O encanto de um fliperama em pleno 2015

Em meio a consoles caseiros poderosos e PCs de que rodam do jogo mais simples ao mais complexo, como fichas e máquinas de fliperama poderiam ser encantadores?

em 23/07/2015

Tudo começou em um dia anormal fora de minha rotina. Considerando quanto os impostos e o preço do dólar subiram, o videogame foi se configurando cada vez menos como uma opção de lazer para mim. Obrigando-me a arranjar outras formas de me divertir, o que foi que eu fiz naquele dia fora do normal? O que tenho feito desde o começo do ano: comprar histórias em quadrinhos e ir ao cinema.

Eu amo o conic

A título de curiosidade, era uma quarta-feira e eu estava no coração de Brasília (minha cidade natal), dentro do Shopping Conjunto Nacional. Após resolver uns problemas pessoais, saí de lá e fui direto para um aglomerado de prédios comerciais e escritórios que fica logo ao lado, o Conic.

Mas, afinal de contas, o que o Conic tem de tão especial? Um pouco de tudo. Além dos escritórios, é possível encontrar igrejas de todos os tipos, as famosas lojinhas de R$1,99, inúmeras lojas para os fãs de skate, bons self-services… Mas, um dos motivos que torna o Conic incrível são suas grifes, lotadas de camisetas e acessórios nerds e, é claro, a melhor loja de quadrinhos que já conheci: Kingdom Comics.
Fachada da loja
A Kingdom Comics é um paraíso nerd. Lá e possível achar quadrinhos antigos do mundo Marvel e DC, publicados pela editora Abril, em diversos tamanhos e formatos, sem mencionar os quadrinhos independentes e alguns importados da terra do Tio Sam. Para alguns, ela podia ser frustante nesse aspecto, pois faltavam publicações novas como as da Nova Marvel ou Os Novos 52, ambas publicadas atualmente pela Panini Comics. Mas era impossível dizer um não aos outros artigos da loja: pelúcias, chapéus, jogos de tabuleiro, action figures, livros pop-up, filmes, camisetas… Você entrava na loja rico, e saia um nerd pobre e feliz.

Uma surpresa agradável

Lembram da quarta-feira de que tanto falei? Bem, eu estava no Conic, como sempre. Passei na Kingdom para comprar uns quadrinhos para minha amada coleção e, como sou meio crianção, passei horas me aventurando no subterrâneo de todos os prédios do local. Sempre quis saber o que se escondia lá em baixo. Não achei nenhuma dungeon ou uma arca da aliança e, graças a Deus, nenhuma cobra. Minha verdadeira surpresa foi quando subi as escadas de um dos prédios e me deparei com um fast food, uma loja de eletrônicos… e um fliperama!
Fachada do "fliper", foto tirada com um celular.
Eu não conseguia acreditar, um fliperama na minha frente? Seu nome era Replay. Eu estava acostumado com aquelas “brinquedo-tecas chiques” de shoppings, onde a única coisa que eu realmente curtia era o Air-hockey. Mas o que eu vi era algo totalmente diferente: havia máquinas e jogos de todos os tipos, épocas e gêneros. Na medida em que eu andava pela loja (com uma cara de bobo, quase babando), lembrava-me da minha infância, época em que joguei em muitas máquinas iguais a essa em uma pastelaria ao lado da casa de minha vó (saudades, pastel mix). Não consegui segurar minha vontade e corri para o balcão da loja para comprar mais fichas.

Até o balcão da loja parecia mágico. Notei que o dono do local vendia outras coisas lá, desde doces e bolachas, até sucos e refrigerantes. Nunca vi um lugar que vendesse tanto doce! Perguntei a ele o que eu tinha que fazer para jogar em uma das máquinas e ele me disse que por R$2,50 eu teria direito a três fichas. Com um sorriso no rosto, entreguei o dinheiro e corri para o primeiro fliperama que chamou minha atenção no local: Time Crisis 3.
Bem chamativa, não?
Nunca joguei os jogos anteriores, mas me diverti bastante. Basicamente, o jogo tinha dois protagonistas e você era o cara do cabelo loiro. Enredo? Você e seu amigo estavam curtindo seu iate, mas foram atacados por um exército ninja... (eu também não consegui segurar o riso). Assim como em House of the Dead, você usa uma arma acoplada na máquina para matar tudo o que estiver em seu caminho. Por algum motivo, é necessário pressionar um pedal toda vez que for atirar, do caso contrário seu personagem se esconde. Por mais que a arma de plástico represente uma pistola, é possível jogar com um arsenal pesado, que vai desde a boa e velha Uzi até uma espingarda de dois canos ou mais.

