Os jogos mais superestimados da indústria

Tudo isso? A equipe GameBlast seleciona os jogos mais supervalorizados da indústria

em 01/08/2015
Existem jogos que marcam gerações. Embora tenhamos uma leva de grandes jogos em cada console, são poucos aqueles que realmente gravam seu nome na história e podem ser considerados os "grandes clássicos" de sua época. Mas, será que todos que receberam essa alcunha, de fato a mereceram? A equipe GameBlast então escolhe alguns dos jogos que são bons, ou até ótimos, mas ganharam mais atenção do que deveriam.

Dishonored - Vínicius Veloso

Lançado no final de 2012, só fui jogar Dishonored pela primeira vez dois anos depois. Após tantas críticas positivas, esperava algo revolucionário, mas ao terminá-lo o sentimento foi de "é só isso?". Não que seja ruim, pelo contrário, a vingança de Corvo Attano se mostra um jogo muito bom, entretanto peca na tentativa de agradar diferentes públicos. Se você é fã do violento Kratos, tudo bem, pode sair por Dunwall decapitando tudo o que se move, por outro lado, se o seu modo é furtivo ao melhor estilo Solid Snake, sem problemas, também é possível atravessar todas as fases como uma sombra e sem derramar uma única gota de sangue. Porém é exatamente nessa diversidade que as coisas parecem se perder.

A grande quantidade de armas e habilidades especiais do protagonista, apesar de interessantes, acabam sendo subutilizadas com o conceito de que o jogador tem o poder de definir como deseja concluir cada missão. Essa liberdade de escolha acaba resultando em poderes totalmente dispensáveis, como o controle mental sobre seres vivos ou ainda o de mandar grupos de ratos atacar os oponentes. Talvez, teria sido positivo incluir desafios que só pudessem ser solucionados com o uso de habilidades específicas, assim, todos os dons sobrenaturais e armamentos de Corvo teriam sido melhor aproveitados. Tudo isso sem influenciar no conceito de liberdade do jogo.

Falha ainda mais grave está nos inimigos, que apresentam problemas em sua inteligência artificial. Não são raros os momentos em que Attano está no campo de visão de seus perseguidores e, mesmo assim, não é percebido simplesmente por estar abaixado e um pouco afastado.
Ainda mais burros do que parecem

Também deixa a desejar o desenvolvimento do enredo, que começa de maneira frenética com o assassinato da imperatriz e sequestro da pequena Emily Kaldwin, filha da governante. Conforme o jogo avança, o ritmo vai desacelerando, muito por causa do excesso de personagens genéricos. A própria herdeira do trono tem sua personalidade mal construída. A garota, que viu sua mãe ser morta e é raptada logo na sequência, não esboça sentimentos durante todo o desenrolar da trama. Isso é o que chamamos de nervos de aço.

O tamanho da campanha principal é outro ponto que chega a incomodar, ainda mais quando vemos estampado na capa do jogo o logo da Bethesda, responsável pelo interminável Skyrim. A aventura é curta, em torno de sete horas é possível terminá-la. Só que nesse caso, o fator replay foi bem pensado e há necessidade de reviver toda a história para buscar os colecionáveis que ficaram para trás e também assistir ao final alternativo, já que suas escolhas determinam como tudo termina.

A conclusão é que Dishonored peca pelo excesso, o jogo quer ser tudo ao mesmo tempo, mesclando ação e furtividade, mas acaba não executando nenhuma das duas de maneira perfeita. O título foi supervalorizado e eleito por diferentes sites e revistas como o melhor de 2012, ano que tivemos Far Cry 3, Mass Effect 3 e Max Payne 3. O desonrado Corvo até tem pontos positivos que o colocam entre os principais games daquele ano, porém fica um pouco atrás de conquistar vaga no top 3.

Dark Souls - João Pedro Meireles

Ok, antes que comecem uma caça às bruxas e clamem pelo meu pescoço na internet, gostaria de começar minha argumentação com um frase que eu acredito que será repetida por boa parte dos outros redatores presente nessa matéria: Dark Souls não é um jogo ruim. Na verdade trata-se até mesmo de um bom jogo, entretanto o que tentarei argumentar é que ele não é merecedor da fama que possui e muito menos do “caráter revolucionário” que muitos tentam o atribuir.

