelos Falcões, o Duque Ivan Griffin resolve se rebelar e ir à guerra pelo domínio do Império junto a diversos aliados.
A guerra entre as casas dos grifos e dos veados pela continuidade do império é o conflito atual de Ashan
E como guerras nunca são fáceis, Ivan logo se vê preso em uma encruzilhada de decisões estratégicas para definir qual rumo tomar; se deve retroceder após algumas duras vitórias ou continuar as frentes de combate até o fim. E para tomar essa decisão ele resolve ouvir sua mesa de conselheiros, composta por membros de diferentes facções. Aqui encontramos um elfo das trevas, um elfo da floresta, uma maga, uma vampira, um anjo e um orc, e cada um deles resolve dividir uma história significativa de seu povo antes que ele se decida, para que possa se inspirar em contos de heróis e vilões do passado.
As histórias trazem importantes lições para o Duque


Todas essas histórias focam nas consequências das ações do povo de cada conselheiro e dão importantes lições de moral a seu líder para que ele possa tomar a sua decisão. Somente depois de completar pelo menos duas dessas histórias vai ser possível continuar a história do presente e finalizar o levante dos Grifos contra os Falcões.

Os caminhos da guerra

A última entrada na franquia segue a premissa básica dos jogos anteriores, em que você guiava heróis com exércitos para participar de combates e recolher recursos, e utilizá-los para construir estruturas em cidades que por sua vez disponibilizavam tropas mais poderosas. E falando em recursos, aqui temos o retorno da diversificação de necessidades para construção. Enquanto no jogo anterior só lidávamos com ouro, madeira, minério e cristais, aqui você vai precisar coletar outros três tipos de recursos: prata estelar, aço das sombras e aço de dragões. Eles serão necessários para poder construir e recrutar as melhores tropas. Isso faz o jogo retornar às suas origens apesar de tornar as coisas um pouco mais difíceis.
Suas tropas estarão prontas para defender seu herói a todo momento


Saber misturar a força de suas tropas e magias de seu herói é base para derrubar seus oponentes e ser vitorioso. Essa versão do jogo é composta por seis facções: elfos da floresta, elfos das trevas, humanos, mortos-vivos, orcs e magos, com cada uma apresentando tropas e heróis respectivos a seus temas. Uma curiosidade interessante é que os dois grupos de elfos foram escolhidos via votos da comunidade de fãs para integrar o jogo.
Os elfos da floresta (Sylvan) ganharam a votação sobre a facção dos homens-peixe (Santuário)

Cada facção possui uma cidade com construções e tropas exclusivas. E aqui contamos com o retorno de especializações das cidades. A unidade suprema para os humanos pode ser um versátil anjo ou o poderoso landsknetch, depende apenas de você escolher qual prédio construir. Porém, construir o prédio para recrutar um deles o impede de criar o outro, então é uma decisão importante a ser tomada. E não precisa se desesperar caso você se arrependa depois ou conquiste uma cidade que construiu algo que não lhe interessa, pois é possível demolir os prédios e erguer outros no lugar.

Uma novidade bem legal é que finalmente vemos total integração entre facções e suas tropas, incluindo até mesmo máquinas de guerra. Os magos utilizam as clássicas tendas de primeiros-socorros já presentes nos jogos anteriores para curar até mesmo máquinas, enquanto os elfos das trevas utilizam um sem-face para cobrir as tropas com um feitiço que fere quem atacar suas tropas no corpo-a-corpo. Essa é mais uma mudança que pode mudar suas estratégias no combate. Apesar de algumas alterações serem somente estéticas, como no caso de catapultas, não deixam de ser interessantes para adicionar variedade aos combates.
Os magos utilizam esse enorme cristal de energia para derrubar muros de castelos e outras fortificações


Outra das inovações dessa nova versão é uma simplificação da árvore de habilidade dos heróis. Você não precisa depender da sorte para poder melhorar alguma habilidade específica ou então depender de escolher diversas habilidades inúteis até alcançar o que você deseja.  Cada facção possui seis tipos de herói base, com diferentes especializações em habilidades de força ou magia. Portanto, você só precisa escolher qual a especialização base que deseja e depois seguir nas árvores de habilidade padronizadas dependendo da estratégia que você quer seguir com cada herói. Outro tema interessante é a possibilidade de definir um herói como governante de uma cidade. Assim, ele continua gerando bônus de suas habilidades para a cidade mesmo se ele estiver longe, seja combatendo ou recolhendo recursos.
Todos heróis possuem 3 habilidades supremas das árvores mais ligadas a sua especialidade.