As rejeitadas

Após morrer em uma trincheira (sim, os caras deixaram um iate para trocar tiros em uma guerra), dei uma pausa para apreciar o fliperama novamente. Assisti muita gente jogando Street Fighter IV e The King of Fighters — o que enfatiza o quão variado era aquele lugar. Havia desde jogos antigos a consoles modificados por onde você olhava. Foi então que avistei duas máquinas brancas no fim da loja, ao lado do que parecia ser uma copa. As coitadas estavam pegando um pouco de poeira, então decidi dar uma chance a elas.

Não tinha banquinhos quando eu fui... :-(
As instruções estavam escritas em um papel colado no painel do aparelho, e o dono do “fliper” foi gentil em me explicar como ela funcionava, mas eu cometi o erro de inserir a ficha antes da hora. Ainda bem que ele me deu outra! Logo de cara notei que tinha milhares de jogos para escolher naquela máquina! Variavam em gênero, mas eram todos tão antigos quanto eu. Qual jogo eu escolhi? Rendi-me aos encantos do Simpson’s Arcade Game, da Konami (saudades do passado da companhia).

Nunca havia jogado o game antes, mais gostei do que vi. Todos os personagens da família amarela eram jogáveis, exceto pela Maggie. A brincadeira permitia até quatro jogadores simultâneos e era um ótimo Beat ‘em up. Nada que fosse estupidamente fácil, porém não era incrivelmente difícil. Sem falar que os gráficos são extremamente agradáveis apesar do jogo ser antigo.
Por que o Bart estava de camiseta azul?
No momento em que o título começou, escolhi o Bart. Não muito tempo depois, acabei morrendo. Isso aconteceu porque tinham muitos sprites e animações belíssimas ocorrendo paralelamente ao jogo (ou é por que eu sou noob mesmo). Ele é um banquete para qualquer fã dos amarelos. Não demorou muito pro Homer substituir o próprio filho no meu último continue, mas acabei morrendo na primeira luta contra o chefe.

É hora de dar tchau! 

Foi incrível! Eu me senti a criança mais feliz da face da terra por dentro enquanto jogava meu último jogo. Tirei fotos do game, das máquinas e até mesmo do local enquanto curtia cada segundo daquele momento, não tão distante, que certamente marcou minha vida. Eu guardei minha última ficha como forma de recordação, dirigi-me ao balcão e agradeci o dono do fliperama como se fosse uma criança, com os olhos brilhando e cheios de alegria. Por dentro, eu não queria sair daquele lugar mágico, mas passar o dia inteiro lá. 
Pequena por fora, gigante por dentro.
Enquanto eu caminhava para o shopping, afim de ir ao cinema, eu me perguntava: “Por que aquele fliperama me marcou tanto?”. Eu jogo tanta coisa mais avançada que as relíquias que estavam naquele lugar, mas ainda assim a sensação de encanto e bem-estar que tive era infinitamente maior. 

Creio que foram muitas as razões para tudo aquilo ter sido tão mágico, mas a principal delas foi a nostalgia. Não que os jogos modernos não sejam capazes de nos entreter ou nos maravilhar, vide os exemplos de The Witcher 3: Wild Hunt (Multi) e seu imenso mundo a ser explorado; ou Splatoon (Wii U) e seu multiplayer frenético; ou até mesmo a dificuldade extrema de Dark Souls (Multi) ou Bloodborne (PS4). Contudo, estes não estão atrelados a lembranças e sensações confortantes de longa data, diferente dos jogos antigos.
Stay Fressssh!
Por mais que eu esteja aberto para o novo e às experiências que ele vai me proporcionar, não vejo a hora de voltar naquele fliperama para me sentir igual a um garoto pentelho e alegre novamente. Agradeço ao dono do “fliper” por ter me deixado escrever esse texto. E, se você visitar Brasília algum dia, dê uma passada no Conic e divirta-se bastante. 

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Angelo Gustavo



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