Primeiramente vamos falar do grande “carro chefe” do game: sua dificuldade. Por mais que muitos fãs tentem argumentar que esse não é o grande ponto do game, fica difícil acreditar nisso quando a própria publicidade do game usa frases como “You will die” ou então a versão deluxe do jogo conta com o subtítulo “Prepare to Die Edition”.
Com um título desses voce já sabe o que esperar...

“E qual o problema em um jogo ser difícil?”. Nenhum. Na verdade eu acredito que um jogo com dificuldade elevada pode inclusive aumentar a conectividade do jogador com o mesmo. O problema é que essa dificuldade precisa ser justa, algo que não acontece em Dark Souls por dois motivos: a falta de informação e os inimigos.

Quando me refiro à falta de informação, não me refiro somente ao fato de o jogo dar poucos, ou quase nenhum, indicativos sobre direções ou objetivos, mas sim sobre a total falta de informações sobre as mecânicas de jogo. Um grande exemplo disso é a classe pyromancer que, apesar de usar magias de fogo, tem como atributo principal a destreza, algo que contradiz a ideia principal do campo Inteligência, que em teoria deveria aumentar o poder de magias lançadas pelo jogador.

O outro grande fator para a dificuldade do jogo é o quão overpowered são os inimigos. Ok, esse talvez seja um ponto mais subjetivo, mas para mim a grande graça em enfrentar um adversário difícil é ver que ele possui diversas habilidades diferentes, ou que possui diversas formas diferentes de me acertar, não ser morto em apenas um golpe. Isso, aliado ao famoso “target lock” de inimigos, faz toda a dinâmica de combate do jogo ser baseada fortemente em timing. Não há espaço pra criatividade. Grande parte dos combates do jogo se resumem a analisar o padrão de ataque do adversário, enxergar a brecha, atacar e esperar mais uma vez pela oportunidade. Isso é ruim? Não, muita gente se diverte inclusive. Mas chamar de jogabilidade inovadora (como li em vários lugares) é um exagero proporcional a quantidade de vezes que você vai morrer jogando Dark Souls.

Voltando ao meu argumento inicial? Dark Souls é ruim? Repito: não. Apenas não consigo aceitar (lembrando que tudo que é falado nesse artigo são opiniões pessoais) que ele seja tratado como um dos maiores e mais “inovadores” RPGs da nossa geração. Uma jogabilidade baseada em timing (algo que já temos há algumas décadas) e uma dificuldade que é construída a partir de “forma preguiçosa” fazem-no, para mim, apenas um bom RPG.

The Last of Us - Lucas Pinheiro

The Last of Us é, para mim, a definição de "hype". Ele é nada menos do que a construção do hype gerado pela nova obra da Naughty Dogs, feito de modo a agradar principalmente a crítica — e, por sorte, também foi bem-recebido pelos fãs. Com méritos: ele é, sim, um bom jogo. Mas o melhor jogo de 2013, sendo considerado por alguns um dos melhores da geração (ou até mesmo de todos os tempos)? Aí temos um grande exagero.

Qualquer um de seus aspectos técnicos pode ser facilmente desconstruído. Os gráficos eram ótimos… para o PS3. A jogabilidade divertida… Mas nem de longe revolucionária. A trilha sonora muito boa… Assim como a de vários outros games de 2013. E assim por diante.

O único aspecto que se sobressai, e que foi o mais citado pela crítica, seria sua narrativa. É, de fato, um dos aspectos mais fortes do jogo e alguns de seus elementos são uma aula — o trabalho de voz e a atuação dos atores é fenomenal. Mas não é uma narrativa com "sensibilidade inédita nos games", nem mesmo algo que o tornaria "o Cidadão Kane dos jogos". É capaz de entreter, emocionar, até. Mas é previsível e se mantém fiel aos clichês de apocalipses zumbis, sem de fato subverter ou reconstruir o gênero — quanto mais os videogames como um todo.