Tropeços na estratégia

Apesar da história ser interessante e fluir bem, nem sempre é simples acompanhá-la. Ocorrem alguns atrasos cada vez que você assiste uma das discussões na mesa do conselho. É bem chato ouvir a pessoa falando e só depois você ver a animação da pessoa e o texto correspondente, ou até mesmo a animação da conversa travada por completo. Esse é um problema recorrente também em momentos de discussões dos heróis com outros personagens durante as missões. Só que ali a situação é ainda pior, já que elas só acontecem via caixas de texto.
Alguns personagens são parecidos com outras mídias. Sir Tomas Wolf lembra muito um tal de Jon Snow...


Esse é apenas um dos diversos bugs presentes no jogo durante sua primeira semana. Também existem falhas em alguns eventos durante as missões, que podem lhe forçar a recomeçá-las do zero. Outros problemas encontrados pelos jogadores são erros nos jogos salvos e uso excessivo da CPU durante a execução do game. E isso acontece mesmo que você configure as opções gráficas para níveis baixos. A impressão que passa é que muitos desses problemas podiam ter sido resolvidos com testes e revisões adicionais antes do lançamento, até mesmo atrasando o lançamento para lançar um produto mais estável. Já foram lançados diversos patchs desde o dia 29/10 para corrigi-los, mas ainda tem muita coisa em aberto.

E para piorar a situação, fica estranho ver que não conseguiram implementar características gráficas que já existiam em Heroes V. Enquanto aqui você conta com conversas via caixas de texto com um retrato e desenhos estáticos das cidades em 2D, o quinto jogo contava com conversas entre modelos 3D dos heróis e com as cidades totalmente animadas em 3D. Não tem lógica ver que um jogo lançado nove anos antes possua características visuais melhores que seu sucessor. Mas isso não quer dizer que os modelos em 2D são ruins, já que apresentam belíssimas obras de arte. Aqui parece que faltou tempo e capricho por parte dos desenvolvedores nesse aspecto.
As cidades possuem belíssimas artes mesmo não estando em 3D.

Os espólios da vitória

Por ter jogados todos os jogos já lançados, eu fiquei com a seguinte dúvida na cabeça: Seria a franquia Might & Magic: Heroes fadada a entregar bons produtos somente nas suas versões ímpares? Para mim é estranho imaginar isso, já que Heroes of Might & Magic II é um jogo bem divertido que me introduziu à série em meados dos anos 1990. Mas também fica difícil negar que o quarto e sexto jogo causaram um enorme estrago à série e afastaram potenciais fãs de se aventurarem pelas ótimas histórias aqui apresentadas.

A desenvolvedora Limbic Entertainment conseguiu fazer um bom trabalho ao restaurar características de jogos anteriores, como caravanas para recrutamento de tropas em outras cidades ou então inovações como máquinas de guerra customizadas para cada facção. Mas isso acaba ficando em segundo plano caso você comece a se irritar com os bugs, e logo de cara já o liga com o fracasso do sexto capítulo da franquia, parecendo para alguns uma continuidade do pesadelo que foi o jogo anterior.

Might & Magic: Heroes VII está disponível para computadores via Steam e uPlay. Muitos dos problemas aqui listados em Might & Magic: Heroes VII podem ser resolvidos com o tempo, já que seus desenvolvedores parecem estar dedicados a trabalhar neles, então é um jogo que merece crédito. No máximo diria para esperar mais algum tempo para que lancem mais patches para corrigir seus problemas.


Prós
  • Retorno às mecânicas já consagradas da série;
  • Maior diversificação do sistema de heróis.
Contras
  • Falta de modelos 3D para heróis conversando e cidades;
  • Uso excessivo de recursos do computador;
  • Diversos bugs dificultando a jogabilidade.
Might & Magic: Heroes VII – PC – Nota 7.0

Revisão: Luigi Santana
Capa: Daniel Serezane

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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