Até o desenvolvimento das personagens é contestável. Não achei nem Joel nem Ellie carismáticos como a maioria achou, e a relação entre eles pareceu-me ora forçada, ora previsível. Nos primeiros minutos do jogo, eu já tinha formulado o script em minha cabeça: Joel seria um tsundere, que seria desconstruído e teria o coração amolecido pela substituta de sua filha até o fim do jogo. Não deu outra.

Mesmo o final do game, que surpreendeu muitos, não me chocou nada. Joel é, desde o início, construído como um personagem que liga apenas para o bem-estar das pessoas que ama e que não se importa em deixar morrer (ou matar e torturar) pessoas que poriam seus entes queridos em perigo. Ao fim do game, ele apenas reforça quem realmente é, demonstrado ser a mesma pessoa de 10 anos atrás. Grande "desenvolvimento de personagem", não é?

Apesar das críticas, gosto de The Last of Us e o acho, sim, um dos melhores jogos do PlayStaytion 3 — mas não “o” melhor.

Assassin’s Creed - Lucas Palma

Assim como todos os demais jogos desta lista, Assassin's Creed não é um jogo ruim. Longe disso, é um jogo ótimo. No entanto, mais do que um ótimo jogo, ele é um jogo que veio em um ótimo momento.

Alguns anos antes, em 2003, O Código da Vinci foi um livro de extremo sucesso comercial. Apesar de ser pura ficção, se tornou sensação ao brincar com grandes mistérios da humanidade e com as temíveis sociedades secretas. Uma das abordadas eram os templários, responsáveis, na trama, por proteger o Santo Graal (a linhagem sanguínea de Jesus Cristo). Enquanto isso, outra sociedade secreta, a Opus Dei, desejava impedir que os protagonistas descobrissem o grande mistério.

Ao mesmo tempo, no início dos anos 2000, um esporte urbano teve muita influência em uma série de mídias, notoriamente nos filmes, o Parkour. Em 2006, 007 Cassino Royale revolucionou a já famosa série de ação. Com influências da trilogia Bourne e da série 24 Horas, a mesma passou a contar com uma ação mais "pé no chão", focada na habilidade física dos protagonistas na improvisação das lutas. No filme, James Bond empreende várias perseguições através de telhados, sacadas e outros obstáculos urbanos, o que acabou por ajudar a promover ainda mais o esporte de intervenção urbana criado na França.

Nesses dois exemplos é possível identificar dois dos atrativos mais fortes de Assassin's Creed. Claro que juntar essas inspirações no gênero stealth é um grande mérito. Assim como também as mecânicas desse "Social Stealth", como o jogo indica, pelo menos no jogo original, de misturar-se na multidão e não chamar a atenção.

Explicar o porquê de que os últimos jogos da série sucessivamente falham em conquistar a mesma fama e prestígio dos originais passa por dois pontos. O primeiro, é claro, é a queda de qualidade dos jogos, inclusive técnica, com os jogos sendo lançados com uma série de bugs bizarros. O segundo, é pelo quão repetitiva ela se tornou. Mesmo nos primeiros jogos, com um sistema de combate pouco dinâmico (que se tornou cada vez pior com a adição de armas de fogo), com o tempo a experiência se torna repetitiva. Chegando até o limite de em alguns jogos ser apenas um "parkour de época"
Só um "bugzinho"
Nesse sentido, talvez a queda de sucesso da série esteja mais relacionada ao fato da mudança de contexto de cada lançamento. Isto é, o sucesso do jogo original tenha se devido não somente aos seus méritos, mas ao seu momento. Isso não é um demérito, mas é claramente um sintoma de superestima. Assassin's Creed não ditou moda, ele pegou onda na moda.

E você leitor, concorda com nossas escolhas? Lembre-se que tudo que foi escrito aqui são opiniões pessoais e que mesmo assim gostamos, sim, dos jogos dessa lista. E para você, qual jogo recebe mais valor do que merece?
Revisão: Luigi Santana
Capa: Daniel Serezane 


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